quinta-feira, 31 de maio de 2007

FÉ E RAZÃO: UM CAMINHO


Entre a crítica e a convicção(*)

Alfredo dos Santos Oliva(**)

Revista Teologia Hoje vol 2, núm 2 (2004) artigo 4

Introdução

Paul Ricoeur, que é um cristão reformado e dos mais importantes filósofos contemporâneos, concedeu uma grande entrevista que acabou por ser publicada na forma de livro com o título de "A crítica e a convicção". O nome da obra originou-se de um trecho da entrevista em que Ricoeur é questionado acerca de como conseguia harmonizar a sua vida de pesquisador no campo da filosofia com sua fé cristã. Sua resposta foi a de que ele havia feito uma opção por viver da tensão entre a permanente crítica do pensamento, tarefa da filosofia, e a convicção, atributo da fé.

Gostaria de utilizar as duas metáforas provenientes da entrevista do filósofo francês para dar nome a esta exposição e refletir sobre um fato muito comum entre nós que optamos por transitar nas fronteiras da academia e da vivência da fé cristã. Penso que a escolha de Ricoeur tem sido uma exceção à regra. A maioria das pessoas tem escolhido viver somente uma das duas dimensões. Desejo avaliar as implicações que uma opção unilateral pode ter sobre a vida das pessoas, para, em seguida, propor uma alternativa tensa: viver entre a crítica e a convicção. Ao final de cada um dos três ítens vou fazer uma avaliação das conseqüências de cada modo de relacionar ciência e fé.

1. O caminho da crítica sem convicção
Um dos debates que tem ocupado as ciências sociais e humanas na atualidade concentra-se em uma severa crítica ao iluminismo moderno. Dentre os vários aspectos desse projeto, os estudiosos contemporâneos, de forma especial, têm falado da confiança que esses professavam na autonomia e na liberdade humanas, de suas críticas veementes a toda forma de religiosidade, sobretudo se fosse institucionalizada, bem como de sua valorização excessiva da racionalidade. Mesmo muitos religiosos, sobretudo os que foram gerados dentro da tradição reformada, não estiveram imunes a esse racionalismo. Apenas se diferenciavam de seus contemporâneos seculares por não aceitarem o ateísmo. Parece-me, todavia, haver diferenças muito tênues entre um ateísmo declarado e a apologia de uma religião nos simples limites da racionalidade!

O iluminismo, que se consolidou como proposta no século XVIII, deixou de ser projeto para se tornar um paradigma societário no século XIX. De projeto de sociedade, passou a reger modos de pensar e agir no mundo ocidental contemporâneo. Essa cosmovisão tem produzido muitos frutos, alguns bons e outros ruins. Não tenho espaço para fazer esta avaliação agora.

Neste momento apenas gostaria de destacar que este caminho que incompatibiliza a vida acadêmica com a experiência e a vivência da fé tem suas raízes mais profundas no paradigma iluminista. Para essa visão de mundo a ciência está mergulhada em uma linguagem conceitual precisa e no exercício rigoroso da racionalidade cognitiva, portanto incompatível com as categorias do submundo religioso, por demais imerso em uma linguagem simbólica, cheia de metáforas e sentidos que a razão nem sempre pode apreender com muita precisão.

Minha compreensão não é a de que uma vida de fé seja incompatível com a pesquisa acadêmica, nem mesmo acho que a experiência religiosa seja vazia de racionalidade, mas entendo que, pensando assim, não estou em sintonia com a maioria dos intelectuais do mundo ocidental contemporâneo. Desde a modernidade, temos aprendido a pensar a vida religiosa a partir de expressões de caráter negativo - obscura, opressora, alienante etc. - e a pesquisa científica de forma positiva - iluminadora, libertadora, crítica etc.

Em função deste contexto em que ainda vivemos, não me espanta que muitas pessoas sérias na sua profissão acadêmica sintam-se envergonhadas de buscar ou viver a convicção que a religião gera em seus adeptos. Elas foram treinadas e estimuladas a duvidar e a criticar tudo e todos. As pessoas ligadas à academia foram estimuladas a desenvolver apenas a dimensão cognitiva de sua racionalidade. Outros aspectos ou dimensões da racionalidade, como a estética e a expressiva, têm sido menosprezados pelos cientistas. Filósofos, como o alemão J. Habermas, têm se ocupado em fazer uma interessante crítica à racionalidade ocidental, bem como ao reducionismo que tem levado muitos pesquisadores a se esquecerem da sua multidimensionalidade. Por causa desta visão reducionista de razão, a expressão de convicções, para serem dignas, deveria estar baseada em evidências empíricas que fossem racionalmente explicáveis. Deus seria um ser por demais abstrato e intuitivo para ser alvo da atenção de cientistas racionais, com poucas e felizes exceções.

Não são raras as pessoas que escolhem trilhar o caminho da crítica sem convicção. Lembro-me de um professor dos tempos de graduação em uma universidade pública que, sabedor de que eu estudava teologia e história ao mesmo tempo, uma vez disse em sala de aula que "“não sabia o que padres, freiras e seminaristas estavam querendo ao estudar história". Na mente de meu estimado professor, a busca pelo conhecimento acadêmico não se justificava para as pessoas de fé. A crítica proporcionada pela investigação científica não se compatibilizava com a convicção que a experiência de fé proporcionava. A vida acadêmica só faria sentido para quem desejasse ser livre do suposto obscurantismo proporcionado pela religião.

Este caminho tem seus problemas: pode gerar arrogância acadêmica, aridez intelectual e emocional, falta de critério para avaliar as conseqüências éticas do saber científico, intolerância para com outras formas de saber etc.

2. O caminho da convicção sem crítica
Outro debate interessante proporcionado pelas ciências humanas e sociais é o que diz respeito ao modo mais adequado para se designar as transformações pelas quais o mundo contemporâneo tem passado. Se há um certo consenso em designar o período compreendido entre os séculos XVI e XIX de modernidade, os estudiosos ainda não concordaram sobre a nomenclatura que poderia explicar as mudanças que o ocidente experimenta desde os últimos 50 ou 60 anos do século XX.

Alguns pesquisadores gostam de se referir aos tempos atuais usando a expressão pós-modernidade (B. S. Santos), outros preferem o termo modernidade tardia (A. Giddens) ou mesmo neomodernidade (S. P. Rouanet). Há concordância em apenas admitir que existem certos valores da modernidade que precisam ser analisados de forma crítica (racionalismo estreito, cientificismo, crença na autonomia do sujeito), mas há uma enorme dúvida quanto ao que se deveria colocar no lugar do projeto moderno.

Uma das alternativas ao projeto iluminista tem sido o que C. Lemert chama de pós-modernismo radical. De forma bastante simplificada, seria uma afirmação dos valores negados pela modernidade, ou seja, uma apologia radical do irracionalismo, uma veemente negação do valor da ciência e uma crença na dissolução da subjetividade. Esta perspectiva ou projeto seria responsável pela difusão de um relativismo na academia, bem como de um excesso de religiosidade e ou mistificação das imagens de mundo.

Muitas são as expressões para designar a efervescência religiosa dos dias de hoje: revanche do sagrado, retorno do sagrado, emergência de um sagrado selvagem, dessecularização etc. Também não sei ao certo como designar este mundo contemporâneo onde a religiosidade impregna todas as instâncias da vida humana, mas estou certo de que está florescendo algo muito perigoso. O excesso de mistificação da realidade tem construído um mundo carregado de símbolos vazios e escasso de reflexão e análise.

Também não é pequeno o número de pessoas que escolhe trilhar por este caminho. Lembro-me dos fundamentalismos americano e muçulmano, muito em voga no cenário mundial dos dias de hoje. Religiosos que não conseguem ler a realidade para além da roupagem sagrada e intolerante. O presidente americano se acha o messias do reino da luz que deve erradicar as obras das trevas (islamismo, terrorismo). Do outro lado, religiosos muçulmanos radicais se atiram sobre pessoas, prédios e estabelecimentos públicos, verdadeiros homens e mulheres bombas explodindo a vida alheia, por crerem que assim podem acabar com os inimigos de Alá (cultura ocidental, imperialismo).

Também este caminho tem os seus perigos: pode vir a gerar intolerância para com outros atores religiosos, negação da importância do saber científico, obscurantismo intelectual, isolamento social e afetivo etc.

3. O caminho da tensão entre a crítica e a convicção
Felizmente nem todas as pessoas acham que radicalizar os anti-valores da modernidade é a melhor forma de criticá-la. O sociólogo português B. S. Santos, por exemplo, entende que a modernidade produziu uma série de déficits, promessas não cumpridas, mas também produziu muitas coisas positivas. Não se deve jogar fora a banheira com a criança dentro. Não há nada de errado com a razão em si. Por si só o exercício da razão não é bom nem ruim. Há problemas, sim, com a concepção estreita de razão da modernidade, que não permite perceber o mundo para além de sua dimensão instrumental. O mesmo se pode dizer de sua supervalorização, que chegou ao ponto de deslegitimar todas as demais formas de conhecimento que não fossem científicas e/ou racionalistas.

Penso que o caminho da tensão proposto por Ricoeur é uma alternativa muito interessante. Entendo que nos dias de hoje precisamos de pessoas críticas, que manejam bem conceitos e categorias do campo científico. Homens e mulheres capazes de mostrar a face obscura e opressora da religião e de suas expressões radicais. Creio não haver nenhuma necessidade de se buscar refúgio na certeza cega dos fundamentalismos religiosos. Deus dotou o ser humano de racionalidade para que ele a usasse sempre.

Lembro dos crentes dos tempos do Novo Testamento, conhecidos como bereianos, que ouviam as pregações religiosas e depois julgavam o que tinham ouvido. Não temos necessidade de fazer nossas mentes se tornarem apenas receptáculos de informações simplesmente porque temos tido uma experiência religiosa que tem mudado o modo como vivemos. Mais do que nunca, precisamos de pessoas convictas do amor de Deus e que não se envergonham de sua identidade religiosa, que não se acovardam diante dos desafios críticos apresentados pela ciência.

Por outro lado, a valorização do saber racional-científico não pode levar as pessoas a abrirem mão de sua opção religiosa. A ciência despida de uma dimensão ética/religiosa tem se mostrado trágica. Não há nenhuma necessidade de se ser ateu para se poder ser um cientista excelente. O que faz a qualidade de um pesquisador é o conhecimento de seu campo de estudo: domínio de instrumental teórico-metodológico, conhecimento empírico acumulado ao longo dos anos, destreza no uso da linguagem técnica da área, reconhecimento de sua excelência por seus pares decorrente de sua seriedade etc.

Este é o caminho que gostaria de propor: viver permanentemente na tensão entre a crítica (vivência da reflexão) e a convicção (vivência da fé); a crítica como fator que não nos permite viver uma fé cega, imatura, intolerante, superficial; a fé e o compromisso com o Reino de Deus como critério que nos permite avaliar o saber acadêmico e suas implicações éticas.

Na minha forma de ver este caminho pode produzir algumas experiências desagradáveis: instabilidade intelectual e espiritual, necessidade permanente de rever valores religiosos e acadêmicos, rejeição ou marginalização tanto pelos religiosos como pelos cientistas. Mas os frutos poderão ser compensadores: utilizar categorias do mundo acadêmico como critério que pode nos imunizar contra o obscurantismo religioso, avaliar a ciência desde uma perspectiva da ética do Reino de Deus, encontrar respeitabilidade entre religiosos e cientistas, possuir preciosas ferramentas profissionais e acadêmicas a serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo etc.

Notas

* Palestra proferida na I Semana de Esperança, promovida pela Aliança Bíblica Universitária (A.B.U.) da cidade de Londrina, no dia 24 de novembro de 2004.

** Membro da Comunidade Nova Aliança, em Londrina. Mestre em teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte (Recife, PE) e em sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Doutorando em história pela Universidade Estadual Paulista, câmpus de Assis. Professor da FTSA.


O EVANGELHO SEGUNDO A MEDICINA

A Crucificação de Cristo,a partir de um ponto de vista médico
de C. Truman Davis

Lendo o livro de Jim Bishop “O Dia Que Cristo Morreu”, eu percebi que durante vários anos eu tinha tornado a crucificação de Jesus mais ou menos sem valor, que havia crescido calos em meu coração sobre este horror, por tratar seus detalhes de forma tão familiar - e pela amizade distante que eu tinha com nosso Senhor. Eu finalmente havia percebido que, mesmo como médico, eu não entendia a verdadeira causa da morte de Jesus. Os escritores do evangelho não nos ajudam muito com este ponto, porque a crucificação era tão comum naquele tempo que, aparentemente, acharam que uma descrição detalhada seria desnecessária. Por isso só temos as palavras concisas dos evangelistas “Então, Pilatos, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”

Eu não tenho nenhuma competência para discutir o infinito sofrimento psíquico e espiritual do Deus Encarnado que paga pelos pecados do homem caído. Mas parecia a mim que como um médico eu poderia procurar de forma mais detalhada os aspectos fisiológicos e anatômicos da paixão de nosso Senhor. O que foi que o corpo de Jesus de Nazaré de fato suportou durante essas horas de tortura?

Dados históricos

Isto me levou primeiro a um estudo da prática de crucificação, quer dizer, tortura e execução por fixação numa cruz. Eu estou endividado a muitos que estudaram este assunto no passado, e especialmente para um colega contemporâneo, Dr. Pierre Barbet, um cirurgião francês que fez uma pesquisa histórica e experimental exaustiva e escreveu extensivamente no assunto.

Aparentemente, a primeira prática conhecida de crucificação foi realizado pelos persas. Alexandre e seus generais trouxeram esta prática para o mundo mediterrâneo--para o Egito e para Cartago. Os romanos aparentemente aprenderam a prática dos cartagineses e (como quase tudo que os romanos fizeram) rapidamente desenvolveram nesta prática um grau muito alto de eficiência e habilidade. Vários autores romanos (Lívio, Cícero, Tácito) comentam a crucificação, e são descritas várias inovações, modificações, e variações na literatura antiga.

Por exemplo, a porção vertical da cruz (ou “stipes”) poderia ter o braço que cruzava (ou “patibulum”) fixado cerca de um metro debaixo de seu topo como nós geralmente pensamos na cruz latina. A forma mais comum usada no dia de nosso Senhor, porém, era a cruz “Tau”, formado como nossa letra “T”. Nesta cruz o patibulum era fixado ao topo do stipes. Há evidência arqueológica que foi neste tipo de cruz que Jesus foi crucificado. Sem qualquer prova histórica ou bíblica, pintores Medievais e da Renascença nos deram o retrato de Cristo levando a cruz inteira. Mas o poste vertical, ou stipes, geralmente era fixado permanentemente no chão no local de execução. O homem condenado foi forçado a levar o patibulum, pesando aproximadamente 50 quilos, da prisão para o lugar de execução.

Muitos dos pintores e a maioria dos escultores de crucificação, também mostram os cravos passados pelas palmas. Contos romanos históricos e trabalho experimental estabeleceram que os cravos foram colocados entre os ossos pequenos dos pulsos (radial e ulna) e não pelas palmas. Cravos colocados pelas palmas sairiam por entre os dedos se o corpo fosse forçado a se apoiar neles. O equívoco pode ter ocorrido por uma interpretação errada das palavras de Jesus para Tomé, “vê as minhas mãos”. Anatomistas, modernos e antigos, sempre consideraram o pulso como parte da mão.

Um titulus, ou pequena placa, declarando o crime da vítima normalmente era colocado num mastro, levado à frente da procissão da prisão, e depois pregado à cruz de forma que estendia sobre a cabeça. Este sinal com seu mastro pregado ao topo teria dado à cruz um pouco da forma característica da cruz latina.

O suor como gotas de sangue

O sofrimento físico de Jesus começou no Getsêmani. Em Lucas diz: "E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra." (Lc 22:44) Todos os truques têm sido usados por escolas modernas para explicarem esta fase, aparentemente seguindo a impressão que isto não podia acontecer. No entanto, consegue-se muito consultando a literatura médica. Apesar de muito raro, o fenômeno de suor de sangue é bem documentado. Sujeito a um stress emocional, finos capilares nas glândulas sudoríparas podem se romper, misturando assim o sangue com o suor. Este processo poderia causar fraqueza e choque. Atenção médica é necessária para prevenir hipotermia.

Após a prisão no meio da noite, Jesus foi levado ao Sinédrio e Caifás o sumo sacerdote, onde sofreu o primeiro traumatismo físico. Jesus foi esbofeteado na face por um soldado, por manter-se em silêncio ao ser interrogado por Caifás. Os soldados do palácio tamparam seus olhos e zombaram dele, pedindo para que identificasse quem o estava batendo, e esbofeteavam a Sua face.

A condenação

De manhã cedo, Jesus, surrado e com hematomas, desidratado, e exausto por não dormir, é levado ao Pretório da Fortaleza Antônia, o centro de governo do Procurador da Judéia, Pôncio Pilatos. Você deve já conhecer a tentativa de Pilatos de passar a responsabilidade para Herodes Antipas, tetrarca da Judéia. Aparentemente, Jesus não sofreu maus tratos nas mãos de Herodes e foi devolvido a Pilatos. Foi em resposta aos gritos da multidão que Pilatos ordenou que Bar-Abbas fosse solto e condenou Jesus ao açoite e à crucificação.

Há muita diferença de opinião entre autoridades sobre o fato incomum de Jesus ser açoitado como um prelúdio à crucificação. A maioria dos escritores romanos deste período não associam os dois. Muitos peritos acreditam que Pilatos originalmente mandou que Jesus fosse açoitado como o castigo completo dele. A pena de morte através de crucificação só viria em resposta à acusação da multidão de que o Procurador não estava defendendo César corretamente contra este pretendente que supostamente reivindicou ser o Rei dos judeus.

Os preparativos para as chicotadas foram realizados quando o prisioneiro era despido de suas roupas, e suas mãos amarradas a um poste, acima de sua cabeça. É duvidoso se os Romanos teriam seguido as leis judaicas quanto às chicotadas. Os judeus tinham uma lei antiga que proibia mais de 40 (quarenta) chicotadas.

O açoite

O soldado romano dá um passo a frente com o flagrum (açoite) em sua mão. Este é um chicote com várias tiras pesadas de couro com duas pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas de cada tira. O pesado chicote é batido com toda força contra os ombros, costas e pernas de Jesus. Primeiramente as pesadas tiras de couro cortam apenas a pele. Então, conforme as chicotadas continuam, elas cortam os tecidos debaixo da pele, rompendo os capilares e veias da pele, causando marcas de sangue, e finalmente, hemorragia arterial de vasos da musculatura.
As pequenas bolas de chumbo primeiramente produzem grandes, profundos hematomas, que se rompem com as subseqüentes chicotadas. Finalmente, a pele das costas está pendurada em tiras e toda a área está uma irreconhecível massa de tecido ensangüentado. Quando é determinado, pelo centurião responsável, que o prisioneiro está a beira da morte, então o espancamento é encerrado.

Então, Jesus, quase desmaiando é desamarrado, e lhe é permitido cair no pavimento de pedra, molhado com Seu próprio sangue. Os soldados romanos vêm uma grande piada neste Judeu, que se dizia ser o Rei. Eles atiram um manto sobre os seus ombros e colocam um pau em suas mãos, como um cetro. Eles ainda precisam de uma coroa para completar a cena. Um pequeno galho flexível, coberto de longos espinhos é enrolado em forma de uma coroa e pressionado sobre Sua cabeça. Novamente, há uma intensa hemorragia (o couro do crânio é uma das regiões mais irrigadas do nosso corpo).

Após zombarem dele, e baterem em sua face, tiram o pau de suas mãos e batem em sua cabeça, fazendo com que os espinhos se aprofundem em sua cabeça. Finalmente, cansado de seu sádico esporte, o manto é retirado de suas costas. O manto, por sua vez, já havia aderido ao sangue e grudado nas feridas. Como em uma descuidada remoção de uma atadura cirúrgica, sua retirada causa dor toturante. As feridas começam a sangrar como se ele estivesse apanhando outra vez.

A cruz

Em respeito ao costume dos judeus, os romanos devolvem a roupa de Jesus. A pesada barra horizontal da cruz á amarrada sobre seus ombros, e a procissão do Cristo condenado, dois ladrões e o destacamento dos soldados romanos para a execução, encabeçado por um centurião, começa a vagarosa jornada até o Gólgota. Apesar do esforço de andar ereto, o peso da madeira somado ao choque produzido pela grande perda de sangue, é demais para ele. Ele tropeça e cai. As lascas da madeira áspera rasgam a pele dilacerada e os músculos de seus ombros. Ele tenta se levantar, mas os músculos humanos já chegaram ao seu limite.

O centurião, ansioso para realizar a crucificação, escolhe um observador norte-africano, Simão, um Cirineu, para carregar a cruz. Jesus segue ainda sangrando, com o suor frio de choque. A jornada de mais de 800 metros da fortaleza Antônia até Gólgota é então completada. O prisioneiro é despido - exceto por um pedaço de pano que era permitido aos judeus.

A crucificação

A crucificação começa: Jesus é oferecido vinho com mirra, um leve analgésico. Jesus se recusa a beber. Simão é ordenado a colocar a barra no chão e Jesus é rapidamente jogado de costas, com seus ombros contra a madeira. O legionário procura a depressão entre os osso de seu pulso. Ele bate um pesado cravo de ferro quadrado que traspassa o pulso de Jesus, entrando na madeira. Rapidamente ele se move para o outro lado e repete a mesma ação, tomando o cuidado de não esticar os ombros demais, para possibilitar alguma flexão e movimento. A barra da cruz é então levantada e colocado em cima do poste, e sobre o topo é pregada a inscrição onde se lê: "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus".

O pé esquerdo agora é empurrado para trás contra o pé direito, e com ambos os pés estendidos, dedos dos pés para baixo, um cravo é batido atraves deles, deixando os joelhos dobrados moderadamente. A vítima agora é crucificada. Enquanto ele cai para baixo aos poucos, com mais peso nos cravos nos pulsos a dor insuportável corre pelos dedos e para cima dos braços para explodir no cérebro – os cravos nos pulsos estão pondo pressão nos nervos medianos. Quando ele se empurra para cima para evitar este tormento de alongamento, ele coloca seu peso inteiro no cravo que passa pelos pés. Novamente há a agonia queimando do cravo que rasga pelos nervos entre os ossos dos pés.

Neste ponto, outro fenômeno ocorre. Enquanto os braços se cansam, grandes ondas de cãibras percorrem seus músculos, causando intensa dor. Com estas cãibras, vem a dificuldade de empurrar-se para cima. Pendurado por seus braços, os músculos peitorais ficam paralisados, e o músculos intercostais incapazes de agir. O ar pode ser aspirado pelos pulmões, mas não pode ser expirado. Jesus luta para se levantar a fim de fazer uma respiração. Finalmente, dióxido de carbono é acumulado nos pulmões e no sangue, e as cãibras diminuem. Esporadicamente, ele é capaz de se levantar e expirar e inspirar o oxigênio vital. Sem dúvida, foi durante este período que Jesus consegui falar as sete frases registradas:

Jesus olhando para os soldados romanos, lançando sorte sobre suas vestes disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. " (Lucas 23:34)

Ao ladrão arrependido, Jesus disse: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso." (Lucas 23:43)

Olhando para baixo para Maria, sua mãe, Jesus disse: “Mulher, eis aí teu filho.” E ao atemorizado e quebrantado adolescente João, “Eis aí tua mãe.” (João 19:26-27)

O próximo clamor veio do início do Salmo 22, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

Ele passa horas de dor sem limite, ciclos de contorção, câimbras nas juntas, asfixia intermitente e parcial, intensa dor por causa das lascas enfiadas nos tecidos de suas costas dilaceradas, conforme ele se levanta contra o poste da cruz. Então outra dor agonizante começa. Uma profunda dor no peito, enquanto seu pericárdio se enche de um líquido que comprime o coração.
Lembramos o Salmo 22 versículo 14 “Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim.”

Agora está quase acabado - a perda de líquidos dos tecidos atinge um nível crítico - o coração comprimido se esforça para bombear o sangue grosso e pesado aos tecidos - os pulmões torturados tentam tomar pequenos golpes de ar. Os tecidos, marcados pela desidratação, mandam seus estímulos para o cérebro.

Jesus clama “Tenho sede!” (João 19:28)

Lembramos outro versículo do profético Salmo 22 “Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte.”

Uma esponja molhada em “posca”, o vinho azedo que era a bebida dos soldados romanos, é levantada aos seus lábios. Ele, aparentemente, não toma este líquido. O corpo de Jesus chega ao extremo, e ele pode sentir o calafrio da morte passando sobre seu corpo. Este acontecimento traz as suas próximas palavras - provavelmente, um pouco mais que um torturado suspiro “Está consumado!”. (João 19:30)

Sua missão de sacrifício está concluída. Finalmente, ele pode permitir o seu corpo morrer.

Com um último esforço, ele mais uma vez pressiona o seu peso sobre os pés contra o cravo, estica as suas pernas, respira fundo e grita seu último clamor: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lucas 23:46).

O resto você sabe. Para não profanar a Páscoa, os judeus pediam para que o réus fossem despachados e removidos das cruzes. O método comum de terminar uma crucificação era por crucificatura, quebrando os ossos das pernas. Isto impedia que a vítima se levantasse, e assim eles não podiam aliviar a tensão dos músculos do peito e logo sufocaram. As pernas dos dois ladrões foram quebradas, mas, quando os soldados chegaram a Jesus viram que não era necessário.

Conclusão

Aparentemente, para ter certeza da morte, um soldado traspassou sua lança entre o quinto espaço das costelas, enfiado para cima em direção ao pericárdio, até o coração. O verso 34 do capítulo 19 do evangelho de João diz: "E imediatamente verteu sangue e água." Isto era saída de fluido do saco que recobre o coração, e o sangue do interior do coração. Nós, portanto, concluímos que nosso Senhor morreu, não de asfixia, mas de um enfarte de coração, causado por choque e constrição do coração por fluidos no pericárdio.

Assim nós tivemos nosso olhar rápido – inclusive a evidência médica – daquele epítome de maldade que o homem exibiu para com o Homem e para com Deus. Foi uma visão terrível, e mais que suficiente para nos deixar desesperados e deprimidos. Como podemos ser gratos que nós temos o grande capítulo subseqüente da clemência infinita de Deus para com o homem – o milagre da expiação e a expectativa da manhã triunfante da Páscoa.

© Copyright C. Truman Davis
C. Truman Davis é um Oftalmologista nacionalmente respeitado, vice-presidente da Associação Americana de Oftalmologia, e uma figura ativa no movimento de escolas Cristãs. Ele é o fundador e presidente do excelente Trinity Christian School em Mesa, Arizona, e um docente do Grove City College.


Leia o artigo no contexto original

A DESCONTINUIDADE DAS DESPEDIDAS



Uma coincidência estar frio? Lábios enregelados, visualizei os amigos de Cidelma, em pé diante da entrada. Por mais que as flores estivessem em toda a parte, não havia a contentação primaveril. Desci do carro e minha guia me levou às filhas, as quais encontrei naturalmente abatidas. Dali por diante, caminhei, da forma o mais calculada que pude, pelas rodas de amigos e familiares – abraçando, ouvindo, coligindo fragmentos de uma pessoa. Era uma forma de conhecer alguém que não pude e nem poderei mais conhecer por enquanto.
Um velho conhecido de uma congregação veio me cumprimentar. Apesar de eu ter traçado o que falar, o homem trouxe-me um conselho. Por baixo do blazer preto, fiquei entre estarrecido e maravilhado. Ali estava eu, um jovem pastor, com um currículo de outros velórios, revisando o que falar, quando, de repente… Ora, se não é Deus!
O conselho de um homem simples se mostrou oportuno. Senti que o Senhor falava através do texto bíblico de João 11. Os olhos obnubilados pela perda se voltavam para, esclarecidos pela emoção da fé, acompanhar outro sepultamento. Não Cidelma, Lázaro. Não em uma capela, mas na tumba em Betânia. Lázaro.
Ainda tenho perante mim o cimento na pá. Uma mão ágil espalhando a massa cinzenta pelos tijolos. Pronto! Estava erigida a mureta, separando Cidelma de seus queridos. Mas não por muito tempo. Numa manhã de sorrisos, a voz que chamou Lázaro despertará os ouvidos crentes. O avó que teve um câncer terminal. A adolescente atropelada. O menino pelo qual a igreja inteira orou. Os que morreram em Cristo respirarão não o ar do mundo finito em que viviam (e vivemos), mas encherão seus pulmões com a atmosfera da eternidade.

Disse-lhe Marta: Sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia. Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto? João 11:24-26



quarta-feira, 23 de maio de 2007

INFLUÊNCIA DA BÍBLIA SOBRE NOSSA LÍNGUA



A etimologia de “Babel”


1 O texto de Gênesis 11.7 explica com o uso do vocábulo “balal” a confusão, mistura e transtorno da linguagem única do povo que queria construir uma torre que alcançasse os céus.


2 A palavra tem significado religioso. Os deuses dos construtores feriam o monoteísmo dos hebreus. As inscrições antigas com características do dialeto do cananeu vulgar com sinais interpretados por Gardiner, escreviam “baalat”, sendo confirmado por Willian Albright em confronto com achados de novas escavações. O termo “Baal” (deus, senhor) provavelmente é mais antigo que “Babel”. O zigurate “Etemenanki”, a “Pedra Fundamental do Céu e da Terra“, considerada a torre de Babilônia mencionada na Bíblia, era cercada por um muro onde se apoiavam diversas construções relacionadas com o culto. Devemos ao viajante grego Herótodo e a Ctésias, médico da câmara de Artaxerxes II, as descrições mais detalhadas de Babilônia confirmadas por escavações do arqueólogo alemão Robert Koldewey (Das wiedererstehende Babylon –1925 – em referência bibliográfica 11). Ele desenterrou apenas a gigantesca base e as inscrições provaram que a torre existira e que já devia ter desaparecido nos tempos de Hamurabi. Mas ela foi reconstruída por Nabupolassar que escreveu: “Naquele tempo, Marduk ordenou que se construísse a Torre de Babel, que tinha enfraquecido e desmoronado em tempos anteriores a mim, que assentasse os seus alicerces no seio do mundo subterrâneo e erguesse o seu cume procurando alcançar o céu.” E Nabucodonosor, seu filho, prossegue: “Para erguer o cume de Etemenanki de modo que rivalizasse com o céu, eu pus a minha mão.” Heródoto descreve oito torres sobrepostas. Só a base media noventa metros de largura e noventa metros de altura. Cada cidade babilônica tinha o seu zigurate, mas nenhum se compara à “torre de Babel” que foi obra de escravos e usou por volta de oitenta e cinco milhões de tijolos. Era santuário do povo, objeto de romaria de milhares que veneravam Marduk (Bel) como deus soberano.

3 O árabe vulgar clássico “bâb-al-bá-qara”, “porta das vacas”, é formado por “bâb”, porta, “báqar”, um coletivo de bois e vacas, ou “báqara”, vaca. No português, barbacana ou barbacã, define uma avançada fortificação destinada a proteger pontos estratégicos de uma muralha. A barbacana na verdade protegia um recinto intermediário entre essa fortificação e a muralha principal, onde os sitiados guardavam o gado que os sustentava com carne. “Balbacara” mudou para barbacana por influencia de “albarrana”, torre rodeada pelo recinto dos bois. O aramaico adotou “bavah” para porta, os babilônios a definiram como “bab” de “bab-ilu”, e nomearam Marduk como “Bel”, isto é, senhor, deus, e “Babel” a “Porta de deus” um acesso para os céus.

4 A palavra baba (do árabe baba), define a mucosidade que sai da boca dos bebês que começam a falar os primeiros monossílabos. Faz parte da linguagem infantil misturado com o balbucio. É palavra comum em muitas línguas (espanhol babeo,italiano bava, francês bave).A repetição da sílaba labial, num sentido figurado, simboliza a idéia imatura da civilização primitiva em alcançar os céus com uma torre, talvez uma referência irônica de D’s à sua “força”.


Gláucia Vilela


Nota:

O artigo relaciona ainda palavras de Língua Portugêsa que derivam da palavra Babel (e outros termos correlatos em hebraico). Listamos a seguir o conteúdo de forma resumida (desprezando as definições em caso de palavras cujo significado julgamos ser bem conhecidos e mantendo as indicações da autora original nos demais casos):
Barbacana = avançada fortificação que vai defender os pontos estratégicos de uma muralha

Baba

Balbucio

Babelismo = ocorrência de várias línguas

Babaré = alarido, confusão

Corre o badalo = dar com a língua nos dentes

Badajear = falar muito, a língua

Baderna

Bagaceira = palavreado sem idéia

Balar (XVII) = dar balidos, dizer absurdos

Bátil = no árabe, inútil, vão, que não tem cartas no naipe.

Batologia = (do latim battologia e do grego bato) repetição desnecessária de um pensamento pelas mesmas palavras.

Blaterar = (XX do latim blaterare) falar muito, tagarelar.

Borborismo = ruído surdo dos intestinos causado pelo movimento dos gases.

Burburinho

Rebuliço

Borbulhar

Barba = pelos movimentos que a barba executa em quem gagueja e pela analogia de sons.

Babasque = tolo

quinta-feira, 17 de maio de 2007

TROPEÇANDO NA OPORTUNIDADE


O G1 noticiou os lucros de uma empresa de materiais de construção devido à uma confusão oportuna. Com o nome de uTube, a empresa que funciona a pouco mais de 20 anos tem recebido visitas de internautas a procura de vídeos – isto por causa da confusão com o YouTube, site que disponibiliza vídeos gratuitamente.

De acordo com a matéria, “Inicialmente irritado por causa da identidade parecida, o site uTube resolveu agora aproveitar ao máximo as visitas inesperadas de pessoas que confundiram a escrita do nome da página com o principal site de vídeos da web, o YouTube.…

“[…]agora a companhia passará a cuidar dos fãs perdidos do site de vídeos, ao se ramificar para um mercado totalmente diferente: toques musicais para celular.

“A semelhança levou a audiência do site aumentar de 1.500 para 2 milhões visitas por mês. O YouTube hoje recebe mensalmente cerca de 30 milhões de visitantes.”

Em Novembro do ano passado, o YouTube foi tragado pela gigante Google (numa transação de US$ 1,65 bilhão).

* * *

O mais importante para o uTube foi reconhecer a oportunidade de ampliar suas fronteiras comerciais.

Nem sempre as oportunidades vem até nós. Mas quando elas batem à porta, não devemos esperar a insistência de um vendedor de enciclopédias. As oportunidades têm pressa…

Certa vez, Jesus anteviu o castigo que o Seu povo padeceria: coturnos romanos profanando os arrais do Lugar Santo. Ao fundo, a fumaça preta de um templo incendiado e os gritos de mulheres enviuvadas.

Por quê isto iria ocorrer?

“[…]porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação.” Lucas 19:44.

Desprezar uma oportunidade sai caro. Aproveite hoje, pois Deus quer fazer algo em sua vida. Não deixa este momento escapar. Pode ser a última vez que a misericórdia estende o braço à espera de sua resposta…

quarta-feira, 16 de maio de 2007

POR QUE SAÍMOS DO EGITO ?




Aproximadamente 2 milhões de pessoas participavam da maratona. Nenhum atleta profissional. Nem mesmo alguém que tivesse um personal treiner. E toda aquela massa vinda de um lugar maldito. Recém saídos de uma rotina de servidão e maus-tratos. Mas não pareciam satisfeitos com a liberdade que recebiam de presente. No centro da rebeldia israelita estava o murmúrio de gargantas secas: “por que saímos do Egito” (Nm 11:20)?
Pode parecer que as vozes ingratas dos israelitas sejam algo despido de sentido. É difícil pensar em como um prisioneiro de guerra poderia fazer exigências a bordo do avião de fuzileiros que o resgatou. Uma criança, ao final do turno, não chora nos braços da mãe, pedindo para voltar para a escola. Mas em Números 11:34 está relacionada a maior dificuldade e gerador de problemas em Israel: havia uma mescla de gente tomada pela cobiça (ou “gula”, conforme dizem outras traduções).
Afinal, Deus realizara o livramento de Sua nação. Embora alguns demonstrassem sua ingrata satisfação, os propósitos divinos tiveram suas engrenagens acionadas. O Senhor tinha metas pré-estabelecidas ao livrar Seus filhos. Uma delas, que salta à superfície da narrativa bíblica, é que o Êxodo aconteceria através de atos executados pelas mãos de Deus (Êx 7:4), e, ao mesmo tempo, se constituiria assim num juízo contra os deuses egípcios (ou uma calculada superação por parte de Iahweh das pretensões daquelas divindades falsas), conforme Jetro, o sogro de Moisés, constatou mais tarde (Êx 18:11).
Com isso, ficava evidenciado o poder e supremacia do Deus Verdadeiro. Ao mesmo tempo em que O cativeiro do Egito foi uma espécie de forja para o povo de Deus (Dt 4:20), ensinando-lhes, sobretudo, o desenvolvimento de uma aversão à idolatria[1], Deus salvou Seu povo para que o servissem, andando em Suas leis, como representantes dEle perante os povos. [2]

Suficiência estendida aos insuficientes

A liberdade não foi resultado de uma revolução armada ou greve pacífica à la Gandhi – a Misericórdia, poder e suficiência de Deus cumpriu com um plano infalível, alheio à participação ou iniciativa humanista. Deus convocou Moisés como Seu instrumento – e só. A gratuidade do passaporte para a vida livre deveria motivar ao reconhecimento e consequente serviço ao Deus do Êxodo.
O mesmo se aplica a nós. Ou você pensa que Deus escolheu uma meia dúzia de Clark Kents para compor um quadro de “funcionários do Reino”? Deus escolheu você não por você, que nem sequer merecia uma pitada de Sua saliva divina. Deus o ama e o tirou da escravidão do pecado e das trevas para ser Dele, exclusivamente.
Mas cuidado! Não aja como o povo, que deixou de reconhecer a grandiosidade do livramento divino e se tornou ingrato. “Alguns estão sempre a ver antecipadamente o mal, ou a aumentar as dificuldades que realmente existem, de modo que seus olhos ficam cegos às bênçãos que lhes reclama gratidão.” [3]

O que valida o compromisso

Nesse compromisso firmado com o povo, Deus esperava que houvessem mudanças. Uma vez que seguir nosso próprio coração e nossos olhos leva à infidelidade (Nm 15:39), o coração deveria ser circuncidado (Dt 10:16), para se guardar a lei de Deus, a própria essência de Sua aliança com o povo salvo (Dt 4: 13, 23).
Sem uma ligação afetiva com Deus, esse comprometimento beira o absurdo! Supondo que você fosse um israelita da época pós-êxodo e cumprisse exteriormente as prescrições legais, isso não bastaria ainda; a lei envolvia também o pensamento (Lv 19:17-18).
Mas as leis divinas contém cláusulas não clausuras! Por causa das leis dadas no Sinai, a liberdade seria incomensuravelmente maior do que quando estavam sob o regime de Faraó.
O êxodo recorda que o povo deveria viver sem medo. O Êxodo era uma constante lembrança de que os povos inimigos seriam derrotados, como o Egito o fora (Dt 7:17-19). Ou como Paulo disse: "Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?” Romanos 8: 31up e 32"
Se fomos libertos do pecado em Cristo, que pagou um tão alto preço pela nossa liberdade, não temos, apenas nesse fato, a certeza de que as nossas necessidades diárias, nossas urgências e desafios serão supridos, sem nenhum débito adicional?
É claro que termos uma confiança tão garantida em Deus por aquilo que Ele nos fez não pode nos levar à arrogância! O Êxodo provia uma das razões para se ter compaixão: a própria situação de miséria que Israel enfrentou quando era escravo no Egito (Dt 24:18 , 22). Como Deus nos amou e salvou, devemos ser solidários com aqueles que estão nas trevas da ignorância e erro – principalmente quando nos ferem.
O gesto divino de alforriar Seus filhos e os compromissos do novo status quo não afetam apenas o grupo, mas também o indivíduo. Afinal, fidelidade corporativa não exclui o dever pessoal (Dt 29:18), ou, em outras palavras:
“O terrível poder de Deus que aplica suas armas, a lepra, a serpente e a peste (cf. Êx 4:1-7; Nm 21:6s, 11:33s) contra seus próprio povo, não deixa dúvida de que a aliança feita por Deus não é um refúgio seguro sob o qual alguém possa, astutamente, se servir do poder divino para seus próprios interesses. A aliança reivindica a todo homem, chamando-o a uma entrega sem reservas.” [4] Viva o compromisso de alguém livre em Cristo, alegre e vitoriosamente!

Referências
[1] Ellen White, Patriarcas e profetas p. 200.
[2] Idem, p.201.
[3] Idem, p. 73.
[4] Walther Eichrodt, Teologia do Antigo Testamento, p. 32.


segunda-feira, 14 de maio de 2007

UMA ESCOLHA E SUAS RAZÕES



Enquanto você é conduzido a seu posto, os gritos, assobios e aplausos desencadeiam a liberação de sua adrenalina. Suas pernas não ostentam muita firmeza. Mãos e braços parecem tão fora de local que melhor seria não tê-los. Basta, porém, olhar a figura carismática, trajada com um terno sofisticado, para que você se acomode no ambiente.
O apresentador desfere um sorriso macio. Você se contém, o corpo agora empertigado, encarando a plateia. “É melhor sorrir”, você pensa, “Por que estou diante das Câmeras”. “Bem, vamos à nossa pergunta”, diz o seu interlocutor com uma ousadia polida.
É hora de se concentrar; o programa oferece um valor mirabolante, e algo lhe diz que esta é a sua oportunidade. “Muita atenção: eu vou dar as características de uma pessoa que marcou a História. E você terá que me dizer sobre quem eu falei. Está preparado? Escute com atenção: 
 “O seu pai era um carpinteiro”. Prossegue a voz levemente anasalada. “Essa pessoa não nasceu como fruto natural do relacionamento de seus pais; Apesar de fazer sucesso com seus sermões, dizia não desejar o poder do mundo. Ela procurou instituir a ordem mundial vivendo entre religiosos hipócritas, e se apresentava como juiz de toda a terra”. “Valendo o grande prêmio da noite, responda agora quem é esta pessoa?”
O cronômetro passa a regredir. O auditório suspenso. Você sorri triunfante, certo de que a pergunta está muito fácil. Nesse ponto, sua mão aperta o botão do painel à frente e você diz convicto “Jesus Cristo”. O apresentador mantém o suspense e anuncia que a sua resposta está e… e… errada!!
A personagem é o frade Hildebrando!

NÃO MAIS DO QUE COINCIDÊNCIAS

Surpreso com o que leu acima? Alguns fatos sobre a vida do frade Hildebrando: seu pai realmente era um carpinteiro chamado Banizon. Como ele pôde não ter nascido do relacionamento natural de seus pais? Em verdade, sua mãe adulterou – os historiadores creem que Hildebrando fosse de fato filho de seu tio materno, o abade do convento de Nossa Senhora Aventino.
Concluídos os estudos, Hildebrando fez-se presente na corte do imperador Henrique, o Negro; alcançando grande sucesso com os seus sermões nesta ocasião, foi designado para realizar uma reforma no mosteiro de São Paulo, em cuja direção proibiu a presença feminina (razão de alguns escândalos).
Porém, uma das mais belas serviçais foi apanhada em constrangedora situação justamente...com Hildebrando!
Acima de tudo, a fantástica biografia de Hildebrando revela o seu desejo pelo poder, que até mesmo o levou a envenenar outros oito papas. Chegaria o momento de ver sua empreitada trazer-lhe o êxito: dado o falecimento do papa Alexandre II, os cardeais reuniram-se na Basílica de São Pedro, buscando eleger um nome para ocupar o trono pontifício.
Nas ruas, alguns padres se puseram no meio da multidão passando a gritar por Hildebrando, e o povo não tardou a repetir a aclamação. Um tal fenômeno de massa levou à eleição de Hildebrando, que sendo arqui-diácono já atuara como legado papal.
Assumindo a cadeira de São Pedro, o frade Hildebrando, aliás, agora Gregório VII, aos sessenta anos, trabalhou durante o seu pontificado (1073-1085) para estabelecer seu domínio temporal. Para ele, ser representante de Deus sobre a Terra significava governar o mundo. Em virtude de sua gestão agressiva, a Gregório VII se deve a responsabilidade por inúmeras guerras e mortes. Um exemplo para o que afirmamos temos na famosa Querela das Investiduras.
Gregório reclamou exclusivamente para si a autoridade de nomear bispos, entrando em choque com o imperador germânico Henrique IV. Os revezes se sucederam de ambos os lados. O monarca chegou mesmo a ser forçado a viver por certo período uma vida simples, abrindo mão de suas regalias e posição de comando.
Temendo o pior, o rei não esperou para se encontrar com o papa no concílio - dirigiu-se à Roma. Após algumas negociações (envolvendo ouro), Gregório recebe e absolve Henrique, que por três dias em jejum suportou os rigores do inverno vestido de maneira reles, descalço, enquanto esperava pela audiência à porta do castelo de Canossa!
Em outra atitude polêmica, durante um concílio, Hildebrando afirmou preferir padres devassos, sodomitas (homossexuais) e até incestuosos a aqueles que se casavam!
Creio que já é o momento de pararmos e refletirmos: um rápido olhar sobre as vidas de Nosso Salvador Jesus Cristo e a do frade Hildebrando, que assumiu o pontificado como Gregório VII, pode revelar algumas coincidências. E elas não passam disto: são meras coincidências. Analisadas ambas as vidas a fundo, encontramos dois homens de princípios diferentes. Neles, a maior distinção estava na essência da personalidade: o caráter.
Mas, o que aprofundou o abismo da distância entre eles?

Muitas seriam as razões apontadas, principalmente se entendermos a pessoa de Jesus como a Bíblia a apresenta (um ser divino preexistente e com a mesma natureza que o Pai)! Mas é marcante como se nota um intransponível contraste desde o tipo de lar que tiveram Nosso Senhor e aquele religioso com foros de estadista: enquanto Gregório era filho de uma mulher adúltera, Jesus tinha por mãe uma mulher purificada pela graça de Deus.

sábado, 5 de maio de 2007

O HERÓI QUE NÃO VENCIA




Em que tipo de herói você se apoia?

Para começar: o que é um herói em seu modo e pensar? É aquele sujeito truculento, que fala pouco, bate muito e derrete o coração das beldades de Hollywood? Seu herói tem ossos de adamantium, visão de raio X, ou vive na bat-caverna, tendo em torno de sua figura um roteiro eletrizante, um show de efeitos especiais e um orçamento de centenas de milhares de dólares?
Você acredita que para boa parte dos japoneses o herói seja o Yokozuna, alguém como Asashoryu? Se o sujeito não impressiona com seus 1,84 m de altura, certamente chama a atenção pelo peso: 146 kg! Com o título de Yokozuna (ou “campeão supremo”), o lutador de sumo de apenas 25 anos foi condecorado com uma tsuna (faixa que simboliza o seu status) e um tope de fita, que leva 20 minutos para ser amarrado na cabeça. Ele detém o título. É o campeão supremo. [1]
Curiosamente, nós também admitimos heróis bizarros. Ana Paula Sousa, em recente artigo, fez algumas considerações muito válidas sobre fama e heroísmo:

A origem da fama, no Ocidente, é a Guerra de Tróia. Aqueles heróis exemplares, na definição de Olgária Matos, eram homens que, por um gesto heróico, se tornavam eternos e, assim, driblavam o esquecimento que a morte acarreta.
O conceito de fama hoje em voga remonta às décadas de 50 e 60 do século XX. Até a aparição da chamada cultura pop, havia, para além do heroísmo, as figuras ilustres, sempre ligadas a alguma atividade. “Era o grande político, o grande intelectual, o grande artista. Você ainda tinha a idéia do grande. E grandes são aqueles sem os quais o mundo seria incompleto”, esclarece Olgária. Imagine, portanto, o que seria do mundo sem Luciana Gimenez, Adriane Galisteu e Kleber Bamban, ex-Big Brother, digno de menções pelos feitos do último carnaval.[2]

Recentemente Recebi um e-mail intitulado “Quem são nossos heróis?”

“E agora vamos falar com os nossos heróis...”
Saudação (infeliz) usada por Pedro Bial ao se dirigir aos participantes do programa Big Brother Brasil:
Se alguém se encontrar com ele, pergunte-lhe, por favor, qual a definição de “herói” no dicionário dele...
No meu, Herói é uma coisa muito diferente…

A mensagem segue listando o nome de médicos e educadores e demais voluntários, como Vanessa Remy-Piccolo, Martial Ledecq, entre outros, que atuam no programa “Médico sem fronteiras”, em lugares carentes do mundo. Que contraste entre esses heróis e o heroísmo ánartro de um participante da “casa”.

Um herói agrega valores à sua imagem. E os heróis da mídia, que tipo de valores transmitem? Veja esta interessante análise:

Para Miriam, o sucesso de Alemão, o vencedor do BBB7, se explica pelo fato de ele ter se destacado para o público em situações como a que defendeu Íris dos comentários agressivos do grupo ou quando se arrependeu por ter dado um beijo em Fani confessando que gostava mesmo era da ‘caipira’. Sem falar que infidelidade é um assunto com o qual o espectador se identifica. De acordo com Miriam (que em sua pesquisa – no mundo real – concluiu que 60% dos homens e 40% das mulheres são infiéis), a identificação acontece não só com o traído, mas também com o que comete a traição. “Dhomini está aí para comprovar”, lembra. [3]

Alguém passa a ser herói porque as pessoas se identificam com a sua promiscuidade difundida na mídia!
Gosto deste comentário:

Quando a imaginação desvanece e os sonhos passam a ser construídos pelas imagens que a mídia fornece, o homem se esvazia, sem se dar conta disso. A tevê, com modelos acabados de famílias e vidas, é pródiga nisso. ‘Quando pensamos no papel que vem sendo exercido pela televisão, vemos que há um genocídio cultural no Brasil. Quando você se identifica com Adriane Galisteu... é complicado. E, em geral, quanto menos educação tem uma pessoa, mais sujeita a essas influências ela está. [4]

Heróis sem heroísmo algum. Com feições reluzindo por causa de holofotes, mas sem que nenhuma sombra de glória seja projetada pela luz instantânea de sua fama. Heróis que lutaram para aparecer, apenas pela emoção de aparecerem, nem precisam de um milésimo de suor para desaparecer.
Hoje os valores do heroísmo têm outro fim: comércio!

Os jogadores de futebol hoje são os novos líderes do estilo. Ao contrário das estrelas de cinema e da música, a quem eles se juntam como ícones da moda, os jogadores têm que mostrar uma combinação de disciplina mental e física que os faz genuinamente heroicos. [5]

Certo! Novos heróis, que servem para quê? Ícones da moda! Desde quando heroísmo tem que ver com marcas e passarelas?
Permita-me agora falar de outros heróis.

Algum herói já foi seu professor ou sentou-se ao seu lado na faculdade? Alguma vez uma heroína dividiu a sala de escritório com você? Existem heróis em sua família, na igreja ou no bairro?
Não estou me referindo aos heróis dos blockbusters. Nem penso nos que jogam no Barcelona, na Internacionale de Milao, no Internacional de Porto Alegre, no São Paulo ou em outros times de futebol. Eu estou pensando em heróis mais próximos.
Estes heróis diários não usam máscaras, todavia não são reconhecidos. Não têm superpoderes, e, ainda assim, salvam vidas. Não possuem treinamento suficiente para cumprir missões-impossíveis, mas possuem unção espiritual. Não podem dominar exércitos, mas conseguem algo maior: dominam a si mesmos.
Aqui temos um homem que teria tudo para ser um herói: seu abdômen foi cinzelado por um artífice milagroso. Seu cabelo ao vento, dividido em intermináveis tranças, flutua aerodinamicamente. Seus olhos são astutos, sua língua capaz de proferir trocadilhos que fariam um acadêmico ter matéria para uma tese em linguística. Ele é o líder capaz de fazer uma feminista se esquecer por um momento de que os homens não prestam – ou que, ao menos, existem exceções louváveis! Sansão era isso tudo; no entanto…
Tem algo de errado com este herói! Tem de haver! Porque todo herói que se preze, por mais que sofra zombarias, caia em emboscadas, seja capturado, suporte torturas, ainda assim vence, não é? Você já assiste ao filme sabendo que, de alguma forma (que o enredo se encarregará de explicar) o herói será vitorioso. Todo herói vence.
Ninguém gasta seu tempo colando nas paredes do quarto o pôster do vice-campeão da Fórmula 1. Não se acham em nenhum site wall-papers dos boxeadores que apenas sofreram nocautes em sua carreira. Aos vencedores, as batatas. Aos perdedores, coitados!, nem lhes restam os quiabos!
Porque Sansão é um perdedor, se têm tantos atributos? Arthur E. Cundall responde essa difícil questão quando sintetizou a vida de nosso herói:

[…] Todos os juízes foram individualistas; a maior parte deles tinha falhas de caráter. […] num grupo de indivíduos com características próprias, Sansão coloca-se numa categoria à parte. Embora dotado pelo Espírito do Senhor, e dedicado a um voto vitalício de nazireu, sua vida parece girar ao redor de relacionamentos ilícitos com prostitutas e mulheres de vida livre. […]Sua história é triste, pela falta de disciplina e de verdadeira dedicação, enquanto o leitor fica imaginando o que poderia Sansão ter feito se seu enorme potencial tivesse sido marcado e temperado por estas qualidades mentais e espirituais. [6]

Bingo! Você percebe? Seu potencial é promissor, o momento é bom, Deus lhe deu condições, mas… Sansão não vence. Um herói que não vence.
Ok, pare um pouco neste exato momento: quero refletir sobre os motivos que atrapalharam Sansão de vencer. E, aonde quer que você estiver lendo isso, numa cadeira reclinável em seu escritório ou mal acomodado nos assentos do metrô, pense se as causas do fracasso de Sansão também não coincidem com as de seus fracassos.

Trecho do livro Paixão Cega (que pode ser adquirido aqui)

[1] National Geografic Brasil, Julho 2006, p. 19.
2 Ana Paula de Souza, “Fama para todos”, Carta Capital, Março de 2007. Extraído de . Acesso: Mar. 14 de 2007.
[3] Disponível em:
[4] Souza.
[5] Calvin Klein, citado por Isto É Gente, 8 de Maio de 2006, Ano VII, n° 350.
[6] Arthur E. Cundall e Leon Morris. Juízes e Rute – Introdução e comentário.  Sociedade Religiosa Vida Nova, São Paulo. 1ª edição: 1986, Reimpressões: 1992, 2006.