quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ENTRE O MERCADO DE TRABALHO E A VIDA DE SERVIÇO


Seja no trânsito, trabalho e escola, as pessoas vivem de forma auto-centrada, desconsiderando necessidades alheias. Alguns diriam que a falta de educação impera em nosso tempo! Mas será que a educação mudaria a disposição egoísta ou contribuiria para ela?

Educação é tema de interesse geral da sociedade. Embora haja investimentos crescentes nessa área, o Brasil aparece em 88o lugar no ranking da Unesco,[1] o qual aufere o índice de desenvolvimento e cumprimento de metas pré-estabelecidas [2]. Apesar disso, a procura por uma educação de qualidade continua. Se antigamente o chamado Colegial (hoje, Ensino Médio) bastava, atualmente a necessidade de qualificação profissional aumentou a demanda por cursos superiores. No decênio de 2001 a 2010, o acesso à educação superior cresceu 110,1%, segundo o Censo da Educação Superior realizado pelo Inep (2010) [3]. Ao todo, foram contabilizadas 6.379.299 matrículas em 29.507 cursos de graduação. [4]

Famílias cristãs também buscam educação de qualidade, seguindo cada vez mais os critérios comuns à sociedade. Lembro-me de quando eu e minha esposa – na época, noiva – almoçamos com um dentista em Santo André, SP. Ele nos dizia que matriculara os filhos em um colégio particular na cidade, visando à garantia do melhor preparo para o vestibular. Para ele, a educação adventista era inviável, por não ser o colégio “forte” academicamente. Quanto ao ensino superior, procura-se instituições de renome, que preparem os estudantes para ingresso no mercado de trabalho. Em vista disso, a educação cristã não parece “competitiva” em relação a outras propostas seculares.

Deveria a educação adventista se adaptar, focando em atingir os melhores índices no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou preparar seus alunos para o ingresso nas faculdades mais disputadas? Nossas faculdades e centros universitários deveriam formar alunos essencialmente para o mercado de trabalho? Muitos tentam conciliar a missão educacional adventista com o enfoque atual (preparo para vestibulares, carreira, etc), o que se justificaria ao manter o crescimento do número de alunos. Seria essa a saída? Antes de respondermos, analisemos a geração atual e as influências educacionais seculares sobre ela.

Uma geração mal educada

A geração emergente de maior destaque na atualidade é a chamada Geração Y, compreendendo indivíduos nascidos entre 1980 e 1998. [5] Em seguida, teríamos outra geração, ainda sem nomenclatura oficial (popularmente, Geração Z). Sob influência sobretudo da mídia, a Geração Y apresenta características peculiares, entre as quais, tendências narcisistas, conforme as pesquisas: em 2006, “1 em cada 4 estudantes de ensino Médio concordavam com a maioria de itens em uma medida padrão de traços de narcisismo.” Além disso, aproximadamente “1 em cada 10 americanos na casa dos vinte anos, e um em cada 16 de todas as idades têm vivenciado sintomas de Transtorno de Personalidade Narcisista.” [6] Para muitos, a consagração do termo autoestima vem promovendo uma matriz egoísta do comportamento humano. [7] A nova geração se revela extremamente consumista. Como o consumo nunca é suficiente, o desejo de adquirir mais continua infinitamente, nutrido pelo “hedonismo da imaginação.” [8]

E qual a responsabilidade da educação secular na crescente egolatria (culto ao eu) e hedonismo (prazer como valor)? A educação é palco de desenvolvimento de qualquer visão de mundo – grade de valores que forma princípios e critérios de avaliação para toda experiência. [9] A educação secular se define humanista, promovendo a “liberdade irrestrita e não supervisionada dos alunos.” Em seu currículo oculto, encontramos filosofias contrárias à mensagem bíblica, nem sempre assumidas pela escola. [10]Isso justifica Ellen White ter escrito sobre os perigos da educação secular.

Sucesso x serviço, riqueza x salvação

Em flagrante contraste com os objetivos da educação secular, o pensamento de Ellen White estabelece alvos mais elevados. Ao invés de “adquirir o maior ganho possível”, os jovens devem buscar “honrar ao seu Criador, cumprindo sua parte no trabalho do mundo, e estendendo mão auxiliadora aos mais fracos e mais ignorantes.” [11] Jovens e crianças têm “uma obra a fazer para honra de Deus e reerguimento da humanidade.” [12] A educação adventista existe a fim de preparar jovens para servir, tornando-os “homens e mulheres úteis.”[13] Logo, a maior preocupação dos pais não deveria estar em adquirir riquezas e sucesso para seus filhos, mas em proporcionar-lhes “a nobreza de caráter e o valor moral durarão para sempre”, [14] por meio da melhor educação cristã disponível.

Por outro lado, a educação cristã não rejeita totalmente os alvos almejados pela vertente secular, mas considera o ser humano de forma mais completa.[15] Assim, a busca pela excelência acadêmica também é uma marca da educação adventista, dentro da necessidade de preparo para cumprir a obra de Deus. “Necessitamos de jovens que tenham uma elevada cultura intelectual a fim de que possam prestar o melhor trabalho ao Senhor”, escreveu a mensageira do Senhor, destacando que, sem jovens preparados, a obra poderia sofrer atrasos. [16]

Prevendo inevitáveis pressões sociais sobre quem optasse por uma educação tão distinta, Ellen White advertiu: “A muitos que põem seus filhos em nossas escolas sobrevirão fortes tentações porque desejam que eles consigam o que o mundo considera como a educação essencial.” [17] Ceder a essa tentação é expor a si mesmo ou seus filhos a pedagogias imbuídas de marxismo, evolucionismo e demais filosofias anti-cristãs presentes nas instituições seculares.

Conclusão

Muitos estudantes não têm acesso à educação cristã por uma série de fatores. Cabe a esses oração e estudo especial da Bíblia e de livros cristãos para se manterem fiéis aos princípios bíblicos. [18]Todavia, pais e jovens adultos deveriam preferir sempre e impreterivelmente a educação cristã. Afinal, nosso maior objetivo é uma carreira de sucesso ou nos unir aos obreiros que, em suas respectivas frentes de atuação, concluirão o anúncio da mensagem do advento? Na maioria dos casos, a escolha de um implica na renúncia do outro. Deus espera a minha e a sua decisão.

[1]Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura.
[2]Angela Pinho, “Brasil fica no 88º lugar em ranking de educação da Unesco”, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/saber/882676-brasil-fica-no-88-lugar-em-ranking-de-educacao-da-unesco.shtml . Acesso: 27 de Ago. de 2012.
[3]Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira.
[4]“Ensino superior cresce 110% em 10 anos no Brasil”, disponível em http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5458942-EI8266,00-Ensino+superior+cresce+em+anos+no+Brasil.html . Acesso: 26 de Ago. de 2012.
[5]Não há consenso para os limites que definem o período de uma determinada geração.
[6]Jean M. Twenge e W. Keith Campbell, The narcissism epidemic (New York, NY: Free Press, 2009), p. 2.
[7]Jean M. Twenge, Generation me: why today’s young Americans are more confident, assertive, entitled – and more miserable than ever before (New York, NY: Free Press, 2006), p. 44.
[8]Adriani Rodrigues, “E Deus colocou a eternidade no coração do homem: consumismo, desejo e religião”, in Allan Novaes e Martin Kuhn (orgs.), O universitário cristão na sociedade de consumo (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2010), p. 38.
[9]Ruben Aguilar, “Cosmovisão e Educação Adventista”, in Renato Gross (org.), Cristo na sala de aula: uma abordagem adventista sobre integração fé e ensino (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 1997), vol. 1, p. 32.
[10]Valdeci da Silva Santos, “Educação cristã: conceituação teórica e implicações práticas”, in Fides Reformata, vol. XIII, ano 2, 2008, p.159-160.
[11]Ellen G. White, Educação, p. 221, 222, apud. Edward M. Cadwallader, Principios de la educación adventista en el pensamiento de Elena de White: filosofía, objetivos y misión (México: Adventus, 2010), p. 20-21.
[12]Ellen G. White, idem, p. 221, 222, apud. Edward M. Cadwallader, idem.
[13]Elen G. White, Conselhos aos pais, professores e estudantes, p. 264, 499. Devo as citações à Eleni Wordell.
[14]Ellen G. White, Fundamentos da Educação Cristã, p. 69, apud. Edward M. Cadwallader, idem, p. 25.
[15]Valdeci da Silva Santos, “Educação cristã”, p. 158.
[16]Ellen G. White, Conselhos aos pais, professores e estudantes, p. 42-43. Devo essa citação e a seguinte à minha esposa, Noribel Reis.
[17]Idem, p. 15.
[18]Um excelente material de apoio pode ser encontrado na série de estudos bíblicos universitários da Divisão Sul-Americana: Michelson Borges (org.), O Resgate da Verdade (Brasília, DF: DSA, 2012).

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