sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

OS NOVOS ADVENTISTAS: PÓS-MODERNOS, CARISMÁTICOS E ECUMÊNICOS




Como pastor, tenho percebido uma diluição dos valores adventistas entre os que fazem parte dessa denominação, sejam membros regulares ou líderes. Em parte, a assimilação de valores da pós-modernidade tem enfraquecido conceitos caros à denominação, como, por exemplo, a afirmação de que temos uma verdade a ser dada ao mundo. Já conversei pessoalmente com muitos adventistas que acreditam que deveríamos ser mais “humildes” e reconhecer que “não somos melhores do que os outros”. Segundo eles, se continuarmos nos intitulando “os donos da verdade” afastaremos as pessoas. Nossa missão seria conduzir a Cristo, não à nossa denominação, porque as doutrinas não são importantes e, sim, o relacionamento com a pessoa de Cristo.
Por trás dessas afirmações, encontramos sérios problemas. Afinal, se as doutrinas não importam, por que sustentá-las? O crer em Cristo, não é em si mesmo uma doutrina (um ensinamento)? Seria essa a única doutrina que teríamos o direito de compartilhar com as pessoas? Partindo do pressuposto de que todos têm o direito a ter suas crenças particulares, nosso respeito pela opinião e crenças alheias não deveria nos impedir de querer “forçar” as pessoas a crerem como nós? E, se isso for assim mesmo, como concluiremos a “grande comissão” (Mt 28:18-20), a ordem de Jesus para pregarmos a todas as pessoas, de todos os lugares e culturas?
Assim, me parece que alguns estão confundindo genuína humildade com relativismo, a ideia de que todas as crenças não representam a verdade última, somente opiniões equivalentes, uma vez que seriam todas culturalmente condicionadas. Será que o adventismo está fadado a ser isso – uma opinião qualquer de um determinado grupo religioso que está feliz em manter uma política de não interferência em relação a outros grupos sociais, assumidamente religiosos ou não?
Esse pensamento não se restringe a muitos adventistas que encontrei; trata-se de algo de amplitude maior. O pós-modernismo é uma forma de pensar e viver de toda a sociedade ocidental (e influencia até mesmo culturas orientais que adotam comportamentos ocidentais). Por isso, não causa surpresa que muitos cristãos tenham escrito, palestrado e feito conferências sobre o assunto, especialmente nos últimos, diríamos, vinte anos. Os adventistas, por seu turno, não estão alheios aos desafios da pós-modernidade. Teólogos e pensadores do movimento vêm dedicando atenção ao tema. Quero destacar dois escritos recentes que expressam preocupação com a influência pós-moderna sobre a igreja.
O conhecido historiador e pensador adventista George Knight escreveu recentemente o provocativo A visão apocalíptica e a neutralização do adventismo. [1] Knight discute o conceito de relevância, que permeou o protestantismo liberal na década de 1960. “O que provaram, no entanto, foi que o atalho para a irrelevância é a mera relevância”, afirma o autor. Ele conclui: “Afinal, quem precisa obter mais daquilo que pode ser encontrado na cultura dominante?”.
O ponto não é que os cristãos (e os adventistas em particular) não devam ser relevantes para a sociedade na qual estejam inseridos. O livro se prontifica a esclarecer que, na tentativa de alcançar os demais com sua mensagem, muitas denominações se preocuparam tanto em se aculturar que acabaram assimilando valores do pensamento da sociedade, sendo absorvidas pela cultura dominante. “O cristianismo saudável deve, por necessidade, estar acima da cultura dominante e se apegar às verdades que a cultura julga detestáveis.” Como exemplo de que o cristianismo seja contracultural (nesse aspecto) Knight cita o sermão do monte, cujo sistema de valores “difere radicalmente daquele adotado pelo mundo e pela maioria das igrejas.”
Aos adventistas que ignoram as lições do protestantismo liberal, Knight adverte contra a insistente busca pela relevância nos seguintes termos: “Desperdiçamos tempo demais tentando tornar Deus um cavalheiro do século XXI ao apresentá-lo como um grande intelectual adventista ou um bondoso médico do hospital adventista.” Ao invés disso, deveríamos nos lembrar que temos uma mensagem profética a transmitir. “O Apocalipse de João é o julgamento da mentalidade pós-moderna, que evita qualquer certeza a respeito da verdade religiosa e procura em seu lugar uma espiritualidade nebulosa.” [2]
Mais recentemente, o teólogo adventista Fernando Carnale escreveu o bombástico artigo The eclipse of Scriptura and the protestization of the adventist mind [O eclipse da Escritura e a protestantização da mente adventista].[3] Carnale afirma ter detectado “profundas divisões teológicas presentemente operando na igreja adventista que não desaparecerão pela inércia ou pronunciamento administrativo. Assim, sua existência secularizará a mente das gerações mais jovens transformando o adventismo em uma denominação evangélica pós-moderna.” Ele escreve que o processo se acha ligado à forma como se busca fazer evangelismo. Com o intuito de atrair os jovens, “o ministério evangélico e o louvor tem se tornado pós-moderno, ecumênico, progressivamente independente da Escritura e mais próximo da Igreja Católica Romana.” Infelizmente, os adventistas têm adotado e reproduzido as mesmas práticas evangelísticas. Quais serão as consequências?

As “consequências não intencionais” desse curso de ação estão transformando o adventismo em uma genérica denominação secular e não bíblica. A emergência de uma nova geração de adventismo carismático ecumênico está em curso. Embora use as Escrituras funcionalmente, como um meio para receber o Espírito, esta geração não pensará ou agirá biblicamente. [4]

Diante desse quadro, é válido que se amplie a discussão sobre pós-modernidade. É bem verdade que o termo se ache divulgado, mas isso acaba contribuindo mais para confusões sobre seu real sentido. Com frequência, pós-moderno é um termo aplicado às artes (plásticas, em geral), justamente o contexto de onde se originou a expressão. Alguns aplicam pós-moderno a um estilo de se vestir ou se comportar. Enquanto tais entendimentos superficiais da pós-modernidade vigorarem, ficará difícil compreender com clareza os desafios que se interpõem entre o adventismo e sua missão.



[1]George Knight, A visão apocalíptica e a neutralização do adventismo: estamos apagando nossa relevância? (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010).
[2]Idem, p. 20, 27.
[3]Fernando Carnale, The eclipse of Scriptura and the protestization of the adventist mind: Parte 1: The assumed compatibility with evangelical theology and ministerial practices, JATS, 21/1-2 (2010): 133-165.

[4]Idem, p. 133-135.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

AI SE EU TE PEGO: COMO FAZER SUCESSO DIZENDO BOBAGENS


Posso não ter idade para lembrar das pérolas da música sertaneja. Na verdade, nunca gostei muito do gênero, embora reconheça sua importância para a cultura brasileira. A contribuição das duplas cantando à moda de violas suas canções bonitas, as quais retratavam o cotidiano de pessoas simples, ficou marcada na história do cancioneiro nacional.

Lamentavelmente, na década de 1980, música sertaneja virou melodia de marido traído (para evitar um termo popular de baixo calão). O fio de cabelo (“pedacinho dela que existe”) não apenas representou o ápice do sucesso do sertanejo nesse período, como mostrou o poder de apelo de uma letra cafona: mais de um milhão de copas vendidas!

Na década de 1990, sertanejo virou outra coisa: saíram de cena as paragens interioranas para dar lugar à vida da cidade. A natureza e o cotidiano simples sairam de cena e as letras remetiam a apartamentos, celulares e aviões, ambiente no qual mudava-se o contexto, mas não o tema: sempre a falta da mulher amada! Na mesma época, versões de Rock romântico receberam o vibrato dos cantores do gênero, relegando o sertanejo para o lado brega da força.

Finalmente, surgiram em anos mais recentes anomalias como o sertanejo universitário (uma espécie de paradoxo que desafia sociólogos e musicólogos). A inocente música sertaneja se fundiu com axé, com samba, com música romântica, com pop e… deu no que deu!

As letras? Mais pobres do que nunca. Paupérrimas. Do rancho fundo mudamos para o meteoro da paixão. É o fim! E agora a coisa piora: Michel Teló, um cantor cujo sucesso vem crescendo, lançou a balada sertaneja. Uma das canções (?) do paranaense tem por título Ai se eu te pego (assim você me mata). O hit faria Tonico e Tinhoco chorarem – ou de tristeza profunda ou pela hilariedade em face de quamanho simplismo.

É por aí: quando você pensa que a música popular desceu até o fundo, alguém ainda consegue mostrar que o buraco pode ser maior. A música de Teló, que ganhou repercussão internacional graças a coreografia imitada por jogadores de futebol (incluindo o craque Cristiano Ronaldo), é um sem-pé-nem-cabeça vergonhoso.

O contexto? Uma balada (estranho para um sertanejo…). A situação: um rapaz vê uma moça bonita e se encoraja para se declarar a ela. Engana-se quem pensou que ele lerá um poema de Vinicius ou tentará conhecer a bela. Ao invés disso, ele declara sem pudor: “Nossa, nossa/Assim você me mata/Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego//Delícia, delícia/Assim você me mata/Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego”. Além do erro de Português digno de um aluno do segundo ano do fundamental (concordar “você” com “te”), o mal gosto é evidente.

Eu fico me perguntando o que passa pela cabeça de uma mulher que aceita ser chamada de “delícia” e ouvir de um marmanjo arfante que ele quer pegá-la. O tal "pegar", expressão que já é comum, apenas reforça a ideia de mulher objeto. Ora, mulher não é para ser pega, como uma coisa, mas para ser tratada com carinho, com respeito.

Como se vê, para o sucesso não é preciso muito cérebro. Para quê ler Manuel Bandeira ou Celília Meirelles? Para quê a poesia de Almir Sater ou o toque de Tom Jobim? Tudo isso é passado – vamos nos alimentar com a sabedoria de Michel Teló, esse Shakespeare da sanfona, verdadeiro ícone da inteligência nacional. Ou da falta dela.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

BARCELONA APLICA DURA LIÇÃO AO SANTOS DE NEYMAR




Mesmo antes da bola rolar, Neymar já sentiu o complexo de Ethan Hawke: a estrela do Santos e da Seleção comparou a partida contra o Barcelona à série de filmes Missão Impossível. Pelo jeito, o craque santista teve seus momentos de vidente.


O Santos se estreou na disputa contra o mundial após bater o Kashima Reysol, um time japonês munido de boas intenções (e só!). A partida revelou um time genial, mas com um tremendo rombo defensivo. Todos se questionaram se o setor defensivo do time da Vila suportaria investidas de Messi, Iniesta, Xavi & companhia. De fato, essas previsões também se concretizaram. Para se perceber a postura ofensiva do Barcelona, Edu Dracena foi mais citado do que Neymar nos minutos iniciais do jogo.

A única esperança santista se achava no retrospecto negativo do Barcelona contra times brasileiros: da derrota para o São Paulo (1992) à outra, para o Internacional (2006). Na primeira, estivera em campo o atual técnico dos espanhóis, Pep Guardiola. Na segunda, boa parte do elenco atual e um certo Ronaldinho Gaúcho. Infelizmente para os torcedores do Peixe, essa terceira previsão não se concretizou.

Parafraseando o que repetem os comentaristas quando times brasileiros disputam partidas internacionais, no mundial, o Santos é Brasil – para bem e para mal. Como a maioria dos grandes clubes brasileiros, o time do Santos é uma constelação de escassas estrelas. Joga de forma desorganizada. Já o Barcelona, bem, o que dizer? É o time mais elogiado dos últimos anos, tanto pelos seus (muitos) valores individuais, quanto por sua qualidade coletiva. Toque de bola não é algo funcional para o Barcelona – é sua área de domínio, sua especialidade. O entrosamento do time é magistral. A maneira como o Barcelona domina o jogo e mantém a posse de bola, mesmo jogando contra os melhores times europeus, não deixa de igualmente impressionar. O Barcelona está para o futebol como Cruz e Souza para a poesia brasileira – a união perfeita de austeridade técnica e musicalidade plástica.

Dado o apito do árbitro, o jogo não seguiu muito diferente do que a lógica prescrevera. Aos dezoito minutos, a bola foi carinhosamente ajeitada por Xavi e Messi recebeu para fazer o que de melhor faz. Estava marcado o primeiro tempo do time catalão. Agora, não percamos as contas: Xavi, em jogada de Daniel Alves, fez aos vinte e quatro minutos o segundo gol. No fim do primeiro tempo, Fábregas fez o terceiro em uma jogada jazzística, tal o improviso dos protagonistas.

O Santos atuou como mero espectador durante todo o primeiro tempo. Cléber Machado foi obrigado a desabafar na segunda etapa: “De onde sai tanta gente de camisa azul-grená?”

Somente depois do intervalo, o time de Pelé voltou um pouco mais ambicioso. Borges e Neymar perderam grandes oportunidades de diminuir o placar elástico. Apesar dos contra-ataques da equipe de branco, não houve nada que comprometesse a cadência da orquestração catalã.

No final do segundo tempo, Daniel Alves tabelou com o Messi, que só teve o trabalho de bailar na frente do goleiro Rafael. Messi tornou-se o alfa e ômega da partida, abrindo e fechado o placar. O jogador, que provavelmente receberá pela terceira vez consecutiva o prêmio Bola de Ouro mostrou que não é o melhor do mundo por arbitrariedade. Messi é um hálito de criatividade, uma força bruta de genialidade. Seus pés se prendem à bola numa cumplicidade ímpar, como entre as nuvens e sol em um poente espanhol. O argentino que se consagrou na Catalunha é o ponto de desequilíbrio. O Barcelona sem ele seria um time excelente. Com ele, é insuperável. Neymar, a cacatua muda do jogo, que o diga. Aliás, após o jogo, só restou a garoto sisudo reconhecer: "hoje aprendemos a jogar futebol".




sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

OBRIGADO, HITCHENS: SIM, DEUS É GRANDE


Verborrágico e polêmico. Essa é a imagem que deixa de si mesmo Christopher Hitchens, autor britânico falecido na última noite de quinta-feira (15), aos 62 anos. Desde Julho Hitchens lutava contra o câncer no esôfago. Ontem, uma pneumonia relacionada às complicações da moléstia vitimaram o jornalista e escritor, autor de dezenas de títulos.

A carreira de Hitchens se iniciou pela década de 1970. Apesar disso, ele se tornou mundialmente conhecido graças ao seu livro Deus não é grande. Seu ateísmo militante causou barulho, apesar de muitas de suas críticas não irem a fundo nas questões. Como Dawkins, outro famigerado ateu, Hitchens sofria de cegueira histórica e limitações filosóficas, além de estar em desvantagem ao próprio Dawkins em termos de conhecimentos científicos.

O último projeto editorial do autor, 'Hitch-22', talvez sirva para esclarecer um pouco mais seu antagonismo contra a religião. A fúria de Hitchens conseguiu adeptos em uma época em que a religião mostrou seu lado mais catastrófico, como vimos no atentado às torres gêmeas (2001). Sem dúvida, isso deu munição a ateus inveterados para argumentar que toda religião é potencialmente má, uma crítica que parte de generalização infundada e preconceito imedido.

Em sua morte, as principais publicações interncionais saúdam o escritor pela sua coragem e ousadia, como se isso fosse meritório em si. Não questiono as qualidades de Hitchens; porém, dizer que ele ter seguido suas convicções até o extremo, pouco significa. Se um doido saísse pela rua alegando ser Napoleão, ninguém teceria semelhante elogio! Seguir as convicções não pode estar acima do compromisso com a verdade. E tal postura inclui capitular diante das evidências e estar disposto a fazer um retorno filosófico. Se Hitchens possuía essa abertura, não o posso afirmar. Em sua morte, só posso agradecer seu esforço por questionar a Deus. Afinal, o que ele conseguiu com suas proezas enfezadas foi dar margem a seus críticos para ressaltar, com mais lucidez e embasamento, justamente o contrário: Sim, Deus é Grande.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CRISTÃOS DE FIM DE MUNDO


A toda hora, eles chegam, apressados, cheios de rugas na testa. Seus olhos os traem: estão ansiosos. Ao mesmo tempo em que se sentem culpados, percebem que há pouco a ser feito, pelo menos agora, depois de todas as oportunidades que tiveram. Esses são os pais de fim de ano.

Alguém talvez observe que seria melhor dizer “pais em fim de ano”, do contrário, teria-se a impressão de que eles seriam pais apenas em determinado momento do ano. Não creio que a sugestão seja de todo inapropriada: afinal, ser pai é um passo a mais em relação a simplesmente gerar um novo ser. E, infelizmente, muitos creem que prover ao filho em suas necessidades financeiras já basta. Falta afeto. Não atenção ocasional. Falta quem se importe.

É evidente que essa falta de interesse acaba se refletindo no lado acadêmico de muitas crianças e jovens. E seus pais, que foram o ano todo omissos, sentem-se compelidos a cobrar de outrem a responsabilidade que lhes cabe. Culpam a escola. Questionam educadores. Revoltam-se porque, em seu parecer, fizeram um investimento (as mensalidades) que não obteve retorno (a aprovação). Ninguém lhes avisou que a educação não é um artigo à venda.

A situação nos remete a um tipo perigoso de postura dentro do cristianismo. Cristãos sazonais: eles frequentam a igreja quando passam por crises. Com olhos cheios de água, tomam assento e pedem as orações da comunidade. Estão ansiosos, aflitos. Não se comprometeram com Deus e, tampouco, estão dispostos a fazê-lo. Alguns entre eles jamais deixarão os bancos da congregação, mas, psicologicamente, estão desconectados.

Quando Jesus voltar em glória, é provável que tais cristão sazonais tentarão se justificar (cf.: Mt 7:22). Revoltam-se porque, em seu parecer, fizeram um investimento (participara das atividades da igreja) que não obteve retorno (a salvação). Ninguém lhes avisou que a redenção não está à venda. Faltou interesse genuíno, comunhão sincera e apego à cruz. Eles eram cristão apenas na crise, por tradição ou com medo do fim do mundo. Cristãos de fim de mundo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

RESTRIÇÕES À PROPAGANDA DE CIGARRO

Especialistas contrários à definição de regras mais duras para a publicidade de produtos derivados de tabaco avaliaram hoje (6), em audiência pública, que as propostas em discussão ferem a legalidade do setor e transformam o cigarro em um produto semi-ilícito, além de estimular o contrabando.

Entre as ideias apresentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão ampliar para 60% o espaço utilizado nos maços de cigarro para a veiculação de imagens de advertência; incluir uma mensagem de advertência voltada para o público jovem; e proibir a fixação de cartazes promocionais do lado de fora de pontos de venda.

A representante da Associação Brasileira de Propaganda, Marion Green, lembrou que o cigarro, mesmo com todas as restrições sanitárias em vigor, tem a sua produção legalizada no país e representa uma das maiores arrecadações feitas pela União.

“Impedir a comunicação nos pontos de venda é um passo arriscado e uma porta aberta para outras ações vedatórias”, disse. “Produtos e empresas que estão na legalidade não podem ser tratados como marginais”, completou.

Para o representante do Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC, Wilson Bianchi, o risco é que as mudanças apresentadas pela Anvisa sejam, posteriormente, ampliadas para outros setores, como o de bebidas. “Vamos ser cerceados de todas as maneiras”, avaliou. “Temos que dizer o que queremos e não queremos ensinando as pessoas, e não com mordaças e amarras”.

Durante o debate, o prefeito de Agrolândia (SC), José Constante, alertou para os efeitos que regras mais duras terão para os produtores rurais da região, que somam mais de 800 mil pessoas.

“Estamos querendo aprovar o banimento de um mercado legal, que é garantido pela nossa Constituição, além da livre concorrência e da liberdade de expressão. Estamos incentivando não a redução do consumo, mas o aumento do consumo de produtos ilegais, sem controle de nicotina, do alcatrão.”




Pelo que se nota, aqueles que são contra as novas restrições o fazem por motivos puramente financeiros. Embora sejam conhecidos os malefícios do cigarro, a insistência em comercializar o produto só comprova a virulência do capitalismo que se preocupa em fazer bem (ao seu bolso), sem olhar para quem (está prejudicando). Triste civlização!

VIZINHO DO CAMPO MISSIONÁRIO

O coração da floresta. Convivendo com indígenas por dez anos. Entre traficantes de escravos e furiosas epidemias. No território da nascente do rio Amazonas, o casal William e Olga Schaeffler cumpria uma missão de risco.

Tudo teve início a partir de 1927, quando as missões indígenas da União Incaica foram organizadas (envolvendo Peru, Bolívia e Equador). Era um território difícil para a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Poucos obreiros se animavam a serem chamados para a região. O campo não era promissor. As dificuldades financeiras? Imensas.

Os Schaeffler corajosamente aceitaram trabalhar na floresta do norte do Peru. Como resultado, fundaram duas escolas, uma igreja, além de instalações para atender a população e abrigar obreiros. Muito mais do que isso até: cerca de 250 índios Campas se batizaram, mudaram-se para perto do casal, formando uma pequena vila adventista em plena floresta. [1]

Relatos como esse, provenientes do campo missionário, emocionam, em parte por que a maior parte daqueles que nasceram em um lar adventista (nós os chamamos de “adventistas de berço”!) já sonharam em ser missionários. Os relatos mundiais das missões (cartas missionárias) na Lição da Escola Sabatina fomentam o ideal de pregar no campo estrangeiro. E Deus serve-Se de relatos assim e de muitas outras maneiras para chamar jovens e famílias para deixar seu país e trabalhar em lugares remotos do mundo.

Ao mesmo tempo, a maioria de nós não precisará fazer seu passaporte! Se quisermos ser missionários, não teremos necessariamente de nos mudar e aprender um novo idioma, embora alguns recebam esse chamado específico. Mas, para a grande maioria, basta representar nosso Deus e Seu evangelho onde estiver. E isso é mais verdadeiro no século XXI. Por incrível que pareça, nossa sociedade vem abrindo mão de sua herança cristã e assumindo uma postura dita pós-cristã (como se a religião de Cristo já estivesse superada!).

Para reverter o quadro, precisamos nos voltar para a Bíblia. Nela encontramos sólidos modelos de homens que viveram à altura das exigências do seu tempo. Na verdade, gastaremos tempo pensando em um caso em particular.

Conhecendo o homem de perto

Se estivéssemos num contexto corporativo, diríamos que, para seus superiores, seria um jovem executivo promissor. Chegava pontualmente para as reuniões. Em seu notebook, gráficos com planos geniais. Seus sapatos de grife viviam bem lustrados. O nó de sua gravata era o mais elegante.

Mas temos outro homem, não um jovem saído da Faculdade Getúlio Vargas, com seu MBA em Administração. Não um engravatado, mas um empoeirado. Vivendo entre pagãos intelectualizados com a mensagem que borbulhava em seus dias. Talvez em seu buço os fios masculinos começassem a substituir a penugem. Seu desafio: que sua voz fosse ouvida, ecoando sua experiência – em anos de serviço apostólico? Penso que não; porém, uma experiência cristã genuína, não mensurável em termos de tempo.

Timóteo. Mentoreado por Paulo, o jovem pregador recebeu conselhos relevantes. Nas cartas que Paulo lhe mandou, saltam as linhas nas quais se ouve o convite para o combate (1 Tm 1:18).

Quem era o Pastor Timóteo? Era natural de Listra da Licaônia. Na segunda viagem missionária, Paulo teve como companheiro Silas (também chamado Silvano). Os irmãos de Listra e Icônio deram boas referências de Timóteo, um jovem filho de uma judia convertida, mas cujo pai era grego. Paulo o levou consigo após circuncidá-lo (At 16:1-3).

Que tipo de capacitação teria Timóteo para assumir o comando de uma das frentes de combate na Guerra Espiritual?

Paulo lhe diz que não deveria menosprezar – até pelo contrário, deveria levar em conta – o ato da imposição de mãos, sobre ele realizado (1 Tm 4:14). A expressão “por mensagem profética”, nos sugere que houve uma revelação sobrenatural que apontasse claramente para a consagração de Timóteo através da imposição de mãos. (cf.: At 13:2,3). A própria ordenação por meio deste processo era antiga: vemos, por exemplo, que os Levitas foram separados para o sacerdócio ao ser-lhes impostas as mãos de Moisés (Nm 8:10, 11) e o mesmo ocorreu com Josué (Nm 27:18-20, 23), quando foi separado para ocupar o lugar do mesmo Moisés, prestes a morrer. No caso de Timóteo, Paulo em pessoa impusera suas mãos sobre o iniciante condiscípulo (2 Tm 1:6,7).

Timóteo, como ministro ordenado, não deveria se preocupar com a salvação meramente do prisma evangelístico, como algo a ser levado ao povo – ele deveria se envolver com o processo experencialmente. Combater o combate incluía tomar posse da vida eterna (1 Tm 6:12). “Salvar-se a si mesmo” era imperativo, tanto quanto salvar a outros (1 Tm 4:16).

É claro que esta experiência de estar salvo traz inúmeros benefícios; inegavelmente, contudo, a salvação atrai sobre os crentes a vergonha e o desprezo por parte dos que rejeitam sua mensagem. Timóteo deveria suportar os sofrimentos que a pregação do Evangelho lhe acarretasse, tendo a certeza da salvação passada e da vocação presente (2 Tm 1:8,9), além da garantia da recompensa a ser dada “naquele Dia” (2 Tm 1:12; 4:7,8).

Hora do combate

O mesmo combate reclama em nossos dias por pessoas que aceitem seu desafio e o alcance da missão dada por Deus. Paulo, Timóteo, Jonh Huss, Zwínglio e milhares de campeões do passado descansam no Senhor, tendo cumprido o seu combate. Agora é a nossa vez de nos erguermos e lutar pela nossa salvação e de nossos semelhantes.
Para atendermos nosso chamado, nada como considerar as orientações de Paulo a Timóteo. Nós as dividiremos em tópicos para facilitar seu estudo:

I – Fortifique-se na graça de Jesus para cumprir a missão (v. 1): Ao escrever “seja forte”, Paulo literalmente está dizendo “vá para o campo de batalha como um soldado”. [2] A forma enfática como o apóstolo incentiva Timóteo pode também ser vertida do seguinte modo: “Você, entretanto, meu filho, seja continuamente fortalecido pela graça que há em Cristo Jesus.” [3]

É notório que os desafios da pós-modernidade são imensuráveis. A diferença é que, talvez mais do que nunca, essa igreja esteja madura para encará-los. Em um documento oficial, a denominação que o “desafio de alcançar os mais de seis bilhões de pessoas no planeta Terra” é algo que “parece impossível”, sendo uma tarefa esmagadora. “De uma perspectiva humana, o rápido cumprimento da Grande Comissão de Cristo, em algum momento próximo, parece improvável”, completa o documento. Por meio dele, a liderança mundial da igreja faz um apelo por reavivamento e reforma, [4] como a única forma para nos conectarmos ao Espírito Santo, o único que pode disponibilizar poder aos crentes. Não tenho dúvidas de que esse é o espírito!

Em todos os momentos que o povo de Deus se uniu, buscando poder dos altos céus com humildade, sua oração não foi descartada. O Pai quer nos encher de sabedoria e discernimento. Creio que muito do que dissemos nas páginas antecedentes darão base intelectual para compreendemos a situação das pessoas do século XXI em termos de visão de mundo. Porém, devo confessar que conhecimento não basta para agir! Precisamos do conhecimento, mas além dele temos necessidade do Espírito de Deus mudando a vida por completo. É tempo de sermos fortes na graça do Senhor!

II – Transmita o legado da verdade para envolver outros na missão (v. 2): Da forma como o verso se acha traduzido em algumas versões, pode-se pensar em uma espécie de transmissão indireta, como se Paulo ensinasse a outros que, por sua vez, ensinassem Timóteo: “O que da minha parte ouviste através de muitas testemunhas” (ARA).

Entretanto, a maioria das versões corretamente assinala que a transmissão do ensino foi direta – Paulo em pessoa ensinara o jovem pregador: “O que aprendeste de mim na presença de muitas testemunhas” (TEB); “e guardando o que ouviste da minha boca” (Figueiredo); “As coisas que você ouviu de mim” (NASB). [5]

Ainda se pode traçar um paralelo do texto com o tom das instruções apresentadas em 1 Timóteo 1:18-20. Ali há contraste entre Timóteo e alguns que apostataram, entre os quais são citados Himeneu e Alexandre. Do jovem discípulo se diz que possuía a confirmação profética para continuar no bom combate com boa consciência. Sobre seus opositores Paulo escreveu que haviam rejeitado os apelos de Deus à consciência e naufragaram na fé, sendo entregues a Satanás. Outros contrastes aparecem, como pregar a doutrina/ desviar-se da doutrina, fé (confiança no plano divino)/não realização do desígnio divino e servir a Deus em boa consciência/fracasso espiritual.

Como alguém divinamente comissionado, Timóteo tinha a missão de legar o que aprendera de Paulo. Legar significa transmitir um legado, dividir uma herança, ceder um patrimônio. O patrimônio do cristão é a verdade (Jd 3). “O ministério não é algo que nós podemos fazer por nós mesmos e manter por nós mesmos. Nós somos guardiães de um tesouro que Deus nos deu. É nossa responsabilidade guardar o depósito e então investir na vida de outros. Eles, por sua vez, têm de compartilhar a Palavra com a próxima geração de crentes.” [6]

III – Disponha-se às condições da missão (v. 3-7): Paulo convida seu jovem condiscípulo a partilhar sua vida de sofrimentos em favor do evangelho. Para tornar a questão mais vívida na mente de Timóteo, ele colore seus argumentos com exemplos tangíveis. Devemos nos ajustar à missão como:

1 – O soldado: Aqui Paulo enfatiza dois aspectos. O Soldado (1) serve apenas a quem o alistou (v. 4) e (2) se sujeita ao sofrimento (v. 3). É sabido que a disciplina de um soldado na época do império romano era árdua. Cada soldado carregava pesados armamentos, além de utensílios tais como a serra, o cesto, a picareta, o machado, o anzol e comida para três dias. [7]

O primeiro aspecto envolve o compromisso. Durante o período de serviço militar, um soldado não se preocupa com seu sustento ou suas atividades sociais. Ele não tem tempo sequer para se dedicar à família. Seu foco está no serviço prestado ao seu país. Em nome desse compromisso, o soldado se sujeita a privações. Filmes e documentários comentam a situação de famílias americanas que sofrem ao ver maridos e filhos servindo no Afeganistão ou Iraque. A vida militar pode ser árdua mesmo em nossos dias.

De certa maneira, a vida cristã envolve um compromisso que passa longe de quadro romântico e bem sucedido que muitos pregadores compõem diante de congregações desavisadas. Há luta renhida e desafios constantes. O cristão deve ter em vista que seu maior compromisso é com o Senhor Jesus Cristo quem o alistou. Em nome dEle, toda privação e sofrimento compensam!

2 – Como o atleta: Em 1988, durante as olimpíadas de Seul, o canadense Ben Johnson venceu a prova dos cem metros rasos estabelecendo a marca de 9s79. O mundo ficou fascinado com aquele voo em solo. Infelizmente, algumas horas mais tarde descobriu-se que o homem à fato usava um combustível proibido: Bem Johnson caiu no exame anti-doping. O atleta usara estanozolol, um esteroide anabolizante. Sua medalha foi recolhida e seu recorde, apagado.

Em 2001, Bem Johnson, que já se encontrara banido do esporte por reincidência no uso de substâncias ilícitas, voltou a ser notícia. Johnson se achava na Via Veneto, em Roma, quando uma mendiga lhe bateu a carteira. Mais do que depressa, o corredor saiu em perseguição da ladra. Por ironia, ele não conseguiu alcançá-la! [8] A história de Bem Johnson ajuda a reforçar o aspecto que Paulo pretende enfatizar: o atleta valida sua participação seguindo as regras da competição. Na vida cristã, nossa missão deve ser levada adiante, mas de qualquer forma. Não somente os resultados apenas, como os próprios métodos para atingi-los, importam. Devemos seguir as regras do jogo, aquelas que o próprio Deus estabeleceu em Sua palavra.

3 – como o agricultor: Aqueles que, à semelhança deste autor, cresceram em um ambiente urbano, teriam dificuldades para se adaptar à dura rotina de uma fazenda. Pessoas que vivem no campo dormem e acordam muito cedo e trabalham duro durante muitas horas do dia. Sobretudo, Paulo enfatiza que o agricultor participa da própria colheita (v. 6), o que constitui sua recompensa em meio a tantos desafios.
As três metáforas têm algo em comum, embora apresentem nuanças diferentes:

Um soldado sofre por ser forçado a ignorar afetos civis. Um atleta devido ao treinamento propriamente. Um agricultor sofre por causa do trabalho duro. O que perpassa todas essas metáforas em comum é o tema da perseverança em face do sofrimento descrito. [9]

IV – Mantenha em vista o objetivo da missão (v. 8-13): Paulo estava preso e consciente de que se encaminhava para os quarenta e cinco minutos da partida (2 Tm 4:6,7). Em situações como a dele, as pessoas costumam se encher de auto-piedade. Não Paulo! Se ele tinha algo em mente, isso não dizia respeito a eventuais fracassos ou ressentimentos. Paulo estava focado na sua recompensa, porque ele sabia que não correra em vão. O que devemos fazer para não deixar de lado o objetivo de Deus para nós? Apenas três coisas:

1 - Anunciar o Cristo ressurreto (v. 8): Jesus permanece como centro da mensagem de Paulo. Em especial, o apóstolo considera a dupla natureza do Filho de Deus: “Sua descendência humana estabelece Sua humanidade. Sua ressurreição proclama Sua divindade.” [10]

2 - anunciar a palavra invencível (v. 9): Conquanto Paulo se encontrasse acorrentado, a Palavra gozava de liberdade, percorrendo os rincões mais distantes do império de César. Seus arautos poderiam tombar e mofar em calabouços subterrâneos, mas a mensagem pela qual viviam era indestrutível!

3 - Anunciar que a fidelidade divina dará a recompensa (v. 10): Acima de tudo, em um mundo de injustiça, Paulo não esperava reconhecimento ou tapinhas nas costas. Ele sabia que o discipulado é um risco para qualquer pessoa. O discípulo de Cristo recebe a injúria em vez de aplausos. Quer ser lembrado? Faça algo fútil, escandaloso e sem serventia. Você alcançará cinco minutos de fama. Quer ser rejeitado, injustiçado, sofrer perseguição e constante desdém? Decida-se por seguir a Jesus.

Quando nos fortalecemos na graça de Jesus, transmitimos o legado da verdade, dispomo-nos às condições da missão e mantemos a atenção em nossa recompensa, nada mais importará. Vivermos impregnados com o sangue do Calvário. O impacto que causaremos no mundo dependerá menos de gastos com marketing. Especialmente pensando no exemplo de Paulo, é mister que haja pastores que modelem a si mesmos e seus ministérios de acordo com o padrão do Pastor Chefe; afinal, o clamor da igreja é por pastores legítimos. [11]

[1] Floyd Greenleaf, Terra de esperança: o crescimento da Igreja Adventista na América do Sul (trad.: Cecília Eller Nascimento; Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), p. 338-340.
[2] Warren W.: Wiersbe, Wiersbe's Expository Outlines on the New Testament (Wheaton, Ill.: Victor Books, 1997), p. 645.
[3] William D. Mounce, Word Biblical Commentary: Pastoral Epistles (Dallas : Word, Incorporated, 2002), vol. 46, p. 503.
[4] O documento foi votado no concílio anual da associação geral dos adventistas do sétimo dia, em 11 de Outubro de 2010.
[5] “A despeito da palavra traduzida por ‘em presença de’ (διά, dia) normalmente significar ‘através’, é improvável que Paulo intente representar sua mensagem a Timóteo como mediada através de outros porque Timóteo tinha ouvido Paulo diretamente.” C. Michael Moss, 1, 2 Timothy & Titus; The College Press NIV Commentary (Joplin, Mo.: College Press, 1994), edição eletrônica, comentário sobre 2 Tm 2:2. Moss esclarece que a sugestão para traduzir a palavra como “em presença de” remonta a Crisóstomo (407 d.C.).
[6] Warren W. Wiersbe, The Bible Exposition Commentary (Wheaton, Ill.: Victor Books, 1996), edição eletrônica, comentário sobre 2 Tm 2:1.
[7] James M. Freeman; Chadwick, Harold J., Manners & Customs of the Bible. Rev. ed. ( North Brunswick, NJ : Bridge-Logos Publishers, 1998), p. 543
[8] A notícia pode ser encontrada em vários meios de comunicação, mas consultei especialmente O fim de uma farsa, disponível em http://epoca.globo.com/especiais/olimpiadas/0807_ouroperdido.htm .
[9] William D. Mounce, idem, p. 507.
[10] Thomas C. Oden, First and Second Timothy and Titus; Interpretation, a Bible Commentary for Teaching and Preaching (Louisville: J. Knox Press, 1989), p. 49.
[11] E. Glenn Wagner, Scape from church, inc: the return the pastor-shepherd (Zondervan, 1999), p. 32, 111.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CIÊNCIA E RELIGIÃO: COMO CONCILIÁ-LAS?



Alguém escreveu-me perguntando se o melhor caminho para conciliar ciência e religião não seria admitir que ambas pertencem a esferas diferentes. A religião se preocuparia em entender o mundo físico, observar e prever os fenômenos da natureza e extrair de seus estudos conhecimento útil para a humanidade. Em contrapartida, a religião seria algo de caráter pessoal, mais despretensioso, lidando com opiniões que, por estarem fora daquilo que é empírico, seriam difíceis de serem comprovadas ou contestadas; assim, cada um teria espaço para sua fé.
Respondendo à pergunta: pelo que percebo, o problema está nas definições. Nada errado quanto ao entendimento de ciência (naturalismo metodológico), a qual serve igualmente para evolucionistas ateus e teístas, partidários do criacionismo ou do DI. Apenas que a ciência como disciplina do conhecimento é limitada. Não se pode analisar se um soneto de Camões é mais belo do que um de Olavo Bilac pelo método científico. Também não podemos definir se o que Alexandre Nardoni fez foi monstruoso de forma empírica.
Outro problema: há uma falha conceitual na definição de religião, que está bem "pasteurizada". Pense em João 14:6, o texto que é usado por pregadores ávidos de confortar seus ouvintes. Note que, ao contrário disto, as palavras de Cristo são muito absolutas e instigadores: Ele se define como única Verdade.
Jesus até radicaliza ainda mais quando conclui: "ninguém vem ao Pai senão por mim". Não vejo aqui a espécie de tolerância pós-moderna que admite: "todas as religiões são caminhos diferentes que levam ao mesmo Deus." Jesus não nos dá margem para isso. Sua afirmação simplesmente diz que apenas Ele leva a Deus. Não se oferece espaço para xintoístas, budistas, muçulmanos, espiritualistas, etc, como seguidores de caminhos alternativos.
Parece duro, não é? Mas o fato é que, temos apenas duas alternativas diante deste texto: aceitá-lo ou rejeitá-lo. Relativizá-lo é partir de uma interpretação ingenuamente reducionista. Esse é o meu ponto.
Portanto, quando se fala do embate entre criacionismo e evolucionismo, avaliações de ambos os sistemas são decorrentes de como você estabelece as regras do jogo. Para evolucionistas, somos animais, tão evoluídos quanto qualquer outro grande mamífero; para o teísmo, somos à imagem e semelhança de Deus. Qual destas noções é mais compatível com o todo da realidade? Isto requer um exame de todas as evidências. Descartar de antemão o criacionismo como anti-científico por ele não adotar o naturalismo filosófico é jogar sujo.
É como se eu quisesse avaliar o melhor esportista do ano tomando dois candidatos: o argentino Lionel Messi e o lutador de UFC Anderson Silva. Para definir o melhor, eu empregaria como critério o uso mais competente dos golpes de punho. Evidentemente, minha avaliação seria injusta, por privilegiar um tipo de esporte.
Por outro lado, isso equivale a dizer que é impossível avaliar o melhor esportista, apenas por estar diante de modalidades de esporte diferentes? Não. Eu apenas tenho que usar critérios abrangentes, como, por exemplo: qual esportista se destacou em sua modalidade? Qual deles conquistou mais medalhas? Qual chamou mais atenção para o esporte que pratica?
Semelhantemente, é possível aquilatar evolucionismo e criacionismo, usando critérios abrangentes, que consideram as diferenças conceituais dos dois modelos. Ao mesmo tempo, a “prova de teste” é coerência de cada um com o que o conhecimento humano limitado dispõe.

Finalizando, o cristianismo é um pacote fechado: não dá para aceitar alguns itens e renegociar outros. Do ponto de vista cristão, a conciliação entre fé e ciência é possível quando se entende ciência de uma perspectiva criacionista, que é compatível com a verdade bíblica e com os dados empíricos do mundo natural.

domingo, 4 de dezembro de 2011

CUIDADO COM O RESSENTIMENTO!


"Aqui está uma boa definição de ressentimento: deixar suas feridas se transformarem em ódio. Ressentimento é permitir que aquilo que está matando você o destrua totalmente. Ressentir-se é atiçar, alimentar e abanar o fogo, aumentando as chamas e reavivando a dor." Max Lucado, O aplauso do Céu, p. 116.

sábado, 3 de dezembro de 2011

MITRAÍSMO IDEALIZADO



Na quarta série
Rabisquei no sulfite
O pôr-do-sol que ainda admiro:

Mesclas violáceas
Tingindo acetinadas
Cordilheiras de nuvens;

Desprendiam-se
Estalactites de ouro
Do céu sobre árvores e asfalto.

Com giz-de-cera
Retratei a realidade
Como a havia formado:

Meu sol se punha
Em ascensão até
Escoltar a lua ao seu trono;

Detestei sempre
Quando o sol se inclinava
Ao ninho de montanhas.

A luz mais alta
Saía daquela forma
– Cintilante rato escondendo-se?!

Era alguma outra,
Uma esfera covarde
Fingindo ser o sol

– Sol impostor,
Tímido e foragido;
Não são o mesmo sol – ou são?

Se há um sol só,
Como aceitar o ocaso,
Ocasião de declínio?

Serão as coisas,
Coisas às quais amamos,
Que jamais são como queremos,

Ou nós que amamos
Somente o que queremos
Quando em amor falamos?

Até o agora
Muitos sois se puseram
E ainda a resposta não raiou.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

DUAS VERSÕES ATUAIS DE CLÁSSICOS



DAI AO SEXO O QUE LHE PERTENCE


Hoje, tudo tem conotação sexual. As louças têm curvas insinuantes e os comerciais de quase tudo apelam para a nudez. Palavras como "penetrar", "pegar", "meter" e "gozar" foram banidas do vocabulário de gente descente - é impossível dizê-las inocentemente sem ser constrangido por risadas maliciosas.

Em contrapartida, as pessoas amam menos. Amam peremptamente. Até que o divórcio as separe. Até que não se aturem mais. Antigamente, a hipocrisia reinava no lar e todos queriam manter as aparências a qualquer custo. Isso explica porque alguns casamentos duravam décadas, mesmo quando o amor não vencera os primeiros dez anos.

Com o advento do divórcio, os noivos entram na relação conscientes de que, caso não dê certo, podem se separar. Eles se unem com a perspectiva de que não serão felizes para sempre. Não será a morte a separá-los; provavelmente, o motivo será outro - um homem mais atencioso ou uma mulher mais atraente.

O que importa é ter prazer, o que se contabiliza em número de vezes que se pratica o ato sexual. Infelizmente, isso é um mito ainda bem difundido. Afinal, algumas pesquisas já revelaram que, independente do número de vezes em que se vai para a cama, a insatisfação sexual é grande e crescente. Voltamos ao ponto: não falta sexo, falta amor.

Ao invés de uma sensualidade banalizada e ubíqua, deveríamos redimencionar a atração sexual, dando a ela nada mais, nada menos do que o seu lugar. Ela é parte da experiência humana, sem servir de substituta ao respeito, a autoestima e à verdadeira consideração pelo interesse de outrem. Entronizar o sexo e colocá-lo em um pedestal é desumanizá-lo. Insinuar e provocar, como artimanha de conquista constante é uma estratégia que revela apenas o grau de desespero de pessoas vazias, que não conseguem vivenciar a completude dos valores familiares. Dai ao sexo o que lhe pertence e a Deus, o que lhe pertece.

RECADO PARA ADVENTISTAS EVOLUCIONISTAS




"Para alguém, especialmente os nossos jovens, lutando com esses assuntos, eu digo: continue buscando com um coração ardente e honesto. Conquanto que você se apegue à sua Bíblia (e aos livros e artigos de Ellen White) você não será enganado. Para aqueles entre nós que já estão decididos - desprezando a Bíblia e Ellen White - há uma diversidade de igrejas para vocês. A nossa não é uma delas. E para aqueles professores de nossas escolas que creem na evolução e recebem um cheque de pagamento da igreja Adventista do Sétimo dia, eu digo: se você honestamente rejeita a criação em seis dias literais em favor da macroevolução teísta, bem: agora torne sua honestidade em integridade e vá para algum lugar onde não tenha de disfarçar sua visão sob linguagem sinuosa." Clifford Goldstein, no site da Adventist Review


Colaborou: Vanessa Meira. Leia Também: Outras reflexões: adventistas liberais

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011