domingo, 23 de março de 2008

OS OUTROS SÃO MEUS DEGRAUS - parte 1


Em Siquém, Gideão havia deixado algumas raízes, como já mencionamos. Ali cresceu um de seus filhos, o que demonstrou uma ambição similar a de seu pai, quando este atingiu a velhice. Abimeleque, o jovem descendente de Gideão, estava sedento pelo poder. Em sua desenfreada busca pela auto-glorificação esmagou tudo o que estava entre ele e o trono.

Faça uma pausa:já lhe passou pela cabeça que você e eu temos uma necessidade fictícia pela posição, por receber aplausos e ser o centro das atenções? Existem algumas lições facilmente percebidas neste relato da vida de Abimeleque que vamos explorar. O objetivo é usar tais lições como lentes, que nos ajudem a enxergar o que temos feito de nossa vida.

1. Não faça da busca pelo poder uma muleta para a auto-estima.

Leia comigo o texto bíblico:

“Sua concubina [de Gideão], que morava em Siquém, também lhe deu um filho, a quem ele deu o nome de Abimeleque." Juízes 8:31.

Crescendo sem uma estrutura familiar, e sendo hostilizado pelos filhos legítimos de seu pai, Abimeleque deve ter passado por inúmeros momentos de solidão e sentimento de rejeição. Todas essas condições contribuíram para que ele desenvolvesse um possível “complexo de inferioridade”; vemos que Abimeleque, já adulto, tenta compensar seu complexo correndo atrás do trono.

Não raro a demanda pelo poder é um disfarce para algo mais sério, abrigado no íntimo de nossa personalidade – talvez a falta de aceitação por parte dos pais na infância, o conceito de desvalia incutido desde muito cedo, a falta de entendimento conjugal, relacionamentos frustrados, entre outros fatores.

No horizonte de maus momentos decorrentes de complexos, surge o status. Sua chegada tem a delicadeza de uma brisa. Sutilmente ele se arrasta sob os lençóis até nos envolver, penetrando em nossos sonhos. Passamos a desejá-lo. Vivemos em função dele. E nem sequer o percebemos nos afetando.

Por ocasião da semana da Páscoa, participei da programação de uma igreja na cidade onde moro. Ao voltar, eu e Noribel, minha esposa, decidimos passar por um supermercado; apesar de ser um dos maiores da região, nunca havíamos feito compras ali.

Entramos, um movimento intenso, os dois tentando se encontrar entre corredores e gôndolas alienígenas. Já na fila do caixa, minha esposa começou a comentar comigo o que estivera refletindo em silêncio. Ela reparou como estamos presos a uma rotina: a mesma igreja, o mesmo local para fazer compras, o mesmo caminho de casa ao colégio (nosso local de trabalho). Acostumamo-nos com o tipo de pessoa que compõe as famílias dos alunos do colégio. É estranho ver outras pessoas, vestidas de uma maneira diferente. Ficamos como canários se mudando para um aquário.

Comparando a clientela do supermercado que visitávamos com o qual já nos acostumamos, pareciam habitantes de mundos opostos: as mesmas ali eram mais simples, de outras camadas sociais; apesar disso, os produtos tinham preços equivalentes em ambos os mercados! Enquanto caminhávamos para o carro, minha esposa ainda sentenciou: “A gente freqüenta sempre os mesmos lugares, vive num mundo fechado – e não quer se abrir para um outro mundo!”

A verdade percebida por Noribel diz respeito à nossa acomodação em virtude do status. Sustentamos uma impostura social, muitas vezes a custo de nosso não-envolvimento com outras pessoas, outras experiências, outros lugares. Forjamos um passaporte falso para o reino da fantasia. E tudo isso nos convence de que seremos felizes – nos isolando nos caprichos de um mundinho pré-montado. Nós nos contentamos com um sub-produto da realidade para mantermos o status.

Em muitas das vezes, fazemos uma associação inconsciente entre status e estima, como se houvesse uma dependência essencial da última em relação ao primeiro. Mas o status não é a viga que sustenta a estima numa personalidade equilibrada. Não precisamos ter ou parecer ou receber para ser. Abimeleque queria corrigir sua falta de aceitação punindo seus irmãos, ao mesmo tempo em que conseguia o poder. Como veremos, esse foi seu motivo para uma estratégia cruel, envolvendo politicagem, fraticídio e dominação baseada em tirania. Sem dúvida nenhuma, estágios bem avançados da fixação pelo status – e você, até que ponto seria capaz de ser levado pelo desejo de manter o status?

Um comentário:

Anônimo disse...

acreditar em nos mais ou menos mas em deus completamente cassio rosa