sexta-feira, 28 de outubro de 2016

GLORIFIQUE SEMPRE


Se eu escrevesse um diário, na folha correspondente ao dia de ontem eu jogaria um pote de nanquim. Já viveu um dia em que nada, absolutamente nada, desse certo? Assim o dia de ontem foi para mim.
Minha manhã? A mais estressante possível. Confusões. Confrontos. Nervos à flor da pele. Mal consegui almoçar, de tão tenso que me achava. Saí para fazer compras em Maringá, a cidade grande mais próxima de onde moro. Devido a mudanças no centro, foram removidas algumas vagas para estacionamento localizadas nos canteiros entre as pistas, forçando a estacionar longe das lojas. Na prática, isto significou andar bem mais!
Depois da peregrinação, precisei ir ao supermercado duas vezes. Na primeira, não consegui a lista de compras em meu e-mail e não havia nenhuma rede wi-fi disponível! Precisei ir até um shopping (outra caminhada) para acessar os itens a serem comprados. Quem disse que a tecnologia ajuda quando precisamos?
Ao voltar ao supermercado, já estava passando minha compra no caixa quando esbarrei em um vidro de leite de coco. Adivinhe se ele não caiu no chão e sujou minha calça? Junto ao balconista, havia uma zeladora que acabara de perguntar se precisava limpar algo ali perto. Assim que derrubei o vidro, o rapaz lhe respondeu: “Agora precisa!”.
Aquilo pareceu a prova final de que meu dia fora formidavelmente horrível. “Hoje é o dia em que nem deveria ter me levantado da cama”, disse para a zeladora, como tentando encontrar simpatia para meus infortúnios. Ela simplesmente retrucou em tom triunfante: “Todos os dias devemos nos levantar e glorificar a Deus!” Confesso que se ela tivesse pulado em mim e me acertado no peito com os dois pés não teria doído tanto! Deu até vontade de dizer: “Muito prazer, senhora, eu sou um pastor adventista.” Bem, foi melhor nem ter dito mesmo…
Quando voltei para o carro, eu comecei a pensar, enquanto acomodava as sacolas com as compras, nas coisas positivas que aconteceram ao longo do dia, negligenciadas em meio à maré de infortúnios. E havia muitas coisas boas, bênçãos do Pai celestial que não receberam minha devida gratidão; afinal, eu estava mais preocupado em chorar como uma criança mimada!
Somente quando nos esquecemos de quem é Deus e de Sua sagacidade para cuidar dos detalhes de nossa vida é que passamos a reclamar e ver tudo sob um espectro obscuro. Viver sem considerar a influência do Senhor em todos os aspectos da vida leva a um dramático descompromisso com Seus mandamentos. Afinal, por que obedecer a um Deus que nos abandonou? Tragicamente, se houve abandono, foi de nossa parte, não da do Senhor.

Leia também

O Deus que ama Felipe Massa
Para você se lembrar na hora da crise (parte 1)
Mesmo quando tudo dá errado, é certo que ele está conosco

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

DO CONTO DE FADAS AO PESADELO


O sonho de sua infância não era ir à lua ou jogar no Real Madri. Nunca foi brilhante ou ambicioso. Apenas queria o mesmo que qualquer um, sem buscar destaque entre a multidão.
Subitamente, o caipira com mato no canto da boca recebia os aplausos de empresários. Da carroça para o interior de limusines e iates. Não ganhara em nenhuma loteria, nem sorteio da televisão. Sequer fora descoberto por uma agência de modelos (embora as mulheres sentissem o frissom que sua presença causava!). Mas sob seu cabelo desgrenhado e lavado com sabão pousou a coroa real. O menino brejeiro tornou-se o mandatário da nação, quem diria!
Naturalmente, ninguém se assustara mais do que ele próprio! Para quem jamais sonhara com coisas tão espetaculares, o sonho assumia uma forma assustadoramente maior – e real! Quando você ganha algo sem merecer, dado por quem o ama, chega a ser ofensivo mesmo o menor esboço de recusa. O mínimo a se fazer é aceitar, tentando corresponder ao presente.
O menino pobre se tornou rei, sem ter sangue azul ou ser diplomado em ciências políticas em Havard; ele não merecia aquilo, diriam os críticos com razão. Porém, ele poderia ter correspondido à escolha divina.
Poderia.
A tragédia maior das ascensões meteóricas é a dificuldade em lidar com o sucesso quando ele chega sem aviso ou antes do pretendido. E quando falamos em sucesso espiritual, ainda se corre o risco de apressar a derrocada, quando atribuímos as glórias a coisas como esforço, talento, habilidade e merecimento. Ao nivelar as bênção divinas com conquistas humanas, nos desabilitamos à posição em que Deus nos pôs.
Saul, o rei que chegou ao poder como um matuto, logo se sentiu à vontade no trono. Passou a tomar decisões sem se importar com conselhos de sacerdotes, profetas ou mesmo do próprio Deus. Governar se tornou algo que ele sentia depender de seu instituto nato de líder. E quando Deus o rejeitou, escolhendo um homem melhor para liderar Israel, o pior de Saul veio à tona: invejoso, rancoroso, capaz de armar ciladas e matar quem quer que ficasse entre ele e o seu reino. Você já viu essa história, certo?
O ciclo se repete, mesmo entre o povo escolhido por Deus. Afinal, é próprio do ser humano amar o poder e se apegar a ele com um carinho que brota do egoísmo enraizado em nosso coração. Se você duvida, basta assistir uma típica reunião eclesiástica. Desde a igreja local, até os níveis superiores de nossa organização, parece sempre haver indivíduos que amam mais o poder que sentem possuir do que o Deus que lhes oportunizou servir com seus dons a Sua causa.
É fácil nos esquecermos de onde Deus nos buscou e reconhecer que os dons vieram de Seu Espírito (1 Co 12:11). Em algum momento, passamos a ocupar o centro, empurrando aos poucos Deus para a preferia da vida cotidiana (deixe Ele continuar sendo o Senhor do sábado apenas). Tragicamente, enquanto disputamos o poder, Deus escolhe representantes humildes com os quais consiga Se comunicar sem barreiras. E a obra dEle será concluída por pessoas cujo nome continue desconhecido em todos os círculos do poder.
O problema não está na liderança em si, nem poderia estar, uma vez que Deus usou grandes líderes em momentos-chave da história, como Abraão, José, Moisés, Josué, Gideão, Sansão, Samuel, Daniel e Neemias, para citar alguns nomes. Liderança nunca foi sinônimo de desonestidade, corrupção ou opressão. Entretanto, o fato de alguém ser chamado para servir a Deus de modo especial demanda mais íntima comunhão com Ele e uma vida à altura do serviço. Somente líderes espirituais se acham prontos para servirem em assuntos espirituais. Se o talento, a habilidade de planejar, a coragem para executar e força de vontade não forem devidamente consagrados a Deus, a liderança se converterá em um jogo de poder com um verniz eclesiástico.

Deus chama a todos para usarem seus dons a fim de semear o evangelho, apressando o regresso de Jesus. Na luta com o orgulho e atitudes carnais, podemos aprender com o exemplo de Saul, o primeiro rei de Israel. Esse livro foi escrito especialmente para a atual geração de adventistas, que muitas vezes é tentada a desanimar em face de tantos conflitos que existem em suas igrejas locais ou tenta achar um caminho para renovar a fé adventista. Lembre-se de que Deus conduz essa igreja. E, se seguirmos os métodos dEle, buscando reavivamento e reforma pessoais, veremos uma melhora nos relacionamentos entre cristãos, além de um caminho que permita viver o evangelho em sua plenitude, incluindo o uso de nossos dons para cumprir a missão.

Leia também
Todos temos um pai
Contra a acomodação
Jesus, o Servo Salvador
O coração do discipulado
Vizinhos do campo missionário

domingo, 9 de outubro de 2016

RESTAURADO



Rompe-se a paz do lar: o homem sem roupas no Éden
Sente a rispidez do ar, que lhe raspa as entranhas.
Rapidamente, os dois olhos de Eva lhe pedem
Para repor a paz nestas horas estranhas.

Tudo quanto se fora, ao fim nos será dado
– O Éden há de voltar! Gramas grassando agora
Mais verde vão por todo o jardim restaurado,
Onde a beleza cobre cada grão que aflora.

Perante o esplendor vivo em cada planta e ser,
Há outra luz que flui do trono altaneiro:
Ali, mesmo anjos, com estatura e poder,
Dão glória, glória, glória ao Senhor e ao Cordeiro.

E a glória de Deus é doar-Se à criatura,
Com materno olhar, um olhar que, ao amar, reluz;
Para espanto do cosmo, o amor em forma pura
Demonstrou seu extremo ao assumir a cruz.

Por isso, os vinte e quatro anciãos dão louvor:
Tudo novo se fez! Adeus à nódoa rubra.
Em estatura e graça, homens crescem no amor
E veem no mundo mais para que se descubra.

Enfim, a paz! Enfim, a perene certeza
Da harmonia entre Deus e o homem. Enfim, a vida
Como se planejou em seu princípio. À mesa,
Deus Se assenta ao redor da família reunida.


Leia também:


En