quarta-feira, 29 de abril de 2009

A CRUZ

Trovejam as vozes de insulto, chicoteando ombros já chicoteados por todo o caminho, cheio de asperezas e ingratidões. Puderam piedosas senhoras comoverem-se daquele homem, com idade para ser filho delas? E os outros homens, seus contemporâneos, olharam para ele com simpatia? Afinal, que era feito de seus amigos próximos, que nem se atreveram a presenciar o momento de seu padecimento? Apenas o abandono o seguia.

Todos se avolumam. Um dia, a esperança. Em outro, o desespero. O caminho se abre, não mais para que o maltratado passe carregando a peça horizontal. Outro carrega seu fardo, porque ele se acha impossibilitado e soldados o arrastam friamente. Os cravos rasgando seus nervos o fazem despertar da síncope. Há muita dor pelas horas seguintes.

O que fora a cruz? O que ela ainda é? A tortura mais cruel e o livramento mais clemente. A maior humilhação e a mais ampla devolução da dignidade. A morte e a vida. A cruz é o eixo do Universo. O ponto em que converge a punição do então e a glória do adiante. Cruz é o amor escrito com sangue inocente para que os perversos sintam-se recolhidos pelos braços divinos do Pai.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O QUE UM FARISEU DIRIA DE CRISTO


Por cedro quer passar o salgueiro. Perturba
Ao povo um galileu.
Desconhecido pela escola, fala à turba,
Que escuta o ensino seu.

É lógico! Quem dentre as gentes lê Moisés?
Acode ao comichão
Um fazedor qualquer de curas, cujos pés
Maldizem a Sião.

Por onde passa, corre essa nova doutrina
– Ilude alguns dos nossos!
Mas ele passará, como aquilo que ensina,
Sem restar sequer ossos.

Tal rebento de mãe antes das núpcias prenhe
Pretende-se Messias!
Ainda que contra ele um escriba se empenhe,
Destila mais porfias.

E o que afirma aliena o homem de seus deveres:
Se “o Reino é vindo a vós”,
Quanto importa se Roma exerce sobre os seres
O seu domínio atroz?

E César? Que dirá quando ouvir do murmúrio
Sobre um rei dos judeus?
Não virá contra nós por causa de um espúrio
Mensageiro de Deus?

E este profeta falso exprobra homens da lei:
De “hipócritas”nos chama!
Rouba a atenção do povo e se define Rei
– Aos de Samaria ama!...

Do bom pai Abraão somos filhos distintos,
Separados de todos.
Ritos nos bastam para elevar aos instintos
E livrar dos engodos.

Por estranho que soe, algo em Cristo estarrece:
Talvez traga no olhar
Constrangedora santidade à luz da prece,
Que não se há de negar.

Por qual razão ele apresenta uma atmosfera
Tão pura que incomoda?
É como um lavrador que, após clemente espera,
Já inicia a poda!...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O PEDAGOGO DE ANTES E AS TESTEMUNHAS DE AMANHÃ




Há anos realizo um rodízio com as traduções da Palavra de Deus em relação ao ano bíblico. Hoje pela manhã, ao ler o capítulo 11 de Deuteronômio na Bíblia de Jerusalém (BJ), senti minha atenção chamada por uma palavra no versículo 2: “Fostes vós que fizeste a experiência, e não vossos filhos. Eles não conheceram nem viram a pedagogia de Iahweh vosso Deus, sua grandeza, sua mão forte e seu braço estendido […]”. Confesso não ter contado que a palavra “pedagogia” apareceria nesse contexto.
Rapidamente consultei outras entre as traduções que possuo. A mesma palavra é traduzida das seguintes maneiras: “disciplina” (Almeida Contemporânea; Nova Versão Internacional) e “educação” (Edição Pastoral). Ocorreu-me de procurar em um dicionário teológico a palavra empregada por Moisés no texto original [1]. Mûsar, no hebraico, aponta a educação resultante da correção. Um dos textos chaves para se compreender o sentido da palavra se acha justamente em Deuteronômio 2, passagem que expressa a Revelação divina através dos milagres e feitos de Deus em favor de Israel.
De fato, em Deuteronômio se identifica claramente o conceito de um Deus atuante na história do povo. No último livro do Pentateuco, trata-se, já no primeiro capítulo, do desenvolvimento da nação israelita e dos desafios que ela teria que transpor. No limiar da promessa, o povo então fracassa, desencorajado pelos dez agentes que espionaram a terra de Canaã. Em face da rebeldia, o Senhor pune a geração descrente a vagar pelo deserto até que seus cadáveres ficassem estendidos pelos bancos de areia (apenas Josué e Calebe, espiões que confiaram na promessa, seriam poupados).
A seguir, Deus dá um tapa com luvas de pelica no rosto do Israel mimado: Seu povo é conduzido ao território de nações parentes (Dt. 2), edomitas (filhos de Esaú), amonitas e moabitas (ambos descendentes de Ló). Essas três nações haviam desalojado os antigos moradores da terra, inclusive os povos considerados gigantes. Se Deus abençoara os parentes de Israel, não teria feito ainda mais pela nação que escolhera para ser exclusivamente Sua?
A disciplina celeste, por mais dura que nos pareça, serviria para instigar a fé no coração dos israelitas, a teste velocidade internet fim de que Jeová fosse Seu único Deus, a quem dedicassem todo amor (Dt. 6:4-5). Eles não deveriam confiar em suas forças, mas reconhecer que o Senhor é quem lhes dava a capacidade de vencer (Dt. 8:17-18). O conhecimento sobre as ações pedagógicas de Deus serviria como fonte de instrução das gerações seguintes (Dt 6:6-7, 20-25).
Você deve ter se recordado de outro texto com um sentido bem semelhante. No NT, a epístola de Hebreus apresenta a função pedagógica do Senhor: “É para a disciplina que suportais a correção; Deus vos trata como a filhos. Pois que filho há a quem o pai não corrige?”
Semelhantemente ao trato do Senhor com Israel no deserto, Deus nos disciplina, visando a nossa salvação. O Pedagogo divino atua no deserto da vida, por meio de intervenções poderosas e provas aflitivas. Sei que você compreende isso. Lembra-se de quando você sofreu ao perder o emprego ou teve de assumir um filho fora do casamento? Tanto nossos erros como circunstâncias nas quais nossa fidelidade se depara com obstáculos servem para a educação superior, cujo resultado é nossa salvação. Todavia, chegará o dia no qual todos serão ensinados no conhecimento (relacional, não apenas intelectual) do Senhor (Jr. 31:34). Aliás, passaremos a eternidade toda ao lado do Pedagogo divino, sendo instruídos sobre as Suas obras estendidas pelo cosmo. Conheceremos anãs-marrons e passearemos pelos satélites de Júpiter.

Porém, acima das informações sobre as leis da física e dos componentes da matéria, aprenderemos sobre a obra da redenção. Teremos, ainda, a oportunidade de testemunhar sobre isso para o Universo “[…] A obra de Cristo neste mundo é Sua obra nos Céus, e nossa recompensa por trabalhar com Ele neste mundo será o maior poder e mais amplo privilégio de com Ele trabalhar no mundo vindouro. […] Apenas os remidos, dentre todos os seres criados, conheceram em sua própria experiência o conflito com o pecado; trabalharam com Cristo e, conforme os mesmos anjos não poderiam fazer, associaram-se em Seus sofrimentos; não terão eles qualquer testemunho quanto à ciência da redenção, algo que seja de valor para os seres não caídos?”[2]

[1] R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr e Bruce K. Waltike, “Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento” (São Paulo, SP: Vida Nova, 2005), 4ª reimpressão, 632-633.[2] Ellen White, “Educação” (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 8ª ed., 308.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

DE NOVO



Rebeldes prenderam-no há meses.
De novo quis seu lar e vida decente.
Num raro dessente da guarda que há às vezes,
Fugiu diligente.


Por jângales, zambro correu
– Narinas de alambre infestadas de novo.
A janga no cais. Ah! Rever o seu povo,
Provar do que é seu.

Do gozo escorchante da volta,
Provou, novamente tão livre como antes.
Família! A prisão de anos morre em instantes
E dela se solta.

Prazer maior nunca provara.
Mas por causa deste prazer de liberto,
Cativo seria outra vez? Trevas perto
À luz tornam clara?

Pecar nunca amplia o perdão.
A graça de Deus uma vez desfrutada,
Liberta da culpa nossa alma angustiada,
Sem mais em prisão.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

FAÇA COMO JADEL


Um recente comercial da Nike trouxe a trajetória do atleta Jadel Gregório em uma disposição que lembra os versos de um poema (principalmente aquele tipo de poética concisa e “seca” da segunda geração modernista, à La Drummond ou João Cabral de Melo). O texto reza o seguinte:
“Eu nasci pobre./Fui criado sem pai./Eu andava na rua e as pessoas / mudavam de calçada./ Eu me converti ao islamismo num país católico./Escolhi o salto triplo na terra do futebol./Eu podia ter desistido./ Pare de arrumar desculpas.”

As primeiras linhas sugerem não só uma situação desfavorecida, mas nada promissora. A seguir vêm duas decisões incomuns, contrariando o que seria esperado e, de certa forma, antecipando que o curso da vida do depoente será igualmente incomum. A seguir, uma recapitulação do que seria o natural – desistir em face da adversidade. O arremate traz a exortação para que se siga o exemplo de coragem do atleta.

O curioso no anúncio é a associação da mudança de religião com a coragem de fazer diferente, um apelo adequado à mentalidade pós-Moderna, que prefere o exótico ao convencional e valoriza a escolha pessoal. Com isso, sobra pouco espaço para se questionar se a escolha, independentemente de sua originalidade, foi acertada ou não passou de um equívoco. E parece-nos que esse questionamento descartado pela disposição do século 21 é justamente aquilo que mais importa. Afinal, a coerência com realidade (tanto em termos de aplicabilidade, quanto de consistência lógica) é um teste melhor para uma estrutura religiosa do que o fato de ela ser incomum.

Outro aspecto que salta aos olhos: a associação de valores (coragem para vencer, ser diferente) com produtos comercializáveis (um tênis). Como se um dos quesitos para se ter aqueles valores fosse o consumo desses determinados produtos. Os bens são vistos quase como peças de encantamento, que garantam virtudes essenciais. Assim, a menção às estruturas religiosas dentro do anúncio fica obliterada; não importa, no fim das contas, ter essa ou aquela religião, desde que você mostre coragem, seja diferente, mude sua história e calce os tênis Nike. Apenas faça isto.

terça-feira, 14 de abril de 2009

SÉTIMO DIA COM HAIAVANAS

Detalhe da proganda da Havaiana, divulgada em revista de ampla circulação nacional.

Sempre na tentativa de relacionar seus produtos com conforto e descontração, a marca de calçados Havaiana trouxe o seguinte slogan em uma recente peça publicitária: "Heresia ou não, temos cá para nós que no sétimo dia Ele descansou por aqui".

O uso da linguagem coloquial visa causar uma quebra da esperada formalidade quando se fala a respeito de Deus, o sujeito implícito, mencionado apenas como "Ele". A imagem, de destacada brasilidade, reforça o mito de que "Deus é brasileiro". Logo, o país seria o lugar em que o Todo-Poderoso descansou ao terminar Sua obra, ocasião acertadamente relacionada com o "sétimo dia" (aliás, o único paradigma correto transmitido pela propaganda).
Pena que conceitos sagrados sejam banalizados sob pretexto de vender um produto. Ainda assim, é oportuna a menção ao sétimo dia, apenas porque se pode fazer uma observação digna acerca do caráter desse dia. Afinal, a Bíblia nos ordena o descanso sabático (Ex. 20:8-11), não restrito à cessação da atividade física ou do trabalho, mas voltada para o bem-estar do semelhante (Mc. 3:4-5). Nesse último aspecto, o sábado se torna uma ocasião para serviço voluntário, não para se deitar na rede e calçar Havaianas...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

OS DEZ MANDAMENTOS REVISADOS



O pensamento pós-moderno, que há décadas permeia a cultura ocidental, produz uma ética peculiar, a qual contrasta marcadamente com a moralidade cristã. Como exercício de pensamento, esse pequeno artigo se propõe a remodelar os dez mandamentos (Êx 20), [1] ajustando-os a premissas pós-modernas, para clarificar aspectos do espírito da época, bem como ressaltar a dicotomia entre a ideologia relativista do século XXI [2] e o absolutismo moral do teísmo bíblico; para cumprir a segunda parte da proposta, citaremos resumidamente cada mandamento, antes de "questioná-lo" pós-modernamente.
1º Mandamento: "Não terás outros deuses diante de mim": cada qual pode ter quantos deuses quiser, desde que respeite os deuses alheios, e que a divindade eleita seja inserida em seu contexto comunitário; nenhum deus será imposto a outrem, porque a tolerância é um valor preponderante, a tal ponto de impedir que se faça julgamentos morais. No fim das contas, cada indivíduo acaba servindo não a um deus, mas fazendo uso das divindades disponíveis no mercado religioso para que elas o sirvam, auxiliando em suas necessidades;
2º Mandamento: "Não farás para ti imagem de escultura": lagos já serviram de espelho; depois, as pessoas se penteavam em frente a metais polidos. Daí vieram os espelhos de vidro. Hoje, com a popularização da câmera digital, é possível registrar, difundir e editar a própria imagem. A imagem precede o valor na pós-modernidade. Aliás, a imagem é geradora e gestora de valores, criando aspirações individuais e coletivas. A iconografia tornou-se iconolatria;
3º Mandamento: "Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão": eis o período quando os deuses não representam absolutos, pois devido ao aspecto irreverente da pós-modernidade (visível através do recurso da colagem nas artes visuais, por exemplo), a junção mística entre o sagrado e o profano é mais do que desejável, além de ser encarada sem reservas. O nome do Deus cristão, presente no libreto das cantatas de Haendel hoje é entoado nas estrofes de pagodes, hard-rocks, bate-estacas e o que mais possa fazer os quadris mexerem. Sem mencionarmos a conduta moral descompromissada com a mensagem bíblica daqueles que se acreditam cristãos;
4º Mandamento: "Lembra-te do dia de sábado": numa época em que se colhem frutos variados da revolução científica, a verdade histórica cristã de uma criação em sete dias literais ficou relegada a um mito, na melhor das hipóteses. A própria adoração perdeu seu conteúdo histórico e seu programa normativo ficou empobrecido. Na prática, quem autentifica a adoração é o próprio adorador, escolhendo a forma e os dias em que deseja adorar, e até quem ou o que será alvo de sua adoração;
5º Mandamento: "Honra teu pai e tua mãe": atualmente, a família mal sobrevive aos fatores resultantes da revolução sexual, como a desagregação de seus membros, as reivindicações por parte de homossexuais a rés da união civil, o movimento feminista, a proliferação de uma sexualidade hedonista, etc. Sendo assim, torna-se inviável honrar o que se acha dissolvido e em processo de solvência e desintegração;
6º Mandamento: "Não matarás": até mesmo um mandamento universal vem sendo objeto de profundos debates, no que diz respeito às implicações do direito à preservação da vida. Questões bioéticas (aborto, células-tronco, etc.) e envolvendo a pena capital, junto com a polêmica sobre a eutanásia, revelar-se-iam espectros do fastio com a própria existência, em face da perda de sentido para a vida?;
7º Mandamento: "Não adulterarás": quando a liberdade de Sartre passou a vigorar no Ocidente, implicou na abertura para uma nova busca, orientada pelo prazer. Consequentemente, nada é moralmente errado, desde que traga prazer. Fica difícil de controlar o acesso à pornografia por adolescentes ou combater a pedofilia, uma vez que a sociedade perdeu o senso de censura quando o assunto é prazer; pedófilos, por exemplo, estariam levando as premissas hodiernas aos últimos resultados lógicos. Portanto, como condená-los se a base moral da sociedade é a mesma seguida por eles? O que dizer a maridos adúlteros, se a própria atitude deles é incentivada e justificada pelos meios de comunicação?;
8º Mandamento: "Não furtarás": dentro de uma ética situacionista, bens, ideias e oportunidades são avidamente roubados, ainda mais quando não se tem meios honestos de adquiri-los; a demanda pelo sucesso material é tão incisiva que "obriga" os desfavorecidos a buscar rotas alternativas para compensar sua desqualificação, nem que isso se dê pela ilegalidade;
9º Mandamento: "Não dirás falso testemunho": a verdade se tornou um artigo maleável, num mundo que admite a coexistência de verdades customizadas (e axiologicamente excludentes). Nessas circunstâncias, a falta de verdade anula a possibilidade de haver mentira, sendo a definição rigorosa de mentira uma não-verdade. Perde-se, assim, a discriminação do que é falso ou verdadeiro;

10º Mandamento: "Não cobiçarás as coisas alheias": (bens, cônjuges, etc.): uma vez que o consumo proporciona prazer e o exercício da capacidade de escolha, tem importância pivotal no pós-modernismo, acabando por definir também a identidade e valor individual. O consumismo, enquanto comportamento do século XXI, decorre do desejo cobiçoso, no qual o indivíduo procura se identificar com determinado grupo social através da aquisição dos mesmos bens de consumo, uso dos mesmos serviços e imagens exteriores semelhantes. A cobiça é, desse prisma, elemento primordial na corrida por pertencer, característica de nosso tempo.


 1. Uso a expressão "remodelar" para identificar o processo de releitura (associado ao cerne da filosofia pós-modernista, e presente nas artes desse período) que ora aplico aos Dez Mandamentos. Daí o texto ser "Os Dez Mandamentos revisados" e não algo como "Os Dez Mandamentos do Pós-Modernismo", o que daria a impressão de termos novos mandamentos, diferentes em tudo daqueles encontrados na Bíblia.
2. Para maiores detalhes sobre o surgimento do pensamento pós-moderno, ler Pós-Modernidade à luz de 2 Pedro, disponível aqui.


quarta-feira, 8 de abril de 2009

A TENTAÇÃO


Sorrateira e, a princípio, despretenciosa. Ela nos ilude com argutas promessas, encontrando eco e sentimentos íntimos. Da apresentação insidiosa à ação, passando por etapas, quais consideração, aceitação e planejamento, tudo se dá em uma velocidade inversamente proporcional ao peso da culpa subsequente. Apenas um apego pessoal com o Deus-Homem que venceu ataques externos (sendo que Ele não possuía concupiscência interior), fará a alma vitoriosa no embate diário contra o mal.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

SERIA PERVERSO O DEUS DO AT?


Algo mudou na vida nacional e particular dos judeus desde que Cristo terminou sua efusiva comitiva à Cidade Santa com a melancólica constatação: “Jerusalém, Jerusalém! Que mata os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mt. 23:37). Pelos séculos seguintes, judeus oscilariam entre a ortodoxia rígida ou um agnosticismo indiferente, todavia sempre em contato com suas tradições religiosas peculiares. O próprio humor judaico costuma fazer troça de figuras dominantes (como Deus e os pais), em contraste com o típico humor ocidental, cujo alvo está nas minorias (negros, homossexuais, etc.).

Não é incomum ver judeus voltando-se de forma crítica para a Bíblia. Recentemente, livros como do jornalista A. J. Jacobs (“The year of living biblically”)[1] ou artigos semelhantes ao do professor Benny Shanon[2] demonstram a que grau os próprios judeus manifestam seu repúdio em relação à sua herança bíblica. Mais outro judeu veio engrossar a lista de filhos de Abraão revoltados: trata-se de David Plotz, entrevistado pela revista Época desta semana[3].
Plotz: Os seus não o receberam!

Autor de “O bom livro: as coisas bizarras, hilárias, perturbadoras e maravilhosas que aprendi quando li cada palavra da Bíblia”, Plotz lançou primeiramente suas críticas à Palavra de Deus através de um blog. Para ele, “o Deus do Velho Testamento é perverso, mata muita gente sem razão, não é misericordioso, amoroso, não tem compaixão. É muito perturbador pensar que esse Deus esteja cuidando de nós. Fiquei muito bravo depois de ler [o AT] e passei a desejar que exista algo melhor.”[4]

Tudo começou, conforme relata Plotz, durante a leitura da história do estupro sofrido por Diná seguido pela vingança de seus irmãos (Gn. 34). O choque do autor é compreensível. Ainda assim, o fato da Bíblia relatar uma história não implica que sancione as ações morais dos envolvidos. O erro de David Plotz se explica pelo fato dele não entender a estrutura do texto bíblico: embora a Bíblia narre de forma sutil episódios humanos, muitas vezes sem apresentar julgamentos morais imediatos ou fazendo censuras lacônicas (repetidas ao longo do texto), temos que compreender que o narrador inspirado conduz a uma moralidade ao apresentar os resultados de escolhas erradas. A própria objetividade do autor sacro leva-o a não suprimir detalhes históricos desagradáveis – e mesmo tais detalhes conduzem a um ensino por contraste, originando esperança (Rm. 15:4).

Com respeito a juízo divino, que convocava guerras e ordenava a morte de seres humanos, é preciso que se entenda que a sociedade patriarcal no Oriente Médio não era individualista como a nossa. Ao contrário: a sociedade era um organismo muito mais integrado. Por isso, a corrupção total de uma cultura, visível em práticas degradantes (mesmo aos olhos permissivos de cidadãos pós-modernos) afetava toda a sociedade. Estupro, assassinato, pedofilia, necrofilia, prostituição ritual, sacrifício de crianças ainda vivas, entre outras práticas, acompavanhavam sociedades cananitas. Não à toa, o Senhor Deus considerou tais culturas irrecuperáveis e ordenou sua destruição. A medida foi drástica, mas o que seria hoje de nossa sociedade se aquelas práticas se perpetuassem?[5]

Embora o julgamento divino assuma facetas sombrias (do ponto de vista do século XXI), o que dizer de inúmeras passagens bíblicas no AT que ressaltam a misericórdia divina? (Ver, por exemplo, Ex. 33:19; Sl. 69:16; Jr. 31:3; Lm. 3:22). Para alguns estudiosos, se somássemos apenas os textos do AT que retratam as misericórdias divinas, teríamos um livro maior do que todo o NT!

Plotz argumenta que, caso todos seguissem estritamente o texto bíblico, “seria um pesadelo, uma catástrofe.”[6] E ele segue citando algumas das regras circunstanciais do AT, dadas para um fim determinado, e que certamente o próprio Deus não tencionava que perdurassem para além da época em que seriam úteis. Em meio a tantas confusões com respeito às regras bíblicas, David Plotz sustenta contraditoriamente que, por um lado, a Bíblia deveria ser lida por todos, pelo fato de ser “a fonte original para muitos aspectos de nossa civilização e cultura”; por outro lado, ele crê que seu livro possa substituir a Bíblia, por resumir apropriadamente o livro sagrado (de uma perspectiva inadequada, em nossa avaliação)[7].

Que um judeu faça afirmações tão ousadas e descabidas sobre o livro santo, só se pode concluir o que João apresenta no preâmbulo de seu evangelho: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” (Jo. 1:11).
Leia também:


[1] Veja “Como viver biblicamente de verdade”, em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/11/como-viver-biblicamente-de-verdade.html.
[2] “Moisés, o toxicômaco”, em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2008/03/moiss-o-toxicmaco.html.
[3] “Não ler a Bíblia é como ser cego”, entrevista cedida a José Antônio Lima, Época, 30 de Março de 2009, nº 567, pp. 96-98. Daqui para frente, NLBC
[4] NLBC, p. 98.
[5] Leia outras considerações sobre esse mesmo tema em “A destruição dos cananeus”, em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/06/destruio-dos-cananeus.html e Rubem Aguilar, “Genocídio: Deus estava no controle?”, disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/07/genocdio-deus-estava-no-controle.html.
[6] NLBC, 98.
[7] Idem.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

REALIDADE RECLUSA


O apartamento era oblíquo,
Denso, mas silencioso;
Lima na estante, Dali
Em moldura envelhecida.

Em cisnes de marfim triste,
Doces donets são servidos.

Da janela a avenida,
Como um mar contraditório
(Que cismamos em não ver).

A noite uma champanha,
Suave veneno que impregna.

Enxertos desertos pulsam
Do velho álbum de lembranças
(Tem primo a morrer de fome)…,
Mas enfim!, que noite rígida
Para os eternos pedestres,
Os sem-sola das calçadas.

Da sala a música cresce
– Salomão por Palestrina;
Abaixo da cobertura,
A mímica da atmosfera
Põe mendigos a dançar.

(E cismamos em não vê-los).

O ENDEREÇO DO MESTRE

Por Luiz Gustavo Assis

Para muitas pessoas, a narrativa evangélica da vida de Jesus não passa de ficção. Contudo, uma rápida pesquisa sobre os achados arqueológicos relacionados com o Novo Testamento revelará o contrário: cremos em uma história real! A partir de agora, vamos examinar algumas informações bíblicas à luz das descobertas em Cafarnaum, o "endereço" do Mestre.

O nome Cafarnaum pode significar tanto "vila da consolação" como "vila de Naum", um antigo profeta hebreu cujo livro faz parte do Antigo Testamento. Essa última opção é apoiada por uma tradição judaica que afirma que o túmulo do profeta está enterrado ali. A cidade foi descoberta por um arqueólogo norte-americano chamado Edward Robinson, em 1852, mas somente foi escavada por uma equipe liderada por Charles Wilson em 1865 e 1866. Foi ali que Jesus dedicou a maior parte do Seu ministério, realizando milagres (Mt 9:18-26; Mc 5:21-43; Lc 8:40-56), bem como ensinando na sinagoga local (Mc 1:21; 3:1-5; Lc 4:31; Jo 6:59).

Um dos achados mais fascinantes de Cafarnaum é a da possível casa de Pedro. Foi por volta de 1968 que dois outros arqueólogos, G. Orfali e A. Gassi, encontraram a estrutura de uma igreja que datava do 5º século. O surpreendente foi que logo abaixo dessa construção eles também encontraram os alicerces de uma casa repleta de objetos de pesca que datava da época de Jesus e Seus discípulos. Para completar a informação, um documento chamado Itinerarium, escrito por Egéria, no 4º século, afirma que a "casa do príncipe dos apóstolos foi transformada em igreja; contudo, as paredes da casa ainda estão de pé como eram originalmente".

Outra descoberta marcante em Cafanaum foram os restos da sinagoga, local de reuniões religiosas dos judeus, do 1º século. Durante os anos de 1905 até 1926, seus restos foram preservados e restaurados por especialistas alemães e franciscanos. Até então, todas as construções apontavam para uma construção do 3º ou 4º século. No entanto, em 1968, as pesquisas posteriores revelaram os restos de uma estrutura. E em 1981, um largo piso de basalto foi encontrado repleto de cerâmicas (potes, vasos, copos, etc.) do 1º século, a época de Cristo. Sem dúvida, esses eram os escombros daquela sinagoga frequentada por Jesus, como mencionado nas Escrituras Sagradas!

Mais importante do que as informações arqueológicas é o que tudo isso representa. Foi nessa mesma sinagoga que Jesus declarou: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente" (João 6:51). Mesmo com a poeira acumulada ao longo dos séculos em Cafarnaum, ainda somos capazes de ouvir o convite do Mestre querendo saciar nossa fome.


quinta-feira, 2 de abril de 2009

CRIACIONISTA GANHA PRÊMIO EM OSLO


Uma adolescente analfabeta, que se formou no mobral, concluiu a faculdade e além de ser aclamada pelos eleitores de seu estado, foi considerada uma das cem parlamentares mais influentes do Brasil por quatro vezes consecutivas. Este é o breve histórica da vida da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. (leia mais aqui). Agora, Marina consolidou o reconhecimento internacional de sua luta pela em prol da biodiversidade da Amazônia com a outorga do prêmio Sophie, em Oslo, Noruega. Antes disso, o The Guardian já considerara a ministra como uma das 50 personaldades que poderiam salvar o mundo.

Marina, ainda durante sua gestão no minstério, foi durante criticada pela imprensa pelas suas convicções criacionistas, que ficaram explícitas a partir de sua participação no 3º Simpósio sobre Criacionismo e Mídia. No entanto, suas convicções não deslustraram seus esforços ambientalistas, fato que o novo prêmio deixou claro.

Assista à entrevista de Marina ao ÉOQHÁ

quarta-feira, 1 de abril de 2009

CIGARRO, INDENIZAÇÃO E CRISTIANISMO


O site Opnião e Notícia informou sobre a derrota jurídica sofrida pela empresa tabagista Philip Morris (fabricante do Malboro) para Mayola Williams, viúva de um homem que morreu de câncer. Tanto a empresa quanto a própria vítima foram responsabilizados. Agora, a Philip Morris terá de desembolsar U$S 145 milhões (contra os U$S 80 pedidos no início do processo, em 1999).

Alguns estudos apontariam que o tabagismo seria responsável por cerca de 20 milões de mortes no Brasil. Seja como for, muitas personalidades, inclusive cristãos, sucumbem pelo vício. Foi o caso do afamado ficcionista e apologeta cristão C.S. Lewis; o bolso de um de seus casacos estava estraçalhado, porque Lewis muitas vezes se esquecia de apagar os charutos antes de guardá-los no bolso.




Lewis: fumante inveterado

No geral, porém, os cristãos entendem que seu corpo é sagrado (I Co. 6:19-20) e merece respeito, o que se traduz na abstinência de práticas nocivas à saúde, além da promoção de hábitos saudáveis.