sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

NOVAS PÉROLAS DE CROSSAN NA SUPERINTERESSANTE - parte 2



O paradigma persistente de Crossan está realmente na busca pelo “Busca pelo Jesus Histórico”. Ele chega a considerar a tentativa de conciliar o Jesus bíblico com o dito “Jesus Histórico” como algo retrógrado, preso pensamento do século XIX.[1] A verdade é que a dicotomia entre a visão bíblica e a da supostamente histórica não é empírica, mas motivada pelo preconceito em relação ao sobrenatural. Gehard Maier, combatendo o método crítico alega que os critérios quanto ao que pode ser ou não aceito como História dentro da Bíblia (de acordo com a proposta daquele método) variam de geração em geração, segundo a opinião de cada crítico.[2] Em outras palavras: se fizemos a confiabilidade da Bíblia ser gerenciada por critérios pessoais subjetivos, estaremos minando por completo sua autoridade.

Ocorre que, para o estudioso liberal essa dicotomia entre a fé e a História se torna insuperável :

“Porque eles se recusam a aceitar o diálogo necessário entre história e fé. Existem muitos clérigos querendo fazer julgamentos históricos por meio da fé. Mas julgamentos assim são impossíveis. Para a história, o importante é o significado dos fatos. Cada religião faz reivindicações históricas. Mas cada doutrina precisa admitir que fé e religião são uma coisa, história é outra.”
[3]

Essa dificuldade é, em parte, causada pela própria concepção de História dos estudiosos. O Rev. Claude Labrunie, sintetizando o pensamento de Oscar Cullman, assim expressa uma relação saudável entre Cristianismo e História:

“O que tão violentamente escandaliza o pensamento moderno, entre as pretensões da revelação cristã, é esta extensão cósmica da linha histórica, a saber, o fato de que toda teologia cristã é, em sua essência, uma ‘história bíblica’.”
[4]

Crossan, por outro lado, não se impressiona com modismos recorrentes, como o do suposto casamento entre Jesus e Maria Madalena e o “achado” da tumba de Jesus, ou do Evangelho atribuído a Judas, que, segundo seu auspício, não revelaria a “motivação histórica” do apóstolo traidor. No que se refere aos túmulos, para ele não se comprovar que “sejam da família de Jesus”, pois os “nomes que aparecem nas tumbas eram comuns naquela época.[5]

Outras interpretações do estudioso podem polemizar, apenas se os dados não forem corretamente analisados. Vejamos:

1 - “A idéia de proibir a ordenação das mulheres seria um absurdo para Jesus e um escândalo para Paulo. Como diz uma passagem dos Romanos, ‘saudai Andrônio e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão, apóstolos exímios que me precederam na fé em Cristo.’”
[6]
Crossan cita Romanos 16:7, que diz apenas que as personagens, Andrônio e Júnia, eram “notáveis entre os apóstolos” (NVI). No demais, basear uma conclusão tão séria em um texto isolado, é demonstrar falta de cuidado com a matéria bíblica. Ninguém discorda que Jesus e os apóstolos valorizaram a mulher, dando-lhe um respeito e um espaço dentro da cultura antiga jamais vistos. Mas sobre a ordenação da mulher, o silêncio da Bíblia deve nos fazer cautelosos.

2 - “Eu acredito que o céu e o inferno não sejam lugares do futuro, mas possibilidades aqui do presente. O século 20 foi a visão mais clara do inferno. Este século parece que não será muito melhor do que o anterior. Para mim, como cristão, Jesus não vai retornar, pois ele nunca foi embora. ‘E ei que Eu estou convosco todos os dias’, diz Mateus capítulo 28, versículo 20. Jesus não está aqui nos sobrevoando. Eu acredito na presença dele na atualidade, à medida que nós coloquemos em prática a realidade não violenta que ele pregou.”
[7] Essa “Parusia fantasmagórica” de Crossan depõe contra suas credenciais, uma vez que a ênfase de Jesus nos aspectos materiais e tangíveis de Seu Reino perpassa as páginas do Novo Testamento. Fiquemos apenas com Apocalipse 21, e deixemos Crossan responder: de que maneira, a não ser com o retorno literal do Senhor nas nuvens do Céu, chegaremos à instalação da Nova Realidade mundial de que trata esse capítulo ?
Será apenas que o esforço humano, a nossa “boa vontade” irão reconstruir o planeta e torná-lo “um lugar melhor” ? Desculpe-me Crossan, mas à sua esperança, eu prefiro àquela oferecida pelo Jesus Histórico, que, por sinal, é o mesmo que encontro nas páginas de minha Bíblia.




[1] Quando confrontado com a declaração do atual papa, Bento XVI, que teria afirmado que ambos, o Jesus da Bíblia e o da História, seriam, em verdade, uma só pessoa, Crossan arrogantemente rebateu ““A distinção entre o Jesus histórico e o Cristo da fé foi criada no século 19 [não seria mais correto grafar XIX?], período no qual o papa Bento 16 se encontra com suas formulações [risos].”Leandro Narloch, p. 18.
[2] Gehard Maier, “Das Ende der Historisch-Kritischen Methode”, conforme citado em Enio Roanld Mueller, “O método Histórico-Crítico – uma avaliação”, material incluso no apêndice 2 de Gordon Free e Douglas Stuart, “Entende o que lês?: um guia para entender a Bíblia com o auxílio da exegese e da hermenêutica” (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2000), 3ª reimpressão da 2ª ed. , p. 265.
[3] Leandro Narloch, p. 18.
[4] Claude Labrunie, disponível sob o título “O conceito cristão da História” em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/06/conceito-cristo-de-histria.html.
[5] Narloch, idem.
[6] Idem, p. 19.
[7] Idem.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

NOVAS PÉROLAS DE CROSSAN NA SUPERINTERESSANTE - parte 1

Aprendi com minha mãe diversos ditados populares. Um deles, bem conhecido, versa sobre “juntar a fome com a vontade de comer”. Foi justamente este dito que me veio à mente ao ler a entrevista do ex-padre e historiador John Dominic Crossan, professor emérito da Universidade DePaul, de Chicago (EUA), à revista Superinteressante.[1] Aliás, o que mais poderia se esperar de um encontro entre um teólogo liberal e uma revista que tem sucessivamente se dedicado a desacreditar tudo o que se relaciona à Bíblia?

A própria Super não esconde suas preferências teológicas ao afirmar que Crossan é o “maior especialista no mundo em estudar o Novo Testamento com olhar de historiador.”[2] Seria mais honesto dizer que Crossan é o mais conhecido historiador da escola liberal do Novo Testamento[3]. Entre os comentaristas tradicionais há nomes de peso, como os de Robert H. Gundry, Leon Morris, George E. Ladd, Bruce Metzenger e do falecido F. F. Bruce. A bem da verdade, poucos estudantes de teologia criteriosos colocariam as contribuições de Crossan em pé de igualdade as daqueles gigantes da cultura bíblica.

Como os demais estudiosos da alta-crítica liberal, Dominic Crossan não aceita o que nos evangelhos possua caráter sobrenatural, o que, na prática, faz com que ele descarte a historicidade de muitos textos bíblicos. Nas palavras do estudioso: ‘“Nosso esforço é o de separar o que, nos textos bíblicos, é fato histórico e o que é parábola religiosa.”’[4]

Ficamos imaginando de que forma Crossan faz essa distinção, sem levar ao total descrédito os evangelhos. Afinal, se aquelas primeiras testemunhas de Jesus declaram que se apóiaram em eventos factuais (Lucas 1:1-4; João 19:35; 21:24 e 25; I João 1:1), acreditar que teriam sido capazes de acrescentar algo de natureza fantasiosa ao seu relato as desqualificaria por completo como testemunhas. E se não pudermos aceitar como confiável o seu testemunho, então como ter certeza de qualquer coisa sobre Jesus ?

Felizmente, estudos sérios têm apontado uma data antiga para a composição dos primeiros evangelhos (Marcos estaria finalizado já na década de 50 do primeiro século, i.e., apenas 20 anos depois da morte de Jesus). Caso os discípulos acrescentassem algo inverídico em sua redação, seus contemporâneos, muitos dos quais conviveram com o Jesus histórico (e certamente se lembravam de suas palavras e feitos), poderiam apontar as incoerências e acréscimos na narrativa cristã sobre Jesus. Mas a História nos fala o contrário: cedo os primeiros cristãos estavam dispostos a morrerem martirizados pela certeza histórica de quem foi Cristo, do que Ele fizera, Seus milagres, Seu Sacrifício e de Sua ressurreição.

A datação próxima do evento é uma confirmação de sua veracidade – inclusive no que diz respeito aos milagres. Jesus não poderia ser quem afirma ser (João 14:6) caso não pudesse realizar o que os evangelhos Lhe atribuem. Em última estância, aceitar ou não seus milagres é uma questão de perspectiva com a qual se inicia o estudo.[5]

Em alguns casos, as aparentes contradições apontadas por Crossan são facilmente desfeitas. “Um exemplo: em Mateus, um anjo aparece para José, falando sobre o nascimento de Jesus. Já em Lucas, o anjo aparece para Maria.”[6] Comparando ambos os evangelhos, o quadro geral é o seguinte: depois de Maria ser avisada por um anjo, e achar-se grávida, José, ao invés de se vingar de uma provável traição, requerendo que sua ex-noiva fosse apedrejada por ser adúltera, preferiu se afastar dela (Mateus 1:19); para explicar a situação a José, o mesmo anjo que falara à Maria aparece a ele. Onde fica a contradição?

Outro problema que surge na interpretação de Crossan diz respeito aos fatos narrados pela Bíblia que ainda não receberam confirmação total da História. Para ele, por exemplo, uma vez que não há registros fora da Bíblia de que Herodes fosse um infanticida, deveríamos olhar o episódio sob outra ótica: “Dizer que Herodes matou as crianças em Belém para matar Jesus, como está em Mateus, é uma parábola. É afirmar que ele é o novo Moisés e Herodes é o novo faraó do Antigo Testamento.”[7]

Esse tipo de raciocínio de “duvidar até o último segundo”, abalou a reputação de muitos estudiosos críticos no passado, que endossaram opiniões contrárias à Bíblia, até que a Arqueologia os fizesse voltar atrás, reconhecendo seu erro. No demais, a História conta que Herodes I, o grande, era faminto pelo poder, e, em nome dele, assassinou a esposa Mariana, seus herdeiros Alexandre e Aristóbulus, depois enviou Antípater, outro filho, com Mariana II, à Roma, preso, entre outras execuções contra aqueles que o fizessem sentir-se ameaçado.[8] Se Herodes, em sua ânsia pelo poder, foi capaz de liquidar seus próprios filhos, por que não ordenaria que matassem os filhos alheios?

[1] Leandro Narloch, “O papa do Jesus Histórico”, Superinterante, edição 250, Março 2008, seção “superpapo”.
[2] Idem, p. 17.
[3] Virkler nos ajuda a compreender algo da motivação do estudioso de tendência liberal: “Onde nos séculos anteriores a autoria divina da Escritura fora aceita, agora o foco era sua autoria humana. Alguns autores diziam que várias partes da Escritura possuíam diversos graus de inspiração […]outros escritores, como Schleirmacher, foram além, negando totalmente o caráter sobrenatural da inspiração […]
Os racionalistas alegavam que tudo o que não estivesse conforme à ‘mentalidade instruída’ devia ser rejeitado […] Os milagres e outros exemplos de intervenção divina eram regularmente explicados de forma satisfatória como exemplos de passado pré-crítico […] Cada um desses pressupostos influenciou profundamente a credibilidade que os intérpretes davam ao texto bíblico, e, desse modo, teve importantes implicações para os métodos interpretativos. A pergunta dos eruditos já não era ‘Que é que Deus diz no texto?’, e, sim ‘Que é que o texto me diz a respeito do desenvolvimento da consciência religiosa deste primitivo culto hebraico?’”, em Henry A. Virkler, “Hermenêutica Avançada: princípios de interpretação bíblica”, (São Paulo, SP: Editora Vida, 1999), 9ª impressão, PP. 51 e 52.
[4] Leandro Narloch, p.17.
[5] Algumas destas questões são mais amplamente debatidas num livro enxuto e didático de Lee Strobel, recomendável para quem quiser se iniciar nas diversas perspectivas de estudo neo-testamentário. Ver Lee Strobel, “Em defesa de Cristo” (São Paulo, SP: Editora Vida Nova, 2001).
[6] Leandro Narloch, p. 18.
[7] Idem.
[8] Recontei estes fatos numa espécie de ensaio poético, em Douglas Reis, “Poderes”, disponível no seguinte endereço: http://whatgodfews.rediffiland.com/blogs/2007/06/06/PODERES.html.

A CERVEJA DO PECADO


Gente sedutora "pagodeando" numa praia. Cenas movimentadas, de muita festa. Os comerciais de cerveja estão entre os mais apelativos. Dão a falsa idéia de alegria e descomprometimento (ironicamente, sugerindo a mesma vida irresponsável dos alcoólatras…).

Mas até então, ninguém havia explorado com tanta clareza a relação entre cerveja e pecado como o fez a Schincariol. O anúncio da cerveja “Devassa” (nome apropriado, não?), proibido pelo Concelho Nacional de Auto-regulamentação publicitária (Conar), reza o seguinte:

“Antes de Cristo, alguns povos já faziam cerveja artesanal. Ainda bem que depois de Cristo inventaram o pecado.”

O Conar considerou o slogan inadequado e desrespeitoso.
[1] Nem é preciso dizer o porquê.

Em tempo: Entre os povos antigos que faziam cerveja, estavam os filisteus. Pela freqüência com que vemos Sansão presente em festas filistéias na Bíblia, dá para imaginar o quanto ele não gostava de uma cervejinha...

[1]Extraído do jornal “A Notícia”, terça-feira, 26 de Fevereiro de 2008, seção “Frases”.

O SÁBADO NO IMPOSTOR


Apesar de não ser um guardador do sábado, em seu livro "O impostor que vive em mim" Brennan Manning faz reflexões sublimes sobre a observância sabática no judaísmo. Medite no texto:

"O sétimo dia celebra a conclusão de toda a obra da criação e é considerado santo pelo Senhor. O sábado é um dia sagrado, reservado para Deus, um período específico de tempo consagrado a ele. É uma data comemorativa judaica, dedicada àquele que disse: 'Eu sou o Senhor seu Deus, seu Criador'. O sábado era um reconhecimento solene de que Deus tinha direitos supremos, um ato público de apropriação no qual a comunidade de fé reconhecia dever a própria vida e existência ao Outro. Como um dia memorial da criação, o sábado significa louvor de adoração e ação de graças por todos os atos bondosos de Deus, por tudo aquilo que os judeus eram e tinham. O descanso devido ao trabalho executado era uma questão secundária." Brennan Manning, "O impostor que vive em mim" (São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2007), 2ª ed., p. 88

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A CANÇÃO E A VIDA: A COERÊNCIA NECESSÁRIA ENTRE O USO DA MÚSICA E UMA VIDA AUTENTICAMENTE CRISTÃ




“Tenho que agradecer porque eu tenho uma vida abençoada. Ele existe em minha vida.” Esta frase, cheia de fervor religioso, não foi dita em uma igreja, mas em meio ao final do show da banda Babado Novo, na terça-feira do Carnaval baiano. Cláudia Leitte, ex-vocalista da banda, proferiu as palavras, enquanto se despedia de seus companheiro. [1] Cláudia, que está investindo pesado em sua carreira solo, tem feito notórias demonstrações de sua espiritualidade. A revista Veja, em matéria sobre a artista, observou: “A cantora fala em Deus a todo instante e, mesmo quando rebola no palco, se preocupa em não parecer vulgar. ‘Uso shortinho para valorizar minhas curvas, mas sem desrespeitar a Deus.’” [2]
Parece surpreendente que algumas noções bíblicas sobre conduta sejam ignoradas mesmo por pessoas que se declarem religiosas ou “abertas à espiritualidade”. Esse contrassenso pode ser explicado pela “modernidade religiosa”, mais descomprometida e livre de padrões encontrados em instituições cristãs tradicionais. [3] Ou seja, seguindo esse novo paradigma, todos falam livremente de Jesus sem haver necessariamente um compromisso religioso formal ou um comportamento que se enquadre naquilo que a moralidade cristã há séculos tem disseminado.
O fenômeno da “modernidade religiosa” atrai cada vez mais a atenção de antropólogos, sociólogos e estudiosos do campo religioso. Geralmente o enfoque de muitas dessas pesquisas recai sobre as formas de se cultuar a Deus. Também não é incomum a mídia secular comentar, grosso modo mordazmente, as extravagâncias de cultos ou de determinados músicos e eventos musicais do mundo gospel. [4]
Talvez vitimada por essa febre de interesse na mudança do paradigma religioso, a revista Galileu tenha publicado, no mês de Fevereiro, uma reportagem destinada a retratar grupos religiosos que buscam atrair determinados segmentos da sociedade através de formas pouco convencionais de cultuar a Deus. [5] Ao se deparar com a matéria, um leitor mais avisado percebe de imediato um lapso do articulista, que afirma que a revista visitou certos segmentos religiosos com o fito de “[…] entender os novos caminhos do protestantismo no Brasil.” [6] 
É preciso que se estabeleça a distinção entre os protestantes, grupos cristãos surgidos a partir ou sob a influência da Reforma Protestante do século XVI, e os pentecostais, grupos de cristãos surgidos no início do século passado: os primeiros enfatizam princípios como sola Scriptura (fé somente baseada na Escritura), desenvolvendo um estilo de vida baseado no que acreditam ser princípios bíblicos. O culto em tais igrejas é, em geral, pacífico, sem grandes exibições teatrais, focado no estudo da Bíblia e bem próximo da imagem que a maioria das pessoas esperaria encontrar em um culto cristão. 
Os pentecostais, por sua vez, enfatizam a experiência mística intensa, explorando a adoração que leva a um êxtase místico, que, naqueles grupos mais antigos, é atingido quando a música utilizada pelos adoradores (bastante dinâmica e ritmada) conduz à glossolalia (o falar em línguas estranhas); presente em um culto realizado no BOPE (Batalhão de Operações Especiais da PM carioca), a reportagem de Galileu descreve que na “plateia, algumas pessoas entraram em uma espécie de transe conhecido como ‘falar línguas estranhas’, no qual o fiel supostamente possuído por alguma força espiritual, diz coisas sem sentidos. Outros falam sozinhos, convictos de que conversaram diretamente com Deus.” [7] Essa descrição não pode ter qualquer relação com supostos caminhos do “protestantismo no Brasil”, porque se trata claramente de um culto pentecostal!
Feita essa ressalva, a matéria segue descrevendo o marcante “tom emocional” presente nas reuniões realizadas no BOPE. Além de retratar as experiências místicas, Galileu mostra a tendência das denominações pentecostais de utilizar versões “cristianizadas” de ritmos seculares para atrair novos adeptos. Em certo trecho, podemos ler que

Na igreja, [o pastor Silas] Rahal promove algumas vezes por ano shows abertos, nos quais qualquer banda pesada, cristã ou não, pode chegar e dar uma canja. Ele mesmo inicia o evento cantando e tocando uma guitarra distorcida, acompanhado por adolescentes no baixo e na bateria. Toca uma dezena de músicas, quase todas falando de Deus […] [8] 

O pastor Rahal, incentiva os seus fiéis a participar de seus cultos-shows comparando “a dança das festas da Palestina”, as quais “Jesus e os apóstolos adoravam” ao punk – “tenho certeza de que se vivessem hoje, [Jesus e os apóstolos] estariam conosco.”[9]
Outro exemplo da mesma tendência de uso da música secular é citado na matéria; o pastor Anderson Dias Barbosa, ex-membro da igreja Renascer em Cristo, e líder da Comunidade Crescendo na Graça, diz que seu foco é “200.000 % hip hop”. [10] Sua denominação atinge pessoas da periferia, que se identificam não apenas com a opção musical, mas com o estilo de vida adotado pelos membros da igreja – bem próximo delas mesmas.

Em contrapartida, essa forma de evangelizar não é hegemônica entre os cristãos. Muitos pensam que esses procedimentos descaracterizam o estilo de vida bíblico. Até que ponto podem os cristãos influenciar outras pessoas se sua mensagem é divulgada em meios associados à violência, sensualidade, rebeldia ou contra-cultura?
Charles Colson argumenta que

“O perigo é que a cultura popular cristã possa imitar a cultura em voga, mudando somente o conteúdo. O mercado musical abunda de rock e rap cristãos, blues e jazz cristãos, heavy metal cristão. […] De muitas formas, este é um desenvolvimento saudável, mas sempre precisamos perguntar: Estamos criando uma cultura genuinamente cristã, ou estamos simplesmente criando uma cultura paralela com uma aparência cristã? Estamos impondo um conteúdo cristão a uma forma já existente? A forma e o estilo sempre transmitem uma mensagem própria.” [11]

De uma perspectiva bíblico-cristã, é preciso que se considere até que ponto é saudável ao culto uma abordagem que se baseie na proximidade com quem se quer evangelizar em detrimento de profunda consideração sobre o que o próprio Deus revelou a respeito de Si e da forma como quer ser adorado – tanto na esfera congregacional como na vivência pessoal.


[1] Exibido em reportagem do programa SBT Brasil, em 5 de Fevereiro de 2008.
[2] Sérgio Martins, A aposta de Cláudia, in Veja, edição 2049, ano 41, número 8, 27 de Fevereiro de 2008.
[3] Para uma abordagem mais abrangente deste ponto, o leitor poderá consultar Douglas Reis, A música sacra dentro da cosmovisão adventista: interpretando e aplicando conceitos de Ellen White, primeira parte, disponível em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2007/09/msica-sacra-dentro-da-cosmoviso.html. Ali se comenta sobre os efeitos da “modernidade religiosa”, com seu perigoso subjetivismo aplicado aos critérios (ou falta deles) na adoração.
[4] Um exemplo recente se encontra em Felipe Patury, A voz não era da Terra, entrevista com Sarah Sheeva, cantora gospel, publicada na seção “Holofote”, Veja, edição 2049, ano 41, número 8, 27 de Fevereiro de 2008.
[5] Pablo Nogueira, Evangélicas customizadas, in Galileu, Fevereiro de 2008, número 199.
[11] Charles Colson e Nancy Pearcey, O cristão na cultura de hoje: desenvolvendo uma visão de mundo autenticamente cristã (Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2006), 2ª edição, p. 291.


RESCISÃO DE CONTRATO: O DRAMA DE UM PROFETA MESQUINHO - parte 2


Deus dá um passo além de simplesmente contrariar nossas intenções originais: Ele coloca em nossa boca as intenções divinas. O eco caloroso das igrejas chega aos nossos ouvidos, em chavões carregados de glicose – “venha como você está”, ouvimos. Nada contra. O problema passa a existir quando a verdade do Evangelho é diluída, e essa receptividade torna-se conivente. É um problema relacionado não com aquilo que a frase “venha como você está” diz, mas com aquilo que ela omite.

Se formos a Jesus como estamos, podemos apostar até o último centavo que Seu amor nos receberá. Nosso Salvador é capaz de acariciar os cabelos empapados do filho pródigo e beijar sua face ensebada. Acontece que ir a Jesus significará, em algum momento, ser coberto pelo manto de Sua justiça e receber o anel de herdeiros de Seu reino. A partir daí, mudanças radicais têm lugar! O perdão e a transformação de coração são presentes simultâneos de um Pai que quer o melhor para os filhos. Isto também está no contrato (leia os termos: Hebreus 10:16-17).

Claro que, na vida de Balaão, o processo ocorreu de outra forma. Não se pode afirmar que houvesse uma mudança interior na vida do homem contratado pelos moabitas. Deus constrangeu Balaão a obedecê-Lo, já o dissemos. Por intermédio do profeta, Deus exercia Sua soberania para ser reconhecido pelos pagãos. Estamos tratando de um caso especial.

Em contrapartida, no se refere à salvação de indivíduos, o Senhor interage mais abertamente com a nossa vontade. Faz-se necessário uma obra da vontade em aceitar lançar fora o entulho de intenções humanas. Semelhantes a cascas de fruta sobre a pia, nossas intenções ajuntam moscas. Estão podres. O pecado as corrompeu terminalmente. Jesus espera o engajamento da alma no processo em que as intenções humanas cedam, palmo a palmo, espaço às intenções divinas. Sendo naturalmente carnais até a medula, interagir com Deus é nossa única solução.

No ringue, não podemos acompanhar os movimentos rápidos das inclinações sensuais; torna-se impossível encontrar os desejos egoístas com a guarda desarmada; num instantes, a ganância nos desfere uma seqüência de golpes no rosto; finalmente, o arremate: um direto de esquerda aplicado pela sede de aplausos. Somos nocauteados pela natureza pecaminosa (inerente ao nosso ser) caso lutemos sozinhos. Entretanto, quando se confia na graça de Jesus, nossa vitória não será recompensada por um mero cinturão – alcançaremos caráter santificado!

Confiança – eis a base da sociedade que Deus propõe a mim e a você. Justo, não é? O Senhor espera obediência; ao mesmo tempo, disponibiliza a força que nos fará obedientes. Por que alguém em sã consciência rescindiria um contrato de amor como este?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

RESCISÃO DE CONTRATO: O DRAMA DE UM PROFETA MESQUINHO - parte 1




Em 2005, provavelmente nenhuma outra polêmica esportiva tenha sido tão tumultuada no Brasil quanto a que envolveu o atacante Robinho e o seu antigo clube, o Santos Futebol Clube. A imprensa esportiva chegou a especular que, uma vez enturmado com os demais atletas da Seleção Brasileira de Futebol, o jogador teria decidido-se por jogar na Europa. Para tanto, Robinho se veria obrigado a rescindir o contrato com o clube paulista, com qual se comprometera até 2007.

A multa prevista para a rescisão – de 50 milhões de dólares – não impediu que o craque, o Santos e o clube espanhol Real Madri chegassem a um acordo: o Real depositou 60% deste valor para o Santos; segundo o empresário de Robinho, o jogador, que teria direito aos outros 40%, abriu mão de sua parte, objetivando acelerar a contratação; finalmente, o atacante voltou a treinar no Santos (após uma ausência lamentada pela torcida e comemorada pelos rivais!).

Certo. Este tipo de polêmica já não recende a novidade, quer no mundo esportivo, ou nos negócios em geral. Contratos são feitos e rompidos a cada alarme do despertador. Inadimplência deixou de ser um termo obtuso, para cair na boca (e nas graças) do povo. Ter um nome escrito sobre a linha pontilhada tem progressivamente significado menos.

Balaão que o diga! Apesar de ter sido contratado para amaldiçoar Israel (Números 22:4-6), podemos encontrá-lo fazendo justamente o contrário – abençoando! Profeticamente, ele declara que não poderia “amaldiçoar a quem Deus não amaldiçoou” (Números 23:8 pp). Em seu íntimo, Balaão queria amaldiçoar o povo de Deus; ele estava mais ansioso para isso do que uma criança diante de um pote de sorvetes. Ainda mais, porque de cumprir com o contrato dependia o pagamento de Balaão. No entanto, se é correto dizê-lo dessa forma, Deus “constrangeu” o profeta tinhoso. Em Sua soberania, o Senhor censurou Balaão, fazendo-o pensar duas vezes antes de acrescentar uma vírgula à mensagem do Céu.

E o que você tem que ver com isso? Sugiro que uma grande lição deva ser extraída deste relato: Deus cumpre Sua vontade em cada um de seus filhos. De acordo com o livro de Números, Deus faz isso pelo menos de duas maneiras.

Em primeiro lugar, Deus contraria nossas intenções originais. O vidente Balaão foi convocado para maldizer, queria amaldiçoar, planejou-se para as piores maldições, repassou os encantamentos aprendidos na faculdade, levou um Kit completo de maldições, e…acabou abençoando o povo de Deus (Números 23:7-10). Deus o contrariou totalmente.

Muitas de nossas orações e desejos “inofensivos” serão atirados à lama, e nem saberemos o porquê. Para alcançar propósitos sublimes, Deus não nos pergunta qual seria o assento mais confortável ou o caminho com menos curvas. Ele estende Sua mão numa fúria aparentemente incabível. Sem sabermos, Ele apenas está cumprindo Sua parte no contrato.

Fala-se muito em “alcançar os sonhos”, “dar o seu melhor”, “acreditar em si mesmo”. Todo esse desfile de chavões surgido de palestras de auto-ajuda e de filmes de Hollywood parece convincente. Mais até: são mensagens suculentas! Quando, porém, voamos nas nuvens, não demora muito até nos esborracharmos numa parede sólida chamada “realidade”. Nem um quinto de nossos sonhos serão alcançados.

Se sentimos necessidade de lutar por algo, confirmando assim que o sangue em nossas veias não se tornou carvão, compensaria lutar por um objetivo sem ter certeza de que aquilo será o melhor para nós? Até que ponto realizar um sonho é bom, se, por causa dele, frustramos, de forma consciente ou inconsciente, o plano que Deus nos reservara?

Talvez você não seja capaz de colocar em um mapa o caminho pelo qual Jesus lhe conduziu. Não existem organogramas exatos para a trajetória espiritual; o Espírito de Deus nos faz atravessar rotas surpreendentes (João 3:8). Basta confiarmos na familiaridade de nosso Guia com o trajeto.

Ou seja: não, Deus não achou “coisa mais interessante” para ocupar Seu fim de semana! Se Ele permite tragédias e desapontamentos, nem por isso Seu divino coração fechou as portas para as suas súplicas. Aprenda a se disciplinar para ouvir a voz de Deus sussurrando por entre os gritos de tempestades.

Lembro-me de que meu pai saía de manhã comigo e meu irmão. Pegávamos o mesmo ônibus, sendo que nós dois descíamos no mesmo ponto, já próxima à escola. Meu pai seguia até o trabalho. Isto até voltarmos a ter um carro próprio. Apesar da estatura de meu irmão, ele já tinha idade para pagar a passagem, coisa que meu pai fazia questão que acontecesse, e não acho que meu irmão considerasse algo ruim passar “por cima” da catraca.

Numa dessas manhãs rotineiras, meu pai já havia passado para a parte da frente do transporte coletivo. Seus filhos se preparavam para fazer o mesmo. Um senhor no fundo do ônibus, motivado sabe-se-lá-pelo-quê, percebeu que meu irmão pagaria a passagem. Imediatamente, o estranhou começou a gritar: “passe por baixo, e economizem o dinheiro!”

Imagino que espécie de indignação surpresa não passou pela cabeça de meu pai… Ele simplesmente ordenou ao meu irmão: “Daniel, passe por cima mesmo!”

A quem você acha que meu irmão obedeceu – a um estranho, ou ao seu pai? Obediência é uma questão de confiança. Se confiarmos em Deus, teremos o anseio supremo de obedecê-Lo em quaisquer circunstâncias. Não importa se a vida nos desvendar paisagens áridas ou penhascos escarpados; ao confiarmos em Deus, teremos a convicção de que, independente do que se passa ao redor, ou mesmo internamente, em nosso coração espevitado, a mão do Redentor estará nos apoiando, em direção ao que Ele sabe ser o melhor. Isto faz parte do contrato que assinamos com Deus.

CELIBATO: A CONTROVERSA HERANÇA DE GREGÓRIO VII




Entre outros itens, o décimo segundo Encontro Nacional de Presbíteros questionou o celibato. Os 430 delegados presentes no encontro, realizado na cidade de Indaiatuba (SP), pretendem encaminhar ao Vaticano um pedido para que sejam aceitos no sacerdócio católico padres que vivam em condição matrimonial, incluído a “readmissão” de padres que deixaram a batina para se casarem.

O celibato está longe de constituir ordenança ou sequer recomendação bíblica (e o texto de 1 Coríntios 7:9 está aí para mostrar que os casos de pedofilia e muitos dos escândalos sexuais envolvendo padres poderia ser evitado…).

Foi Gregório VII (cujo pontificado se entendeu de 1020 – 1085) quem generalizou a prática entre todos os sacerdotes romanos (antes o celibato estava restrito a algumas ordens monásticas). O papa Gregório chegou mesmo a declarar preferir padres “adúlteros, devassos e sodomitas [homossexuais]” àqueles que se casavam. E deu no que vemos hoje!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

FIM DA ERA FIDEL: AVANÇO DO QUADRO PROFÉTICO

Uma notícia bombástica chegou às nossas casas através do jornal da noite: o líder cubano, Fidel Castro, renunciou ao cargo de presidente de Cuba. Através do “jornal ‘Granma’ (órgão oficial do Partido Comunista cubano)” a mensagem do ex-ditador era inequívoca: “‘Não aspirarei nem aceitarei - repito -, não aspirarei nem aceitarei os cargos de Presidente do Conselho de Estado e de comandante em chefe’”. [1]

Operado pela primeira vez em 27 de Julho de 2006, o ex-líder cubano suportaria ainda
“[…´] quase 19 meses de convalescença de uma grave doença - de origem intestinal”, a mesma que forçou-o a nomear o irmão Raúl Castro ministro da Defesa a assumir a presidência em caráter provisório, em 31 de Julho de 2006. Ultimamente, Fidel, vitimado por uma nova crise, “admitiu que esteve à beira da morte. Perdeu quase 20 quilos nos primeiros 34 dias de crise, passou por várias cirurgias e dependeu por muitos meses de cateteres.”
[2]

Esperançoso, Fidel arrisca-se em afirmar que "as novas gerações contam com a autoridade e a experiência para garantir a sua substituição". De fato, uma “nova Assembléia do Poder Popular, o parlamento nacional, foi eleita em janeiro, e terá sua sessão inaugural domingo, quando renovará o Conselho de Estado, incluindo a presidência. […] Ele [Fidel] foi eleito para a assembléia e poderia, legalmente, se apresentar como candidato à reeleição.”[3]

Há um ar de romantismo aventuresco na trajetória de “O Comandante”, como é respeitosamente evocado por seus admiradores (entre os quais, os presidentes Lula, Hugo Chaves e Evo Morales, respectivamente, do Brasil, Venezuela e Bolívia). Fidel “foi o líder do movimento que derrubou o líder pró-Estados Unidos Fulgêncio Batista em 1º de janeiro de 1959. Ele comandou o regime cubano como primeiro-ministro por 18 anos, passando à Presidência do país por escolha da Assembléia, eleita após a aprovação da Constituição Socialista de 1976.”[4]

Obviamente, como a Revolução Cubana ocorreu em plena “Guerra Fria”, o fato de possuir um vizinho comunista não agradou em nada aos Estados Unidos. A famigerada CIA chegou a tentar invadir o país em 17 de Abril de 1961, um dia depois de “O Comandante” declarar sua revolução socialista. Fidel sofreu tentativas de assassinato. Ao todo “dez administrações americanas” teriam tentado tirá-lo do poder. “A hostilidade chegou ao seu auge em 1962, com a crise em torno dos mísseis cubanos”, quando se aventou que Cuba serviria de base estratégica da então super-potência soviética. [5]

A notícia da renúncia de Fidel soma-se a outras, como a queda do muro de Berlim (em 9 de Novembro de 1989) e o fim da antiga União Soviética (em Agosto de 1991). Montando as peças do quebra-cabeça político, percebemos que a única super-potência isolada e autônoma é mesmo o Estado Norte-americano. Isto teria algum significado especial dentro daquilo que a Bíblia descreve comoprestes a acontecer nos dias finais da História humana?

Há vinte séculos, o profeta João já havia predito que um poder nacional emergente surgiria no tempo do fim (por volta da data que tanto o livro de Daniel e o Apocalipse prevêem para o fim da perseguição católico-medieval aos cristãos, ou seja, os 1260 dias, concluídos em 1798). João fala dessa nação como capaz de reestabelecer o poder perseguidor que dominou a Europa na idade Média. Que nação seria essa?

Por necessidade, citamos este texto de Ellen White, que, embora extenso, é esclarecedor:

“Que nação do Novo Mundo se achava em 1798 ascendendo ao poder, apresentando indícios de força e grandeza, e atraindo a atenção do mundo? A aplicação do símbolo não admite dúvidas. Uma nação, e apenas uma, satisfaz às especificações desta profecia; esta aponta insofismavelmente para os Estados Unidos da América do Norte. Reiteradas vezes, ao descreverem a origem e o crescimento desta nação, oradores e escritores têm emitido inconscientemente o mesmo pensamento e quase que empregado as mesmas palavras do escritor sagrado. A besta foi vista a ‘subir da terra’; e, segundo os tradutores, a palavra aqui traduzida ‘subir’ significa literalmente ‘crescer ou brotar como uma planta’. E, como vimos, a nação deveria surgir em território previamente desocupado. Escritor preeminente, descrevendo a origem dos Estados Unidos, fala do ‘mistério de sua procedência do nada’ (G. A. Towsend, O Novo Mundo Comparado com o Velho), e diz: ‘Semelhando a semente silenciosa, desenvolvemo-nos em império.’ Um jornal europeu, em 1850, referiu-se aos Estados Unidos como um império maravilhoso, que estava ‘emergindo’ e ‘no silêncio da terra aumentando diariamente seu poder e orgulho’. - The Dublin Nation.”
“Aqui está uma impressionante figura da elevação e crescimento de nossa própria nação [Estados Unidos]. E os chifres semelhantes aos de um cordeiro, emblemas de inocência e brandura, representam corretamente o caráter de nosso governo, segundo é expresso em seus dois princípios fundamentais: republicanismo e protestantismo.”[6]

Assim, podemos entender melhor a profecia de João:

“E vi subir da terra outra besta[Os Estados Unidos da América], e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como dragão. Também exercia toda a autoridade da primeira besta [o poder político-religioso do Catolicismo Romano] na sua presença; e fazia que a terra e os que nela habitavam adorassem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. E operava grandes sinais, de maneira que fazia até descer fogo do céu à terra, à vista dos homens; e, por meio dos sinais que lhe foi permitido fazer na presença da besta, enganava os que habitavam sobre a terra e lhes dizia que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.” Apocalipse 13:12-14.

Parece inacreditável que um país fundamentado na liberdade religiosa promova uma perseguição medieval, e isto numa era pós-moderna, marcada pelo relativismo moral. No entanto, parecia impossível afirmar os demais dados presentes nas palavras do Apocalipse nas décadas de 60, 70 ou mesmo 80, quando o mundo estava dividido em dois blocos econômicos – um socialista e o outro capitalista.

Agora, décadas depois dos estertores da União Soviética, Cuba passa por um período de transição, no qual seu comunismo revolucionário, encenado por cinco décadas pelo ditador Fidel, dá sinais de não poder ir adiante. Mais do que nunca, parece que os Estados Unidos impõe seu modelo ao mundo, sem um adversário à altura, ou sequer um foco de resistência, como a República Cubana vinha sendo. Resta-nos esperar o desenrolar dos acontecimentos para acompanhar o cumprimento profético que desencadeará no realizar-se de nossas esperanças: o retorno do Senhor (Lucas 21:28).

[1]“ Fidel Castro renuncia após 50 anos no poder”, disponível em http://www.record.pt/noticia.asp?id=776073&idCanal=127,.
[2]“ Fidel Castro renuncia à presidência de Cuba”, Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008, disponível em http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI2465469-EI8140,00.html.
[3] “ Após 49 anos no poder, Fidel Castro renuncia à Presidência”, disponível em http://www.estadao.com.br/internacional/not_int126945,0.htm.
[4] Idem.
[5]“ Após 49 anos, ditador Fidel Castro renuncia ao poder em Cuba”, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u373754.shtml.
[6] Ellen G. White, Maranata! (Meditações Matinais), p. 191

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

VEM AÍ A MORTE DO MAR



Uma maneira diferente de expressar a fé. Um canto dissonante, cheio de surpresas. Uma proposta a partir de uma compreensão cristã do mundo, da realidade, da arte e da vida. Em breve, "A Morte do Mar".

PELÉ TERMINA CASAMENTO POR MOTIVOS RELIGIOSOS



Os meios de comunicação estão difundindo maciçamente a notícia de que o casamento do atleta do século, Pelé, com a cantora evangélica (da denominação Batista) Assíria chegou mesmo ao fim. Essa seria uma decisão partida do próprio Pelé, alegando que “Incompatibilidade de agendas” e "excesso de compromissos" acabaram com a relação, segundo foi divulgado por sua acessória de imprensa.[1] Segundo a mesma, o rei teria dito que o processo de separação estaria “sendo concluído amigavelmente”.[2]

A revista Veja, que dedicou a seção “Sociedade” à notícia, apresentou inúmeras razões para o litígio, destacando o fator religioso. Segundo a reportagem, Assíria descobrira possuir uma “ascendência judaica”, passando a estudar o hebraico e passado a “tentar conciliar as atividades da igreja Batista com as da sinagoga”.

Assíria teria declarado à revista que a “única diferença entre as religiões [cristã e judia] é que muitos judeus ainda estão esperando o Messias. Eu creio que Jesus é o Messias, mas isso não faz de mim menos ou mais judia.” Sobre sua separação, a cantora gospel afirmou: “Nada é consumado. Divórcio não é solução, nunca foi nem nunca será.”
[3]

Surpreendentemente, Assíria divulgou em nota que as declarações a ela atribuídas pela revista Veja seriam falsas e que não teria cometido a “deselegância” de tratar “em público o que é privado”. Para a cantora,

“A tentativa da revista 'Veja' de passar uma imagem minha de fanática religiosa é inteiramente absurda. Uma das marcas da minha família sempre foi a pacífica convivência religiosa. Tanto que casei-me em igreja evangélica e meus filhos gêmeos foram batizados em igreja católica. Quanto ao resgate das minhas raízes judaicas, isso é informação velha, de três anos atrás, requentada por profissionais da mídia quem não têm o que dizer.”
[4]

É claro que este caso, com suas especulações midiáticas, comuns em toda história que envolva celebridades, expressa o tipo de conflito que muitos lares enfrentam devido a fatores religiosos. O próprio Senhor Jesus advertiu os seus apóstolos, na ocasião em que os enviou pela primeira vez à uma atividade missionária sozinhos de que as famílias se desuniriam por causa de sua mensagem. “O irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai, o seu filho; filhos se rebelarão contra seus pais e os matarão.” Mateus 10:21 e 22. Em outro momento, Jesus também declarou: “Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pai ou filho por causa do Reino de Deus deixará de receber, na presente era, muitas vezes mais, e na era futura, a vida eterna.” Lucas 18:29 e 30.

É claro que o cristão não deve provocar intrigas ou prover motivos que façam seu cônjuge insatisfeito. Somos os primeiros a ter a obrigação de cooperar e criar as condições para solucionar eventuais impasses. O apóstolo Paulo aconselha a todos os cristãos que se converteram já casados que permaneçam no estado civil em que foram chamados (I Coríntios 7:17, 20), nunca tomando a iniciativa pelo divórcio quando a questão for divergência de credos, mas santificando o seu cônjuge, na esperança de “ganhá-lo” para Cristo (v. 12-14).

[1]“ Casamento de Pelé com Assíria Lemos chega ao fim”, disponível em http://br.esportes.yahoo.com/13022008/25/esportes-casamento-pele-assiria-lemos-chega.html.
[2] Luciana Franca, “ Ponto Final”, revista Isto É, 20 de Fevereiro de 2008, número 1998, quadro “Gente”, p. 59.
[3] Sandra Brasil, “O rei está solteiro”, revista Veja, edição 2048, ano 41, número 7, 20 de Janeiro de 2008.
[4] “ Ex-esposa de Pelé nega que tenha falado à revista ‘Veja’”, disponível em http://noticias.uol.com.br/ultnot/brasil/2008/02/16/ult4469u19439.jhtm.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

RECONSTITUIÇÃO DA MORTE DE JESUS NA REVISTA ISTO É


Esta semana, tive uma surpresa: é comum ver as revistas semanais atacando a fé cristã por meio de artigos sensacionalistas; portanto, quando uma dessas publicações aborda a conexão entre a fé e a ciência de forma positiva, isto é praticamente um achado. Foi justamente isso que senti ao me deparar com a edição desta semana da revista Isto é.[1] A reportagem, intitulada “Como Morreu Jesus”, trata do lançamento no Brasil do livro A crucificação de Jesus – as conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal”, da autoria do médico legista Frederick Zugibe, que já foi patologista-chefe do Instituto Médico Legal de Nova York.

A proposta do trabalho é, seguindo as evidências bíblicas, reconstituir o que provavelmente causou a morte de Jesus. Na avaliação feita pela reportagem de Época, Zugibe “juntou ciência e fé e atravessou meio século de sua vida debruçado sobre a questão da verdadeira causa mortis de Jesus.” p. 78
Seguem-se alguns destaques do artigo de Isto É:

“Jesus morreu de parada cardiorespiratória decorrente de hemorragia e perda de fluidos corpóreos (choque hipovolêmico), isso combinado com choque traumático decorrente de castigos físicos a ele infligidos” p. 78 [os grifos anteriores e os que se seguiram estão originalmente no texto de Isto É].
“fala-se sempre das dores físicas de Jesus, mas o seu tormento e sofrimento, segundo o autor, não costumam ser lembrados e reconhecidos pelos cristãos: ‘Ele foi vítima de extrema angústia mental e isso drenou e debilitou a sua força física até a exaustão total.’” p. 78

Conclui que Jesus recebera 117 golpes, uma vez que o chicote usado possuía três pontas. “a vítima era reduzida a uma massa de carne exaurida e destroçada, ansiando por água” p. 80

A coroa de espinhos, para qual, segundo a pesquisa de Zugibe, foi usado o espinheiro-de-cristo sírio. “o que essa coroa provocou no organismo de Cristo? Os espinhos atingiram ramos de nervos que provocam dores lancinantes quando são irritados. A medicina explica: é o caso do nervo trigêmeo, na parte frontal do crânio, e do grande ramo occipital, na parte de trás. A dores do trigêmeo são descritas como as mais difíceis de suportar – e há casos nos quais nem a morfina consegue amenizá-las.” p.80

Sobre a Via Crucis: “seguiu-se então uma caminhada que os cálculos de Zugibe estimam em oito quilômetros. Segundo ele, Cristo não carregou a cruz inteira, mesmo porque a estaca vertical costumava ser mantida fora dos portões da cidade, no local onde ocorriam as crucificações.” A parte horizontal da cruz pesava 22 quilos. p. 80

A respeito dos cravos: “esses objetos perfuraram as palmas de suas mãos, pouco abaixo do polegar, região por onde passam os nervos meridianos, que geram muita dor quando feridos.” p. 80

Ainda sobre os pregos, “os pés de Cristo foram pregados na cruz, um ao lado do outro, e não sobepostos […] Os pregos perfuraram os nervos plantares, causando dores lancinantes e contínuas.” p.80

A conclusão de Zugibe: “Depois de realizar os meus experimentos, eu fui às escrituras. É espantosa a precisão das informações.” p. 81


Leia Também: "O Evangelho segundo a Medicina"

[1] Natália Rangel, “Como morreu Jesus”, Isto É, número 1998, Ano 31, 20 de Fevereiro de 2008.

NO FUNDO, EU QUERO REINAR - parte 2



Não perca esta seqüência por nada no mundo:

"os israelitas pediram a Gideão: ‘Reine sobre nós, você, seu filho e seu neto, pois você nos libertou das mãos de Midiã. ’
“‘Não reinarei sobre vocês’, respondeu Gideão, ‘Nem meu filho reinará sobre vocês. O Senhor reinará sobre vocês.’"Juízes 8:22 e 23.

Esse diálogo entre Gideão e líderes de tribos vizinhas pode dar a falsa impressão de que o filho de Joás era humilde demais para querer aceitar a proposta de estabelecer uma dinastia. Ou que, por outro lado, Gideão reconhecia o direito divino ao trono. Afinal, no dicionário israelita o termo “monarquia” não constava como um verbete; o que se conhecia era a Teocracia.

Se a Bíblia fosse um filme e a história de Gideão terminasse nesta cena, ele seria o mesmo herói dos flanelógrafos que mostramos às crianças na igreja. Gideão, o corajoso iconoclasta. Gideão, o líder seletivo. Gideão, o estrategista criativo. Gideão, o vitorioso abnegado. Contudo, a Bíblia é uma narrativa sem tapetes que escondam a sujeira varrida. A mensagem de Deus é objetivamente verdadeira. Gideão surge, no final da narrativa, com um espectro novo, como se nota nessas palavras:

“[…]‘Só lhes faço um pedido: que cada um de vocês me dê um brinco da sua parte dos despojos’ (Os ismaelitas costumam usar brincos de ouro.)"Juízes 8:22 e 23.

Em decorrência da vitória militar alcançada, Gideão tinha um bom moral. De fato, astribos aliadas a ele responderam ao seu pedido em uma generosa doação de ouro, que em nossas medidas atuais seria algo entre 16 a 30 kg.

O que Gideão faria com tanta riqueza?

“Gideão usou o ouro para fazer um manto sacerdotal, que ele colocou em sua cidade, em Ofra. Todo Israel prostituiu-se, fazendo dele objeto de adoração; e veio a ser uma armadilha para Gideão e sua família." Juízes 8:22 e 23.

O manto sacerdotal ou éfode, era um objeto sagrado do culto israelita. Além de um peitoral formado por doze pedras, representando as doze tribos que constituíam Israel, o éfode continha o Umim e o Tumim, duas pedras usadas para consultar a Deus – uma vez feita a pergunta pelo sumo-sacerdote, ou uma delas brilhava, indicando resposta positiva, ou a outra acendia, sinalizando resposta negativa.

O único divinamente autorizado a utilizar essa forma de consulta era o sumo-sacerdote. Quando um líder ou rei requeria uma resposta do Senhor, recorria ao sumo-sacerdote, para que este, através do Umim e Tumim descobrisse a vontade de Deus.

Provavelmente Gideão estivesse bem intencionado ao construir seu éfode particular. Ocorre que, como em nossa própria esperiência, quando rejeitamos a soberania de Deus, começamos fazendo coisas que Deus não pediu, para terminarmos executando o que Ele proíbe.

Você pode até argumentar. Olhando para os lados, com um certo nervosismo no olhar. “Mas a Bíblia não diz claramente que…”. Sua mente começa a bombardear escusas. Desculpas. Justificativas. Para você, aquilo não passa de uma questão de opinião. Algo tão particular que a igreja, a família e os amigos não deveriam se intrometer. Há um certo impulso natural que deságua em palavras arrogantes e defensivas. A razão lhe parece óbvia: você está defendendo sua individualidade.

É fato que Deus o vê e respeita como indivíduo. Ele está aberto a ouvir seus argumentos, embora nossa humanidade soe ridícula aos nossos próprios ouvidos. Somos tacanhamente apegados àquilo que desperdiça o pouco tempo de nossa vida.

Ainda assim, Deus Se enche de amor quando expressamos nossos anseios diante de Sua presença. Nossa raiva não lhe desperta ojeriza. Nossa mágoa não precisa ficar retida até que o coração se apodreça. Podemos levar tudo o que nos fere, enferruja, mofa e destroça para o colo do Altíssimo.

Quando temos a experiência de estar na presença de Deus, nossa sinceridade se torna eloqüente, ao mesmo tempo que percebemos contemplativamente aquilo que nos impede de desfrutar ainda mais de uma comunhão constante com Ele. Aquilo que defendíamos com unhas e dentes tem, então, gosto de pó. Tudo se empalidece, porque o importante é agradá-Lo e nos deleitarmos em Seu convívio.

Apenas por teimosia resistimos à essa influência regeneradora. O pecado cria uma couraça sobre a consciência, impedindo o acesso do Espírito a coração, o que nos liberaria dos pecados que carregamos sobre a forma de “minhas opiniões pessoais”.

E isso está longe de ser tudo. Continue sentado, ouvindo: quando rejeitamos a soberania de Deus, a conseqüência recai sobre nós e nossa família. Note agora o que o texto continua narrando:

“[Gideão] teve setenta filhos, todos gerados por ele, pois tinha muitas mulheres. Sua concubina, que morava em Siquém, também lhe deu um filho, a quem ele deu o nome de Abimeleque." Juízes 8:22 e 23.

Como um desvio conduz a outro, encontramos Gideão perdido pela estrada, com uma família supra-desustruturada. Imagine: setenta filhos! Gideão não fundou um orfanato, recolhendo crianças carentes (todos os seus filhos eram “gerados por ele”); este estilo de vida, que o mais bem-sucedido guerreiro da tribo de Manassés adotou no fim de seus anos, guarda semelhanças com o dos chefes tribais da época, bem como dos reis pagãos. Haréns. Muitos filhos.

Um detalhe curioso: Gideão recusou ser rei, contudo, o filho de sua concubina (que não morava na mesma cidade e apenas “se encontrava” periodicamente com ele) era Abimeleque – que significa “meu pai é rei”. A mensagem presente no nome é bem clara: no fundo, Gideão queria mesmo era reinar.