O sonho de sua
infância não era ir à lua ou jogar no Real Madri. Nunca foi brilhante ou
ambicioso. Apenas queria o mesmo que qualquer um, sem buscar destaque entre a
multidão.
Subitamente, o
caipira com mato no canto da boca recebia os aplausos de empresários. Da
carroça para o interior de limusines e iates. Não ganhara em nenhuma loteria,
nem sorteio da televisão. Sequer fora descoberto por uma agência de modelos
(embora as mulheres sentissem o frissom que sua presença causava!). Mas sob seu
cabelo desgrenhado e lavado com sabão pousou a coroa real. O menino brejeiro
tornou-se o mandatário da nação, quem diria!
Naturalmente,
ninguém se assustara mais do que ele próprio! Para quem jamais sonhara com
coisas tão espetaculares, o sonho assumia uma forma assustadoramente maior – e
real! Quando você ganha algo sem merecer, dado por quem o ama, chega a ser
ofensivo mesmo o menor esboço de recusa. O mínimo a se fazer é aceitar,
tentando corresponder ao presente.
O menino pobre
se tornou rei, sem ter sangue azul ou ser diplomado em ciências políticas em
Havard; ele não merecia aquilo, diriam os críticos com razão. Porém, ele
poderia ter correspondido à escolha divina.
Poderia.
A tragédia maior
das ascensões meteóricas é a dificuldade em lidar com o sucesso quando ele
chega sem aviso ou antes do pretendido. E quando falamos em sucesso espiritual,
ainda se corre o risco de apressar a derrocada, quando atribuímos as glórias a
coisas como esforço, talento, habilidade e merecimento. Ao nivelar as bênção
divinas com conquistas humanas, nos desabilitamos à posição em que Deus nos
pôs.
Saul, o rei que
chegou ao poder como um matuto, logo se sentiu à vontade no trono. Passou a
tomar decisões sem se importar com conselhos de sacerdotes, profetas ou mesmo
do próprio Deus. Governar se tornou algo que ele sentia depender de seu
instituto nato de líder. E quando Deus o rejeitou, escolhendo um homem melhor
para liderar Israel, o pior de Saul veio à tona: invejoso, rancoroso, capaz de
armar ciladas e matar quem quer que ficasse entre ele e o seu reino. Você já
viu essa história, certo?
O ciclo se
repete, mesmo entre o povo escolhido por Deus. Afinal, é próprio do ser humano
amar o poder e se apegar a ele com um carinho que brota do egoísmo enraizado em
nosso coração. Se você duvida, basta assistir uma típica reunião eclesiástica.
Desde a igreja local, até os níveis superiores de nossa organização, parece
sempre haver indivíduos que amam mais o poder que sentem possuir do que o Deus
que lhes oportunizou servir com seus dons a Sua causa.
É fácil nos
esquecermos de onde Deus nos buscou e reconhecer que os dons vieram de Seu
Espírito (1 Co 12:11). Em algum momento, passamos a ocupar o centro, empurrando
aos poucos Deus para a preferia da vida cotidiana (deixe Ele continuar sendo o
Senhor do sábado apenas). Tragicamente, enquanto disputamos o poder, Deus
escolhe representantes humildes com os quais consiga Se comunicar sem
barreiras. E a obra dEle será concluída por pessoas cujo nome continue
desconhecido em todos os círculos do poder.
O problema não
está na liderança em si, nem poderia estar, uma vez que Deus usou grandes
líderes em momentos-chave da história, como Abraão, José, Moisés, Josué,
Gideão, Sansão, Samuel, Daniel e Neemias, para citar alguns nomes. Liderança
nunca foi sinônimo de desonestidade, corrupção ou opressão. Entretanto, o fato
de alguém ser chamado para servir a Deus de modo especial demanda mais íntima
comunhão com Ele e uma vida à altura do serviço. Somente líderes espirituais se
acham prontos para servirem em assuntos espirituais. Se o talento, a habilidade
de planejar, a coragem para executar e força de vontade não forem devidamente consagrados
a Deus, a liderança se converterá em um jogo de poder com um verniz
eclesiástico.
Deus chama a
todos para usarem seus dons a fim de semear o evangelho, apressando o regresso
de Jesus. Na luta com o orgulho e atitudes carnais, podemos aprender com o
exemplo de Saul, o primeiro rei de Israel. Esse livro foi escrito especialmente
para a atual geração de adventistas, que muitas vezes é tentada a desanimar em
face de tantos conflitos que existem em suas igrejas locais ou tenta achar um
caminho para renovar a fé adventista. Lembre-se de que Deus conduz essa igreja.
E, se seguirmos os métodos dEle, buscando reavivamento e reforma pessoais,
veremos uma melhora nos relacionamentos entre cristãos, além de um caminho que
permita viver o evangelho em sua plenitude, incluindo o uso de nossos dons para
cumprir a missão.
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