segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

VENCER POR CAUSA DELE


A controvérsia sobre que tipo de natureza humana Jesus assumiu em Sua encarnação assume um caráter prático, refletido na vivência cristã. Se aceitarmos que Ele possuía uma natureza humana como a nossa, se Ele foi essencialmente como nós, podemos ser como Ele, obtendo perfeição absoluta. Contra esta tendência, relacionada com os termos pós-lapsarianismo (conceito de que Jesus veio com a natureza pecaminosa) e perfeccionismo (afirmação de que podemos ser perfeitos nesta vida), o Pr. Amin Rodor ergue sua voz. No artigo Cristo e os cristãos (revista Parousia, revista do Seminário Adventista Latino-americano de Teologia – Sede Brasil - Sul; 2008, ano 7 – nº 1, p. 45-73), Rodor trata da questão, baseando sua argumentação no ensino bíblico e nas declarações de E. G. White.
O tom do artigo, publicado na revista Parusia, é apologético, às vezes sendo incisivo e mesmo duro com aqueles que, por ignorância ou desonestidade, torcem a Palavra de Deus, fazendo com que ela apoie suas conclusões precárias. Ainda assim, o texto de Rodor possui suficiente abrangência para clarear o que os perfeccionistas soem confundir.
De início, o professor Rodor estabelece que a “1) extensão de sua [de Jesus] identificação conosco foi determinada por quem Ele era, e 2) A extensão de sua identificação foi também determinada por sua missão como Salvador da humanidade.” (p. 51).
De forma reincidente, o artigo trata Jesus como um conosco, não um de nós. Mais à frente, Rodor afirma: “Qualquer leitura responsável de Ellen White não deixaria passar despercebido o seu cuidado em tornar claro, além da dúvida razoável, que Cristo não participou da corrupção do homem, de suas paixões ou propensões malignas, do orgulho humano, inveja, rivalidade, egoísmo ou qualquer inclinação para o mal. Para ela, mesmo entre Cristo e os cristãos existe uma imensurável distância.” p. 60.
A despeito do que afirmaram pioneiros, como A. T. Jones e E. J. Waggoner, e eminentes denominacionais, entre os quais M. L. Andreasen, defensores do pós-lapsarianismo, Rodor esclarece que nosso compromisso maior se dá com a Revelação (p. 65). Neste sentido, o artigo aborda a famosa carta a Baker, um dos momentos em que E. G. White mais claramente elucida que não podemos rebaixar o Salvador ao nível comum da humanidade.
De fato, os autores e ministérios independentes que se apoiam em declarações de Jones e Waggoner, chegam a defender sua apostasia, além de procurar veicular a chancela de Ellen White a estes autores. Infelizmente, além da idolatria aos pioneiros apostatados, a falta de critério em analisar todas as declarações de White em conjunto pesa contra a integridade da proposta de tais advogados do pós-lapsarianismo.
Em vista disso, só podemos agradecer a Deus que nos enviou um Salvador perfeito, incomparável, como gosta de frisar Rodor. Seu artigo, além de documentar a concepção de Ellen White, em flagrante contraste com a daqueles que entendem que Jesus possuísse uma natureza pecaminosa, nos incentiva a perseguir a verdadeira compreensão – aquela que nasce do entendimento de nossa pecaminosidade e da certeza de que mediante Jesus, o segundo Adão, podemos vencer, não como Ele venceu, mas porque Ele venceu. Como entender a graça no contexto da visão adventista de salvação? A graça se relaciona ao plano de Deus em reproduzir Seu caráter em nós. Não se resume ao modo como Ele lida com os pecados que cometemos, mas inclui também o modo como Deus me leva a tomar decisões práticas, a ser obediente em todas as áreas. Quem confunde obediência com legalismo deveria, no mínimo, repensar seu adventismo e se perguntar se as distorções evangélicas não têm afetado sua compreensão da própria salvação. Temo que muitos se choquem tanto ao ler sobre isso porque sempre pensaram como evangélicos, sem terem sido ensinados a pensarem como adventistas. Trágico assim.



domingo, 30 de janeiro de 2011

ATIÇA A TAÇA

ODE III (da série Odes da Restauração)

Atiça a taça – anda! Perpassa a espuma, obra-prima a expor o gozo
Que aos pés dê sossego se estragam as gramas já griséis. Saca, encha,
Degusta; quem sabe dispersem alguns dos goles teu desgosto?
E quando o espumante deixar a garrafa? E quando a luz ruflar?
Tens tintos os lábios, mas teu labirinto finda os maus labores?
Verás, ao acordares, vergar-se o primevo viço. Em vão, vais, ébrio,
Ouvir o convite: lisonjas o vinho em festas faz. Lisuras…

O TEMPO ENTRE TEMPOS

“O reino de Deus foi inaugurado em Jesus Cristo, mas sua consumação final permanece um evento futuro. […] Aqueles que vivem sua vida baseados na convicção que a história do Novo Testamento é confiável, então, entenderão por si mesmos como viver no tempo entre os tempos – o eon (de duração incerta) entre a inauguração e a consumação do reino de Deus.”

Glen H. Stassen & David P. Gushee, Kingdom Ethics: following Jesus in contemporany context (Downers Grove, Ill: InterVarsity Press, 2003), p. 20.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

AS RESPOSTA É QUE ERAM DIFÍCEIS - DE ACEITAR!

O debate [entre partidários da alta-crítica liberal e aqueles que mantinham o método gramático-histórico de interpretar a Bíblia, adotado oficialmente pelos adventistas] foi intensificado pela publicação do controverso Inspiration: Hard Questions, Honest Answers [Inspiração: Questões difícieis, respostas honestas] (1991). Além de usar o método histórico-crítico, Inspiration foi controverso porque o método levou o autor do livro [Alden Thompson, atualmente professor da Walla Walla University] a questionar alguns dos ensinos antigos dos adventistas do sétimo dia.

Por exemplo, entre outras coisas, o autor de Inspiration (a) faz uma dicotomia entre atos salvíficos e declaração factual, sendo que nos relatos das escrituras há algumas coisas que são “essenciais” e outras que são “discutíveis”; (b) rejeita a declaração da Bíblia de que o santuário original no deserto foi construído como uma cópia do celestial (Ex 25:40), sugerindo que a ideia foi emprestada dos vizinhos cananeus; (c) afima que quando o livro de Hebreus se refere ao santuário “celestial”, a referência poderia ser entendida em termos do dualismo platônico; (d) aceita o milagre do Êxodo, mas mantém que o exato “número de pessoas envolvidas no Êxodo não é crucial”; (e) não reconhece o miraculoso dilúvio nos dias de Noé, mas sustenta que o dilúvio bíblico foi “menos do que [um] evento universal”; (f) crê na história bíblica e argumenta que a informação sobre números, genealogia e datas pode estar “distorcida”.

Samuel Koranteng-Pipim, Must We Be Silent? Issues dividing our church (An Arbor, Michigan: Beran Books, 2001).

Nota: O livro de Thompson ainda alimenta as conclusões de adventistas que não aceitam doutrinas e recomendações da igreja, em áreas que envolvem adoração, entretenimento, e, e.g., o estilo de vida próprio dos adventistas. Ou seja, os liberais se apóiam em revisionismo da perspectiva da teologia liberal, embora Thompson não seja um teólogo radicalmente liberal.

Mas como um homem desses escreve um livro assim, publicado pela Review an Herald? Embora nem todas as questões sejam de fácil resposta, uma resposta honesta (para usar o jogo do próprio Thompson) seria que, mesmo entre membros adventistas ao redor do mundo, alguns já se contaminaram com a teologia liberal.

Triste prova disso é que, na última assembleia da Associação Geral, a IASD teve de votar rafirmando sua crença no criacionismo, discutida por alguns dentro da denominação. No caso de Thompson, claro que, entre nossos teólogos, Inspiration não ficou sem resposta.

Não devemos nos desanimar, porque Deus dirige o Seu povo. Os fieis não serão confundidos. Aqueles que se apegarem à Bíblia e aos escritos de Ellen White, terão condições de identificar os enganos em nosso meio, sejam tais sofismas provenientes de grupos dissidentes, ou mesmo de pessoas dentro da denominação que estejam equivocadas. Estamos, de fato, vivendo nos dias finais da História deste mundo!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

COMO ERA A HUMANIDADE DE JESUS?

Debates a respeito da natureza humana animam prolixas discussões entre adventistas norteamericanos – a começar pelos teólogos, passando por ministérios independentes, até chegar às igrejas. No Brasil, alguns pastores e membros leigos se envolveram na controvérsia. De fato, a compreensão do assunto denominada perfeccionismo tem confundido muitos adventistas. Basicamente, o perfeccionismo advoga que Jesus veio ao mundo com uma natureza pecaminosa, embora jamais houvesse pecado. Assim como Ele venceu o pecado, nós, que também possuímos uma natureza pecaminosa, podemos seguir Seu exemplo e alcançar uma vida sem pecado.

A ideia, que remonta a pioneiros como A.T. Jones e E. J. Waggoner, recebeu forte contribuição de M. L. Andreasen. Andreasen, por muito tempo um teólogo expoente no adventismo, defendeu em seu clássico O ritual do santuário que a última geração antes da volta de Jesus viveria sem intercessor diante de Deus; ele acreditava que, para isso, a última geração se constituiria de crentes que atingissem tal perfeição cristã que fossem incapazes de pecar.

Em meio ao posicionamento controverso de Andreasen, muitas reações e endossos a seu pensamento surgiram entre estudiosos adventistas, gerando extrema polarização. Parte essencial do debate envolve a compreensão da natureza humana de Jesus; ao encarnar, o Salvador assumiu a natureza humana de Adão anterior (pré-lapsarianismo) ou posterior (pós-lapsarianismo) ao pecado? O raciocínio perfeccionista admite a última posição, enfatizando que, dessa forma, Ele se torna nosso exemplo para que, como Ele venceu, possamos vencer progressiva e absolutamente o pecado.

Tanto perfeccionista como seus opositores valem-se de textos de Ellen G. White para endossar seus conceitos. Isso levanta a questão: qual, de fato, era o posicionamento de Ellen G. White sobre a natureza de Jesus? Com o objetivo de esclarecer a questão, o teólogo adventista Woodrow W. Whidden escreveu Ellen White e a humanidade de Cristo: Cristo veio ao mundo com a natureza de Adão antes ou depois da Queda? . O maior mérito de Whidden consiste em apresentar declarações de White catalogadas pela data em que foram originalmente publicadas. A estrutura que ele oferece é de fácil compreensão e seus comentários sucintos são mais elucidativos do que impositivos.

Embora a posição do autor fique desde o início implícita, ele sugere uma atitude menos belicosa em face do debate corrente. Whidden chega a promover os termos identidade para identificar aspectos que sugerem similaridade entre a natureza de Jesus e a dos pecadores e singularidade, para ressaltar em que aspectos Sua natureza diferia da nossa (p.20).

Whidden cobre um tema secundário da discussão, a saber, a noção de pecado presente nos escritos de Ellen White. A respeito da depravação, o autor pondera: “Os pecadores não são livres para iniciar uma experiência salvífica com Cristo, mas o são para aceitar essa experiência ou rejeitá-la. Isso provavelmente sumariza o entendimento de Ellen White.” (p. 26).

Tendo o pecado trazido conseqüências físicas, morais e relacionais ao ser humano, Whidden analisa o quanto disso teria influído sobre a natureza humana de Jesus. “De fato, ‘fraqueza’, ‘natureza caída’ e ‘debilidade(s)’ (ou ‘debilitado’) eram, de longe, sua [de Ellen White] maneira preferida de descrever a identidade de Cristo com a humanidade.” (p.36). O professor Whidden faz, adiante, a distinção válida entre ser infectado pelo pecado (ou seja, possuir uma natureza pecaminosa) e ser afetado por ele (o que implica em limitações físicas, tais quais como sono, fome, cansaço, etc, e sentimentos negativos, como medo, angústia etc., p. 43).

Fica explícito que, no pensamento de Ellen G. White, Jesus só poderia ser afetado pelo pecado, uma vez que precisava ser alguém santo e impecável a fim de nos salvar (p. 39, 98). Ainda assim, algumas expressões de White devem ser entendidas no respectivo contexto, sob pena de serem mal compreendidas. Termos como “propensão”, “paixão”, “susceptibilidade”, “tendência” e “inclinação” dependem de como são qualificados em cada texto específico (p. 61). O mais importante é o equilíbrio nas declarações pontuais da pioneira adventista, que apresentam, nos eu conjunto, Jesus como incontaminado pelo pecado, ao mesmo tempo em que completamente identificado com as necessidades dos pecadores e capaz de lhes prover forças para vencer às tentações (p.101, 110).

A partir das diversas declarações de Ellen White reproduzidas no fim do livro, pode-se entender pelos menos alguns aspectos essenciais de sua compreensão cristológica: a) Jesus era verdadeiro homem e verdadeiro Deus; b) Ao encarnar, Ele assumiu as fraquezas humanas da humanidade, em termo de debilidades, limitações, mas nunca no que tange à natureza moral; c) justamente por assumir a fragilidade humana, Jesus estava em desvantagem com relação a Adão antes da Queda (embora ambos tivessem uma natureza espiritual, não-propensa ao pecado); d) sendo a constituição moral de Jesus superior à nossa, ele foi proporcionalmente tentado em maior grau; e) vencendo a tentação, Jesus partilha de Sua vitória com todos aqueles que O recebem pela fé, de maneira que triunfem sobre a tentação pelos méritos dEle; f) mesmo o nosso serviço abnegado e mais elevado será aceito por Deus somente mediante os méritos purificadores do Senhor Jesus administrados por Sua intercessão no Santuário Celeste; g) enquanto aguardamos o retorno de Jesus, permaneceremos com a natureza pecaminosa e suscetível à queda; apenas na glorificação seremos semelhantes a Jesus (1 Jo 3:1-2).

O trabalho exaustivo de Whidden oferece ao leitor, mesmo aquele que não possui treino teológico, uma via de acesso rápido à compreensão bíblica e do Espírito de Profecia sobre a pessoa e obra do Salvador Jesus. Embora gráficos comparativos pudessem ajudar na apresentação do material, destacando pontos importantes enfatizados por Ellen White, a ausência deles não desqualifica o trabalho do autor. Dificilmente, o leitor que chegue ao final de suas 200 páginas poderia, sinceramente, ter outra compreensão cristológica senão aquela endossada por Whidden.

sábado, 22 de janeiro de 2011

SEM A BASE, O QUE RESTA?

“[…] que fundamentos há para a fé cristã se os eventos históricos do Antigo Testamento não são nem autênticos, nem confiavelmente registrados? Além disso, que autoridade teriam as Escrituras do Antigo Testamento se a história de seu registro é questionável?”
G. Van Groningen, Joshua – II Kings: Deuterenomic? Priestly? Or Profetic writting? Journal of the evangelical Theological Society (JETS), vol. 12, no 1, Março de 1969,p.5. Disponível aqui.
Nota: Desde o século XVIII, os ataques contra a historicidade do Antigo Testamento se acirram. Hoje, a imprensa popular reproduz muitas das controvérsias teológicas de forma unilateral, exaltando os estudiosos partidários do método histórico-crítico, sem oferecer espaço para os demais biblistas que advogam a integridade do texto bíblico.
O efeito? O leigo fica com a impressão de que os "mais abalizados" estudos "provam" que a Bíblia não é a Palavra de Deus. Entretando, estudiosos liberais e conservadores sempre conviveram e basta dizer que muitos dos pressupostos da alta crítica ruíram mediante recentes descobertas arqueológicas. As evidências em favor do texto bíblico pesam muito mais do que os argumentos dos liberais. Bata que se confira isso. Tal constatação nos permite confiar no texto recebido e louvar a Deus, que preservou Sua palavra.
Infelizmente, com tudo isso, muitos cristãos que se dizem conservadores rejeitam o Antigo Testamento, base para a mensagem de Jesus e corpo de critérios que nos permite aquilatar Sua messianidade...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

DE ONDE NASCE A INJUSTIÇA?

À SOMBRA DO TIRANO (fragmento inicial)

Que mal cultiva no homem a revolta?
Por certo, às vezes, não é um mal,
Senão a ausência de um bem. Não que a lei
Seja falha – mas não há quem a cumpra;
Não que a moral se enrugue – mas não restam
Muitos capazes de vivê-la na íntegra.
A deficiência está na índole fraca,
Frente a qual erros mínimos se aceitam,
Pelo que se abre a entrada a erros frequentes.
A força positiva do bem morre
Quando não posta em curso por descaso
A um alegado excesso de justiça,
Que não é outra coisa que a Justiça.
E quando um bem não feito leva a um mal,
A justiça é deixada pelos homens,
Como intrinsecamente defectível,
Embora o erro estivesse em não cumpri-la
Nos exatos preceitos. Do abandono
Da Norma surge a busca de outra norma,
Humana em seu caráter, e, sendo assim,
Ainda mais sujeita ao erro ostensivo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

CONTRA TODOS OS SISTEMAS - SÓ NA TEORIA!

“Pós-modernos opõem-se a sistemas somente em um nível teórico, não na vida cotidiana. Assim, não há vantagem em rejeitar algo no nível teórico que se prove eminentemente produtivo na existência comum. Podemos entender por que pós-modernos precisam descartar as estruturas da modernidade, a ciência que conduziu ameaças ecológicas e nucleares para o planeta; mas a modernidade tem mais do que isto. Ela possui uma boa parte que continua na pós-modernidade, porque a vida é mais ordeira do que a teoria pós-moderna permite.”

Norman Gulley, Christ is coming! (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1998), p. 31.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

SÓ UM PEDAÇO DE PAPEL COLORIDO ?

LEMBRO-ME de certa vez quando dei uma palestra para a Força Aérea e que um velho e experiente oficial levantou-se e disse: “Não sei qual a utilidade disso tudo. No entanto, veja bem, eu também sou um homem religioso. Sei que há um Deus. Eu o senti quando estava sozinho, no deserto, à noite: um grande mistério. E esta é precisamente a razão por que eu não acredito nos seus dogmas e nas suas fórmulas reducionistas e bem comportadas sobre Deus. Para qualquer um que já o tenha encontrado, tudo isso parece tão mesquinho, pedante e irreal!”

De certa forma, até concordei com aquele homem. Penso que ele deve ter tido alguma experiência real com Deus no deserto. E quando ele voltou dessa experiência para os credos cristãos, acredito que ele voltou de algo real para algo menos real. Da mesma forma que uma pessoa que olha da praia para o oceano Atlântico e, depois, olha o Atlântico no mapa — ela também estará voltando de algo real para alguma coisa menos real: das ondas do mar para um pedaço de papel colorido. Porém, é aí que está o ponto. O mapa é reconhecidamente um pedaço de papel colorido, mas há duas coisas que você deve lembrar. Primeiro, ele é baseado no que milhares de pessoas descobriram navegando o Atlântico de verdade. Dessa forma, um indivíduo tem atrás de si milhares de experiências tão reais quanto a que você poderia ter tido da praia; com a diferença de que, enquanto a sua seria um vislumbre único, o mapa reúne todas as variadas experiências. Segundo, se você quer chegar a algum lugar, o mapa é absolutamente necessário. Para quem está apenas interessado em fazer algumas caminhadas na praia, a visão pessoal é muito mais agradável do que olhar para um mapa. Acontece que o mapa terá mais utilidade do que as caminhadas pela praia se você deseja chegar a outro continente.
– de Mere Christianity [Cristianismo Puro e Simples]

Retirada de Um Ano com C. S. Lewis (Editora Ultimato, 2009)

domingo, 16 de janeiro de 2011

BONS TEMPOS!

A menina voltando para casa, atrasada e com a sensação de estar sendo seguida, basta que olhe para trás e – ah!, bem que suspeitou, lá vem ele, o tipo suspeito, ela corre, primeiro de forma disfarçada, depois sem se dar com as aparências, atravessa a rua, na tentativa de despistar o pulha, mas ele corre como um maratonista, se não fosse a adrenalina dela funcionando como um propulsor e ele a alcançara, já que ninguém na rua parece se importar com o drama urbano da adolescente até que – ufa! – a casa de uma amiga, aquela na esquina, com um jardim desmazelado e grades alaranjadas.

Bate. O pai da colega. Traja um pijama, sonolento. Que horas? Ouve a moça com atenção. O bandido à espreita. A garota trêmula. Um fusca “baratinha”. É a polícia. Ela acena. Passam. O homem entra para pegar a chave. Nisso, chega a Rota.

Num aceno da jovem, uma manobra arrepiante e o camburão para. A vítima explica o que lhe sucedera pelo caminho. O bandido se apavora e, pelos muros de uma fábrica a poucos metros, lança algo que conservara em mãos. Para seu desconforto eterno, os policiais captaram a cena.

A Rota cerca o meliante. Eles o revistam, socam, perguntam, socam, sacodem, socam, viram de ponta cabeça… em poucos instantes, a guria fica frente a frente com o perseguidor. “É esse safado que perseguia você?” Ela coça a cabeça, confusa. Afinal, como reconhecer alguém naquela pasta que um dia fora um rosto? Um roxo aqui, um hematoma ali, muito sangue coagulado e se poderia ter matéria para dois episódios do CSI!

Os rapazes da Rota, gentilmente, levam a pequena em casa, mostrando-se atenciosos pelo caminho. Chegam na casa de seus tios, ela muito assustada ainda. Os oficiais explicam aos parentes dela o ocorrido, que se aterrorizam a medida que ouvem. Depois de agradecerem o trabalho dos policiais, o senhor mulato e de boa voz, fala aos homens fardados, apontando para o documento que tem em mãos: “Olhe, eu sou militar também e queria pedir um favor para vocês – posso dar um soco nesse canalha?” Mais uma vez, a polícia demonstra sua gentileza: o rapaz é retirado do camburão, seguro e… eis que um soco cheio de vontade lhe atinge o rosto já tão sovado!

A senhora, diante de tamanha violência, se aproxima do pobre criminoso e, sem o menor aviso, cospe-lhe direto no rosto. “Depravado!”. Em clima de tantas cortesias, a Rota conduziu o prisioneiro ao carro e saiu cantando pneu. Dizem que o criminoso não apareceu mais pelas bandas; na verdade, ninguém nunca mais o viu. Bons tempos aqueles!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O "XIS" (BRANCO) DA QUESTÃO

Será esse meu futuro?
Ainda em férias, acordei ao lado da esposa. Fizemos o culto juntos, oramos e ainda conversávamos na cama. Já estávamos quase levantando, porque tínhamos em mente ir para a praia cedo. Foi quando Noribel, olhando fixamente para a minha cabeça, disse: “amor, um cabelo branco”.

Serei sincero: não me surpreendi. Na verdade, todo o tempo as pessoas acham que estou com cabelos brancos. O tom do meu cabelo não chega a ser preto e, contra a luz, alguns fios refletem, dando a impressão de serem claros ou mesmo brancos. Mas minha esposa insistiu e foi ao banheiro, buscar uma tesoura pequena.

Em poucos instantes, ela achou novamente o fio que a impressionara. Cortou-o em duas partes e me mostrou: branco, completamente branco. O primeiro que assomou na minha jovial (agora nem tanto!) cabeleira.

Confesso que não é das sensações mais agradáveis do mundo descobrir indícios de calvície ou encontrar cabelos brancos. Se do primeiro mal estou longe (geneticamente longe de sofrer), o segundo me alcançou hoje. Peguei as duas metades do “intruso albino” e levei-as para o escritório, colocando-as uma sobre a outra em cima do arquivo. O branco das duas partes do fio ganhou novos ares sobre a superfície cor de tabaco. Formou-se um “Xis”. E o “Xis” me remeteu à hereditariedade.

O pai teve seu primeiro cabelo branco aos vinte e seis ou vinte sete anos, já não me lembro. Minha mãe, só teve fios brancos depois dos trinta. Bem, tecnicamente, ela não tem nenhum fio branco na atualidade (coisas de mulher).

O que achar um cabelo branco mudou para mim? Praticamente nada. A não ser pelo fato de criar certa expectativa, um sentimento de que uma fase nova da vida surge a galope. E tal fase (maturidade? Meia idade? Pouco importa o nome...) será curtido com todos os seus momentos - inclusive, com os próximos cabelos brancos que vão pintar (com perdão do trocadilho) por aqui.
continua...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A BELEZA DE SER (CORRETAMENTE) BATIZADO

No tradicionalismo do Papa Bento XVI, não faltam oportunidades para incutir na mente dos fiéis que a única forma de ser autenticamente cristão é ser um católico, e, como católico, seguir a risca as tradições da igreja. Entrementes, muitas dessas tradições interferem grosseiramente na compreensão da verdadeira mensagem bíblica. Nesse caso, ser um católico tradicionalista implica em abandonar princípios cristãos!

Um exemplo: ao rezar ontem o Angelus, na praça de São Pedro (Roma), o pontífice declarou: “Não por acaso, de fato, cada batizado adquire o caráter de filho a partir do nome cristão, sinal inconfundível de que o Espírito Santo faz nascer ‘de novo’ o homem, a partir do seio da Igreja [leia-se: “Igreja Católica”].” A declaração valoriza a prática católico-romano do batismo infantil, enfatizando que ela “faz nascer de novo” a criança.

Obviamente, mesmo uma leitura superficial do Novo Testamento esclarecerá que nenhuma criança foi batizada. O batismo de Jesus, exemplo ao qual Bento XVI alude, se deu quando o Senhor contava cerca de 30 primaveras (Lc 3:23). Mais ainda: entre as condições para o batismo, aparecem crer e se arrepender (Mt 3:6, 11; Mc 16:16; At 2:38, At 16:31), coisas que recém-nascidos e crianças muito pequenas são incapazes de fazer sozinhas e que não pode ser feito por procuração (por pais, padrinhos ou familiares). Batismo infantil é prática anti-bíblica.

Bento ainda arremata: “Gostaria de encorajar todos os fiéis a redescobrir a beleza de ser batizados e pertencer à grande família de Deus e a dar testemunho alegre da própria fé, a fim de que esta gere frutos de bem e de concórdia”. Certamente, o apelo é parcialmente correto. Deus quer que todos sejam batizados e pertençam à sua família, vivendo para ele. Concordo com isso em gênero, número e grau! Entretanto, esse batismo apenas terá validade se for realizado da forma bíblica, por imersão, desde que cada um possua idade suficiente para decidir por si próprio.

sábado, 8 de janeiro de 2011

CONSCIENTE




Não foi por mero conforto,
Bem o diria a sobrinha
Que morava na outra quadra.
É certo que, se tentara,
Fora ao menos para a rua
E algum vizinho o veria
(Havia gente por perto,
Crianças atrás de bolas
E senhoras no jardim,
Sendo que muitos sabiam
De suas complicações).
Telefonar? Para quem?
Todos trabalham longe
E, é provável, não viriam
A tempo de socorrê-lo.
Sentou-se no sofá, tonto,
A vista em torvelhinho, ébrio,
Não pelo álcool. Respirou.
Seu semblante contrastava
Com aqueles dos retratos,
Em felicidade plástica,
A narrar, indefectíveis,
Proezas nos bastidores.
Tinha orgulho da família.
Chiava, o peito ebulindo,
Uma tontura de louco,
Dedos vincando no sofá.
Pálido e exausto, decide-se:
Deus foi bom por tantos anos,
Por que se desesperar?
Acordou ao ouvir seu nome.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

PAIS ANALÓGICOS E FILHOS DIGITAIS

A edição de domingo do jornal The New York Times deu atenção de primeira página ao problema do bullying entre adolescentes na internet. Não dá para se duvidar de que a internet e a explosão de mídias sociais estão facilitando a chegada de uma forma nova e profundamente sinistra de bullying [também chamada de ciberbullyng], e as consequências para muitos adolescentes são graves. Para alguns, a vida se torna uma estória de horror de insultos, rumores, difamações e pior.

Enquanto isso, muitos pais estão desnorteados sem saber como ajudar — quando não, estão completamente indisponíveis no momento.

Conforme informa Jan Hoffman: “Já é difícil apoiar uma criança enquanto ela passa pela experiência de estar cercada pelo bullying no pátio da escola. Mas o território sem lei da internet, seu potencial para crueldade casual e surpreendente e sua capacidade de acobertar a identidade de quem comete o bullying apresentam incertas mudanças novas para essa geração de pais analógicos nesta época de transições”.

Esses “pais analógicos” são muitas vezes vastamente menos equipados, em termos de conhecimentos especializados das mídias sociais em comparação com seus filhos digitais e seus colegas adolescentes. Não é de surpreender a ninguém, pois, que os que cometem bullying estejam ganhando a guerra.

Certa advogada de Nova Jérsei perguntou para uma plateia de um salão cheio de alunos da sétima série se eles já haviam sofrido bullying na internet. Dos 150, 68 levantaram a mão. Ela então perguntou: “Quantos de seus pais sabem como ajudar você?” Só três ou quatro levantaram a mão.

Conforme o artigo revela, muitos pais nem mesmo parecem saber que os smartphones que deram para seus filhos são realmente computadores móveis. Outros pais parecem estar cegos para o fato de que esses aparelhos tanto enviam como recebem mensagens. Ainda outros se apegam a uma noção perigosa e irresponsável de privacidade dos adolescentes.

Os pais precisam assumir o controle. Armar-se com o conhecimento é o primeiro passo, mas reunir coragem para estabelecer limites, regras e consequências claras é de igual importância.

Só duas semanas antes do caso de bullying na internet, o jornal publicou outro artigo de primeira página sobre a natureza distraída dos adolescentes digitais. O jornalista Matt Richtel disse dos adolescentes que estavam aparentemente sem condições de fazer seus deveres de casa e tarefas de leitura, simplesmente porque não conseguiam colocar de lado seus aparelhos digitais.

Para o jovem Vishal Singh, de 17 anos, o livro sempre parece perder para o computador. Representante de milhões de seus colegas, Vishal se sente muito mais à vontade no mundo virtual de sua vida digital do que no mundo real, onde os livros precisam ser lidos, provas precisam ser feitas e notas serão dadas. Considere estes parágrafos:

[Vishal] também joga vídeo games 10 horas por semana. Ele regularmente envia atualizações de sua situação no Facebook às 2h da madrugada, mesmo em noites escolares, e tem uma reputação tão forte por distribuir links de vídeos que seus melhores amigos o chamam de um “abusador de YouTube”.

Vários professores chamam Vishal de um de seus estudantes mais brilhantes, e eles ficam tentando imaginar o motivo por que as coisas não estão fazendo sentido. No último semestre, sua média de notas foi 2,3 depois de um pouco mais que um D em inglês e um F em álgebra II. Ele tirou A em crítica cinematográfica.

“Ele é um garoto apanhado entre dois mundos”, disse o sr. Reilly [diretor da escolar dele] — um que é virtual e um que tem exigências de vida real.Vishal e sua mãe concordam em que ele não tem domínio próprio para desligar o computador e abrir o livro. Ele não está só. Richtel conta de Allison Miller, de 14 anos, que “envia e recebe 27.000 textos por mês, seus dedos clicando num ritmo vertiginoso enquanto ela mantém sete conversações de texto de uma vez só”. Sean McMullen, um estudante do grau 12, joga vídeo games por quatro horas por dia em dias escolares e joga o dobro nos finais de semana. Esses adolescentes não são casos isolados — eles representam o que constitui um novo padrão entre adolescentes dos EUA.

Essa sentença do artigo é de forma particular inesquecível: “Ele [Sean] diz que às vezes desejava que seus pais o forçassem a parar de jogar e começar a estudar, porque ele acha difícil parar quando tem a escolha”. Serão que eles estão dando atenção?

Ambos os artigos merecem uma leitura profunda, mas a obrigação dos pais está suficientemente clara. Os pais de adolescentes e jovens não podem se dar ao luxo de ficar enfiados num mundo analógico com conhecimentos ultrapassados, ao mesmo tempo em que seus filhos nasceram na era digital e estão vivendo num mundo cada vez mais distraído e perigoso.

Os pais não podem ser espectadores na vida de seus filhos, mas deviam fixar regras, estabelecer expectativas, impor limitações e constantemente monitorar a vida digital de seus adolescentes. Qualquer coisa menos é uma forma de negligência dos pais.

Quando um adolescente diz a um jornalista de jornal que ele desejava que seus pais o forçassem a desligar seus aparelhos digitais e começar a fazer seus deveres de casa, só podemos ficar aqui imaginando se seus pais ingênuos chegarão um dia a compreender o que está acontecendo.

O jornal The New York Times merece crédito por suas reportagens verdadeiramente importantes sobre a vida digital dos adolescentes dos EUA. Esses dois jornalistas estão fazendo o trabalho que todos os pais e mães de adolescentes deveriam estar fazendo o tempo todo.

A última palavra pertence a Katherine Nevitt, uma adolescente de 16 anos, que escreveu uma carta ao editor em resposta ao artigo de Richtel. Ela havia decidido por si mesma limitar sua exposição digital e diminuir suas distrações. “Só posso exortar meus colegas adolescentes a fazerem o mesmo”, escreveu ela. “Isto é, os três de vocês que estão lendo isso”.
Fonte: Albert Mohler, em matéria traduzida e publicada pelo blog Notícias pró-família

PERFECCIONISMO HISTÓRICO

Muitos que acreditam estar mantendo firme o adventismo histórico podem estar, na realidade, mantendo teimosamente o que chamo de “perfeccionismo histórico”. O perfeccionista dificilmente reconhecerá que é perfeccionista. Afinal, ele se vê como um fiel em meio a uma igreja em franca apostasia. Ele se considera um “irmão preocupado” que deseja purificar a igreja com suas “críticas construtivas”. Essa heresia satânica tem acompanhado de perto a Igreja Adventista, desde a sua origem profética. Podemos identificar três momentos, no passado da igreja, em que essa heresia tentou se infiltrar no arraial adventista:

1. Logo após o desapontamento de 1844. Nesse período inicial e determinante para a Igreja Adventista, Satanás, como sempre, estava a postos. Ellen White fala sobre esse período em que se “levantou o fanatismo em várias formas” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 34). O pior (“um elemento ainda pior”) desses grupos de fanáticos acreditava na santificação total do ser, “uma classe que pretendia estarem santificados, que não podiam pecar, que estavam selados e santos” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 27). Essa situação já guarda certa semelhança com os perfeccionistas atuais. Mas continuemos a rever o passado.

2. Na virada do século 19. Elder Jones passou a defender a completa transformação do homem vil na imagem de Jesus Cristo (Review and Herald, 9 de julho de 1889). Ele cria ser possível neutralizar totalmente sua natureza pecaminosa e atingir um estado de completa santificação. Ellen White o advertiu sobre sua mente desequilibrada e o repreendeu quanto ao uso que ele fazia das Escrituras, bem como dos escritos dela, e deixou claro que as ideias de Jones eram extremadas (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 177-179). Em cada fase, a heresia vai ficando mais parecida com a atual em todos os aspectos, até mesmo quanto ao uso da Bíblia e do Espírito de Profecia.

3. Nas décadas de 1950 e 1960. Robert Brinsmead e seus seguidores defendiam as ideias perfeccionistas modificadas, mais semelhantes à heresia atual. Outros teólogos adventistas se uniram em torno dessa heresia, e temos a versão atual.

Em cada fase se vê a heresia antiga com nova roupagem para enganar o maior número possível de pessoas. Em todas essas fases, a heresia se apresenta com algumas variações. Muda-se o corte de cabelo, mas o cabelo e o cabeleireiro são sempre os mesmos. Como essa heresia é antiga, alguns chegam a acreditar que hoje estamos sustentando um nova teologia. Não temos uma nova teologia; a heresia é que é antiga. Pelágio (século 5º) que me confirme.

Sábias mesmo são as palavras de Ellen White: “Em anos seguintes, foi-me mostrado que as falsas teorias insinuadas no passado, de maneira alguma surgiram em vão. Em havendo oportunidades favoráveis, elas reaparecerão. Não nos esqueçamos de que tudo que puder ser abalado, sê-lo-á” (Vida e Ensinos, p. 79-82).

As heresias do passado passam por uma “repaginada” e aparecem novamente. Nas palavras de Ellen White, que repito para dar ênfase, “de maneira alguma surgiram em vão. Em havendo oportunidades favoráveis, elas reaparecerão”. São as profecias de Ellen White mais uma vez se cumprindo...

Quando a Sra. White condenou os ensinamentos defendidos por Elder Jones, previu que heresias semelhantes tentariam se infiltrar, de novo, na Igreja Adventista, no futuro, nos últimos dias da obra: “Foi-me mostrado que enganos como aqueles que fomos chamados a enfrentar nas primeiras experiências da mensagem, repetir-se-iam, e que teremos de enfrentá-los nos últimos dias da obra” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 28).

Tudo isso nos aponta o tempo solene em que estamos vivendo e o cuidado que devemos ter com a doutrina pura e verdadeira. “O trilho da verdade fica bem ao lado do trilho do erro, e ambos podem parecer ser um para as mentes que não são operadas pelo Espírito Santo” (Carta 211, 1903).

A necessidade de termos a mente operada pelo Espírito Santo é cada vez mais essencial. Infelizmente, muitos que tentam defender a doutrina pura contra os erros do perfeccionismo acabam por cair noutro extremo e embalar a igreja em seus pecados. Esse é, ao meu ver, o pior estrago proporcionado pela heresia perfeccionista. Em vez de se levantar uma igreja mais santa, aparece forte tendência de tornar a igreja mais “mundana”, mais amante do pecado, achando que está vivendo num período de “paz e segurança”.

“A classe que não se entristece por seu próprio declínio espiritual, nem chora sobre os pecados dos outros, será deixada sem o selo de Deus. [...] Assim, paz e segurança é o grito de homens que nunca mais erguerão a voz como trombeta para mostrar ao povo de Deus suas transgressões, e à casa de Jacó os seus pecados. Esses cães mudos, que não querem ladrar, são aqueles que sentirão a justa vingança de um Deus ofendido. Homens, virgens e crianças, todos perecerão juntos. [...] A mortal letargia do mundo está paralisando vossos sentidos. O pecado já não vos parece repulsivo, porque estais cegados por Satanás. Os juízos de Deus dentro em breve serão derramados sobre a Terra. ‘Escapa-te por tua vida’ (Gn 19:17), eis a advertência dos anjos de Deus. Outras vozes se ouvem, dizendo: ‘Não vos impressioneis; não existe motivo para alarma especial.’ Os que, em Sião, se acham à vontade, clamam: ‘Paz e segurança!’ (1Ts 5:3), enquanto o Céu declara que está para vir sobre os transgressores rápida destruição. Os jovens, os frívolos, os amantes de prazeres, consideram essas advertências como fábulas vãs, e lhes volvem costas com um gracejo. Os pais inclinam-se a pensar que seus filhos vão muito bem, e todos continuam deixando o tempo. Assim foi ao ser destruído o mundo antigo, e quando Sodoma e Gomorra foram destruídas pelo fogo. Na véspera de sua destruição, as cidades da planície tumultuavam em prazeres. Ló foi ridicularizado por seus temores e advertências. Mas foram aqueles escarnecedores que pereceram nas chamas. Naquela mesma noite a porta da misericórdia foi para sempre cerrada para os ímpios, descuidosos habitantes de Sodoma” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 65, 66, 75).

A atual heresia perfeccionista tem cumprido sua função satânica ao tornar a igreja pior do que é. Graças à heresia perfeccionista, muitos têm até medo de ser vegetarianos, de ler os livros de Ellen White ou de morar no campo. Todo o cenário já está em fase de conclusão para a grande sacudidura que ocorrerá na Igreja Adventista.

“A igreja talvez pareça como prestes a cair, mas não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lançados fora no joeiramento – a palha separada do trigo precioso. É esse um transe terrível, não obstante importa que tenha lugar. Ninguém senão os que venceram pelo sangue do Cordeiro e a palavra de seu testemunho será encontrado com os leais e fiéis, sem mácula nem ruga de pecado, sem engano em sua boca. Precisamos despojar-nos de nossa própria justiça e revestir-nos da justiça de Cristo” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 380).

Meu apelo é para você, cristão adventista fiel.

“Passando em revista a nossa história, percorrendo todos os passos de nosso progresso até ao estado atual, posso dizer: ‘Louvado seja Deus!’ Quando vejo o que Deus tem executado, encho-me de admiração por Cristo, e de confiança nEle como dirigente. Nada temos a recear no futuro, a não ser que nos esqueçamos do caminho pelo qual Deus nos tem conduzido” (A Igreja Remanescente, p. 27).

Não tenha medo! Deus continua a guiar Sua igreja, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, e continuará com ela até o fim. Louvado seja Deus!

Vanderlei Ricken, formado em biblioteconomia pela UFSC, é bibliotecário no Instituto Adventista Cruzeiro do Sul, em Taquara, RS. Texto publicado no blog Criacionismo.
Nota: De férias no Rio Grande do Sul, pude perceber como o percefeccionismo se infiltrou em algumas cidades da grande Porto Alegre. Membros antigos, líderes, anciãos e até pastores se deixaram levar por essa heresia.
Basicamente, o erro fundamental do perfeccionismo é de natureza cristológica: seus adeptos entendem que Jesus nasceu com uma natureza semelhante a Adão depois da queda (pós-lapsarianismo). Ou seja, Jesus veio ao mundo portando uma natureza pecaminosa, semelhante à nossa. Mas, tendo Ele vencido às tendências carnais (sem haver pecado), nós podemos imitá-Lo, obtendo vitória completa sobre o pecado ainda nessa vida.
Obviamente, a ideia é anti-bíblica, uma vez que a natureza humana de Jesus não possuía nenhum traço pecaminoso (Hb 7:26; 1 Pe 1:19). Como resultado, surge uma tensão que se afirma na ideia enganosa de vencer o pecado por empenho pessoal e crer na salvação integralmente pela fé. Claro que essa equação não fecha, a tensão não é resolvida; ainda assim, se perguntado, um perfeccionista seria capaz de dizer que aceita a salvação pela fé! Mesmo a flagrante contradição não é capaz de impedir que os adeptos desta teologia furada percebam que lhes falta base bíblica. Querem ser tão perfeitos que se esquecem de olhar para o Único que é Perfeito e pode perfeitamente nos salvar!

HUMILDADE NO LUGAR ERRADO

Domingo à tarde, dia 12 de dezembro, tivemos um momento épico no conhecido programa do Faustão. Tivemos a cantora Ludmila Ferber e o padre Fábio de Melo, juntos, em um encontro ecumênico, representando a tolerância religiosa que deve existir entre o Catolicismo Romano e as comunidades evangélicas do Brasil.

O que para muitos é uma vitória, para o Cristianismo Bíblico é um momento de vergonha. Não que eu defenda violência ou desamor entre pessoas de diferentes religiões, mas o que eu vi foi além disto. O que foi pregado e proposto foi um relativismo teológico sem fronteiras. Claro, eu entendo que o apresentador Fausto Silva, como não-Cristão, defenda que teologia e questões doutrinárias sejam desimportantes, como ele bem disse:

Vocês têm aqui diferentes visões. O importante é que os dois estão aqui [...] mostrando que não importa a igreja, [...] você tem é que respeitar a opção de cada um. [...] Cada um tem que entender as peculiaridades de cada igreja e de cada mandamento.

Agora, o que eu não entendo é como a Ludmila, que se professa pastora e Cristã, pode concordar com as opiniões de tal apresentador, balançando a cabeça em cada palavra expressa por ele.

Faustão: Não é melhor nem pior, cada igreja tem as suas características, seus detalhes.
Ludmila: Cada um anda na luz que tem.

Perceba a força desta frase! “Cada um anda na luz que tem”. Será que Cristo diria isto se, em rede nacional, fosse questionado sobre as divergências doutrinárias nas religiões de seu país? Será que Jesus, o qual foi tão polêmico, incisivo, duro e radical em suas críticas às outras religiões, defenderia que devemos andar cada um em seu próprio entendimento da verdade? Leia sua Bíblia e você verá que não.

Não é difícil perceber que a religião que pretensamente intitula-se de Cristã, a mesma que foi representada no Programa do Faustão, está totalmente distante do Cristianismo que Jesus veio pregar. Quer saber por quê? Isso é culpa de uma humildade manifesta no lugar errado. Deixe-me explicar: o homem foi chamado para ser modesto e, com isso, duvidar sempre de si mesmo. A humildade Cristã deve sempre ser posta em nossa própria capacidade e forças. Com isso, seremos pessoas que transmitem Cristo com o próprio viver. O problema de hoje é que as pessoas põem sua humildade numa área que não deviam: na área do conhecimento de Deus. O homem deve sempre mostrar-se duvidoso a respeito de si mesmo, mas não a respeito da Verdade; e isto foi invertido completamente nos dias atuais.

O que vimos neste domingo foi um verdadeiro show de humildade manifesta no lugar errado. Cada vez que um tema polêmico era posto em pauta, todos se apressavam em dizer que cada um tinha sua visão, cada um tinha sua doutrina, cada um tinha seu cada um. Não era difícil ver o esforço mútuo de não querer parecer “dono da verdade”.

Acho que G. K. Chesterton escreveu uma verdadeira profecia quando, em 1908, disse que es-tamos em vias de produzir uma raça de homens mentalmente modestos demais para acreditar na tabuada. Do modo com as coisas vão indo, o relativismo será a nova lei nas igrejas de nosso país, se já não o for.
Fonte: Yago Martins, Cante as Escrituras

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

SANSÃO E DALILA: IMPRESSÕES E ALGUMAS REFLEXÕES

Uma águia altaneira a cortar o céu, vislumbrando uma marcha de campesinos sedentos. O seu voo é enfocado de vários ângulos, lembrando o efeito time bullet inaugurado pelo filme Matrix. Assim se inicia o primeiro capítulo da minissérie Sansão e Dalila, produção da Rede Record, baseada em uma popular história bíblica. A minissérie terá dezoito capítulos. Trata-se da primeira teledramaturgia totalmente produzida em alta definição pela emissora.

Quem esperava um show de tecnologia de ponta a ponta, satisfez-se apenas parcialmente. A abertura, bastante simples, trouxe cenas em pergaminho sobre a vida de Sansão, lembrando outras produções da emissora. A novidade em relação às novelas da Record, geralmente semelhantes em temática às da Rede Globo [1], consagrada concorrente, é o fulcro religioso. Novidade porque, para uma emissora mantida pela Igreja Universal do Reino de Deus, denominação neo-pentecostal das mais influente, a Record é contrassensualmente laica! Recentemente, a partir da minissérie A história de Ester, é que a emissora de Edir Macedo vem investindo em adaptações de temas bíblicos.

Filisteus: uma ameaça?

No capítulo de estreia de Sansão e Dalila, o telespectador mais informado pode notar a dupla influência que, tudo indica, norteará a minissérie: de um lado, a tentativa louvável (ainda que nem sempre livre de equívocos culturais) de romancear o texto bíblico; do outro, a mentalidade característica da Igreja Universal sutilmente se insinuando, com direito à apologia da teologia da prosperidade e à "síndrome do fiel perseguido". Analisemos isso mais de perto.

Logo nos primeiros minutos, a opressão filisteia aparece no vídeo de forma acintosa. Os inimigos de Israel são violentos, assaltando vilas do povo de Deus e cometendo assassinatos bárbaros. Apesar de, historicamente, o período dito dos Juízes ter sido de guerras entre Israel e seus vizinhos, estudiosos apontam que a convivência entre israelitas e filisteus não era tão hostil quanto supõe a minissérie.

“A ameaça filisteia foi a de maior monta porque era insidiosa, em alguma de suas fases”, escreve o especialista Arthur E. Cundall. “Não havia a agressividade direta e cruel dos moabitas, cananeus, midianitas e amonitas: ela fora substituída pela infiltração, através do casamento misto e do comércio. O domínio filisteu sobre os povos conquistados não parecia ser oneroso, neste estágio primitivo [sic]”, conclui. [2]

Acréscimos: para o bem e para o mal

Exageros à parte, outro fator interessante que pode passar despercebido é a disposição da mãe de Sansão. Enquanto no relato bíblico a mãe do futuro Juiz de Israel é somente denominada “mulher de Manoá”, na minissérie ela recebe um nome, Zinah. Além disso, em uma cena que preludia o nascimento de Sansão, Zinah ouve de uma vizinha a seguinte alfinetada: “Se o Deus dos hebreus permitiu que você fosse uma mulher estéril, quem sabe outros deuses não a transformem em uma mulher de verdade.” Bastante ressentida, Zinah declara ao marido: “[…] da minha fé, eu não abro mão”. Quando o Anjo do Senhor lhe aparece, ele a saúda: “Tua fé me trouxe aqui”.

Os detalhes acrescentados à história fazem forte paralelo com a história de Ana, outra mulher estéril que, após orar, é ouvida por Deus e concebe Samuel. Entrementes, a ênfase no fiel oprimido que recebe recompensa por sua fidelidade insinua uma das mensagens teológicas mais características da Igreja Universal: a confissão positiva. Esse conceito leva o fiel a se indignar com sua situação de vida e exigir de Deus a vitória para dificuldades financeiras, familiares, etc. Em seguida, ela passa a pactuar com Deus, disponibilizando seus bens para a “Obra do Senhor”, até alcançar as bênçãos divinas. Essa barganha espiritual pressupõe que toda dificuldade na vida possa ser resolvida e que o crente fiel terá todo o tipo de bênçãos que desejar. As Escrituras não enfatizam que o nascimento de Sansão fosse uma recompensa à fé de seus pais, ou mesmo que Deus prometa nos livrar de toda dificuldade. Até o exemplo de Ana é mais uma demonstração de graça da parte de Deus (que favorece além dos méritos individuais) do que evidência de compensação.

Há na trama da Record alguns outros detalhes menores, que contrariam frontalmente a narração bíblica. Sansão é retratado forte desde a infância, quando sua força aparece em conexão com a presença do Espírito Santo, que a concedia em momentos específicos. Para garantir exteriormente essa conexão, Sansão seguia um voto chamado nazireado, que, simplificadamente, consistia de três partes: (1) abstinência de uva e seus derivados, (2) ausência de contatos com animais e seres humanos já falecidos e (3) proibição de cortar o cabelo. Na minissérie, apenas o último e mais conhecido particular é ressaltado. Ainda assim, a mãe de Sansão resume acertadamente o segredo da força de Sansão (aspecto que fazia parte da “chamada” da produção): “A fonte de sua força: a fé no Senhor nosso Deus”.

Usando de liberdade poética, constrói-se um drama familiar envolvendo Dalila. Muito do que foi mostrado no primeiro episódio sugere uma direção perigosa: justificar o comportamento da personagem. A Bíblia trata de Dalila de forma sucinta, a despeito da mítica associação entre as duas personagens históricas. Nada indica que ela fosse bem intencionada ou mera “vítima das circunstâncias”.

Entre a telinha e as páginas

Em geral, o retrato de Sansão (interpretado por Fernando Pavão) parece bem coerente. Infelizmente, por outro lado, as personagens muitas vezes agem e se expressam como contemporâneos, não como gente do séc. XII a.C. (o que parece ser, grosso modo, um fato corriqueiro em produções de época na mídia televisiva brasileira). As ressalvas que Sansão deveria levantar entre seu povo, não ficam de fora. Um de seus irmãos afirma para Manoá que o jovem estava “mais próximo de seus inimigos do que nós”; e, em seguida, arremata: “O Deus dos hebreus estaria muito frustrado se houvesse realmente escolhido Sansão como juiz da tribo de Dã”. Por ocasião do interesse de Sansão por uma filisteia de Timna, sua mãe lhe censura: “Deus te deu a força, um dia te dará o entendimento”.

Ninguém espera de uma adaptação televisiva perfeição estética e conteúdo absolutamente fidedigno, o que seria uma utopia. Ainda é cedo para aquilatar o grau de fidelidade ao registro bíblico que se assistirá em Sansão e Dalila. Entre a telinha e as páginas da Bíblia, muita simplificação, desentendimento, adaptação e imaginação influem na construção de um enredo. Contudo, a minissérie já cumpriu o papel de chamar o telespectador refletir sobre a narrativa bíblica, patrimônio cultural que influenciou outras manifestações artísticas no Ocidente. Além disso, o texto sagrado, acima de avaliações estéticas, é relevante em sua mensagem espiritual, expressa de forma concisa e sugestiva. Sem dúvida, uma fonte de verdadeira força tantos séculos depois [3]!

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Veja ainda: Sansão, a outra história
O herói que não vencia


[1] Para análise de um exemplo específico de similaridades entre novelas da Globo e da Record, ver Douglas Reis, Novela espírita em emissora evangélica, disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2008/06/novela-esprita-em-emissora-evanglica.html . Para outras considerações morais do remake Bela, a Feia, produzido pela Record, consultar Douglas Reis, A transformação que dá IBOPE, em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2010/04/transformacao-que-da-ibope.html .
[2] Arthur E. Cundall e Leon Morris, Juízes e Rute – Introdução e comentário ( São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Vida Nova, 2006) 2ª reimpressão, p. 148.
[3] Um trabalho recente que trata da história de Sansão em pormenores é Douglas Reis, Paixão Cega: o herói que precisou perder a visão para enxergar (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010).