quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

ADVENTISTAS E CINEMA: UMA VELHA QUESTÃO


Nesse pequeno ensaio, me proponho a responder à pergunta: há razões bíblicas para não frequentar o cinema? Antes de analisar a questão, tem de se admitir que o problema não é simples. Embora a Igreja Adventista do Sétimo Dia (doravante IASD) sustente que o cinema constitua um ambiente mundano, conclamando seus fiéis a não frequentá-lo, faz décadas que objeções por parte de alguns de seus próprios membros vem sendo feitas a isso. Em sua maioria, defensores e contrários à prática usam a mesma classe de argumentos, os quais se baseiam na cultura e em detalhes técnicos do próprio cinema como mídia. 
Aqui a abordagem não seguirá esse caminho. E por um motivo bem simples: não é a cultura ou a ciência que determina o que deve ser praticado pelo cristão. Se fosse, a base de nossa fé seria insegura e mutável. Como adventistas, acreditamos em três princípios-guias (ou pressupostos) para orientar nossa experiência e escolhas: sola Scriptura (somente as Escrituras), tota Scriptura (as Escrituras em sua totalidade) e prima Scriptura (as Escrituras acima de tudo).
Nesse caso, quais princípios bíblicos poderiam ser evocados para defender a posição oficial da igreja? Com "posição oficial da igreja" estou assumindo que a IASD ainda orienta seus membros a não ir ao cinema, uma alegação que pode ser comprovada consultando o manual da denominação e seus documentos envolvendo estilo de vida. Vale notar que edições mais antigas do manual empregavam a palavra textualmente, enquanto as mais recentes utilizam termos mais abrangentes, na tentativa de contemplar outros tipos de mídia que existam ou venham a existir.
Voltando à pergunta: na verdade, reconheço não haver um claro "assim diz o Senhor" no tocante à frequência ao cinema, com todas as letras, por uma série de razões. A mais óbvia, não é um problema dos tempos bíblicos, haja visto que se trata de uma tecnologia mais recente, com cerca de pouco mais de um século. Então, quer dizer que o assunto não deveria ser abordado biblicamente? Ora, as Escrituras não encerram apenas ordens diretas (“não matarás”, “lembra-te do dia de sábado”), todavia falam de princípios. Alguns exemplos de questões não abordadas diretamente pelas Escrituras: "seria proibido consumir maconha?"; "seria errado viver de forma consumista?"; "a prática da eutanásia seria moralmente aceitável?". Em todos esses casos, é necessário mais do que “caçar versículos” para tratar do assunto; exige-se um tratamento mais amplo.  
Por isso, sugiro uma abordagem da teologia sistemática, aquela que faz mais do que simplesmente coletar textos, mas reúne conjunto de passagens bíblicas, respeitando seu contexto, e as agrupa por temas. O ideal seria termos uma teologia da cultura (quando falamos de cinema, estamos procurando entender uma prática cultural à luz da Bíblia), que cobrisse alguns temas, entre os quais, a frequência ao cinema. Óbvio que algo dessa natureza é complexo. Assim, não é meu objetivo desenvolver tal teologia completamente nesse momento. Primeiro, por causa do espaço; segundo, por achar que outros já fizeram isso com relativo sucesso, especialmente o professor Demóstenes Neves, do Iaene. Neves escreveu um pequeno livro intitulado Entretenimento e Mídia: Cinema, televisão, filmes e internet, o qual traz interessante pesquisa sobre o assunto.
Os princípios elencados a seguir também poderiam servir para abordar outras temáticas que envolvam a matriz de nosso assunto (cultura à luz da Bíblia). Em um texto maior, de caráter acadêmico, seria oportuno avaliar um pouco da história do cinema e de sua influência como mídia. No entanto, aqui, para objetivos imediatos, nossa curta análise se concentrará na Bíblia.
Peço a todos que analisem os princípios de forma menos preconceituosa possível (embora, como é natural em qualquer questão, tenhamos nossas opiniões prévias). Repetindo a pergunta: que princípios poderíamos evocar para dizer que não devemos ir ao cinema? Sugiro os seguintes:
(a) a importância da contemplação  somos transformados por aquilo que contemplamos (cf: Jr 2:5; 2 Co 3:18), o que nos mostra que há consequências espirituais para todo tipo de mídia que consumimos ou objeto que passamos a nos devotar (ou simplesmente com o que gastamos tempo). Obviamente, alguns podem alegar que se trata de entretenimento, mas nada é produzido no vácuo, há sempre um conjunto de valores oferecidos e isso acaba tendo um efeito cumulativo sobre a mentalidade de quem assiste (não significa que assistir filmes violentos fará alguém cometer crimes, por exemplo, mas poderá amortizar sua sensibilidade à exposição da violência);
(b) o imperativo de renovar a mente: o que implica em fugir de padrões do mundo, que poderíamos igualar a perspectiva secular, capaz de moldar nossas percepções e valores (Rm 12:2; Ef 4:22-24), muitas vezes contrários ao plano que Deus tem para nós. Na perspectiva de que vivemos um grande conflito, é de se esperar que as artimanhas de Satanás sejam sutis e disseminadas, para atingir a todos sem que percebam. Se há dúvidas de sua atuação, a leitura de Nos bastidores da Mídia, de meu amigo Michelson Borges, pode servir como introdução útil ao tema;
(c)  o princípio de filtrar todas as coisas: devemos selecionarmos tudo de acordo com critérios do evangelho, constituídos por valores bem definidos (Fl 4:8), ao mesmo tempo que há de se cuidar com o “mito da imunidade”: a Bíblia nos ordena a nem sequer nomear algumas práticas pecaminosas (Ef 5:3), o que nos faz entender que filtrar não significa assistir, ler, praticar ou experimentar algo e em seguida ponderar (como se fôssemos imunes à exposição de práticas pecaminosas), mas, em alguns casos, nem tomar conhecimento da prática ou consumir a mídia em questão. Filtrar é dizer não ao que é claramente mal, ao invés de tentar extrair lições de um conteúdo negativo;
(d) a noção da dimensão imaginativa do pecado: uso esse termo "imaginativa" por ter relação com a imaginação e pensamentos humanos, embora tal dimensão não seja menos real do que a dimensão prática do pecado, pois Jesus igualou ambas (Mt 5:21-22, 27-28; cf.: Jó 31:1). Principalmente esse ponto tem estreita ligação com a ficção (e por séculos pensadores cristãos o entenderam), pois é comum o envolvimento da pessoa com a mídia e a identificação solidária com personagens (a sensação de que estamos dentro da história). Logo, quando eu assisto ou leio algo de conteúdo contrário à Bíblia, os pensamentos assumem, por vezes acriticamente, aquela perspectiva (como no exemplo de quando torcemos para o herói matar o seu inimigo ou quando queremos que o casal passe a noite juntos após se conhecerem);
(e) a admoestação de fazer uso adequado do tempo: se o homem tem duração limitada de vida (Sl 90:10; Is 40:6-8), ela deve ser muito bem aproveitada, não apenas pela busca de experiências significativas e satisfatórias (perspectiva secular), mas, para além disso, em encontrar verdadeiro significado e satisfação em servir ao Senhor (Rm 14:8; Cl 4:3-5). Um fator que contribui para isso é que vivemos em contagem regressiva até o encontro com Jesus. Isso leva o apóstolos a nos instar a viver de maneira qualitativamente distinta (Ef 5:15-16). O entretenimento, em geral, ocupa muito do tempo de nossa sociedade midiática, fazendo com que muitas reflexões e experiências humanas fiquem desvalorizadas (não há tempo para elas); e o que dizer de nossos esforços para a pregação do evangelho e para buscar viver um cristianismo? Será que tais preocupações não se perdem devido a interesses divididos, ao tempo que gastamos com diversão, muitas vezes fútil?
Creio que é possível suscitar outras razões, embora tais princípios pareçam suficientes para justificar a orientação da IASD. Obviamente, o assunto aguarda por outras contribuições mais amplas. E ainda prescindimos de uma teologia abrangente que lide com questões relacionadas à cultura. Assim, a construção de um pensamento cristão, fortemente construído a partir da revelação, ajudará a conter tanto conservadorismo não-embasado, quanto o liberalismo que desprestigia (por vezes, inconscientemente) a Revelação como critério para avaliar cada prática culturalmente aceitável.
Além desses fatores, poderíamos mencionar a posição de Ellen G. White em relação ao cinema, que para mim, é bastante inquestionável. Porém, em virtude do espaço, não vou mencioná-la aqui. Escreverei sobre isso em outro post. Aguarde.


domingo, 2 de fevereiro de 2014

MUITAS ESCOLHAS A FAZER


Reinvenção constante ou falta de rumo?
Consumo compulsivo ou consciente?
Seguir valores ou abrir a mente?
Ler o livro ou buscar algum resumo?

Abstinência ou tragar de leve o fumo?
Desculpar-se com flores ou presente?
Ter uma poupança ou conta corrente?
Deixar ao filho a opção ou manter o prumo?

Ter férias em Roma ou poupar dinheiro?
Pedir que abaixe o som ou ignorar?
Concordar com Platão ou Heidegger?

Aposentar-se ou seguir o ano inteiro?
Tomar chá ou jogar cartas na praça?
Preparar tudo ou deixar que outro o faça?