domingo, 31 de janeiro de 2010

OS VENDILHÕES VOLTARAM PARA O TEMPLO


RIO - A Sony Music anunciou a criação de um selo gospel e pretende contratar de 15 a 20 artistas evangélicos, além de criar um catálogo internacional. Em comunicado, a gravadora afirma estar atenta ao "fenômeno" gospel, que arrebata "um enorme contingente de fãs e simpatizantes" em todo o país. Para lucrar com o segmento, o segundo gênero musical mais vendido no Brasil, foi contratado o executivo Maurício Soares, que tem larga experiência no segmento e passagens pelos selos MK Publicitá, Line Records e Graça Music, que distribuem artistas evangélicos. "Queremos unir o que há de bom na música gospel com a expertise profissional da Sony Music. Creio que em pouco tempo o mercado irá perceber as grandes transformações desta nova filosofia de trabalho", disse o executivo. Não foram anunciados, no entanto, nomes que a gravadora pretende contratar.


Com tantos artistas seculares se convertendo, cresce o prestígio comercial da música gospel. Nomes como Rodolfo Arantes, Regis Danese, Aline Barros, apenas para citar alguns, contribuem para a popularização de tendências e venda de produtos para um mercado crescente.

Num país de forte tradição evangélica como os Estados Unidos, a música religiosa já é assumidamente um produto do capitalismo religioso, o que às vezes é camuflado por supostas intenções evangelísticas ou mero background cultural.

Entretanto, muitos conjuntos funcionam como lucrativas empresas. E à semelhança das bandas seculares, o sucesso e os lucros costumam causar cizânias, conduzindo ex-integrantes de grupos famosos a convenientes carreiras solos.

Na década de 90, o tenor Brian Free fez sucesso com seu timbre agudo, gravando com oantológico quarteto Gold City. O último álbum da fase de ouro (que contava ainda com o lead Ivan Parker, a voz por traz de Midnight Cry) foi A capella Gold. Depois disso, Free fundou seu próprio quarteto, o Assurance.

No site do grupo, Brian Free destaca sua passagem pelo Gold, mas frisa que agora tem seu próprio quarteto (que, aliás, segue o mesmo estilo do Gold City, que continua sendo liderado por Tim Riley e família). Alguns ex-membros do conjunto Acapella, também se associaram, formando o Exapella, cujo repetório não passa das velhas e conhecidas músicas de sua antiga compania. O esforço tem lá seus méritos por reunir Kevin Schaffer, Duane Adams, Gary Moyers e Gary Evans numa mesma formação.



Um caso ligeiramente diferente é o Gaither Vocal Band: o quarteto, que recentemente completou jubileu de prata, sempre apostou em suas estrelas, o que custou ao produtor musical Bill Gaither um enorme trabalho para substittuir os cantores quando esses decidiam-se pela carreira solo, como aconteceu com Terry Franklin, Michael English e David Phelps, entre outros.

Agora, Bill reuniu English (uma mera sombra da voz que foi), Phelps (cada vez estrela) e Mark Lowry (comediante e barítono nas horas vagas) a Wes Hampton (o tenor que substituíra Phelps), formando com eles um novo grupo, desta vez um quinteto (Bill canta baixo; ou tenta…). Certamente, carreiras-solo sem muita empolgação contribuíram para os ex-componentes voltarem.



Mas que ninguém se iluta: ministérios personalíssimos, performances surpreendentes e o aspecto de um culto animado escondem o que o gospel, em todas as suas vertentes – dos quartetos às bandas, dos caipiras aos metaleiros, do country ao pop – tem de mais comprometedor: seu lado explicitamente comercial. Ou seja: os vendilhões voltaram para o templo!

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DÚVIDA DOS TEMPOS E DAS VONTADES




Amnésico e afásico, só posso pensar no vulto da dúvida,
Que não se parece com seu próprio antítipo, pois sombras nos deixam
Com uma impressão das coisas e, às vezes, as sombras nos mentem.
Ninguém sabe ao certo quão grande é a dúvida, nem, por outro lado,
Se restam certezas; vivemos por força de algum improviso,
Mantendo o quinhão inócuo e atual da fé que duvida.
Se houver metafísica, ver-se-há solapada por nosso ilogismo
Que diz amém para qualquer voz que se erga; quem ganha é a dúvida
– E até essa dúvida não sói duvidar como antes fazia…

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

POR QUE DO ÊXODO?



Presente no concílio de verão da Associação Catarinense dos Adventistas do Sétimo Dia, o Dr. Reinaldo Siqueira (UNASP- 2), dirigiu devocionais e seminários. Há cerca de meia hora, o Dr. Siqueira falou sobre o propósito do Êxodo. Abaixo, listamos em forma de esboços parte da fala do acadêmico, mantendo, tanto quanto nos foi possível, o fraseado e as estrutura da palestra:

Por que do Êxodo?

1) Tempo de graça para os cananitas (Gn 15:16);

2) O Êxodo = último apelo de Deus aos cananitas (Js 2:9-11);

Deus salva os cananitas através de Abraão (Gn 14) e de José (Gn 45:7; obs: José garantiu a sobrevivência de Israelitas e seus vizinhos. Cf.: Gn 47:13-25);

•A mecânica da Pregação: (Jr 18:7-10; Ez 18)

O Êxodo também foi uma demonstração aos cananitas (até uma mulher pobre e irrelevante, como Raabe, sabia disso). Quando o ser humano não atende a graça, Deus lança um último apelo, através de um anúncio de juízo; mas os que pedem misericórdia, são poupados e integrados ao povo de Deus (Raabe tornou-se matriarca entre os descendentes de Jesus). Outro exemplo: Jonas sabia da dinâmica da pregação e, por isso, não queria ir (constatação dele em 4:2).

O Senhor manda anunciar que vai destruir, porque não quer destruir!

3) Primeira oportunidade para o Egito: Bênção (Gn 45:5-7);

4) Segunda Oportunidade para o Egito: Juízo (Ex 7:5; 8:10,19,22; 9:14-17, 19-21, 29-30; 11:3; 12:37-38);.

5) Oportunidade de Israel tornar-se uma grande nação (Gn 46:2);

6) O Êxodo = uma revolução social sem precedentes na história




O Êxodo inspirou a abolição da escravatura;

Mensagem de Deus a toda a humanidade:
Todos os seres humanos são iguais.

7) O Êxodo é um paradigma da salvação
a) Escravidão (Ex 1:14; 3:7// Jo 8:32-36);
b) Páscoa (Ex 12// 1 Co 5:7-8);
c) Libertação (Ex 13:17-15:9// Jo 6:32-40; 8:32-36; Ap 15:2-3);
d) Aliança (Ex 19-24// Mt 26:26-29);
e) Peregrinação (Nu 10-Dt 34// Hb 11:8-12:3);
f) Posse da terra (Js 1-21//Mt 25:34; Ap 21 e 22);

Fator final: Promessa/ Provisão de restauração (Nova aliança).

Lv 26:40 a 46; Dt 30:1-14

Um agradecimento ao Pr. Paulo Gregório, com quem confrontei as minhas próprias orientações.
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O JESUS POUCO DIVULGADO



Em que você pensa quando ouve a palavra “Jesus”? Algumas imagens, sem dúvida, aparecem de forma automática em seu cérebro: um homem ainda jovem estendendo a mão sobre um cego acamado ou alguém submetido a ofensas e maus-tratos até ser pendurado em uma cruz. Conhecemos o Jesus que nasceu de uma virgem e foi acolhido em um estábulo. Ouvimos do Jesus que no início da adolescência impressionou os experts em religião. Estamos familiarizados com poucos pães alimentando grandes públicos, travessias sobre ondas bravias, mortos deixando suas tumbas em rochas e paralíticos que, ao serem curados, pareciam estar em uma aula de aeróbica, de tão eufóricos!
A questão é que, para além de um Jesus atrelado a essas atividades tão bem retratadas nos evangelhos, vemos outro Jesus: Aquele que morreu, ressuscitou, ascendeu ao Lar e hoje ministra no santuário celestial. E este aspecto importantíssimo é retratado nas profecias de Daniel. O estudo do magnífico ministério de Cristo em Seu santuário vai exigir mais de nossa atenção, contudo irá nos presentear com uma compreensão mais clara de Jesus e Sua obra.
Primeiramente, vamos relembrar o que descobrimos no capítulo 8. Além de apresentar os grandes impérios mundiais desde a época de Daniel até o fim, a profecia destaca o poder perseguidor que se colocaria contra Deus e Seu povo – o poder romano. Tal poder perseguidor é retratado em suas duas fases: a Roma dos imperadores e a Roma dos papas. Esta última ganha maior destaque em Daniel 8.
Outro detalhe vale ser mencionado: no capítulo 8, nem tudo recebe explicação! O próprio anjo, que serve de intérprete para Daniel, declara: “A visão da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu porém, preserva a visão, porque se refere a dias ainda muito distantes.” (Dn. 8:26). Qual parte da profecia deixou de receber esclarecimento? Aquela que se referia a um período específico de tempo, as 2300 tardes e manhãs (Dn. 8:14). Daniel se incomodou bastante por não compreender este pedaço da visão, a ponto de adoecer (Dn. 8:27).
Passam-se os anos, Babilônia é subjugada pelo Medo-Pérsia e a situação dos judeus continua a mesma. Talvez isso perturbasse Daniel, conhecedor que era de que o cativeiro de Israel duraria 70 anos (como descobrimos, Daniel era um profundo estudioso das profecias de Jeremias). E se a parte não esclarecida da visão (capítulo 8) indicasse uma nova resolução divina, no sentido de prolongar o tempo de cativeiro?
Neste ponto, Daniel é como eu e você, alguém que tinha dúvidas a respeito do cumprimento da vontade de Deus. A saída? Orar! O experiente estadista só poderia pedir ao Senhor restaurar Sua nação desgarrada. O mais tocante é que o coração do Santo do Universo não fica imune aos rogos de seus filhos sinceros e, por isso, a oração do profeta cativo em terra estranha teve pronta resposta.
O mesmo anjo responsável por dar a notícia a uma jovem israelita de que ela seria mãe do Salvador da raça humana foi incumbido de socorrer Daniel. O motivo? Deus amava e tinha em alta conta o profeta (Dn. 9:21-23). O mesmo tipo de interesse pela alma em dúvida, que se ajoelha em busca de luz, é manifestado pelo Céu em nossos dias.
O anjo didaticamente responde a dúvida de Daniel a respeito da visão. De qual visão estamos falando? A única visão que não fora completamente elucidada, como vimos, é a que acompanhamos no capítulo 8. As “2300 tardes e manhãs” não receberam uma explicação; sendo assim, voltar para este assunto era parte da tarefa do anjo Gabriel.
Vale observar que “tardes e manhãs” é o fraseado que na Bíblia descreve o dia judaico – que se inicia ao pôr-do-sol (à tarde, portanto) e se estende ao poente do dia seguinte (cf.: Gn. 1). Logo, 2300 tardes e manhãs são 2300 dias.
“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo” (Dn. 9:24). O termo “determinadas” significa, literalmente, que as setenta semanas foram “cortadas”, “separadas” de um período maior. Setenta semanas equivalem “quatrocentos dias, um período menos do que os 2300 dias. Na verdade, as setenta semanas são uma fatia dos 2300 dias.
Quando tem início esta profecia? De acordo com a exposição feita por Gabriel, a partir da “saída da ordem para edificar Jerusalém”, que naquele instante histórico, estava reduzida a escombros (Dn. 9:25 ). Houveram pelo menos três decretos permitindo aos judeus o retorno a sua pátria. Somente um deles, o último, nos interessa, pelo seu caráter definitivo que levou à libertação de Israel. Este decreto, assinado por Xerxes, em 457 a.C., se acha registrado em Esdras 6:6-12.
Temos de aplicar o princípio dia/ano que usamos para entender o capítulo 7. O uso desta ferramenta nos levará a entender que as 70 semanas ou 490 dias equivalem a 490 anos literais. Este período começa em 457 a.C. e termina em 27 d.C. (isto porque não existe o ano-zero; o ano 1 a.C. é seguido pelo ano 1 d.C.). Qual a finalidade deste tempo especial predito por Daniel? Os 490 anos servem como uma oportunidade para que os judeus, como um povo, deixassem de pecar, tivessem suas faltas removidas, experimentassem a justiça eterna e o santuário celestial fosse ungido, como uma forma de inauguração (Dn. 9:24).
Para entender como isto iria acontecer na prática, temos de nos voltar para a última semana (de 27 a 34 d.C.). Nos últimos sete anos, viria o Ungido, ou seja, Jesus estaria capacitado para a sua missão como Salvador. Sabemos que antes de começar Seu ministério efetivamente, Jesus foi batizado por João Batista (Mt. 3:13-17). O batismo foi Sua unção. O que viria a seguir?
 “Ele [o Unido, Jesus] fará firme aliança com muitos por uma semana; na metade da semana [o que equivale a 3 anos e meio] fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares […]” Daniel 9:27. O ministério de Jesus durou 3 anos e meio, exatamente como Daniel predisse! Ao fim deste tempo, Jesus foi sacrificado na cruz, anulando a lei cerimonial judaica, que servia apenas como um símbolo de sua vinda. Cordeiros não precisavam ser mortos, porque o Cordeiro de Deus finalmente chegara (Jo. 1:29).
Se Jesus começou Seu ministério em 27 d.C. e morreu 3 anos e meio depois, estamos no ano 31 d.C. Mas ainda haveriam outros 3 anos e meio, equivalentes à segunda metade da última semana. Só daí acabaria a oportunidade que Deus dera aos judeus.
De fato, a oportunidade passou sem ser aproveitada! No ano 34 d.C., os judeus marcaram sua recusa ao plano de Deus, condenando o diácono Estêvão (At. 7) e iniciando uma perseguição que dispersou os cristãos de Jerusalém. Com isso, os seguidores de Cristo passaram a compartilhar as boas-novas em outras terras.
As 70 semanas apontam para o amor incondicional de Deus, e também mostram a ingratidão e descaso humano diante das oportunidades da graça.
Como foi falado, as setenta semanas (ou 490 anos) são uma “fatia” dos 2300 anos. Levando-se em conta que os 490 anos terminam em 34 d.C., temos que continuar a partir desta data para contabilizar a última parte da profecia. Dos 2300 anos, descontado 490 (que se aplicam aos judeus especialmente) sobraram 1810 anos. Contando de onde paramos, chegaremos a data de 1844. O que aconteceria, portanto, em 1844? “Até duas mil trezentas tardes e manhãs e o santuário será purificado.” Daniel 8:44.

Em 22 de Outubro de 1844 , Jesus iniciou Sua obra no Santuário celestial, “que o Senhor erigiu, não o homem” (Hb. 8:2). O santuário celeste, que serviu de modelo para Moisés construir o tabernáculo do deserto (Hb. 8:5), agora serviria de palco para uma nova fase da obra de Jesus. Graças a esta nova obra, você pode se aproximar de Deus. Atenda o convite inspirado: “Acheguemos-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.”


O SOFRIMENTO QUE LEVA À SALVAÇÃO




O filme “O código Da Vince” chocou a muitos, em parte por retratar cristãos fanáticos, dispostos a matar outros e até mesmo a se auto-flagelar. O uso de cilício e chicote na devoção da Opus Deis, organização católica, trouxe debates sobre o assunto para a arena pública. Mas, para além dos domínios da sétima arte, a prática do auto-flagelo é lugar-comum no cotidiano de muitos fervorosos católico-romanos.

Um exemplo disso aparece em detalhes biográficos da vida do Papa João Paulo II. Falecido em 2 de Março de 2005, o papa, cujo nome verdadeiro era Karol Josef Wojtyla, tem sua vida como alvo de intensas pesquisas, visando sua futura (e bem próxima) canonização. No recém lançado Why a sant? (Por que um santo?), de autoria do monsenhor Slawomir Oder, são descritos os hábitos de mortificação espiritual praticados pelo ex-papa.

Segundo o Estadão, o livro revela que João Paulo II trazia um cinto especial no seu armário, usado para açoitar-se. Desde a época de seu episcopado, o falecido pontífice já mantinha hábitos de ascetismo e mortificação.

A ideia de se aproximar a Cristo em seus sofimentos é bíblica (1 Pe 4: 13-14). Entretanto, o cristão não é o agente causador desse sofrimento, mas deve se sujeitar à circunstâncias permitidas por Deus (Lm 3:27-33), sabendo que Deus não envia a prova além de nossa capacidade de suportá-la (1 Co 10:13). Sofrimento é a forma divina de aperfeiçoar nosso caráter e desenvolver nossa confiança nEle. Porém, sofrimento pessoal não salva; apenas expressa um masoquismo, além de uma clara influência da filosofia dualista grega, que entendia a carne como algo mal. Em contrapartida, o único sofrimento capaz de salvar é o de Jesus Cristo (Hb 5:7-9). Afinal, pelas Suas feridas fomos curados (1 Pe 2:24).

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

AS BOAS LEMBRANÇAS DO IX CAMPORI DA USB





Lama e adrenalina. Um auditório reverente. Pregadores empolgantes. Tudo isso traduz somente um pouco do muito que significou o IX Campori da União Sul Brasileira, envolvendo cinco associações e uma missão espalhados por Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Realizado em Santa Helena (PR), nos dias 20 a 24 de Janeiro de 2010, o evento foi encabeçado pelo Pr. Areli Barbosa, líder jovem da USB.

Eu participei do Campori, acompanhando o clube Corujão (Joinville, Centro). Foram alguns dias em que meu banheiro (especialmente o chuveiro) fez certa falta. Acordávamos cedo, dormíamos tarde. As atividades? Intensas. Provas com bússolas, na lama, testes de conhecimento, construção de jangadas para buscar objetos no mar (atividade que recebeu o sugestivo nome de “resgatando Wilson”), tirolesa, etc.

Também fizemos passeios. Conheci, finalmente, a magnitude das cataratas do Iguaçu. Impressionou-me o “paredão” de quedas d’águas, vislumbradas através de uma trilha. Sem dúvida, o trecho mais dramático é o mirante, de onde se vê as águas correndo sob seus pés, e se recebe um verdadeiro “banho”. O pessoal do Corujão ficou encantado, desde as crianças aos adolescentes (com seu característico “uau!”).

Na sequência, conhecemos o Parque das aves, ambiente que a exuberância e variedade das aves tornam exótico. Apesar de já ter visto flamingos em livros e vídeos, não nego que vê-los ao vivo e em cores tenha sido algo deslumbrante. Em alguns momentos, o modelo de imersão utilizado pelo parque torna-se notoriamente impactante, porque permite que o visitante ande pelos viveiros, tendo contato direto com muitas espécies.

Os cultos foram marcantes durante o Campori. Além da música congregacional, acompanhada pela orquestra do IAP, houve muitos batismos de adolescentes e juvenis, momentos sempre marcados pela profunda espiritualidade. A capelania ficou a cargo do Pr. Otimar Gonçalves (Jovens, DSA) e do Pr. Elmar Borges (Jovens, UneB), com quem conversei; assim, o conheci pessoalmente, após um período em que eu e o jornalista Michelson Borges trabalhamos em parceria para escrever um estudo bíblico para a UneB, período no qual estávamos em constante comunicação com o Pr. Elmar.

Sem dúvida, as mensagens tocaram o coração de milhares de jovens, chamando-os a um compromisso indiviso com Jesus e Sua igreja, traduzido em envolvimento com a missão. A cantora Iveline e o quarteto Cânticos Vocal também estiveram presentes. Enfim, muitas outras atividades mereceriam menção: apresentação musical de desbravadores escolhidos pelos campos, concurso de oratoria entre os juvenis, a animação do auditório, as fanfarras, entre outras coisas.

Quanto a mim, que não acampava com desbravadores há alguns anos, a experiência foi válida, tanto do ponto de vista espiritual, como também levando-se em conta a oportunidade que tive para rever muitos amigos pastores de outros campos da USB. Sem dúvida, o Campori deixou boas lembranças.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS TEMPOS BÍBLICOS

Ao ler a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, muitas vezes temos a sensação de que a questão linguística não era importante ou não se mostrava relevante para o povo da época. Em verdade, nos parece que todos falavam a mesma língua. Mas, além do relato da Torre de Babel (Gn 11:9), que fala sobre a divisão das línguas, há outro relato que mostra claramente a questão da variação linguística e que confirma, inclusive, teorias atuais para explicar a variação. Veja o texto abaixo:

"Porque tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do Jordão; e sucedeu que, quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os gileaditas perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não, Então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém ele dizia: Sibolete; porque não o podia pronunciar bem; então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão; e caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil" (Jz, 12:5, 6).

A história nos fala de dois povos, outrora unidos, agora separados geograficamente. Gileade era uma região montanhosa a leste do Jordão. Ela foi habitada por parte do povo de Israel durante a posse de Canaã, especificamente as tribos de Rubem, Gade e a meia tribo de Manassés (cf. Dt 3:12, 13), que escolheram sua herança aquém do Jordão. Efraim era uma das tribos do povo de Israel que haviam se estabelecido além do Jordão (cf. Js 16). Os povos que habitavam Gileade e Efraim tinham a mesma origem - o povo de Israel que saiu do Egito e peregrinou 40 anos no deserto. Ou seja, linguisticamente, a origem era a mesma - eles falavam a mesma língua. Mas, após a posse de Canaã, as tribos se estabeleceram em territórios distintos e ali se desenvolveram. Assim, passou a haver uma barreira geográfica separando-os (no caso de Gileade e a tribo de Efraim, havia o rio Jordão). Essa separação já ocorria há cerca de 300 anos (cf. Jz 11:26) quando se deu o episódio descrito nos versos acima.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

PREOCUPAÇÃO COM A MÚSICA: NA AGENDA DA IGREJA (E NA DO QUESTÃO DE CONFIANÇA!)




Atualmente, estou assistindo uma programação da Igreja, o IX Campori de desbravadores da União Sul brasileira. O evento se realiza em Santa Helena (PR). Especificamente hoje, estive conversando informalmente com o tenor Márcio Sampaio, do Cânticos Vocal (adoro ser um desconhecido, por que sinto que isso facilita o acesso à opinião das pessoas).

Tudo começou, na verdade, quando eu estava bisbilhotando no stand do quarteto, e os ouvi conversar com o Pr. Otimar Gonçalves (Jovens, DSA) sobre a posição da igreja sobre a bateria na música. Justamente, esse foi um de nossos posts mais comentados na semana!

Cada vez mais músicos, pastores, e a igreja em geral têm se interessado pelo assunto. Espero, de coração, que nossos textos aqui ajudem a igreja a discutir os pontos centrais, relevantes para uma igreja comissionada a ser relevante a toda uma geração. É hora de olhar além da superfície e explorar a adoração, analizando tudo o que Deus nos revelou sobre ela. Acima de qualquer coisa: seja um adorador consciente. Prometo escrever mais sobre isso. Aguarde.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

AVATAR E A ESPIRITUALIZAÇÃO DA NATUREZA



O filme mais caro da história. A segunda maior bilheteria de todos os tempos. Marco tecnológico. De todos os ângulos, Avatar é um superlativo.

Mas o que tanto atraiu a atenção das pessoas?

A história? Duvido. Vejamos num resumo: um soldado semi-inválido e cansado de combates acaba indo para um mundo distante e lá ele descobre a harmonia de um povo em contato com a natureza, se apaixona por uma nativa e enfrenta preconceitos e tensão bélica. Isso faz de Avatar uma versão em 3-D de Dança com Lobos, como estão dizendo.

Para o crítico Renato Silveira, Avatar é “a vanguarda da tecnologia oposta ao lugar-comum de um modelo narrativo típico de filmes de fantasia”. Assim, todo mundo sabe de antemão que o herói ficará encantado com uma nova cultura pura, encontrará um amor puro, uma forma de vida pura em contraste com a ganância dos terráqueos e com o vilão que ele mesmo terá que enfrentar. O enredo é, digamos, puro lugar-comum.

O que não é comum é a inovação tecnológica desenvolvida para esse filme, que teria avançado na criação de softwares para a tecnologia do efeito tridimensional no cinema.

O senão de Avatar me parece ser de outra ordem. Não está na tecnologia nem no roteiro. Está no subtexto ideológico-religioso do filme. Para o professor de cinema Rodrigo Carreiro, “Cameron se certificou de incluir uma boa dose de preocupações ambientalistas (um tanto rasteiras, aliás), para dotar o filme de atualidade e fazê-lo politicamente relevante”.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

VERÍSSIMO: LEITOR DE CHESTERTON E DO MUNDO ATUAL




“Gosto daquela frase do Chesterton segundo a qual quando as pessoas deixam de acreditar em Deus não passam a acreditar em nada, passam a acreditar em qualquer coisa. As grandes utopias sociais acabaram, ou estão em recesso, mas o mais preocupante no mundo hoje é o que as pessoas estão dispostas a acreditar, por mais irracional ou primitivo que seja. Há uma retribalização da humanidade em curso e a guerra entre os monoteísmos é apenas uma das evidências disso. As utopias pelo menos pressupunham um desejo de organização social pela razão [racionalismo], ou pelo altruísmo [oriundo do positivismo], mas o desejo dominante hoje parece ser o de embotamento da razão por um sentimento tribal, qualquer sentimento tribal. A causa pela qual vale a pena lutar é uma ideia da sociedade, daquilo que a Margaret Thatcher dizia que não existe, uma ideia de comunidade e justiça compartilhadas, acima das ambições e da moral do mercado.”
Luís Fernando Veríssimo, em entrevista à revista Caros Amigos, ano XI, número 130, 2008.

NOVA DÉCADA, VELHA INSATISFAÇÃO




(2010)

Misantropo (em sentido urbano), a persiana
Lhe expõe a halos sutis, e realça o uísque suspenso
No copo inquieto, e ele só não grita por bom senso,
Se lhe sobrou algum, posto a vontade insana

Se infiltrar sob cautelas sem termo, uma gana
De vibrar mais, mas com o quê? Move-se e é denso
O óleo no corpo, o ocre no olhar, o tom do lenço,
E assim densa, se assenta aos poucos, sucerana

Por julgá-lo vassalo, até ficar bem claro
Que o que fizeram não conta mais, pelo menos
Para ele, que acalenta o abismo sem reparo

Até o almoço, quando a moça o deixa a sós.
Xinga-se, tanto quanto amor jurara à Vênus,
Sem que sentisse o amor vindo da própria voz.

O DEMÔNIO DA BATERIA



Uma das mais pertinazes e irritantes discussões sobre música sacra envolve o conjunto de instrumentos percussivos que chamamos de bateria. Será que bateria pode ser usada na música sacra? A renitente dúvida divide opiniões há décadas. Poucos se deram conta de que se trata de uma indagação inútil, por dois fatores principais: 

1.Não é um instrumento que determina se a música é sacra ou não: um instrumento não serve de nada, a não ser como meio de expressão. O que o indivíduo expressa como forma de arte é o que precisa ser avaliado. A bateria pode ser usada para louvar a Deus? Associada a outros instrumentos, a bateria pode ser usada como instrumento de louvor, quando utilizada de forma que não caracterize um ritmo ou gênero musical popular. O mesmo vale para, praticamente, todos os demais instrumentos. Infelizmente, tendemos facilmente a erguer a voz quando a percussão se destaca, aproximando-se do rock, mas poucos reclamam quando alguém toca um violão e dá a um hino a roupagem de bossa-nova. Tudo depende do coração do músico, que definirá que tipo de arranjo será executado. Pena que ainda existam pessoas que imaginem que o diabo inventou a bateria para desviar o povo remanescente do louvor celestial; ou que, a semelhança dos pregadores pentecostais, aleguem haver um espírito demoníaco na bateria, capaz de possuir a mente daqueles que ouçam seu som mefistotélico; 
2.O que se discute, em verdade, é a presença física da bateria: se a bateria pode fazer parte de nossas canções? Ora, sinto informar os desavisados, mas a bateria já é “de casa” há tempos. Você não vê, mas ela se apresenta na maioria dos play-backs, algumas vezes de forma apropriada, em outros casos, inadequadamente. Algumas equipes de louvor utilizam baterias eletrônicas ou sintetizadores, produzindo o mesmo tipo de som da bateria convencional. E a rejeição ao tipo de música produzida não é maior simplesmente pelo fato de que a bateria não se apresenta “pessoalmente” na igreja. Aliás, convenhamos: com emprego maciço dos supra-citados play-backs, nem instrumentos musicais ou instrumentistas podem ser encontrados, tal o efeito de acomodação que a música “pronta” vem causando. 
Portanto, ao invés de se discutir se a bateria é ou não lícita, gostaria que as discussões sobre música sacra subissem de tom (com perdão do trocadilho) e passassem a considerar tópicos como os seguintes: 
1.Como desenvolver abordagens para seleção de música cristã nas igrejas locais e instituições? Não basta que comissões da Associação Geral ou da Divisão Sul-Americana lancem diretrizes, se não existe empenho da parte de líderes locais de estudar o assunto em espírito de oração e promover seminários, treinamentos e reflexões. Os encontros nacionais de músicos que existem são poucos e, até onde sei, lidam pouco com a Filosofia denominacional, concentrando-se no desenvolvimento de habilidades e técnicas; 
2.É justo que nossas emissoras de comunicação apresentem algumas músicas sabidamente descomprometida com os ideais adventistas, apenas sob pretexto de evangelismo indireto? Como se sabe, o evangelismo indireto constitui uma forma de atrair a massa de evangélicos, veiculando músicas de cantores que, além de não pertencerem à denominação adventista, possuem um conceito musical bem diverso do nosso. Na prática, o evangelismo indireto vem produzindo muitos frutos: ele “evangeliza” os adventistas, influindo em seus gostos de forma, muitas vezes, determinante. Não à toa, alguns cantores de congregações locais levam para os cultos músicas de Luis de Carvalho, Diante do Trono, Aline Barros, Regis Danesse e por aí vai; 
3.Como incentivar e apoiar a formação musical dos jovens? Denominações pentecostais, como a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã do Brasil, dão incentivo à formação de orquestras locais. Os adventistas ficaram dependentes do play-back que, se por um lado tem sua valia em termos de auxiliar igrejas sem estrutura musical a curto prazo, impede que haja um desenvolvimento dessas estruturas a médio e longo prazo. Boa parte dos músicos não possui nenhum tipo de formação, apenas cantando ou tocando intuitivamente, ou “de ouvido”, como se diz. Isso ajuda a entender porque alguns cantores emulam outros intérpretes, quer cristãos ou seculares, sem conseguir apresentar uma voz própria. Precisaríamos incentivar o estudo da música, criando conservatórios orientados pela nossa ideologia; 
4.O que fazer para desenvolver uma liturgia correta e relevante? Com a onda dos worships, muitos adventistas aprenderam a levantar as mãos, e se abraçarem enquanto louvam. Isso tem sido aclamado por muitos como uma evolução, pois estaríamos nos aproximando do verdadeiro espírito de adoração. Esses que me desculpem, mas se isso for realmente o correto, então temos de reconhecer: nós adventistas estamos atrasados em relação aos pentecostais, que já louvavam a Deus dessa forma muito antes de nós. Seríamos, nesse caso, a “cauda” e não a “cabeça”. Por favor, não me entenda mal: não sou contra a espontaneidade durante a adoração através da música. Mas se a música ou a equipe de louvor nos condiciona a levantar a mão, e a fazê-lo em um momento preciso, e não em qualquer outro instante, que é feito da espontaneidade tão alegada? Não precisamos ficar inamovíveis, ou seguir uma sequência na ordem do culto sob o argumento de que “sempre foi feito assim e devemos continuar assim”. Antes, a pergunta precisa ser: o que a Bíblia diz sobre o assunto? O que realmente agrada a Deus? Apenas a sinceridade? E se eu sinceramente quiser adotar o domingo como dia santificado, isso é válido? Então, qual deve ser o limite para minha liberdade cúltica? Essas e tantas outras questões precisam ser respondiadas com um claro “Assim diz o Senhor”. Muitos argumentam que o culto também precisa ser relevante às pessoas de determinada cultura, a fim de ter significado para elas. Eu pondero: se o culto segue as orientações bíblicas, Deus Se manifesta - quer algo mais relevante e necessário para o pecador do que a presença divina?


Enquanto muitas ações poderiam já se iniciar e muitas medidas positivas serem ao menos traçadas, exatamente agora, em algum lugar do país, dois ou mais irmãos estão trazendo à baila se a bateria... 

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A MISERICÓRDIA ILUSÓRIA DA CRENÇA

O evangelho segundo os pós-modernos: mera ilusão

Ao promover debates com alunos de Ensino Fundamental e Médio, dei-me conta de que, mesmo os alunos cristãos, acatam inconscientemente pressupostos que minam sua fé. Frases-conceitos, tais como “cada um tem o direito de fazer o que quiser com sua vida”, “Eu penso assim porque sou cristão, mas os não-cristãos também estão certos por pensar do jeito deles”, entre outras, revelam o nível de influência pós-moderna entre jovens cristãos. E é entre eles que as mudanças começam.
Muitos líderes, pios e bem dispostos, raciocinam que se os membros da igreja toda (o que inclui os jovens) se envolverem no evangelismo pessoal, não haverá espaço para dúvidas. Acredito no evangelismo pessoal. Sei de seu potencial para vitalizar a vida cristã. Mas ele não pode responder algumas dúvidas profundas; tais dúvidas não o são no sentido de questionamento em busca de resposta, mas na acepção de incredulidade.
E há muita incredulidade que se mistura no bojo pessoal de crenças, maculando a visão de determinados cristãos, que nem por isso deixam de ser membros ativos da igreja. Pensam ser cristãos, quando, de fato, seus conceitos não variam muito daqueles que a maior parte da população reconheceria como válidos. Sobretudo os mais novos estão despreparados para lidar com a sutil influência pós-moderna, através de filmes, animes, games, livros, revistas, amizades, etc.
A crença, para esses cristãos sob o signo pós-moderno, se presta a desempenhar um papel bem restrito, envolvendo algumas poucas áreas da vida, como a parte emocional, relacional e as obras de caridade. Tudo muito válido, todavia insuficiente. O antídoto? Mostrar que a religião afeta o intelecto, a concepção de vida como um todo. Precisamos parar de vestir a carapuça de que a religião lide apenas com um conjunto de valores. As pessoas não necessitam crer em Deus tão só com o objetivo de verem seus filhos longes das drogas, ou evitar que meninas engravidem e casais se separem. Há mais do que isso.
Em um soneto intitulado Jesus, o poeta parnasiano Olavo Bilac menciona a “utopia celeste” e a “misericórdia ilusória da crença” [1], expressões que bem refletem a forma como se encara a religião praticamente um século depois. Os valores religiosos são bem aceitos, em geral, mas sua base histórica e factual, descartada. Lembra a situação de um pai que narra um conto de fadas para ensinar o filho a ser obediente, sem se preocupar que a história pareça fantástica, pelo motivo de a história em si não ser importante, já que se trata de algo claramente fictício.
Entretanto, os cristãos vêm aceitando isso sem reivindicar o evangelho não como uma esperança possível, porém como a única esperança. Jesus, em Seus próprios termos, não Se recomenda como uma das alternativas para a Humanidade; Ele é o Único e o único absoluto. Sua misericórdia é real, porque esta se acha embasada por fatos comprováveis, como a Sua morte, ressurreição e ascensão. Apenas por isso, a fé cristã merece nossa crença.

[1] Aleixei Bueno (org.), Olavo Bilac: Obra Reunida (Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 1997), reimpressão da 1a ed, 257.

sábado, 16 de janeiro de 2010

EM UMA PALAVRA: EQUILÍBRIO




Essa semana de postagens pode ser resumida na palavra equilíbrio. Tanto nos relatos de líderes cristãos que se valem da posição para cometerem abusos espirituais, ao fanatismo entre adventistas, passando pelas discussões éticas envolvendo a união entre homossexuais e assistência humanitária, requer-se equilíbrio para extrair da Bíblia uma vivência extraordinária e profunda.

Aí pesa o tipo de bom senso que não busca apenas uma conciliação, um apazigar de ânimos, cedendo ao gosto popular; nunca! O verdadeiro Cristianismo é inflexível, no sentido de seguir fiel e detalhadamente a verdade revelada pela Palavra de Deus. Entretanto, procura desenvolver o domínio próprio, a conquista da cidadela interior.

Uma vida de equilíbrio se revelará satisfatória, ao mesmo tempo que proporcionará uma resposta apropriada para agir no mundo de acordo com a necessidade e curcunstância, sempre dentro de princípios imutáveis.

ADVENTISTAS FANÁTICOS: ALGUMAS REFLEXÕES


Já dizia um ex-professor meu no seminário que o fanatismo é uma parte da verdade que ficou louca. Esse aforismo consegue expressar com genialidade duas ideias-chaves sobre o fanatismo:
1.Sua identificação com a verdade: se o fanatismo é uma parte da verdade, ele se opõe, a princípio, e na maior parte dos casos, à heresia, que consiste em uma – ou mais – doutrina espúria, a qual concorre com a verdade. O fanático nasce a partir de uma motivação antagônica: o herético odeia a verdade; o fanático ama tanto a verdade que idealiza, segmenta e, por fim, distorce.
2.Sua peculiaridade perniciosa: o fanatismo se sobressai em relação ao conjunto doutrinal de que se origina pela tendência de manter certas ênfases, em detrimento do conjunto. Eis a peculiaridade do fanatismo. Também não podemos igualar fanatismo a uma mera excentricidade religiosa, já que ele toma certa carga de virulência, infectando tudo e todos ao redor, implícita ou explicitamente. Eis sua perniciosidade.
Embora o fanatismo não esteja restrito ao Cristianismo, é relevante o número de cristãos fanáticos. Geralmente, o fanático inverte o zelo autêntico do testemunho cristão – enquanto um genuíno servo de Deus estaria disposto a morrer pela verdade, o fanático, em contrapartida, dispõe-se a matar por aquilo que considera como a vontade divina. Dessa forma, o fanático abandona o posto de súdito do Reino do Céu, condição na qual se acata a legislação do Evangelho, e se torna, ele próprio, o legislador agindo coercivamente sobre outros, a fim de acatarem seu dogmatismo.
Entre os adventistas do sétimo dia, o fanatismo achou um campo vasto. E por uma razão bem simples: sendo o Adventismo uma fé abrangente, reunindo sob os auspício de “Verdade Presente” um conjunto bem concatenado de postulados bíblicos, não se torna difícil o surgimento daqueles que se apaixonem loucamente por umas poucas dessas verdades. Levando em conta que se o aforismo inicial reza ser o fanatismo uma parte enlouquecida da verdade, pode-se definir um fanático como aquele que se apaixona loucamente por uma parte da verdade.
Passo a expor algumas ideias a respeito do fanatismo no Adventismo (em muitos aspectos, bem similar ao dos fanáticos de outros arraias). Não proponho que todos os fanáticos entre nós sejam iguais – uns se revelam mais apaixonados, outros menos, mas sempre existe a equivalência entre a paixão deles com a loucura que desenvolvem a curto, médio ou longo prazo. Dito isso:

1.Adventistas fanáticos assumem o posto de pilares da ortodoxia: em meio às marés de relativismo, a ilha-igreja quer se sentir segura. Os fanáticos surgem como indivíduos capazes de sustentar a verdade, às vezes sob os próprios ombros, tal qual Atlas na mitologia. Entretanto, sua atitude de resistência, na maioria das situações, exclui as vozes que divergem da deles em assuntos secundários, como se as opiniões contrárias representassem um desvio da fé correta. Fique claro que admito discordâncias em questões de somenos importância. Uma coisa é afirmar que existe verdade absoluta; outra, bem diferente, é pretender acesso a toda verdade absoluta, em todos os detalhes – conhecimento que apenas Deus, em última instância, é capaz de alcançar. A verdade é absoluta, não os que creem nela, havendo espaço para a atitude inquiridora, a pesquisa e o crescimento de compreensão acerca do que é verdadeiro. Logo, mesmo a ortodoxia saudável não exclui a liberdade de diálogo sobre pontos da verdade que ainda não foram completamente compreendidos, e isso dentro de um espírito largo e humilde. Quando assumo que somente eu esteja certo, e em todos os aspectos, está assassinada a possibilidade para qualquer diálogo e até, por que não dizer, de aprendizado concreto (essência do verdadeiro diálogo humano). Temos que advogar uma ortodoxia sólida, apta intelectualmente para defender e expor os principais artigos da fé adventista. Ninguém se ache autorizado a ter a palavra final sobre a interpretação dos 144 mil ou de Daniel 11, para sacar dois exemplos. Por vezes, o “ortodoxismo” – algo distinto da ortodoxia viável – não passa de uma forma mais sutil do “achismo”, acrescida de intolerância desproporcional e autoritária.

2.Adventistas fanáticos preterem a pesquisa teológica às interpretações pessoais: o fanático é, por natureza, um profundo teimoso! Não espero que ninguém conclua com isso que todo teimoso seja um fanático, sequer potencialmente; mas pensemos: o fanatismo dos escribas e fariseus os levava a fechar os ouvidos para a presença da verdade, ou seja, do próprio Jesus. No colóquio de Marburg (1529), Lutero debateu com Zuínglio acerca da presença de Jesus no pão da ceia. A despeito dos argumentos diversos usados pelo reformador suíço com o fito de convencer o alemão, a teimosia de Lutero impediu-o de aceitar que o pão apenas simboliza a carne de Jesus. “Este é o meu corpo”, repetia Lutero à exaustão, a tal ponto que Zuínglio asseverou que a discussão não estava mais em um plano racional. O fanático não quer provas, não importa quão qualificadas se apresentem. Em parte, a ênfase na interpretação pessoal da Bíblia legada pelo protestantismo abriu as portas para abusos, o que, em parte, foi equilibrado pela elaboração de credos – os protestantes davam liberdade individual de interpretar livremente a Bíblia, mas dentro de certos limites, procurando respeitar, inclusive, a própria Bíblia. Atualmente, a livre interpretação dentro do Adventismo constitui um problema. Um dos fatores que contribui para uma falta de limites quanta às interpretações é a confusão em nosso meio entre conhecimento bíblico e conhecimento teológico. Não importa o quanto uma pessoa conheça a Bíblia, sem treinamento teológico ela não pode discutir teologia. Que ninguém pense, pelo que disse, que acredito na salvação pela teologia. Em verdade, Deus não tornou necessário o conhecimento teológico essencial à salvação. Aliás, muitos renomados teólogos profissionais não são verdadeiros crentes – independe da boa qualidade de sua teologia. Ao mesmo tempo, para alguém ser teólogo precisa de muitas competências para além da mera habilidade de fazer ligação temática entre textos bíblicos (o que se aprende dando estudos bíblicos). Para ilustrar: recentemente vi um panfleto criticando um artigo do Pr. Marcos De Benedicto sobre a Trindade. O autor zombava o fato de Benedicto citar teólogos afamados, à semelhança de Karl Barth, o qual admitia sequer ter ouvido falar! Em virtude disso, alcunhou o articulista de “Marcos De Eruditos”. Ora, veja! Como discutir Teologia sem conhecer o suíço Karl Barth, um dos maiores nomes da teologia do século XX? Seria como tratar de Pedagogia sem mencionar Piaget ou discorrer sobre Psicologia, sem Freud. Embora um psicólogo discorde de pontos da teoria freudiana, ou um pedagogo recuse-se a seguir a linha que propôs Piaget, não podem ignorá-los por completo. Os adventistas – bem como cristãos tradicionais – têm muito a questionar nos trabalhos de Barth e dos seus seguidores, neo-ortodoxos, mas não se pode fazer teologia no vácuo. Como área do conhecimento, a teologia possui grandes nomes e importantes contribuições. Um teólogo adventista age a partir da Verdade Presente, da qual extrai sua teologia e avalia as demais. Um leigo adventista necessita estudar a Bíblia e conhecer a Verdade Presente. Também não pode minimizar ou desprezar o auxílio disponível através dos escritos com certo conteúdo teológico (encontrados na lição da Escola Sabatina e alguns livros) produzidos pela denominação adventista.

3.Adventistas fanáticos são mais propensos à infecção de heresias: Observamos anteriormente a distinção entre hereges e fanáticos. Sucede, no entanto, desse converter-se naquele, para o pasmo geral. Frequentei uma igreja adventista na Penha (SP) na qual um dos anciãos, uma diaconisa e a diretora de Ministério Pessoal se desligaram da igreja para formar um grupo anti-tinitrariano. Por que cada vez mais líderes abonam as fileiras adventistas para aderirem a grupos heréticos? Uma das possíveis razões é que esses ex-membros já haviam aderido a posicionamentos fanáticos. O fanatismo se inaugura nas percepções sobre o disfarce de um zelo pelo correto; desenvolve-se com um apego a verdades específicas; passa a advogar uma atitude legalista, que transparece em ações discriminatórias contra os que não concordam ou não compreendem as verdades enfatizadas pelo fanático; e, finalmente, o desequilíbrio do próprio fanático põe tudo a perder, uma vez que desperta nele o desejo de reformar aquilo que se considera como apostatado. Nesse ponto, o farisaísmo pode conduzir à assimilação de heresias, e até as verdades antes admiradas são rejeitadas diante da nova concepção de crenças.

4.Adventistas fanáticos são fortes candidatos à apostasia: outro caminho para o fanático que não o da heresia passa a ser o abandono da fé. Por que fanáticos apostatam? Por não fruírem da plenitude do evangelho da Graça, presos que se acham em concepções legalistas e infrutíferas. Lutar contra velhos hábitos de caráter pela fé nunca foi desafio leve. Lutar contra hábitos errados apenas da perspectiva do esforço pessoal não se trata de algo inviável – é impossível, com todas as letras! Em seu empenho pela doutrina pura, o fanático acaba sozinho no final das contas, e percebe-se até mesmo sem Deus. E, quando se abandona a comunhão com o Senhor, uma religião árida dificilmente manterá alguém no convívio com outros cristãos. As críticas que o fanático desferiu contra os cristãos “menos zelosos e pios” do que ele, acabam se tornando as setas que ferem seu próprio coração de Saul, suspenso entre o Céu e Terra, parado justamente no meio do caminho entre os dois.

Contra o fanatismo, a solução começo por buscar a “multidão de conselhos”, na qual há sabedoria. Ninguém se isole, como se fosse o único Elias injustiçado que Jezabel persegue pelos quatro cantos da Terra. Uma vida comunitária sadia é um bom passo contra uma postura desequilibrada. Uma devoção sólida pode igualmente favorecer o crescimento simétrico da espiritualidade, desde que a Bíblia seja estudada ponto a ponto, sem a atenção demorar-se apenas naquilo que é de preferência pessoal (cada um tenha a sua, o que é legítimo, a partir do momento em que nossas passagens ou doutrinas favoritas nos impeçam de ver o todo da mensagem). O estudo da história da igreja também favorece uma análise de como certas tendências se mostraram danosas e precisam ser evitadas. Enfim, todos podemos amar a verdade lucidamente e de forma integral.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

IGREJA ADVENTISTA EM GUARULHOS SE MOBILIZA PARA AUXILIAR FLAGELADOS PELA CHUVA




Para muitas pessoas, o ano de 2010 começou literalmente debaixo d’água, uma vez que as chuvas atingiram diversas localidades do país. No interior do estado de São Paulo, o rio Paraíba transbordou devido ao volume das chuvas. Taubaté, São Luiz do Paraitinga, Aparecida, Ubatuba, entre outras que fazem parte do Vale do Paraíba, foram gravemente afetadas. No entanto, enchentes e consequentes perdas materiais e humanas têm sido veiculadas na mídia com tanta frequência que algumas pessoas já nem se comovem diante dessas tragédias.

Mas Reginaldo se comoveu.

O irmão Reginaldo Cardoso é ancião jovem da Igreja Adventista de Bela Vista, sede de um distrito pastoral em Guarulhos, na grande São Paulo. Após acompanhar as notícias trágicas, ele ficou impressionado, e mais ainda quando, ao abrir sua Bíblia para o estudo diário, se deparou com Mateus 25:40, que diz: “Ao que lhes responderá o Rei: Em verdade vos digo que, quando o fizeste aum destes pequeninos irmãos, a mim o fizeste.” Naquela hora, Reginaldo ouviu Deus lhe dizendo: “Faça algo!” E ele fez.




Na sexta-feira daquela mesma semana, ele convocou uma reunião emergencial com outros líderes da igreja, obtendo imediato apoio. No sábado seguinte, iniciou-se o projeto “Ajuda aos desabrigados”. Os líderes mobilizaram a igreja durante o culto para se engajar no plano de ação: veiculou-se um vídeo, mostrando a situação de pessoas afetas pelas enchentes, e a comunidade levantou uma oferta especial em favor das vítimas, no valor de R$1.150,00

À tarde, houve um comparecimento em massa de membros da igreja, que fizeram um mutirão solidário pelas proximidades da igreja. O irmão reginaldo também promoveu a campanha no condomínio onde reside, colocando duas caixas nas quais ficaram armazenadas as doações. Um dos moradores doou 5 cestas básicas e muitas outras doações ainda estão chegando. Outros membros da igreja estenderam a campanha em seus locais de trabalho e vizinhança.

No total, foram recebidos quase 5 mil peças de roupas e cerca de 500 Kg de alimentos. A unidade da ADRA sediada na igreja Adventista de Pq. Meia Lua, em Jacareí (SP), receberá as doações no próximo dia 17 de Janeiro.





“Uma coisa que aprendi é que, quando olho os sinais da volta de Jesus apenas como um cumprimento de uma profecia, nada vai mudar em minha vida; mas se vejo esses sinais como uma oportunidade que Deus me concede para amenizar, um pouco que seja, a dor de muitos, então consigo ver Deus em tudo que fazemos pelo proximo”, conclui o jovem Reginaldo.

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"CHOVE CHUVA": MINHA EXPERIÊNCIA COM UMA ENCHENTE
ITAJAÍ: NOTÍCIAS DE UM MICROCOSMO

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

VIRGEM IMPOTENTE



A barriga
Adquirindo contornos
De vida à espreita, dentro.

Juvenil
E intocada, sem o íntimo
Conluio entre nudezes.

Poderiam
Condena-la com pedras,
No mínimo abortivas.

Ela prende
Os escuros cabelos
Que encapuzam seus seios

(Mesmo um Rei
Tem de sugar o leite
Para crescer reinando.).

Pecadora,
Suplica pela graça,
Condição de conforto.

(Oh mistério,
Que uma placenta humana
Em nada O maculasse.)

(E, de fato,
O feto é Santo, isento
Das heranças da mãe.)

A tarefa
Assaz perturbadora;
Como irá ante o noivo?

Pesam dúvidas…
Resta-lhe exercer fé
Em Deus que anda em seu ventre.

TRISTEZA PARA SER PENSADA




A tristeza de Juliette (papel de Kristin Scott Thomas) nos prende em seus mistérios – o que conduzira uma médica aparentemente tão sensata a prisão por quinze anos? É claro que a desolação, ou antes, um mistério desolador, está apenas na superfície do ótimo Há tanto tempo que te amo, de Philippe Claudel (França, 2008). Os aspectos morais do filme são muito curiosos.
A moralidade da produção está relacionada a duas questões particularmente interessantes. A primeira lida com a questão da aceitação. Juliette conta apenas com a irmã Léa (Elsa Zyberstein) para se reintegrar à sociedade. Léa é quem a busca na prisão, abriga-a na casa que divide com o marido e as filhas adotadas e faz de tudo para que a irmã mais velha volte a ter uma vida digna, mesmo que isso a coloque contra quase todos.
Há perdão para todos os criminosos? Pode-se admitir pessoas que cometeram crimes hediondos na convivência com os cidadãos de bem? O filme não oferece uma exaustiva resposta de âmbito sociológico, mas nos brinda com uma resposta de natureza mais prática, partindo de uma atitude acolhedora.
O processo de reintegração passa, sem dúvida, pela esfera familiar; mas isso não minimiza as dificuldades que a própria família tem de administrar os efeitos que a transgressão trouxe para si mesma, sem se levar em conta o constrangimento de ter de encarar a opinião pública. Em Há tanto tempo que te amo, o ostracismo de Juliette começou justamente no seio familiar, quando seus pais preferiram assumir que a filha estava morta a ter de conviver sob a nódoa do ato da filha.
Um segundo questionamento proporcionado pelo filme serviria como tema para um debate moral: cada família ou indivíduo tem o direito de solucionar questões que se relacionam com a vida humana com base em seus próprios conceitos? A eutanásia é uma decisão que pertence a familiares, à sociedade, ou ao governo? Aqueles que cometem o que consideramos crime por razões, diríamos, justificadas, são menos culpados por isso? Deveríamos nos eximir de criticar uma mulher que cometeu um aborto, um paciente terminal que escolheu abreviar o sofrimento ou uma multidão que linchasse um estuprador até a morte?
Se a única base para decisões desse calibre pertence aos critérios particulares do indivíduo, estaria estabelecido o caos! Ainda assim, é oportuno que surjam questionamentos para que a agenda pós-moderna se veja questionada e confrontada com outras opções mais racionais.

O drama de Juliette, com sua melancolia que se abre primaverilmente em uma alegria em tons pastéis, esconde um substrato de profundas questões humanas. Somente isso já recomendaria o filme de Claudel ao mais exigente expectador.

domingo, 10 de janeiro de 2010

O PRECEDENTE ARGENTINO

O "enfim, sós" de Freyre e Bello: os casamentos entre homossexuais se normatizam pelo mundo

Não havia véu e grinalda, apesar do tipo de cerimônia. Era um casamento, mas sem a presença da noiva. E quem precisava de uma, perguntariam Alejandro Freyre e Jose Maria Di Bello, dois homens na faixa de quarenta anos, que se casaram na Argentina, no último dia 4 de Janeiro. Ambos já podem se aquecer na gelada terra do fogo, local em que ocorreu a união, a primeira desse tipo na América Latina. Tudo com o apoio da governadora da província, Fabiana Rios, que arranjou uma brecha na lei argentina, possibilitando que a cerimônia ocorresse, mesmo após a data idealizada – Freyre e Bello marcaram núpcias inicialmente para o dia 1o de Janeiro (Dia Mundial de combate à SIDA, quer dizer, AIDS) [1].

A mudança na legislação em favor dos homossexuais avança a passos largos, por todo o mundo. E pensar que somente em 1973 a Associação Psiquiátrica Americana excluiu a homossexualidade da lista de desordens mentais!

Dois anos depois, a Comissão de Serviços Civis dos USA revogou a interdição que dera à contratação de homossexuais. Já em 1986, no caso Bowers versus Harkich, a Suprema Corte dos USA considerou legítima a criminalização de sexualidade pelo estado, decisão da qual rescindiu em 2003. Se em 1996 o Congresso americano (em sua Defesa do Ato do casamento) definiu casamento como união heterosexual, em 2000 a Suprema Corte de Vermont aprovou o Ato de União Civil, oportunizando parcerias registradas para pessoas de mesmo sexo. No Outono de 2003, a Suprema Corte de Massachusetts possibilitou casamentos para pessoas de mesmo sexo.

Antes dessa evolução na legislação americana, a Dinamarca já havia, em nível nacional, legislado acerca de parcerias registradas (1989). Contudo, foi na Holanda que surgiu a primeira jurisdição nacional concedendo o direito de homossexuais contrairem núpcias. Apesar de ser um país de tradição protestante (como o próprio USA), a Holanda já experimentava um forte processo de secularização, que ocasionou que os partidos confessionais (calvinistas e católicos) saíssem do governo. O projeto de lei holandês apareceu em 1999, vigorando apenas em 2001 [2]. Therborn resume todo estas iniciativas internacionais quando afirma: “O casamento não está desaparecendo. Está mudando.”[3]

Apesar de ser uma bandeira da mídia pós-moderna lutar contra o chamado “preconceito” em relação a homossexuais, não se pode aceitar algo que vai contra a natureza biológica e destrói o próprio sentido da família – afinal, como seria possível a continuidade dos seres humanos se uma parcela significativa da população praticasse a união homossexual? Tais casais teriam que recorrer a meios anti-naturais para a procriação. Esse é um aspecto. E o que dizer da infecção de DSTs, sabendo que os homossexuais são um dos maiores grupos de risco? E o que significaria para uma criança crescer dentro de uma família formada por cônjuges do mesmo sexo? Como definiria essa criança as funções complementares dos sexos diferentes, se o modelo com o qual convive não lhe fornece senão uma visão difusa da sexualidade humana?

Se todo comportamento sexual pode ser aceito apenas pela premissa de que duas (ou mais) pessoas se amam, o que nos impede de admitir a pedofilia consentida ou o incesto, ou a pederastia (praticada por muitos homossexuais, de forma velada; Frederic Mitterrand que o diga [4]!)? O amor valida tudo, até mesmo o que contrarie a natureza da humanidade criada à semelhança de Deus?

Infelizmente, assim como já ocorreu com outros países, o casamento de Freyre e Bello terá um “efeito levedante”, fazendo que ONGs pró-homessexualidade reivindique igualmente o direito à união civil em seus respectivos países. Na verdade, isso já está acontecendo – apenas mais um tijolinho foi colocado na construção…






[1]Consultei, especialmente, Argentina celebra 1º casamento homossexual da América Latina, disponível em http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2009/12/29/argentina+celebra+1+casamento+homossexual+da+america+latina+9258273.html. [2]Devo todos estes dados a Göran Therborn, Sexo e poder: a família no mundo, 1900-2000 (São Paulo, SP: Contexto, 2006), pp. 329-331.
[3]Idem, p. 331.
[4]Veja Ministro da França rejeita escândalo sobre sexo com "jovens garotos", disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u635486.shtml .

CRISTÃOS, VITÓRIA E ÉTICA




Em uma era informatizada e altamente competitiva, a vitória é almejada. Muitas vezes, a palavra vitória ganha equivalentes como sucesso (termo associado ao conceito de progresso, o qual surgiu no início da revolução industrial [1]) ou realização pessoal (por sua vez, ligada à satisfação, objetivo de vida para a sociedade hodierna, focada no prazer individual [2]). Entretanto, vitória extrapola o sucesso e a realização. Podemos elencar figuras diversas para a vitória, desde atletas em uma olimpíada até soldados voltando de uma guerra. Vitória pressupõe desafio, luta, conquista, resultados e prêmios. Há uma conexão semântica entre o substantivo vitória e o verbo vencer, como entre água e beber – em ambas as ligações, o verbo indica o usufruto do substantivo. A concepção de vitória como meta existencial é patenteada pela Literatura e visível na cultura popular, na qual, por exemplo, expressões tais como “vencer na vida” ou “ser vitorioso” assumem que há um objetivo a ser perseguido.
A busca pela vitória não consiste em uma perspectiva exclusiva do Ocidente secularizado. A Bíblia tem muito a dizer sobre vitória, em vários aspectos. Quando abrimos as páginas do Novo Testamento, notamos um conjunto de textos que retratam o cristão como alguém que vence o mundo. A frase formou a concepção de muitos cristãos protestantes e pentecostais em sua aversão ao que consideravam mundano. A compreensão do crente vencendo o mundo tornou-se metonímia da própria vida cristã, em sua trajetória de renúncia e concepção de mundo característica. Cantávamos “Fé é a vitória” nos cultos da pequena igreja que frequentei. Tal como no velho hino, a chave para se angariar a vitória espiritual, muitas vezes intangível no cotidiano, está na fé, confiança absoluta que move o cristão em sua marcha espiritual.
É bem verdade que assistimos atualmente à ascensão de um Cristianismo que enfatiza um entendimento de vitória diverso daquele tratado acima. Com o surgimento do neopentecostalismo, percebe-se que o termo vitória continua em voga; mas a vitória agora não é mais um elemento espiritual subjetivo, relacionado à fé num sistema de crenças que se opõem ao que considera mundano. Hoje a fé é um sentimento de posse, uma atitude empreendedora motivada pela palavra de ordem que líderes carismáticos proferem àqueles que buscam o sucesso avidamente. Como ressaltou certa pesquisadora:
Muitos dos que estão chegando para engrossar as estatísticas [relacionadas ao crescimento dos evangélicos] animam-se com ensinamentos de um evangelho fácil, aprendendo que seguir Jesus Cristo é andar sempre de cabeça erguida e ser um vitorioso. Afinal, ele derrotou até a morte!
Com isso em mente, segue-se a Cristo para ficar rico, pois somos filhos de um Rei, herdeiros de toda sorte de privilégios. Segui-lo é sair da miséria, é conseguir o emprego, a promoção ou então evitar o câncer, a paralisia, o desastre. Ninguém quer diminuir. Todos querem crescer e, se possível, viver uma vida hollywoodiana [3].
A fé garante bens, a fé vence as dificuldades no casamento e proporciona saúde, cumprindo a função de moeda de troca – quando a fé, materializada em sacrifícios pessoais, em geral, envolvendo a doação de bens à igreja ou oferecendo quantias financeiras em forma de pacto, cumpre sua parte, o crente sente-se confortável para exigir de Deus as bênçãos às quais julga ter direito. Possuir fé garante o sustento de uma forma de vida opulenta, pretendida pelos adoradores contemporâneos, mas alcançada na prática apenas pelos líderes religiosos bem sucedidos.
Estaria esta nova proposta de um segmento cristão fazendo justiça à matéria bíblica, na qual os cristãos (de todos os segmentos) afirmam basear sua fé? Em nome de uma suposta busca pela vitória, instituições cristãs passam pelo escrutínio da mídia e, mormente, assistimos reportagens destrincharem práticas cristãs, questionáveis aos olhos de diversos setores da sociedade secular – sem mencionar o desabono por parte de outros cristãos, igualmente indignados com o que consideram um abuso da fé.
Em certo sentido, os fatos apurados parecem indicar que muitos renomados líderes espirituais, pregoeiros do sucesso, descuidam da ética em pelo menos dois aspectos. Primeiramente, incentivam um comportamento moral raso, porque não instruem suas respectivas comunidades sobre deveres morais, mas promovem com avidez de mercado um evangelho mais preocupado em atrair o coração do que em ocupar o cérebro; a instrução bíblico-doutrinária fornecida é mínima, enquanto que a experiência pessoal místico-religiosa recebe endosso, chegando ao status velado de prova de fé. Como diz o pesquisador Paulo Romeiro: “Em muitas igrejas neopentecostais, a Bíblia perde espaço para a experiência. Ela assume um papel secundário.” [4]
O clima emocional que impera no culto não favorece à reflexão – ao contrário: propicia a aceitação da mensagem proferida, muitas vezes focada na busca pelo sucesso como um fim em si mesmo (o que é maquiado sob a afirmação de que isso seria “o propósito de Deus para o crente”).
Além de não promoverem a ética, os ministros neopentecostais não se caracterizam pelo comportamento ético na forma como exercem sua liderança eclesiástica. Constantemente, informações negativas sobre pastores, bispos e apóstolos são veiculadas pelas principais mídias; escândalos financeiros, acusações do Ministério Público, envolvimento em práticas políticas ilícitas, suposto envolvimento com o crime organizado, aquisição de vultosos patrimônios, entre outras sérias acusações, lançam dúvida sobre a conduta ética de tais líderes.
Gustavo Rocha, ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, em entrevista à revista Época, declarou como desempenhava suas funções “ministeriais”, a partir de quando recebeu uma igreja para cuidar:

Fiquei tranquilo [diante do encargo] porque eu já tinha aprendido o trabalho. Ele [o Bispo Macedo] me ensinou o seguinte: como era uma igreja pequena, primeiro eu tinha de fazer um atendimento corpo a corpo, conversar com cada um dos membros da igreja, visitar a casa, participar da vida. Eu levantava toda a vida da pessoa e determinava o dízimo. E eu ia colocando na cabeça das pessoas. Elas chegavam para contar alguma coisa: “Pastor, fui viajar e bati meu carro.” Eu dizia: “senhora está sendo fiel no dízimo?”. Ela dizia que não. Então eu falava que era por isso que ela tinha batido o carro. Óbvio que não tinha nada a ver, mas era uma questão de mexer com o psicológico, para que ela pensasse que as coisas ruins aconteciam por causa de um erro dela, e não por um erro da igreja ou um erro de Deus. Eu tinha de fazer aquela pessoa acreditar que o dízimo dela era uma coisa sagrada. Noventa por cento das pessoas que vão à igreja, e isso eu ouvi do bispo Macedo, não vão para adorar a Deus. Vão para pedir, porque têm problemas no casamento, nas finanças, de saúde. Então o bispo falava: “Você chega para a pessoa e diz: Você está com problema financeiro, não está? Eu sei, eu estou vendo que sua vida financeira não está boa”. É muito fácil. Por serem pessoas humildes, elas estão mais propensas a certos problemas. [5]
No meio neopentecostal, comumente se ouve a réplica de que tais acusações são infundadas, que ocorre uma injusta perseguição semelhante a que os cristãos têm sofrido desde que surgiram no mundo, e que o próprio diabo estaria movendo uma campanha contra o “povo de Deus”. Cabem aqui algumas ressalvas: inúmeras denúncias e inquéritos parecem apresentar evidência cumulativa da culpabilidade de alguns líderes cristãos; a própria falta de transparência na gerência da parte desses dirigentes dos recursos arrecadados parece depor contra sua alegada inocência.
No que se refere à perseguição, é fato que o Cristianismo suportou dura perseguição, primeiro dos judeus, depois dos romanos e até da própria cristandade medieval; até nos dias, existem focos de perseguição a cristãos em países de maioria muçulmana, como Iraque e Paquistão, além da China comunista. Em comum, tais perseguições foram motivadas por ojeriza ao próprio credo cristão. No caso das acusações às igrejas neopentecostais, elas se enquadram no âmbito criminal, como lavagem de dinheiro, estelionatário, formação de quadrilhas, etc. Aqui nos cumpre relembrar a admoestação do apóstolo: “Se algum de vocês sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso, ou como quem se intromete em negócios alheios.” (1 Pe. 4:15, NVI). O sofrimento é esperado para o cristão (v.12), mas existe diferença entre sofrer dignamente por causa da fé ou em função de estar acusado de prática contrária ao caráter cristão.
Por último, ao remeter ao diabo a causa final de todo o embaraço pelo qual passam, alguns neopentecostais legitimam suas ações, querendo nos levar a crer que Deus está com eles, e por essa razão se acham acuados pelos poderes do mal. Entretanto, deveríamos nos questionar: há evidências de que suas práticas confirmam que seguem as orientações éticas fornecidas pelo próprio Deus? Dessa forma, somos reconduzidos ao ponto inicial, onde nos indagávamos se um confronto entre a ética bíblica e a advogada por alguns segmentos do Cristianismo são concordes.
Deve-se ressaltar que a religião cristã não é, em essência, materialista ou defensora da ética utilitarista; uma das características do pensamento cristão mais solenes é justamente seu desapego ao que considera mundano, e seu repúdio a qualquer pensamento que restrinja a felicidade a uma realização temporal, efêmera e material. Antes, o Cristianismo histórico se identificou, desde cedo, com uma postura holística, a qual procura integrar a fé em diversos aspectos da vida, promovendo equilíbrio saudável entre a espera pelo fim dos tempos e a vida dinâmica em favor do melhoramento redentivo deste mundo. A ênfase recai no aspecto tanto proposicional da Palavra inspirada por Deus, a qual apresenta um caráter normativo para quem quer que se apresente como cristão, e no aspecto relacional, com o Jesus de que fala a Palavra, uma figura histórica real e atuante na vida daquele que crê.
Assim, a ética cristã não pode deixar de confrontar-se com os reclamos de Jesus, tão apropriadamente sintetizados nas palavras do escritor cristão C. S. Lewis:

Cristo diz: “Quero tudo o que é seu. Não quero uma parte de seu tempo uma parte do seu dinheiro e uma parte do seu trabalho: quero você. Não vim para atormentar o seu ser natural, vim para matá-lo. As meias medidas não me bastam. Não quero cortar um ramo aqui e outro ali; quero abater a árvore inteira. Não quero raspar, revestir ou obturar o dente; quero arrancá-lo. Entregue-me todo o ser natural, não só os desejos que lhe parecem maus, mas também os que se afiguram inocentes – o aparato inteiro. Em lugar dele, dar-lhe-ei um ser novo. Na verdade, dar-lhe-ei a mim mesmo: o que é meu se tornará seu.” [6]
Um Cristianismo que reduza a entrega a posses, além de afigurar um engodo, que explora a boa-fé alheia, é nulo, do ponto de vista da eficácia espiritual. Afinal, quem entrega um carro para sua denominação, e por este ato, se sente um vitorioso, se esquece de que a entrega requerida por Deus é de natureza muito mais radical e profunda, chegando a envolver o ser completo. Tão somente uma entrega assim cabal, levará o indivíduo e a comunidade da fé a serem a “cabeça” e não a “cauda” (Dt 28).

[1] Embora derivado do latim, o termo veio a aparecer em Língua Portuguesa apenas no século XVII. Consultar Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, RJ: Editora Lexikon Digital, 2007), 2a reimpressão da 2a edição, 638.
[2] O termo “realização” entrou na Língua Portuguesa em 1844, segundo Antônio Geraldo da Cunha, idem, 665.
[3] Marília de Camargo César, Feridos em nome de Deus (São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2009), 2a impressão, 16.
[4] Paulo Romeiro, Decepcionado com a graça: esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal (São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2005), 121.
[5] Mariana Sanches, “Aprendi a extorquir o povo, depoimento de Gustavo Rocha”, Época, 21 de Setembro de 2009, 43.
[6] C. S. Lewis, Cristianismo puro e simples (São Paulo, SP: Martins Fontes, 2008), 2 ed., 259.




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