terça-feira, 30 de dezembro de 2008

ABSTINÊNCIA E PROMESSAS QUEBRADAS

Em pesquisa divulgada pela BBC Brasil, constatou-se que jovens americanos partidários da abstinência sexual têm a mesma incidência em relações pré-maritais que os não-abstinentes, com o agravante de menor probabilidade (10%) de usar preservativos. Em uma sociedade erotizada ao extremo, o aparente fracasso de programas de abstinência (com cuja promoção, segundo ainda informa a BBC, o governo americano gasta cifras como US$ 200 milhões anuais) não chega a surpreender.

Não basta a ênfase na abstinência por si só. Deve haver um subsídio ético (baseado no desenvolvimento positivo da interação afetiva, visando ao conhecimento mútuo durante o período de namoro, em detrimento da simples busca de satisfação sexual imediata), biológico (expondo o risco de DST, gravidez na adolescência, etc) e espiritual (voltado às orientações bíblicas, feitas por Aquele que nos criou e não pode errar) para postergar a atividade sexual até o compromisso matrimonial na maturidade.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

ESTE É AINDA O MESMO DEUS



Existe lugar para o conceito bíblico de divindade na pós-modernidade? Esta pergunta se relaciona com a ratio essendi do Questão de Confiança, o próprio fundamento para as postagens aqui veiculadas; a nossa proposta consiste em demonstrar argumentativamente que para a indagação inicial a resposta é afirmativa. Mas, logicamente, eu não posso reivindicar a exclusividade em lidar com esta preocupação. Na última edição da revista Veja, por exemplo, um surpreendente artigo questionou o papel do Deus cristão – bem como de seus declarados asseclas – em um universo de desigualdades tal qual se acha no mundo contemporâneo.
“Que Deus é esse?” [1], assinado por Reinaldo Azevedo, inquire logo de início: “Qual é o lugar de Deus num mundo de iniquidades? Até quando há de permitir tamanha luta entre o bem e o mal?” Azevedo é uma referência na blogosfera e um dos articulistas mais lúcidos do país. O tema escolhido é um dos mais altos, e o autor faz eco a Tomás de Aquino – o filósofo cristão por excelência – quando reflete que “se o Mal subsiste, então não pode haver um Deus, que só seria compatível com o Bem perpétuo.” [2]
O problema da natureza divina, definida como Bem absoluto, em face da proliferação do Mal, recebe um tratamento interessante por parte de G. K. Chestrton [3]: “[…] Se for verdade (como certamente é) que o homem pode sentir uma felicidade extraordinária em esfolar um gato, então o filósofo religioso só pode fazer uma dentre duas deduções. Ou ele deve negar a existência de Deus, como fazem todos os ateus; ou deve negar a presente união entre Deus e o homem, como fazem todos os cristãos.” [4]
O apóstolo Paulo fala incisivamente: “pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3:23 NVI). O problema do mal não é um defeito de fabricação atribuível ao Criador, porém um mau uso da capacidade volitiva, da responsabilidade do próprio homem. O pecado surgiu como elemento estranho, e seu advento teve um ar de intrusão indisfarçável que, embora não trouxesse uma realidade irreversível, sua atuação cumulou por eras a existência humana de sofrimento e destruição. Não foi Deus quem mudou ou venha mudando ao longo de séculos de História. O Senhor mantém-se o Mesmo, porque Ele “não muda como sombras inconstantes” (Tg 1:17, NVI). Quem mudou, em decorrência da escolha de afastar-se de Deus fomos nós, a raça humana. No entanto, nem tudo está perdido: o plano divino, que consiste em redenção gratuita através de Cristo é nossa única esperança.
Reinaldo de Azevedo, com inegável senso de propriedade, afirma ao se avizinhar a conclusão do texto: “Este artigo não trata do mistério da fé, mas da força da esperança, que é o cerne da mensagem cristã, como queria o apóstolo Paulo: ‘É na esperança que somos salvos [Rm 8:24, citado talvez por causa da influência da encíclica Spe Salvi, de Bento XVI, que se inicia citando este mesmo versículo].’ O que ganha quem se esforça para roubá-la do homem, fale em nome da Razão, da Natureza ou de algum outro Ente maiúsculo qualquer? E trato da esperança nos dois sentidos possíveis da palavra: o que tenta despertar os homens para a fraternidade universal, com todas as suas implicações morais, e o que acena para a vida eterna.” [5]
De fato, a esperança cristã é bifocal: mobiliza o homem para aquela prática da caridade que revolucionou a moralidade no Ocidente; ao mesmo tempo, com destacou acertadamente o articulista, os cristãos sabem-se incapazes de concertar o mundo – mas mantém a esperança naquele Deus que lhes afiançou a criação de “novos céus e nova terra, onde habita a justiça.” (II Pe 3:13, NVI).

[1] Reinaldo de Azevedo, “Que Deus é esse?”, Veja, ed. 2092, ano 41, nº 51, 24 de Dezembro de 2008, especial, 95-96.
[2] Idem, 95.
[3] Reinaldo de Azevedo, na p. 96 do artigo, também faz breve menção ao célebre apologista.
[4] G. K. Chesterton, Ortoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, 27 e 28.

[5] Reinaldo de Azevedo, idem, 96.

sábado, 20 de dezembro de 2008

A RESSURREIÇÃO

O ranger dos dentes não acompanha as palpitações. Agora eles sabem. E isto os transforma, de medrosos refugiados nas sombras em proclamadores da mais punjante verdade: Ele vive!

O triunfo de Cristo sobre a morte é o triunfo da humanidade. Morremos pela fé para a vida auto-centrada, gerida por interesses pessoais. Não mais o coração voltado para si. A nova vida se abre para Deus e para o próximo. Renascemos com Ele e nEle. A fé não entra em nossa vida, porque a fé se torna a nova vida.

Mas em outro aspecto falamos de triunfo. A morte, inimiga da raça, será vítima da destruição que ela própria tem causado. A morte foi vencida na manhã do primeiro dia, quando a pedra rolou, e um anjo recebeu o Seu Senhor do lado de fora do sepulcro.

Um dia, os que ressurgiram para uma nova vida espiritual ressurgirão para um vida ainda mais nova. O pecado não estará mais presente no mundo. Deus em Jesus restaurará o planeta e Sua Justiça prevalescerá. Os que morreram crendo nas promessas, levantar-se-ão restaurados, no vigor da juventude. Como Jesus, também eles deixaram vazios seus leitos de terra.

Que manhã de luz será aquela em que o Senhor acordar Seu povo do pó!

Leia também:

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

UM SACERDÓCIO, UM ESCÂNDALO

As duas paredes ruíram Encontrando-se fatalmente Sim Nós não presenciamos os fatos Um mensageiro desamparado contou-nos Também estou desamparado A aflição imensurável lhe agitava De forma que mal se sentava e tornava a se erguer Empertigado e furioso Todos tentando disfarçar o mesmo desapontamento E agora A dúvida suspensa por mais de três minutos Até que Um sacrifício deve ser feito pelo futuro De que espécie de sacrifício Precisamos de um substituto Alguém que esteja no lugar dele em Guiza Você quer por a perder a pouca sanidade que nos restou E quando Kaa retornar Ele está certo Não haverá maat E sem maat As enchentes não virão O choro atingindo níveis de desespero Esqueçam de maat Que nos resta Olhem nosso país A fumaça se funde às lágrimas Não temos colheitas Pasto Sequer filhos nos foram poupados Sim Percebo sua preocupação Não seremos condenados Já o estamos Refletem Pensam em como aquele homem destruiu a harmonia em torno do Delta Se tivesse sido afogado ao invés de recolhido Parece que as alternativas desmoronam como sombras E temos de agir o quanto antes Nossos escravos nos humilharam Humilharam a nós Nossos deuses foram Silêncio O fato de que o sobrenatural visitou sua pátria assombrava suas mentes Como Ou mesmo quando Se esqueceriam As águas ainda pareciam saídas das veias de um ferido O coaxar das rãs ecoava não tão distante As cabeças raspadas aludindo aos piolhos Zumbidos próximos Estábulos vazios Marcas de pústulas Fragmentos entre os canteiros Cumulonimbus sendo confundidas com hordas de gafanhotos Temia-se pela estabilidade da luz durante o dia E pela segurança dos lares à noite Perdão Eu não pensei Na verdade Chega Não se desculpe Irmãos Temos de encontrar o corpo e mumificá-lo Você está certo Ao menos nosso futuro precisa disto Afinal Que resta a um povo além de sua História Se a verdade é vergonhosa A História pode reescrever a Glória do Egito Glória Simultaneamente Sem menção por parte de nenhum membro O pensamento unânime Hatshepsut As crônicas tiveram de cessar seis anos antes Ela virou as costas para as divindades Traiu os sacerdotes Os dias seguem-se Faixas envolvem a carne preparada O pacto foi cumprido O choro deixa de ser ouvido Um novo rei ascende As notícias são reflexo de uma oficialidade poética Ardilosamente poética Poderia ser pior E se o homem que os privou de seus escravos e glória quisesse ter reinado Hatshepsut aprovaria Sem receios Aquele a quem protegera como a um filho na corte Eles Certamente Não poderiam ter sido coniventes vendo outro semita quebrar uma dinastia E o tempo lhes mostrou que o Deus dele teria sido o empecilho que sempre imaginaram que seria O Deus que lhes mostrou a verdade O Deus cujos inevitáveis milagres lhes forçaram a falsificar a múmia de um faraó engolido pelas águas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

MODELOS DE SUCESSO: A EXPERIÊNCIA DE JOSÉ


Pais matriculam seus filhos nos melhores colégios tentando garantir-lhes um futuro de sucesso. Cursos de pós-gradução e estágios em empresas conceituadas também se constituem em estratégias para o sucesso profissional. Os homens "capricham na produção", com o fito de terem sucesso em conquistar a "mulher de seus sonhos". Um comercial de carros diz sobre certo modelo: "quem tem, fez por merecer". A busca pelo sucesso é o objetivo de vida da maioria das pessoas, o que nos faz parar para refletir: o que é esse sucesso o qual todos querem atingir?

Esta é uma pergunta essencial, principalmente para quem estiver começando uma carreira, iniciando uma família ou até diante de várias opções para crescimento acadêmico ou profissional. Isso deve ter passado pela sua cabeça em algum momento: sucesso, como alcançá-lo?

Uma definição pragmática e simplificada caberia na frase "se dar bem na vida". Mas isto não é satisfatório (além de nada específico). O "se dar bem" inclui relacionamentos estáveis e equilibrados ou uma vida profissional ascendente? Sucesso é gozar os prazeres, "curtindo" os bons momentos? Saber o que, de fato, inclui-se no bojo do sucesso nos ajuda a delimitá-lo, dando-lhe uma dimensão concreta e tangível. Afinal, se alguém conceber o sucesso como, por exemplo, fazer um passeio a bordo de um ônibus espacial pelas luas de Saturno, todos teríamos de concordar que o sucesso é um sonho impossível! Felizmente, o verdadeiro sucesso lida com coisas mais ao nível do homem comum.

A Bíblia tem um conceito peculiar de sucesso. Ao invés de abordar exaustivamente o que a Palavra de Deus ensina sobre o assunto, quero considerar a experiência de alguém que teve êxito. Ao comando de sua voz, cavalos eram preparados, portas abertas e o séquito real lhe fazia companhia. Multidões acenavam e se inclinavam, acompanhando com olhares respeitosos e agradecidos o seu cortejo. Carisma? Sim, ele era alguém que esbanjava carisma. Sua influência político-administrativa ultrapassou os limites do território egípcio, para se tornar uma referência internacional. Sua personalidade forjada em meio às dificuldades lhe conferia uma visão bem humana, imbuída de altos conceitos de justiça. Estou me referindo a José.

Considere atentamente alguns modelos de sucesso com os quais José se deparou ao longo de sua vida, desde a infância, passada em convívio com um clã de nômades monoteístas, à maturidade, como estadista da maior nação politeísta da época. Sugiro os seguintes modelos:

1. Semi-Nepotismo: Sem dúvida, a estrutura familiar colabora na concretização do sucesso. Em não raros casos, porém, há indivíduos que se beneficiam de graus de parentesco para alcançarem status e posições, ou favorecer familiares (Brasília que o diga!). Em seus primeiros anos, José se viu grandemente agraciado pela predileção que seu pai tinha por ele. As Escrituras mostram que Jacó presenteou José com uma túnica longa, insígnia usada pelos chefes tribais (Gn. 37:9). Claro que os conflitos não tardaram a sugir e os irmãos de José, invejando-o, acabaram vendendo o menino a uma caravana de ismaelitas. José logo percebeu quão instáveis podem ser as relações familiares quando intrigas, favoritismo e poder estão envolvidos...

2. Administração pró-ativa: Vendido como escravo a Potifar, "capitão da guarda" de Faraó, a vida de José deu outra guinada. Em sua nova ocupação, jovem se destacou, passando logo a cuidar de todos os assuntos para seu senhor (Gn. 39:6). Tudo teria corrido a mil maravilhas, exceto pelo fato de existir o que Camões chama de "desconcerto do mundo": não acontecem coisas boas para os bons a todo tempo, da mesma forma como não acontecem apenas coisas más com os maus. Mesmo o mais produtivo e eficaz funcionário não fica incólume a injustiças. No caso específico de José, a despeito de sua conduta moral irrepreensível e sua postura empreendedora, ele foi vítima de um golpe cruel do destino!

3. Vida de satisfação sensual: A busca pelo sucesso sensorial é um dos mais concorridos empreendimentos do século XXI. O prazer sexual garante satisfação imediata, embora não duradoura. José se viu diante desta opção quando a esposa de Potifar passou a cobiçá-lo. Uma vez armada a arapuca, o escravo hebreu ficou sozinho com sua senhora e com seus próprios hormônios (Gn. 39:12), em um tipo de situação no qual muitos homens não pensariam duas vezes antes de aceitar a oferta feminina. Entretanto, José recusou-se a trair sua consciência, entendendo que desagradaria a Deus caso consentisse em deitar-se com a mulher de Potifar. Isto lhe assegurou uma boa acusação por parte de uma sedutora melindrada e alguns anos de reclusão em alguma penitenciária egípcia.

Parece ilógico falar de sucesso a partir deste ponto, já que temos claros indicativos de que José experimentou um vertiginoso fracasso: de filho mimado a escravo, de escravo a prisioneiro. Esta trajetória descendente não se parece com o sonho de nenhum executivo. No entanto, apesar de dolorosos revezes, José era alguém de sucesso. Posso afirmar isto porque a Bíblia se utiliza da narrativa desta personagem para nos ensinar o que é o sucesso. O que o homem real chamado José experimentou não é um conto-de-fadas ou algo que coubesse nestes livros com fórmulas prontas ("10 passos para uma carreira de sucesso", "Seja um vencedor sempre no topo", ou coisas do gênero). Podemos, nestas alturas, falar do quarto modelo de sucesso:

4.Sucesso como um fenômeno espiritual: Inserida no relato lúgubre da prisão de José, a sentença é curta, mas significativa: "[...] porque o Senhor estava com José [...]" Gn. 39:23. Lucrando ou sofrendo, servindo ou sendo acusado, compenetrado ou saudoso, ascendendo ou injustiçado, José era o mesmo, porque, acima de tudo, sua devoção era o mote de suas ações. Ao sair de casa, vendido pelos próprios irmãos, José teve de aprender cedo que só poderia contar com Deus. Fazendo de Jeová, o Deus de seus antepassados, seu apoio, José sabia que doravante todas as circunstâncias seriam dirigidas de forma a trazer algum crescimento para ele e seu povo, segundo a vontade de Deus. José mesmo reconheceu isto por três vezes, no emocionante diálogo em que se revelou a seus irmãos anos mais tarde (Gn. 45:5, 7 e 8).

O que é sucesso? É seguir a vontade divina, esperando em Deus quanto aos resultados. As circunstâncias deixam a ribalta e a direção geral da vida passa a atrair as atenções. Não os resultados, mas quem está nos dirigindo se torna a fonte de toda preocupação. Só se pode falar de sucesso quando Deus controla o nosso coração, como aconteceu com José.


leia também:

Integridade não circunstancial
Os outros são meus degraus

A ambição

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

GRAMÁTICA DA VIDA


Se alguém erra, abre em um outro peito um buraco,
E o fluxo de amor entre ambos voa em estol
Pela savana do céu. Sem sequer um mol
Da estima anterior, surge um respeito alaraco.

É guardado cada astro e cometa em um saco,
E as rosas na gaveta. A frieza entra no rol
De atitudes que a mágoa abraça – tudo em prol
Da resguarda de alguém que, atingido, está fraco.

Finge o coração, mas ama e almeja que o escopro
Do tempo esculpa a ocasião de vir o sopro
Que varra a culpa alheia, mal que lhe encarcera.

Sorri, ao passo que um demônio rói-lhe o zerbo;
Mas preenchera se quisera essa cratera
Conjugando o perdão que trouxe o Eterno Verbo.

ROMANTISMO X RELACIONAMENTOS REAIS

Conforme um novo estudo, coordenado pelos psicólogos Bjarne Holmes e Kimberly Johnson (Heriot-Watt University, em Edimburgo), comédias românticas tendem a reforçar o conceito popularmente aceito de que existem almas gêmeas, relacionamentos perfeitos e fácil superação de conflitos. Assim, as pessoas acabam criando falsas expectativas, que atrapalhariam os relacionamentos na vida real. 40 filmes do gênero (produzidos no decênio de 1995 e 2005) foram assistidos e centenas de pessoas submetidas a um questionário focando as expectativas com respeito a relacionamentos amorosos. A informação foi divulgada pela BBC Brasil.

O maior problema, da forma como entendo, é que a cultura popular tende a encarar o amor como um sentimento, não como um compromisso. Sendo que todo sentimento é volúvel, tem-se uma desculpa para que o amor acabe e haja a separação (afinal, para que insistir no amor, que todos sabem que um dia teria fim, ou, na melhor das hipóteses, poderia ser encarado como algo "infinito enquanto dure"?)

Todavia, relacionamentos sadios não estão sujeitos aos caprichos de um mero sentimento; deve haver algo mais sólido, uma base mais confiável, que garanta entendimento recíproco, compreensão e diálogo. Quando o amor é visto como a decisão racional entre duas pessoas de conviverem com as imperfeições recíprocas, em nome da felicidade mútua, aí é provável que ele dê certo, com o auxílio abastecedor daquEle cuja natureza é Amor (I Co. 13; I Jo. 4:8).

O AMOR QUE REDUZ


As catástrofes em nível mundial junto com guerras e confitos armados podem ser entendidos como sinais da volta de Jesus? Para o papa Bento XVI, não! O site Zenit trouxe a afirmação do pontífice, feita no último domingo (14 de Dezembro), de que devemos nos alegrar no Senhor, uma vez que Ele "está próximo [...] Esta é a razão da nossa alegria [...] ‘o Senhor está próximo’? Em que sentido devemos entender esta ‘proximidade’ de Deus [...] a Igreja, iluminada pelo Espírito Santo, compreendia cada vez melhor que a ‘proximidade’ de Deus não é uma questão de espaço e tempo, mas uma questão de amor: o amor aproxima!"

Em nome de um amor subjetivo, Bento XVI lança por terra toda a preocupação de nosso Salvador em apresentar os sinais de Sua vinda (Mt. 24), pelos quais nos é possível vigiar a respeito da proximidade da Segunda vinda. A volta de Cristo não é apenas a união mística do crente com Deus, expressa pela comunhão diária; o evento será visível mesmo aos que não têm fé na Pessoa de Jesus (Ap. 1:7). Jesus virá em glória nas nuvens do céu (Mt. 24:30) e Seus anjos recolherão os escolhidos (Mt. 24:31). As mudanças climáticas, geológicas e físicas transtornarão a ordem natural que conhecemos (2 Pe. 3:10). Os próprios injustos sofrerão da penalidade que consiste em estar diante de um Juiz Santo (Ap. 6:15-17).

Em suma, o "dia do Senhor" é muito real, não uma metáfora espiritual! Pensar o contrário é não "amar a Sua vinda" (2 Tm. 4:8). Pena que o papa reduza a responsabilidade pessoal de se preparar diante da iminência da volta de Jesus por causa de um suposto amor, tão vago e despreocupado com "espaço e tempo".

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

UM BANCO DE DADOS MUNDIAL

Depois de conquistar o quase monopólio no segmento de buscas na internet, o Google quer atingir o domínio global em uma escala jamais vista antes em qualquer outro campo da atividade humana, seja político, militar ou cultural. A empresa tem a vontade e os meios de atingir seus objetivos.

O Google visa a digitalizar e armazenar toda a informação do mundo de modo que ela possa ser utilizada gratuitamente por qualquer pessoa com acesso à internet. Em troca de serviço tão meritório, a empresa quer todos os dados que seus usuários possam fornecer sobre hábitos de consumo e, a partir disso, conquistar toda a verba de publicidade disponível na rede.

São as 710 milhões de pessoas que recorrem ao seu serviço de busca pelo menos uma vez a cada mês dando informações sobre seus hábitos para a empresa.


Um banco de dados mundial, personalíssimo e capaz de rastrear perfis de usuários; na prática, nisto se tornará o Google (que já adquiriu o site de relacionamentos Orkut, o que significa ainda maior número de informações pessoais de todos os que fazem uso do sistema).

Se o Google chegar a controlar a vida de tantas pessoas desta forma, quem irá controlar o Google? Potencialmente, quem estiver à frente deste banco de dados universal, no mínimo terá o poder de manipular a opinião pública numa escala mundial (ou, pelo menos, sobre todos os que fizerem uso da web).

Mas seria uma influência exercida para apenas formar hábitos de consumo, ou também em áreas como cultura, política e espiritualidade? O leque se abre para especularmos as possibilidades para o uso de uma ferramenta tão potencialmente perigosa.

Para o estudante das profecias, parece haver uma ligação do crescimento do Google com as palavras do Apocalipse 13:17, que apresenta um tempo em que apenas os que tiverem certa conformidade com a religião a ser instituída através de alianças políticas ("aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome") poderão "comprar ou vender". Estaríamos testemunhando o surgimento das condições capazes de fomentar o cumprimento desta profecia? Apenas o tempo poderá dizer...

QUEM MUITO ESCOLHE...


No sábado retrasado, fomos com três carros levar roupas, água e cestas básicas para um bairro carente de Itajaí. Com o volume de doações enviadas por pessoas de todo o Brasil (que não cessa), os bens e alimentos têm que ser distribuídos com urgência, posto que já falta espaço para estocar as coisas.

No bairro ao qual nos dirigimos, mal estacionamos e uma fila se organizava para nos receber (ou melhor, para receber o que levávamos). O "atendimento" seguiu sem muito tumulto. Mas quero destacar dois detalhes que chamaram de pronto a minha atenção.

Às vezes, membros da mesma família se apresentavam como representantes de lares diferentes, apenas para serem mais beneficiados. Alguns membros da comunidade sentiram-se indignados pela atitude de seus vizinhos.

À saída, percebemos uma enorme quantidade de peças de roupas em pilhas espalhadas pelo chão. Não eram as roupas que trouxéramos, apesar de estar em tão boa quantidade quanto as entregues por nós. Curiosos, perguntamos a uma meninha, deitada sobre uma das pilhas, inocentemente.

"De quem são estas roupas?", "Da Daniela.", "E por que ela as deixou aqui?", "Ah, ela não quis!"

As pessoas recebem doações em roupas; experimentam as peças, e, ao perceberem que as roupas não lhes servem, jogam-nas fora, porque, sabe-se, outras doações virão! O canhestrismo do raciocínio, baseado na acomodação do indivíduo que nunca teve nada e que ainda se aproveita de todo o contexto da enchente, é, sem dúvida, revoltante!

É muito difícil selecionar quem realmente precisa de doações. Mas muitas unidades da ADRA e voluntários começam a fazer uma triagem mais rigorosa. Afinal, estes que muito escolhem, serão escolhidos - ou não...

domingo, 14 de dezembro de 2008

ELES VÃO SE EMPRESTANDO SOZINHOS

Na década de 90, a música gospel brasileira se viu frente à explosão do fenômeno Acappella. O quarteto americano, sob a batuta de Keith Lancaster, agradou os ouvidos tropicais com sua mistura de black music, beatbox e harmonia competente.
Sem muita demora, surgiram grupos brasileiros emulando a estética de cantar não com instrumentos, mas imitando os sons de instrumentos percurssivos –grupos como Black Singers (já extinto), Quatro Manos (agora na música secular), Communion (outro grupo que também já teve sua experiência fazendo parte da música secular e atualmente voltou para o "show business" gospel), entre tantos outros.
Um destes grupos adventistas, o Artpella, tornou-se vencedor no programa musical "Astros" (exibido pelo SBT) no mês de Outubro. Não é a primeira vez, até onde sei, que um grupo evangélico ou mesmo adventista, comparece ao programa e apresenta músicas religiosas. Contudo, o fato de o Artpella vencer a competição agitou o meio gospel. Certamente, poderemos esperar mais artistas "do Senhor" exibindo seus louvores para os quatro jurados do programa em futuras edições.

O Artipella foi muito bem aceito já em sua primeira audição no Astros. A performance do grupo levou até o jurado Miranda, sabidamente um dos mais exigentes e críticos, a se derramar em elogios: “Eu quando ouço grupos como vocês, dedicado à música espiritual, o que me dá vontade, em nome da cultura brasileira, é de pedir vocês emprestados para Deus, para cantar um pouquinho de música pop […]”.
Nem precisa dizer que a alta qualidade técnica da música evangélica em geral e da música adventista em particular, não traz nenhum indicativo intrínseco de que Deus esteja aceitando o que vem sendo feito em Seu nome. Afinal, jamais o Senhor exigiu que nos tornássemos somente grandes músicos, mas que fizéssemos a Sua vontade revelada, nos guardando livres da influência da música secular (no sentido de que a nossa produção musical fosse substancialmente diferente dos gêneros musicais, ritmos e formas de interpretação dos cantores populares).

Relembrando-nos da declaração do Miranda, poderíamos responder que nem precisa pedir os artistas gospel emprestados a Deus – eles vão se emprestando sozinhos!
Colaborou: Adilson Câmara, do blog Estímulo Missionário
Leia mais:

Sobre a influência da música gospel negra em cantores brasileiros:
Leonardo Gonçalves: As expectativas do novo CD e uma análise de sua influência musical

Sobre critérios filosóficos para a música cristã:
A música sacra dentro da cosmovisão adventista: interpretando e aplicando conceitos de Ellen White (parte 1 parte 2 parte 3 parte 4)

domingo, 7 de dezembro de 2008

EM RITMO DECRESCENTE


Patente. As hordas de demônios vociferando, tentando, mel escoando pelas gargantas dos filhos do Legislador. A humanidade perversa, desonrando os princípios da existência, transgressão sobre falta, falta sobre desobediência, desobediência sobre culpa…
Patente: a mais alta. Perfil: o mais Santo. Suportaria Ele ver o planeta em quarentena tornar-se o campo do inimigo expulso de Sua glória?
Cumulado de dúvidas, as terras criadas assistiam o desenrolar-se de uma batalha arfante, flancos abrindo-se e tropas em recuo e mortandade, assolações – que tremendas!
Nas lágrimas de uma raça, o Autor de um sonho realizador verificava uma época de egoísmo. Atribuíam-Lhe culpa pelo resultado de um mal que combatia o Seu próprio caráter. Se Suas leis tivessem tido a atenção e respeito de Suas criaturas, se tivessem sido observadas, o sonho realizador acontecera. O pecado o impedia.
E os demônios querendo a condenação da raça, e os demônios querendo que Deus fosse acusado de exigir uma lei injusta, insuportável, e os demônios atuando para isso, em toda sorte de maldade arquitetada na experiência de milênios. Conspiração malfeitora, trágica. O Universo comovido. Do Rei todos esperavam reação.
O declínio se aproxima. Será irrecuperável?
Os olhos voltam-se para o Trono. A voz do Filho. Eis-me aqui. Ofertas e sacrifícios não aceitaste; corpo me preparaste. Mistério.
Não houve uma conjugação condenatória, bem na medida que a transgressão pedia e desafiava.
Não se ouviu uma ação punitiva, de desprezo aos rebeldes que se inclinavam ante as palavras dos anjos das trevas.
Não houve um último despertar para os habitantes do planeta desgarrado.
Não!
Houve um vagido.
O Verbo se fez carne. A Esperança se fez complemento. A Salvação se fez sujeito. A Misericórdia se fez adjetivo. A oração estava completa e atendida.
O Filho Eterno desceu para demonstrar que a estrada aberta pelo pecado não era ínvia ao Amor, que desconhece as distâncias.
O Filho Eterno desceu para os homens saberem qual a mensagem do Legislador Santo para quem desrespeitava a Sua constituição – perdão.
O Filho Eterno desceu para esclarecer o Universo sobre qual a atitude do Senhor, atitude humilde e nobre, justa e clemente, atitude desafiadora de altitudes.
O Filho eterno.
O Verbo se fez carne. Conjugação de conjunção.

O IRMÃO NA IGREJA


"[...] Um irmão na igreja já tinha me falado que este seria o meu ano."


Borges, artilheiro do São Paulo com 16 gols no campeonato brasileiro, ao ser entrevistado pelo repórter da Globo após a conquista do hexacampeonato pelo tricolor paulista.

Leia também:

"O Senhor me revelou que..."

sábado, 6 de dezembro de 2008

QUEM ESCREVEU [COM TANTA IMPROPRIEDADE SOBRE] A BÍBLIA? - parte 2


Após minar a confiança na Bíblia como registro histórico objetivo, fica fácil atribuir a ela guerras e uma atmosfera belicista, preconceituosa e até criminosa [1], como se este Livro fosse produto de uma cultura primitiva. Não vou me deter neste ponto, mas aqueles que sentem curiosidade de entender alguns aspectos da justiça divina que soam estranhos para a mentalidade pós-moderna, podem consultar meu artigo "A destruição dos cananeus".

Aliás, partindo do ponto de que toda a Bíblia foi mera produção cultural, o autor chega a afirmar que, para buscar suas origens e afirmar sua identidade, os cristãos "criaram um novo gênero literário: o evangelho." [2] Este é o cúmulo da desinformação! O doutor Craig L. Blomberg, um dos mais qualificados eruditos do Novo Testamento, afirma que "os evangelhos são como as biografias antigas: destacavam a essência do que o biografado" dissera ou fizera [3]. Ou seja, não só o gênero era corriqueiro na época, como até a forma dos 4 evangelhos segue o padrão da biografia antiga. Isto é tão primário que qualquer estudante sério da Bíblia o sabe. Seria muito esperar um grau mínimo de informação numa revista de circulação nacional? Ou será que só se informa aquilo que é concorde a um certo tipo de opinião, enquanto se omite fatos que corraborem um pensamento contrário?

Outro exemplo desta tendência de seguir um preconceito sem conferir sua veracidade: ""[...] A pressão de Constantino levou os mais influentes bispos cristãos a se reunirem no Concílio de Nicéia, em 325, para colocar ordem na casa de Deus. Ali, surgiu o canône do cristianismo - a lista oficial de livros que, segundo a Igreja, realmente haviam sido inspirados por Deus." [4] Ninguém avisou o aticulista da Superinteressante que o romance "O Código Da Vinci" não era a fonte histórica mais exata -pois justamente no maior best-seller de Dan Brown a teoria da formação do cânon a partir de Constantino é ventilada como uma verdade inconteste. Seria isto crível?

Para início de conversa, haviam alguns livros no segundo século que se intitulavam "evangelhos", escritos por grupos gnósticos. Estes livros jamais receberam a mesma aceitação dentro da comunidade cristã que os evangelhos canônicos (os quatro evangelhos, que ainda hoje figuram em nossas Bíblias). Por sua vez, a corrente gnóstica se encarregara de afirmar que a salvação se dava através de um conhecimento revelado aos iniciados, o que, de cara, já criava uma oposição natural entre gnósticos e os demais cristãos.

Esta oposição se aprofunda à medida em que os aspectos teológicos dos evangélicos gnósticos e canônicos são contrastados e vistas suas abissais diferenças. Os primeiros líderes cristãos da era pós-apostólica (chamados de "pais da igreja") já assinalvam essa oposição - entre os quais podemos citar Irineu (cc. 130-200), Hipólito (cc. 170-236), Tertuliano (cc.160 - após 220) e Epifânio (310 -430)[5]. O que os pais da igreja escreveram nos mostra que, mesmo em épocas remotas, as comunidades formadas pelos apóstolos combatiam os evangelhos gnósticos, sendo, portanto, que a rejeição da literatura orientada pela gnose não foi um acontecimento tardio.

Em contrapartida, a "canonicidade" de Mateus, Marcos, Lucas e João foi reconhecida bem cedo, por pais da igreja como Papias (em cc. 125) e Irineu (cc. 180)[6]. O chamado "Cânone Muratoriano" (em homenagem ao italiano Ludovico Antonio Muratori, que o descobriu em 1740) aponta a existência de quatro evangelhos lidos e usados pelas comunidades cristãs num período tão longínquo quanto o final do segundo século [7]. Parece, em vista destas informações, improvável que o cânon passasse a existir sobre exigência política de Constantino (além do que, ao contrário do que o jornalista da Super tentou passar, nunca se confirmou que aquele imperador romano tenha se convertido integralmente ao Cristianismo).

Agora, o erro mais assinalado cometido por "Quem escreveu a Bíblia?" está na infundada afirmação de que a Bíblia foi vítima ou da incompetência ou da má-intenção de seus copistas, que, ao longo dos séculos, supostamente adulteraram a mensagem das Escrituras [8]. Temos de analisar essa presuposição à luz dos fatos.

Embora houvessem erros não-intencionais por parte dos escribas [9], os estudiosos geralmente asseguram que se tratem de variações sem importância. Alguns chegam a afirmar que nossas Bíblias cheguem a ter "99, 5% de pureza" [10]. Nenhuma obra da Antiguidade possui tantos, tão bem conservados e tão antigos manuscritos que sobreviveram aos nossos dias. Isso sem contar nos manuscritos do Mar Morto, descobertos acidentalmente a partir de 1948 [11].

Com a ciência da crítica textual é possível reconstituir o que provavelmente os autógrafos (os escritos originais) realmente diziam. Vale lembrar que as muitas variantes disponíveis não trazem grandes diferenças quanto ao fraseado do texto e nada que chegue perto de comprometer às doutrinas bíblicas. Podemos confiar na integridade dos textos do Velho e do Novo Testamento. [12]

Finalmente, ao invés da alardeada "revolução" sobre a leitura da Bíblia, o que se percebe nas páginas da Superinteressante é um caudal de preconceitos, em que a falta de perspectiva histórica e de irreponsabilidade jornalística grassam oportunamente. Em vista deste bombardeio de notícias parciais, é natural que a reportagem conclua afirmando que "[...] Hoje, os principais estudiosos [de qual corrente? Isto representa a opinião abalizada por todos, ou pelos, a maioria dos estudiosos, ou somente daqueles que agradam ao articulista?] afirmam que a Bíblia não deve ser lida como um manual de regras literais - e sim como o relato da jornada, tortuosa e cheia de percalços, do ser humano em busca de Deus. Porque esse é, afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de história regada há 3 mil anos por centenas de mãos, cabeças e corações humanos: a crença num sentido transcendente da existência."

Este reducionismo grosseiro passa longe das reais reivindicações da Bíblia. Jesus mesmo ensinou que a palavra de Deus é a Verdade (Jo. 17:17). Não encontramos nas páginas do divino livro "fábulas artificialmente compostas" (II Pe. 1:16), mas aquilo que é "divinamente inspirado", com o propósito de nos preparar para servir perfeitamente a Deus (II Tm. 3:16 e 17). Pena que as pessoas, esperando fugir de sua responsabilidade perante Deus, tenham de dispor dos mais fúteis estratagemas na vã tentativa de desqualificar a própria Bíblia...


Leia também

[1] "[...] Para os especialistas, a violência do Antigo Testamento é fruto dos séculos de guerras com os assírios e os babilônios. Os autores do livro sagrado foram influenciados por essa atmosfera de ódio, e daí surgiram as histórias em que Deus se mostra bastante violento e até cruel. Os redatores da Bíblia estavam extravasando sua angústia." José Francisco Botelho, idem, p. 62. Fica novamente claro que o articulista falha em generalizar a opinião de alguns estudiosos, como se esta opinião fosse oficial e comum a todos os que realizam pesquisas na área de Interpretação bíblica. É de se perguntar se tal generalização não se constitui em uma estratégia para vacinar o leitor, na tentativa de constrangê-lo com uma opinião dos "especialistas". Somente os que desconheçam a literatura especializada entrariam nesta "canoa furada"!
[2] Idem, p. 63.
[3] Em entrevista a Lee Strobel, que a publicou em seu livro "Em defesa da verdade de Cristo: um jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo" (São Paulo, SP: Editora Vida, 2001), pp. 31 e 32.
[4] José Francisco Botelho, idem, p. 64.
[5] Darrell L. Bock, "Quebrando o Código Da Vinci: respostas às perguntas que todos estão fazendo" (Osasco, SP: Novo Século Editora Ltda, 2004), p. 80. Nas páginas seguintes, Bock caracteriza os pontos comuns entre os evangelhos e literatura gnóstica em geral, mostrando como suas concepções sobre o Pleroma (Deus Puro, Absoluto, Inantigível), o Demiurgo (o deus imperfeito que criou o mundo físico, inerentemente mau), o feminino sagrado, a soteriologia através da experiência da gnose, entre outros pontos, tornam impossível a aceitação dos evangelhos gnósticos ao lado dos quatro evangelhos tradicionais, visto serem tão divergentes (e também se distanciarem da mensagem Bíblia como um todo).
[6] Lee Strobel, idem, p. 30.
[7] Darrel L. Bock, idem, pp. 124 e 125.
[8] "[...] O problema é que, a essa altura do campeonato, gerações e gerações de copiadores já haviam introduzido alterações nos textos originais." José Francisco Botelho, idem p. 63. Ver também afirmações semelhantes nas pp. 65 e 66.
[9] Gleason Archer Jr. as discute apropriadamente na sua "Enciclopédia de dificuldades bíblicas" (São Paulo, SP: Editora Vida, 1997), pp. 35-46.
[10] Norman L. Geisler e William E. Nix, "Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós", (São Paulo, SP: Vida, 1997), p. 172, citado em Lee Strobel, opus. citado, p.85. Ese tão elevado "grau de pureza" se deve exclusivamente (do ponto de vista humano) ao escrupuloso trabalho dos massoretas, que copiavam manuscritos hebraicos à mão, seguindo regras estritas.
[11] Uma obra útil sobre a história da descoberta desses manuscritos se encontra em E.-M. Laperrousaz, "Os manuscritos do mar morto" (São Paulo, SP: Editora Cultrix, s/d).
[12] Para detalhes adicionais sobre o Novo Testamento, consultar Josh McDowell e Bill Wilson, "Ele andou entre nós: evidências do Jesus Histórico" (São Paulo, SP: Editora e distribuidora Candeia, 1999) Reimpressão da 1ª ed.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

QUEM ESCREVEU [COM TANTA IMPROPRIEDADE SOBRE] A BÍBLIA? - parte 1


É lugar-comum a Bíblia receber críticas por parte de setores da mídia tupiniquim. Em uma sociedade na qual os trabalhos intelectuais aportam com décadas de atraso, não chega a ser surpreendente que tais críticas estejam desatualizadas – sem exagero. Os debates que polarizavam acadêmicos com questões de interpretação bíblica em fins do século XIX e início do século passado, refletem-se somente agora em nosso país. Pior do que o atraso: o alardear de que tudo é novo e revolucionário, a ponto de transtornar a leitura tradicional do livro sagrado dos cristãos. Dentro deste espírito, saiu a reportagem de capa da revista Superinteressante, "Quem escreveu a Bíblia?”[1]. As afirmações “revolucionárias” da revista fariam rir qualquer conhecedor mediano dos princípios de exegese literária. Ainda assim, vamos nos demorar revendo alguns erros conceituais da matéria da Super.

Um dos primeiros pressupostos errôneos a despontar nas linhas do articulista é o de que os judeus foram altamente influenciados pelos povos cananeus.[2] Aliás, a base da teoria liberal estabelece a quase completa incapacidade dos judeus de produzir algo original, como se toda produção cultural dos filhos de Abraão necessariamente dependesse dos vizinhos mais evoluídos. No entanto, essa noção esconde a verdadeira base conceitual pela qual opera o criticismo moderno em sua leitura da Bíblia: o preconceito contra o sobrenatural baseada em premissas naturalistas.

Desde o surgimento da hipótese documental dos estudiosos Graf, Kuenen e Welhause (ainda no século XIX), os exegetas liberais consideram o Pentateuco como proveniente de múltipla autoria, em contraste com a posição judaico-cristã da autoria mosaica (exceto em lugares que esta autoria seria impossível, como a narrativa da morte do próprio Moisés). Quem seria, então, o autor dos cinco primeiros livros bíblicos?

Na verdade, segundo a hipótese documental, haviam alguns documentos que foram editados, depois de produzidos por pelo menos quatro tradições distintas: Javista (com ênfase no nome Jeová para a divindade e descrevendo a aliança relacional entre Deus e o homem), Eloísta (utilizando o nome Elohim para a divindade, concebida com majestosa e distante do homem), Deuteronômico (derivado do movimento profético, estritamente monoteísta e politicamente centralizador) e Sacerdotal (preocupada com regulamentos e leis).A sigla, formada pelas iniciais de cada documento (em alemão e inglês) ficou: JEDP, seguindo a suposta ordem em que as tradições foram se desenvolvendo.

Longe de ser unânime, a hipótese documental é criticada por sua arbitraeridade em dividir o Pentateuco, sua inconsistência (afinal, os diversos sustentadores da teoria não chegam a um consenso exato sobre que tradição escreveu qual parte do Pentateuco), sua incompatibilidade com os dados (a harmonia dos cinco primeiros livros da Bíblia se encaixa perfeitamente com uma autoria única, além de remontar a c. de 1500 anos antes de Cristo, período em que Moisés viveu) e seu pressuposto reducionista de que a mudança de Estilo requer necessariamente uma mudança de autor (seria como alegar que Machado de Assis não poderia ter sido autor do livro de poemas "Panóplias", do romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do livro de contos "Papéis Avulsos", além de peças de teatro, crônicas e extensa epistolografia, por apresentar em cada um destes gêneros, e dentro dos próprios gêneros, diversidade de estilo!). [3]

Ou por desinformação ou por preconceito, "Quem escreveu a Bíblia?" não apresenta os argumentos que, ao longo de mais de 100 anos, estudiosos vêm apresentando contra as teorias liberais. José Francisco Botelho, que assina a matéria, não recorre a nenhum pesquisador bíblico que creia na Inspiração da Bíblia, porque parece que não há espaço para a divulgação deste tipo de opinião na revista. Às favas com a idoneidade jornalística!

Leia também:


[1] José Francisco Botelho, "Quem escreveu a Bíblia", Superinteressante, edição 259, dezembro de 2008.
[2] "As histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e pedacinhos da Jordânia, do Egito e da Síria. Durante séculos acreditou-se que Canaã fora dominada pelos hebreus. Mas descobertas recentes da arqueoogia revelam que, na maior parte doi tempo, Canaã não foi um estado, mas uma terra sem fronteiras habitadas por diversos povos - os hebreus eram apenas uma entre muitas tribos que andavam por ali. Por isso, sua cultura e seus escritos foram fortemente influenciadas por vizinhos como os cananeus, que viviam ali desde o ano 5.000 a.C. E eles não foram os únicos a influenciar as histórias do livro sagrado." José Francisco Botelho, idem, p. 60. Ver também pp. 61, 62.
[3] Uma avalição da história da teoria documental, acompanhada de uma refutação convincente pode ser encontra em Gleason L. Archer Jr, "Merece Confiança o Antigo Testamento?" (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2000) 3ª ed., 6ª reimpressão, apêndice 3, pp. 465 - 508.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

NÃO É BRINQUEDO, NÃO!



Depois da imprevista ação terrorista de 11 de setembro de 2001, o mundo fez um pacto silencioso, evitando a temática do terrorismo. É claro que, de lá para cá, surgiram obras ficcionais (especialmente filmes e livros) retratando o traumático atentado em Nova Iorque. Tudo com muita cautela e respeito a uma nação vitimada. Agora, o tema do terrorismo é banalizado com o lançamento do boneco do Bin Laden, para crianças a partir dos 3 anos (!).

A empresa (ir)responsável pela façanha é a BrickArms, que, pelo que informou o G1, tem prestado serviço à Lego (que, aliás, criticou a iniciativa). É, de fato, imporessionante os valores que as crianças aprendem com os desenhos animados, games e brinquedos, cada vez mais voltados para o misticismo, a violência gratuita, a insinuação sexual, etc. O que será da futura geração?

Colaboração: Marcos André Leia também:

PECADOS NADA ORIGINAIS

Ontem Bento XVI pronunciou uma catequese geral repisando dois velhos pecados da igreja. O primeiro, a crença no pecado original, baseado em uma leitura equivocada (que remonta a Agostinho) de Romanos 5. O dogma do pecado original supõe que Deus nos considere culpados pelo pecado de Adão, o que contraria frontamente o ensino bíblico da responsabilidade individual pelo pecado (cf. Ez. 18:20). Na verdade, o pecado de Adão trouxe conseqüências sobre seus decendentes (Rm. 5:14), semelhantemente a uma gestante que, fumando durante a sua gestação, traria sérios resultados ao seu filho. Neste exemplo, o filho não teria culpa alguma, apesar de sofrer por causa do vício materno.
O segundo pecado é ainda mais mortal (apenas para usar uma das categorias em que a igreja Católica classifica os pecados): tornar simbólica a narrativa de Gênesis 3, que traz em primeira mão a queda histórica da Humanidade. Ressalto o adjetivo "histórica" fazendo um contraponto à perspectiva do papa, um evolucionista teísta ferrenho. Já falamos das incoerências do Evolucionismo teísta, posição advogada pela igreja romana oficialmente desde o pontífice anterior, o carismático João Paulo II.
Note a descompassada afirmação de Bento XVI em seu discurso (publicado na íntegra no site católico Zenit):
"Como foi possível, como aconteceu? [a origem do pecado] Isso permanece obscuro. O mal não é lógico. Só Deus e o bem são lógicos, são luz. O mal permanece misterioso. Ele é representado com grandes imagens, como faz o capítulo 3 do Gênesis, com aquela visão das duas árvores, da serpente, do homem pecador. Uma grande imagem que nos faz adivinhar, mas que não pode explicar o que é em si mesmo ilógico. Podemos adivinhar, não explicar; nem sequer podemos narrá-lo como um fato junto a outro, porque é uma realidade mais profunda. Fica como um mistério obscuro, de noite. [...]" Ênfase suprida.

Embora seja verdade que, em seu sentido mais substancial, o pecado seja um mistério (Paulo nos fala no "mistério da Iniquidade", em II Ts. 2:7), isto não justifica tomar o terceiro capítulo de Gênesis como não factual, do qual não se pudesse narrar "um fato junto ao outro". A solução exegética do dito sucessor de Pedro remete ao adágio "pior a emenda do que o soneto". Para Bento, dada a impossibilidade de se explicar o mal, nada como considerar a narrativa da queda como uma alegoria bem intencionada!

A verdade, porém, é que o relato da trangressão de Adão e Eva aponta que a morte é o produto final da equação de desobediência. Quer dizer que a morte passou a existir após o pecado. O evolucionismo teísta, que aceita o desenvolvimento progressivo da vida proposto pela Ciência Naturalista, se vê em uma "sinuca" - a morte é um processo biológico natural (como diz a moderna ciência) ou a malfada conseqüência advinda do primeiro pecado (como quer a Palavra de Deus)? Para resolver o impasse, o papa se vê obrigado a alegorizar o texto bíblico, em detrimento ao seu compromisso epistemológico com o naturalismo. Nisto, ele abre mão da Bíblia, destruindo a base para a sua própria argumentação sobre a origem do pecado (ironicamente, Paulo, em cujo capítulo 5 da epístola aos Romanos Bento se apóia ao falar do pecado, toma como histórica a figura de Adão, a narrativa de sua queda e a morte como resultado).
Enfim, a argumentação de Bento desprestigia a Bíblia, livro de fé do Cristianismo (incluindo aí os cristãos católicos). Temos o saldo de dois graves pecados cometidos pelo papa em um mesmo discurso - pecados perpetuados, diga-se de passagem, e, por conta disto, nada originais!

Leia também: