sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A UM OVO PODRE NÃO SE CHOCA

É difícil dizer o que mais choca (com o perdão do trocadilho) em "O ovo da intolerância", texto palavroso e desnecessariamente arrogante de um certo médico de Porto Alegre. O senhor Paulo Bandarra, autor da "peça", podia nos poupar de seus descuidos gramaticais gritantes e de seu raciocínio tortuoso. Acima de tudo, seu preconceito salta à vista. Ele não esconde sua fúria justiceira contra os cristãos. Ora, até aí nada de assombroso, estamos em um país livre. No demais, sua escrita poderia passar sem ser notada, por sequer se mostrar digna de alguma atenção. Todavia, quem sabe ocorra que alguma alma bem intencionada se confunda com as linhas virulentas de Bandarra; diante desta possibilidade, apresentamos algumas ponderações, para que os leitores imparciais comparem as linhas de argumentação e decidam por si mesmos pelo que lhes pareça mais razoável. Afinal, por mais que o Sr. Bandarra insista em atribuir irrazoabilidade à fé (talvez pretendendo vacinar o leitor contra os criacionistas), penso que o diálogo aberto ainda se constitui em uma maneira civilizada para se promover reflexão, tanto em nível pessoal, quanto social.

Em primeira instância, o Dr. Bandarra se vale de um conceito popular para aquilatar a fé cristã. Para o autor, "a fé é uma força de intolerância importante no mundo", uma vez que sua característica mais perceptível seja a irracionalidade. A argumentação circular até chega a admitir que "fé sempre é irracional. Senão, não seria fé. Seria evidência." O equívoco é flagrante: embora a fé exija confiança (presente no termo grego "pistis"), esta confiança está condicionada a um relacionamento com Deus e às evidências que Ele fornece. Fé e evidência não são elementos mutuamente excludentes, tanto que a palavra hebraica para fé traz a conotação de algo correto, confiável, digno de crédito. A tradução de Hebreus 11:1, segundo sugerem alguns comentários, poderia perfeitamente ser: "Agora, fé é a substância das coisas esperadas [uma espécie de prêmio antecipado], a evidência das coisas que não se vêm." A genuína fé cristã se relaciona com a evidência bíblica (Rm. 10:17), mas também com a própria realidade externa, dentro da ótica de um Universo aberto. (para uma discussão mais ampla sobre diferentes concepções de realidade, veja mais aqui e aqui).

Outra confusão recorrente na mídia em geral é tomar racionalismo por racionalidade. O primeiro se refere a uma postura filosófica, para qual a necessidade de metafísica fica reduzida ao campo do incognoscível ou, pior, do inexistente. Para o racionalista, a razão humana é plenamente confiável e constitui nosso único guia para o conhecimento dentro do universo fechado. Mas, curiosamente, o racionalismo acaba levando à irracionalidade (além da referência anterior, consultar "A racionalidade e suas travas"). A racionalidade, para um teísta bíblico, é algo admissível, sem representar um fim em si mesma, porque se entende que a razão não expressa o homem em sua totalidade, além de a razão ter sido afetada pelo pecado. Assim, mesmo a razão pode ser vítima de uma vontade distorcida, fazendo do otimismo humanista mera ilusão (leia sobre isto aqui).

Além das confusões supra-citadas, o médico de Porto Alegre relativiza o Cristianismo. Bandarra se esquece (ou desconhece) que, mesmo em uma leitura superficial dos evangelhos se chega à conclusão de que Jesus não deixou muitas opções; Cristo tratava a verdade como algo absoluto, oferecendo aos Seus ouvintes a oportunidade de crer ou descrer, nada mais. Quando ouvimos de Seus lábios a sentença "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim." (Jo. 14:6), não podemos imaginar que haja um espaço para verdades alternativas - afinal, Ele não afirmou ser "um dos possíveis caminhos, uma das prováveis verdades e um tipo de vida". A segunda afirmação é ainda mais radical: "ninguém vem ao Pai, senão por mim". Sem dúvida, Jesus mostrou-Se audacioso em negar outros sistemas religiosos enquanto reivindicava a veracidade exclusiva de Sua própria Pessoa e de Suas doutrinas. Cristianismo mais ameno ou "tolerante" do que isso não corresponde à intenção original do Messias audacioso.

Da ótica de que o cristão é governado por uma Revelação supra-natural, que transcende o mundo físico sem negá-lo, a seguinte acusação se torna descabida: "[...] Assim, crer em que Jesus do mito foi Deus faz parte das possibilidades das pessoas simples em se enganarem e serem enganadas por pregação, textos e imagens criadas com este fim. A cristandade não inovou isto, a não ser negando o judaísmo. Assim com as crenças em deuses que foram descartados com o tempo e melhor reflexão. O que mostra que não são imortais e nem que os sentimentos sejam bons conselheiros da verdade." Seja o que for que o autor tenha tentado expressar com esse texto truncado, não fez mais do que criar uma multidão de sons desconexos. O Cristianismo não é uma fuga, mas uma interpretação da realidade, que deve ser avaliado em suas propostas, assim como o Naturalismo esposado por Bandarra. Acontece que é mais cômodo atribuir à fé cristã a categoria de irracionalidade, de mito, para descartá-la como possível concorrente de uma postura racionalista. Curiosamente, o doutor de Porto-Alegre critica acidamente o Cristianismo, sem abrir a possibilidade para que se questione sua filosofia pessoal, tratando-a a priori como verdadeira e superior, numa nítida demonstração de falta de senso auto-crítico.

O que se percebe, sobretudo, é uma estratégia antiquada: a negação da plausibilidade do Cristianismo a partir de seu livro-texto, a Bíblia, taxado como mitológico. Perceba-se a falta de nexo e embasamento histórico na construção medíocre de Bandarra: "Assim, este homem que nada deixou escrito e sabemos apenas por seus propagandistas não mostrou dotes superiores. Podia menos do que o mito de Moisés. Fez muito menos e durou pouco tempo para um profeta do antigo testamento. Que, por sinal, nem sabemos de que forma foi escrito, pois não existem provas de que Matheus, Lucas, Marcos e João realmente escreveram os chamados evangelhos sinóticos, e assim mesmo foram escritos décadas depois de ocorrido os fatos. Fácil de inventar vaticínios, profecias de ocorrências anteriores do escrito. Nada de novo na história do ilusionismo. E aqueles textos que desagradaram o catolicismo foram destruídos definitivamente."

Pobre doutor, hóspede em Teologia! Ninguém lhe avisou que (1) Jesus, embora não deixando registros escritos, influenciou a mentalidade ocidental muito mais do que qualquer outro na História; (2) O próprio Moisés era um instrumento humano, que cometeu falhas, enquanto Cristo foi tido como isento de pecado (Hb. 4:15); (3) João não escreveu nenhum evangelho sinótico, porque apenas os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são considerados sinóticos (ou seja, são semelhantes entre si); (4) Numa cultura em que não havia facilidade de se registrar literariamente fatos, a memória era muito importante e, por isso, os estudiosos atribuem a preservação das palavras de Jesus à tradição oral, o que combina com o método que Lucas usou para escrever seu relato da vida de Jesus (Lc 1); (5) Os evangelhos ditos apócrifos foram rejeitados séculos antes do surgimento do Catolicismo. Qualquer leitor bem informado conhece esses fatos que Bandarra ignora ou finge não saber (Leia mais sobre a autoria dos evangelhos e resposta aos críticos aqui e aqui).

De fato, a leitura da Bíblia feita em "O ovo da intolerância" prova as lacunas intelectuais de seu redator. Ler apressadamente um texto pode levar a conclusões aparentemente cabíveis, que, sob análise mais acurada, mostram-se estapafúrdias. Quem lesse, por exemplo, o parágrafo citado acima, escrito pelo senhor Paulo Bandarra, chegaria à indubitável conclusão de que não se estuda gramática ou rudimento de lógica nas faculdades de Medicina, percepção que o convívio com médicos mais respeitáveis facilmente desfaria! Semelhantemente, o descuido com a leitura da Bíblia e a ignorância com relação aos debates teológicos mais recentes desqualificam o trabalho do bem intencionado residente de Porto-Alegre.

De alguém que apresente esta deficiência quanto à leitura da Bíblia, é de se esperar que leia de forma igualmente seletiva opiniões contrárias às suas, como de fato pode-se ver que Bandarra tem feito em relação ao que escrevi. Mas ninguém pode negar que o Cristianismo forneceu as bases para uma revolução cultural, inclusive científica, a partir do século XXVI (Veja mais sobre isto). Seria mais produtivo que Bandarra avaliasse a questão sobre as origens a partir das duas propostas, Criacionismo e Evolucionismo, levando em conta que ambas possuem um elemento científico e outro filosófico. A partir daí, ele poderia verificar as evidências que favoressem esse e aquele modelo, para optar, racionalmente, qual das duas propostas possui maior coerência. Seria pedir demais?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A MOEDA DO CÉU

The world is charged with the grandeur of God.
Gerard Manley Hopkins


O sol torna-se louça lácera: foi-se a hora áscia,
Meridiana. Há no cárcere perspicácia?
Ah! Do alecrim à acácia, eu vi seu tom; pois que esse
Fechar de pálpebras esmalta com sangue os platôs.
Perante isto que se expôs, falta audácia!

Nuvens lúcidas, num torçal que se forma,
E se torce – singra a norma. O halo informa:
Fios diáfanos a entreter pétalas. Segreda uma ave.
E na surdina, pulso suave. A negra cópula
Fuja escápole pela fresta que desbrave,

Chegue à copa do céu, com rubro-breu.
Vêm migalhas-prata-espadas. Abaixo, eu
Presto-me a andar, pés migratórios na agonia ágil.
Que sei da súplice harmonia, eu, adágio? Enquanto
Bens contava, fez-se em paz um bem santo:
Para a alma símplice, surge a moeda do Céu, tão frágil…

O orbe segue detalhado plano-mestre:
O Deus-Ser-Pleno, tendo trazido a ordem terrestre,
Fez o sábado, sóbria efígie de Seu rosto,
E abriu as células às pobres lentes: vejam o ofício
Da mão sábia que selou nosso início.

A ânsia arrasta-se – áglifa ou peçonhenta?
Seque as lágrimas, pois a pressa acorrenta,
E o sonho é ser na tela astro-átimo (ócios de ofídios).
Eu já carpi, tom de anaconda, cenho alquebrado,
Sem ver corpos ígneos sobre céu cromado,
Ignorando esse crebo espetáculo com seus subsídios:

No silêncio, baixa o sol no crepúsculo.
Um alerta chega em linhas no ar, maiúsculo;
Só aquela ave aciona o músculo da voz solene.
Mais outra vez confecciona-se a paz e a calma,
Para que à alma Deus com mesclas mais acene.

Sobe, com passos bem flébeis, dança
Que desenha as fagulhas da mudança;
Desbarata o último canteiro escuro e embriagado,
Fóton-factual que nos decanta com seu bom-dia
(Com o sol, bons e maus Deus alcança).

Engenheiro Coelho(SP), 27 de Novembro de 2000, às 22:34h.
2ª versão:Itajaí(SC), terminado em 1º de Março de 2008, 16:38h.

PORNOGRAFIA NA INTERNET: COMO PROTEGER SEUS FILHOS


Cresce a preocupação com o acesso que crianças e adolescentes têm à pornografia por meio da internet. Com as novas tecnologias, surge uma nova geração de aparelhos Wi-Fi (Wireless Fidelity, ou seja, acesso à internet sem fio, com alta qualidade). Ou seja, o acesso à internet é muito mais facilitado, ocorrendo em ambientes em que não há controle algum dos pais. Com isso, aumenta o perigo de conversações impróprias e o envolvimento com desconhecidos (que se dá em sites de relacionamento) se tornam mais frequentes. O Economist dedicou uma matéria sobre o tema.

Como os pais não podem “fiscalizar” seus filhos constantemente, a sociedade discute algumas posturas que os responsáveis podem tomar com o fito de protegerem o menor de idade. Curiosamente, quando se trazem à baila os riscos da pornografia, o enfoque fica reduzido a jovens e crianças, sem levar em conta o quão nocivo o chamado “ciber-sexo” vem se tornando para adultos. Afinal, a satisfação imediata que garante a exposição ao sexo pela internet afeta a psique, habituando-a a desconsiderar o compromisso em uma relação a dois no mundo real, apenas para mencionar um dos danos da “aventura”. Claro que, no caso de crianças, acesso a material com esse conteúdo é mais danoso, devido à falta de maturidade para assimilar o que se está vendo.

O controle cuidadoso feito periodicamente pelos responsáveis, embora necessário, é ineficaz em sentido mais amplo. Qual seria a solução? A educação moral, com ênfase na responsabilidade pessoal e na prestação de contas a uma autoridade superior, torna-se fator chave na prevenção do interesse pela pornografia por parte dos jovens. Preocupações com a pornografia seriam minimizadas se cada pai e mãe cristãos conscientizassem os filhos de que estão perante um Deus que sempre os vê e que espera que cada uma de Suas criaturas O glorifiquem por amor, demonstrando reconhecer o preço do Calvário através de uma vida de sacrifícios e devoção.

Outro fator preventivo é a construção de um ambiente afetivo sadio: se o lar for um lugar de interações emocionais cheias de transparência, confiança, respeito e aceitação, será criado um bloqueio natural contra o desejo meramente sensual. O relacionamento harmonioso dos cônjuges chamará a atenção dos filhos para um ideal de vida mais elevado do que a satisfação carnal pode prover.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O PETISTA QUE ERA ECUMÊNICO


Hans Küng está para o Vaticano como o PT para o cenário político do país. O teólogo é progressista quanto a temas nos quais Roma demonstra com maior afinco seu tradicionalismo – Küng defende a ordenação das mulheres, o fim do celibato, a fabilidade papal, além de questionar em seu livro “A igreja Católica”[1] o próprio estabelecimento do papado, negando que isto teria ocorrido ao Cristo supostamente nomear Pedro o primeiro Papa. Salta aos olhos o porquê de o teólogo suíço e a igreja romana se desentenderem por décadas.

Em entrevista à revista Isto É[2], Hans Küng faz alguns pronunciamentos que alternam entre o tom espirituoso (“[…] Não há contradição entre fé e inteligência. Posso ser um exemplo. Tenho muita fé e acredito que tenho alguma inteligência.”) e a denúncia cáustica (“[…] Eu esperava que ele [o papa Bento XVI] estivesse disposto a atos de coragem, mas ele se tornou cada vez mais radical e se cercou apenas de pessoas pouco críticas e que apenas o seguem. Não possui uma equipe de acadêmicos e bispos questionadores. Comete um erro após o outro e não há nenhum bispo para corrigi-lo. Não gosta de ser questionado.”)[3] Todavia, a razão de Küng estar entre os teólogos mais influentes ainda em atividade é atribuída à perspicácia do suíço, capaz de traçar um relato crítico da igreja que ele ama baseado numa compreensão histórico-crítica do NT.

Um exemplo da abordagem bíblica típica do teólogo é o motivo que encontra para rejeitar a passagem de Mateus 16:18 como a alegada nomeação de Pedro como papa (posição defendida pelo Catolicismo): Küng não oferece uma alternativa exegética[4], mas sustenta que o texto não reproduz uma declaração histórica feita por Cristo, senão, trata-se de um acréscimo feito pela comunidade cristã que influiu na produção do evangelho[5].

Outra razão para que Küng esteja na vanguarda teológica é sua defesa incansável do ecumenismo. O diálogo com outras crenças teve início na década de 60, quando passou a usar sua postura de respeitável estudioso (a esta altura, ele participara da redação do Concílio Vaticano II) para repensar o Catolicismo. De lá para cá, Hans Küng defende uma interação maior entre os cristãos, suficientemente abrangente para incluir outras religiões. O objetivo dessa interação seria “elaborar uma ética global com base em valores comuns das necessidades sociais e individuais.” Para tanto, a base ética precisaria se fundamentar na “crença das diferentes religiões e daqueles que não têm crenças.”[6]

Embora pareça inconsistente um união ética global baseada em conceitos religiosos díspares, pelo menos alguns cristãos estariam dispostos a se unirem quanto a pontos comuns de suas doutrinas, para aumentar a influência cristã em um mundo sem sólidos valores.[7]

Talvez, a reflexão mais apropriada a ser feita diante das ideias de Küng tenha que ver com a insuficiência da mera rejeição da tradição católica sem que a acompanhe o desenvolvimento de uma doutrina genuinamente bíblica. Outro influente teólogo, o já falecido Oscar Cullman, deu um passo a mais: assim como o suíço Küng, o alemão Cullman participou do Vaticano II (sendo luterano, apenas como observador), e de diversos diálogos interdenominacionais; contudo, desafiou muitas das noções protestantes tradicionais (como a imortalidade da alma) em seus estudos do texto bíblico. Afinal, ser cristão significa, estritamente, deixar-se levar pela Bíblia de forma construtiva, desafiando, sempre que possível, as noções convencionais.

[1] Hans Küng, “A Igreja Católica” (Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2002).
[2] “O papa comete um erro após o outro”, Hans Küng em entrevista cedida à Carina Rabelo, Isto É, 18 de Fevereiro de 2009, nº 2049, pp. 6-11. De agora em diante, apenas “HK/IE”
[3] “HK/IE”, pp. 11 e 10.
[4] Como os protestantes em geral o fazem, ao interpretarem que a Pedra (Gr. “Petra”, rocha) sobre a qual seria estabelecido o Reino se referia ao próprio Cristo, em contraste com a pedra (Gr. “petrós”, pedregulho) que reporta ao próprio Pedro.
[5] Hans Küng, “A igreja Católica”, p. 35. Além disso, o autor suíço acrescenta: “Na primeira igreja, Pedo sem dúvida possuía uma autoridade especial; entretanto, não a possuía sozinho, mas sempre conjuntamente com outros. Ele estava longe de ser um monarca espiritual, ou mesmo um governante único. Não há sinal de nenhuma autoridade exclusiva, quase monárquica como líder.” Idem, pp. 35 e 36.
[6] “HK/IE”, 11.
[7] “Mas se quisermos causar um impacto em nossa cultura, o primeiro passo deve ser o de nos unirmos a Cristo, fazendo um esforço consciente entre todos os verdadeiros crentes para nos unirmos a despeito das linhas raciais, éticas e confessionais. Em sua grande oração sacerdotal, Jesus orou fervorosamente para que fôssemos um, assim como ele é um com o Seu Pai. Por quê? Para que o mundo creia que Ele é o Cristo (veja Jo. 17. 20-23). A implicação inevitável das palavras de Cristo é a chave para a evangelização e para a renovação cultural. Muito da fraqueza da igreja pode ser atribuída â nossa incapacidade ou indisposição para obedecer à ordem de procurar a unidade em Cristo.” Charles Colson e Nancy Pearcey, “O cristão na cultura de hoje: desenvolvendo uma visão de mundo autenticamente cristã” (Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006), 2ª ed.,pp. 49 e 50. Uma resposta a esse tipo de argumento, bastante repisado, encontra-se em http://questaodeconfianca.blogspot.com/2009/01/catlicos-e-luteranos-mais-prximos-da.html.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

TECIDO PROPOSITALMENTE


A túnica, de um tecido multicor, vinha dobrada de forma desajeitada, escondida nas mãos postas para trás, o que não se escondia era o forte odor de bicho sacrificado, fazendo com que se adivinhasse pelo olfato o tecido empapado em sangue, e aquilo ficava evidente à medida que seus passos trêmulos ganhavam a tenda, indo ao encontro ao velho, que assistia sem suspeitas um poente despido de presságios, Que foi?, parecia dizer primeiro com o olhar, depois com as palavras acorrentadas aos anos de peregrinação, e eles sabiam do peso que as cãs conferiam ao patriarca, e aquela sensação de estar diante de uma figura solene cresceu quando o idoso se ergueu num sobressalto, quase se podendo ouvir os estalos de seus ossos, retinindo com o esforço inusitado, a energia repentina que tomou seu corpo macilento, agora sim, que podiam dizer, além de palavras malensaiadas e receosas, que parecessem tolas e inverídicas?, até pelo fato de serem inventadas mesmo, que fariam?, ora, resolveram-se a seguir o plano, pois que não estavam nisto juntos?, foi nisso que mostraram primeiro a imagem, o tal tecido manchado com sangue, e o velho agigantado reduziu-se, mas não voltou à forma contemplativa em que o encontraram, descia, porém, a um estágio senil, como se o seu vigor se dissolvesse em conjunto com as últimas luzes daquela tarde até então corriqueira, o velho estava mais velho do que nunca, e a pergunta friamente proferida, que eles fizeram questão de repetir de forma calculadamente reticente, sem querer levantar dúvidas pelo excesso de informações desnecessárias, Seria isto de seu filho?, que dor acarretou sobre o homem idoso, como se seus olhos gritassem e sucumbissem numa carreira desenfreada de estertores, a comoção deles surgiu deste sofrimento paterno e, por alguns minutos em que o pai tentava inutilmente se conter, eles se esqueceram das causas do sumiço do caçula e aceitaram a própria história, sofrendo junto com o velho a perda de um ente da família, embora a sensação fosse volátil e o ciúme lhes ocorresse à semelhança de um sonho irrealizado de infância que sempre retorna, o pai, finalmente gritou, a rotina se petrificou, tudo se esgarçava enquanto a noite descia, mas não podiam voltar, não!, de que maneira diriam que o irmão não morrera, mas fora levado por uma caravana, achando-se, se bem o conheciam, trôpego e lacrimalmente desamparado em algum ponto do trajeto para o Egito?, seria demais admitir falta tão grave, pelo que, tornou-se preferível que cada um se apegasse ao pacto de silêncio, em nome de uma fraternidade que desconhecia a essência do sentimento fraterno, o próprio amor.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CIÊNCIA ARROGANTE E DOGMATISMO INFUNDADO: OS EXTREMOS NO CASO GALILEU


É bem propalado o polêmico julgamento do astrônomo Galileu Galilei pelos tribunais do Santo Ofício. Em 22 de Junho de 1633, o cientista florentino foi considerado culpado e mantido sob inflexível vigilância. Mas culpado de quê? A opinião pública em geral vê uma relação estrita entre a condenação de Galileu com sua defesa do heliocentrismo, numa época em que a Igreja Católica advogava o geocentrismo – baseada na premissa de que a Terra ocupava um lugar de destaque na obra divina.
O episódio protagonizado pelo cientista transmutou-se em um ícone da batalha entre fé e ciência, explorado por iluministas e modernos de forma caricata. Assim, a igreja (não mais o Catolicismo, mas a Cristandade em geral) passa por defensora retrógrada de um tradicionalismo insustentável, enquanto a Ciência ganha contornos de uma empreitada humana romântica e desafiadora, capaz de conduzir a nossa espécie a um patamar miraculoso de desenvolvimento.
O constrangimento por aquele julgamento histórico repercute no seio do Catolicismo até a atualidade. Em 15 de Fevereiro de 2009, o arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do conselho pontifício para a cultura, rezou uma missa para Galileu e em comemoração ao ano da Astronomia. Vários cientistas assistiram à cerimônia, que teve lugar na basílica de Santa Maria degli angeli. [1] No mesmo local, membros da Federação Mundial de cientistas organizaram uma exposição intitulada “Testemunho cultural da ligação existente entre razão, fé e ciência”, composta de obras de artistas contemporâneos. A exposição reconta as descobertas de Galileu, a quem, juntamente com Darwin, recebe homenagens através de iniciativas culturais promovidas pelo Vaticano. [2]
Ao contrário do que se faz crer, a condenação de Galileu não foi um ato originado tanto pela descoberta em si quanto por uma série de fatores históricos. Às ciências, no distante século XXVII, era dado um tratamento filosófico. Em geral, a prática científica se pautava por deduções lógicas, levando a conclusões a priori (a La Aristóteles), ao contrário de seguir observações empíricas. A própria Teologia, a partir de Tomás de Aquino, buscava uma reconciliação com a filosofia aristotélica, então dominante. Copérnico, quando propôs o heliocentrismo, agia mais pela influência do neoplatonismo do que por descobertas comprováveis. [3]
Mas não tardou para as concepção aristotélica sofresse um revés quando o astrônomo Kepler propôs que a Terra se movia em órbitas elípticas. [4] Em meio a tanta mudança de paradigma, a divulgação dos trabalhos de Galileu poderiam marcar apenas mais um capítulo. O diferencial foi a própria forma como o cientista de Florença reagiu à censura.
Em 21 de Dezembro de 1613, através de uma carta, Galileu expressou sua confiança na Bíblia como padrão de moral, embora julgasse que as Escrituras não deveriam servir de empecilho para os “direitos do pensamento científico”. Quase 20 anos após, ele publicou seu Diálogo, no qual apresenta 3 personagens: Simplício, arquétipo da filosofia cristã de seu tempo, moldada pelas opiniões de Aristóteles. Em oposição a esta personagem, encontramos Salviati, figura do empreendedorismo da ciência, “observador agudo, raciocinador prudente, nunca dogmático”. Tais características de Salviati atraem a admiração de Sagredo, o terceiro participante, o qual representa o novo homem de um novo tempo, já cansado de superstição e decidido a se aventurar pelo progresso prometido pelo colega. [5]
A obra Diálogo foi considerada um insulto, e na personagem Simplício (em Latim “Simplório”) se via uma caricatura do papa. Ainda que Galileu tenha recebido punição menos rigorosa, levando-se em conta que muitos “hereges” tinham sido queimados e torturados, é necessário reconhecer que a Igreja Católica agiu fora de sua competência ao atribuir isolamento ao cientista, além de censurar sua correspondência e privá-lo de expor livremente suas ideias. Do lado protestante, embora a aceitação do heliocentrismo tenha gerado alguma controvérsia, parece que Calvino, um século antes estabelecera as bases para se analisar as descobertas científicas aparentemente contraditórias com a Bíblia: para o reformador, o “Espírito Santo se acomodava aos usos tradicionais da época ao falar do mundo natural” e isto com respeito à linguagem empregada pelas Escrituras, e não sobre os eventos em si [6].
No caso em que Deus suspendeu temporariamente a rotação terrestre a pedido de Josué (Js 6:12-14), o texto diz que o “sol se deteve” apenas porque, a olhos comuns, e séculos antes da invenção de lunetas e observatórios astronômicos, era o sol que se movia, e não a Terra! Mas a narrativa bíblica não pode ser tomada como fantasiosa somente por acomodar-se à cultura antiga (mesmo na atualidade, nós nos referimos ao “pôr do sol”, como se fosse o sol que andasse…).
A verdade é que, o incidente com Galileu abriu precedentes, ajudando a alimentar o clima de animosidade entre religiosos e cientistas, hoje vistos como grupos antagônicos. Embora nada justifique a intromissão católica, Galileu também teve sua parcela de culpa, ao polemizar de forma desrespeitosa com oficiais da igreja, traindo um acordo que mantinha com a Santa Sé. Parece que, a partir do episódio, um cisma entre ciência e fé tornou-se inevitável no Ocidente. Entretanto, a jornada da Ciência, que adotou conceitos naturalistas ligados ao projeto do Iluminismo (e que resultou num divórcio da razão com a religião cristã) mostrou-se insuficiente para a promoção do progresso autônomo da humanidade, em todas as áreas. Ganhamos com o avanço tecnológico, mas perdemos com a visão mecanicista do homem. Usando as personagens do diálogo de Galileu, poderíamos dizer que Sagredo se decepcionou com Salviati. A maior lição que podemos aprender com a história é que se há oposição entre Cristianismo e Ciência, pelo menos um dos dois lados está equivoca – senão ambos! A verdadeira fé não conflita com a verdadeira ciência, como Newton, Kepler, Pascal e tantos outros bem souberam mostrar.

[1] “Em 400 anos, missa para Galileu”, Diário catarinense, ano 23, nº 8.333, 15 de Fevereiro de 2009, seção mundo, 28
[2] “Missa é celebrada pelos 445 anos de nascimento de Galileu”, disponível em .
[3] Colin A. Russell, Correntes Cruzadas: interações entre a ciência e a fé (São Paulo, SP: Hagnos, 2004), 38, 40.
[4] Idem, 44.
[5] Antonio Banfi, Galileu (Lisboa; Edições 70, 1992), 20, 23.
[6] Colin A. Russell, Correntes Cruzadas, 51-ss.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

CICATRIZAÇÃO


Não, Deus, o Mar Vermelho não se mexeu ainda,
Mas de onde estou sentado posso ver os Teus feitos.

Como um verme sem nome, saí envenenado
Dos canaviais. Queriam me enterrar de vez. Entre
Vultos cismei. Meus gritos só achavam Teus ouvidos.
Quantas vezes clamava, querendo algum motivo
A fim de deixar a obra para trás? Fui detido.

E meus pés, ao fim, gastos atingem esta margem.
Cresci quase à altura de homens, eu que era verme!

Com meu fardo não pude rastejar – e me ergui.
O corpo de anelídeo tornou-se como pedra.
Fui batizado numa tempestade. O cinismo
Expulso deu espaço para a junção de peças;
Cada cicatriz leva Teu bálsamo estampado.

HAPPY BIRTHDAY, DEAR CHARLY

Enquanto alguns comemoram o aniversário do naturalista Charles Darwin, pioneiro da moderna teoria da Evolução, e a imprensa brasileira colabora com o clima de reverência às ideias do aniversariante, propomos um contraponto, a fim de que, os espíritos livres julguem por si mesmos.


Leia:

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

CANSADO DAS VERSÕES OFICIAIS DOS FATOS?

Experimente uma




Outra Leitura. Para quem não tem medo de pensar diferente.



Em breve...

SANTA CÁSSIA ELLER, BATMAN!

Com o objetivo de conquistar o filão GLS, a DC comics (a mesma de Batman, Super-Homem e Mulher-Maravilha) lança revista em quadrinhos em que aparece a nova versão lésbica da Batwoman (não confundir com a Batgirl!). Durante o dia, a socialite Kathy Kane namora a ex-policial Renee Montoya e, ao cair da noite, sai para combater o crime. Antes da batmatrona sair do armário, personagens novas teriam tentado conquistar o público GLS. O interesse no mercado é tão forte que mesmo um dos papas das HQs modernas, o roteirista Stan Lee, declarou seu interesse em investir na criação de um herói gay.

Se os super-herois representam valores, influenciando em menor ou maior grau adolescentes, que tipo de ideais os novos herois transmitem? Sem dúvida, há uma incompatibilidade entre a liberdade sexual moderna com o planejamento do Criador para uma família sexualmente realizada e feliz. Pena que retratar cristãos atuantes não venda HQ...

Leia também:


domingo, 8 de fevereiro de 2009

A DARWIN O QUE É DEUS...


De forma previsível, e em consonância com o clima de oba-oba proporcionado pela semana em que se comemoram os 200 anos do nascimento do naturalista inglês Charles Darwin, revistas, jornais e periódicos se esmeram em exaltar a revolução deflagrada pelos escritos do aniversariante. Além de tal acontecido ressaltar a parcialidade da imprensa em geral (sem mencionar as publicações científicas, estas sim parciais e fundamentalistas, no sentido mais religioso do termo), verifica-se o grau de desinformação e preconceito de nossos jornalistas, que expõem um povo já sem tanto acesso à cultura à mesma desinformação e preconceito. Neste artigo, temos a intenção de avaliar duas matérias em especial, uma publicada na Veja e outra na National Geografic. [1]
O que se percebe, tanto em D/V quanto em D/NG é a reprodução de erros pontuais perpetuados pela ciência naturalista, sem qualquer filtro conceitual, como se o naturalismo fosse uma verdade epistemológica inquestionável, a ponto de os grupos que se recusam em dobrar as servis em face de seus conceitos serem taxados de fundamentalistas, ignorantes e fanáticos religiosos. Para facilitar nossa revisão das matérias, iremos separar por tópicos os principais dogmas que elas apresentam e que, ao leitor desavisado, podem soar como lógicos e conclusivos. Desta forma, esperamos contribuir esclarecendo aspectos marginais da disputa entre Criacionismo X Evolucionismo, debate que, a estas alturas, torna-se ínvio em consequência das distorções tendenciosas de setores da mídia.

1. O desconhecimento dos limites da Seleção Natural e de sua aceitação parcial pelos criacionistas: A teoria de Darwin (segundo a qual todos os seres vivos existentes surgiram a partir de organismos inferiores, derivando-se através de mutações que visavam a adaptabilidade, sendo dirigidas pelo acaso[2]) recebe o status de verdade inconteste nas páginas das reportagens em revista. A revolucionária comprovação chega a ser assim expressa: “Os biólogos se viram desmentidos em sua certeza de que as espécies são imutáveis.” [3] Em D/NG lemos este parágrafo didático: “[…] A grande ideia de Darwin é que a seleção natural se deve em grande parte à diversidade de características que se nota entre espécies aparentadas. Agora, no bico do tentilhão e na pele do camundongo, podemos acompanhar a seleção natural em funcionamento, moldando e modificando o DNA dos genes e o modo como se expressam, a fim de adaptar o organismo a suas circunstâncias específicas.” [4] Quanto à formulação da seleção natural como mecanismo responsável pela adaptação de espécies a um novo meio, isto é, de fato, inquestionável e a Darwin cabem os méritos merecidos pela compreensão do tema. [5]

O problema surge quando os evolucionistas sugerem que este mecanismo tenha se responsabilizado pelo surgimento de vida no planeta. Uma coisa é a adaptabilidade genética dos organismos vivos ao seu hábitat (microevolução) e outra, bem distinta, é a transformação de uma espécie em outra, completamente diferente (macroevolução). Nenhum cientista trouxe, até agora, provas inequívocas que endossem ter havido, em qualquer época, uma macroevolução nos moldes evolucionistas. [6]


2. O endosso ao livro “The descent of man”, o mais polêmico trabalho de Darwin: Devido às menções honrosas feitas ao livro citado acima pelas matérias[7], volume pouco conhecido do naturalista inglês, somente se pode chegar a uma das duas conclusões: ou os articulistas não leram todo o livro que elogiam efusivamente ou ignoram suas polêmicas consequências. Fico com dois exemplos de raciocínio desenvolvidos em Descent of Man, para tornar patente seus absurdos.
Sobre as habilidades observadas em grandes mamíferos, como elefantes e gorilas, ele se pergunta: “Agora, qual é a diferença entre ambas as ações, quando praticadas por um aborígene [uncultivated man] e por um dos animais superiores?” Ou seja, perde-se a diferença entre homens e animais. Por que se utilizar de cobaias em pesquisas médicas, se a vida deles vale tanto quanto a nossa ou a de qualquer outro ser vivo[8]?
Em outro capítulo, comentando sobre infanticídio, tortura, escravidão, o preconceito racial (especialmente contra o índio, na civilização do Oeste americano, Darwin argumenta que a moral tem variado em cada sociedade, uma vez que tais práticas, hoje vistas como criminosas, já foram ou ainda são praticadas em alguns contextos culturais. Darwin, então, estabelece o relativismo cultural ao concluir que tão “logo uma tribo reconheça um líder, a desobediência torna-se um crime, e mesmo a submissão desprezível é vista como uma virtude sagrada.” [9]
3.O uso comprobatório da genética em prol da teoria evolucionista: Ao longo de ambos os textos, se fazem afirmações sobre as contribuições da Genética para o estabelecimento e melhor compreensão da proposta evolutiva de Darwin. [10] Em verdade, sabe-se hoje que os genes contém informação especificada, e não haveria vida, mesmo do organismo de menor complexidade, se esta informação não estivesse prontamente disponibilizada, ao contrário do que sugere o Darwinismo, que concebe o desenvolvimento da informação genética num processo gradual e sem propósito. Uma conhecida autora observou que “[…] uma estrutura de Informação específica contenta-se em requerer um amplo número de instruções. Se você precisar de seu computador para copiar o poema “‘Twas the Night Before Christmas,” você precisará especificar cada letra, uma por uma. Não há atalhos. Este é o tipo de ordem que nós encontramos no DNA. Seria impossível produzir um simples conjunto de instruções ordenando uma forma química para sintetizar o DNA até mesmo de uma simples bactéria. Você teria que especificar cada “letra” química, uma a uma.” [11] A genética favorece muito mais o conceito do Design Inteligente do que ao darwinismo!
Em D/NG, se constata o desconhecimento cabal de Darwin das leis da genética: “Embora a genética moderna comprove os acertos de Darwin nos mais variados aspectos, ela também trouxe à luz seu maior equívoco. As concepções de Darwin a respeito dos mecanismos de transmissão das características eram confusas – e erradas. Ele acreditava que em um organismo se mesclavam as características de seus pais, e também começou a achar que se transmitiam as peculiaridades adquiridas durante a vida do indivíduo [lamarquismo].” [12]


Muito mais poderia ser dito a respeito a respeito das reportagens citadas, ou de outras divulgadas por aquelas ou por outras publicações. No entanto, pode-se dizer que, em se tratando de mídia brasileira, o favorecimento do evolucionismo em detrimento do sério jornalismo imparcial, que ouve os dois lados da história, chega a ser enfadonho, de tão repetitivo. Vale lembrar também que a luta pela promoção do Criacionismo não se trata de uma postura retrógrada, porém de legítima liberdade para a pesquisa, tendo como ponto de partida o que se crê – o que, neste aspecto, assemelha criacionismo e darwinismo, já que este último se vale de pressupostos metafísicos na construção de sua grade epistemológica, tanto quanto o primeiro. Para os cristãos legítimos, que aceitam a veracidade das Escrituras, Darwin não pode continuar usurpando o que a Deus pertence.

Leia também



[1] Ambas as revistas apresentaram em suas respectivas edições mais de um artigo tratando do darwinismo; entretanto, nossa análise se restringe a duas matérias, sendo cada qual publicada em uma das revistas: Gabriela Carelli, “A Darwin o que é de Darwin…”, Veja, ed. 2099, ano 42, nº 6, 11 de Fevereiro de 2009, 72-83, de agora em diante “D/V”; Matt Ridley, “Darwins modernos”, National Geographic, ano 9, nº 107, Fevereiro de 2009, 59-71, de agora em diante “D/NG”.
[2] “Concordar com Darwin significa aceitar que a existência de todos os seres vivos é regida pelo acaso e que não há nenhum propósito elevado no caminho do homem na Terra.” D/V, 77. Ver também 78, 80.
[3] Idem, 74.
[4] D/NG, 59.
[5] Ver Phillip E. Johnson, “What is Darwinism?”, publicado originalmente em published in the collection Man and Creation: Perspectives on Science and Theology (Bauman ed. 1993), by Hillsdale College Press, Hillsdale, e disponível em . “[…] Quando a teoria é entendida neste senso limitado, a evolução darwiniana é incontestável, e não tem nenhuma importante implicação filosófica ou teológica.”
[6] Em D/V, p. 82 o famoso caso dos tentilhões de Galápagos é tratado como a “a prova da evolução”. Cf.: “Os Darwins de hoje observam em detalhes a maneira como a competição e as mudanças ambientais podem criar novas espécies.” D/NG, 65.
[7] D/V, 80 e D/NG, 65.
[8] Ver David Ekkens, “Animais e Seres Humanos: São Eles Iguais?”, (1994) ano 6, vol. 3,  5-8, disponível em . e Katrina A. Bramstedt, (2003) Diálogo, ano 15, vol. 2, p.24-25, disponível em .
[9] Charles Darwin, The descent of man, a obra se encontra disponível em .; consultei especialmente os capítulos 3 (.) e 4 ( .), em que homens e animais são assemelhados em áreas como desenvolvimento social, linguagem, inteligência, instintos, etc; nota-se igualmente a diferenciação entre homens de culturas primitivas e homens modernos. Não à toa, o darwinismo inspirou a eugenia, abrindo as portas para a discriminação racial europeia em fins do século XIX e início do século XX, sentimento que, entre outros fatores históricos, filosóficos e econômicos, culminou com o Nazismo. Basta ler Darwin para entender…
[10] “O DNA não só comprova que a evolução existe de fato como também mostra que, em nível mais fundamental, de que maneira ela configurava os seres vivos.”, “[…] a evolução opera não só por meio de mudanças nos genes mas pela modificação do modo pelo qual os genes são ativados e desativados.” D/NG, 58 e 70; “Hoje, para entender a história da evolução, sua narrativa e mecanismo, os modernos darwinistas não precisam conjeturar sobre o funcionamento da hereditariedade. Eles simplesmente consultam as estruturas genéticas. As evidências que sustentam o darwinismo são agora de grande magnitude […]”, D/NG, 76.
[11] Nancy R. Pearcey, “DNA: The Message in the Message”, disponível em .
[12] D/NG, 71.


PÓS-MODERNIDADE: BREVE OLHAR CRÍTICO SOBRE SUAS RAÍZES E PERSPECTIVAS À LUZ DE 2 PEDRO 3 - parte 1

Seus olhos sondam o ambiente ao redor – não há portas, janelas, dutos de ventilação. O galpão é completamente fechado, não se ouve o menor ruído do lado de fora. Ninguém entra ali para incomodá-lo, fazer ameaças ou simplesmente manter algum tipo de contato. A realidade é exatamente como você a vê, o que está no ambiente presente e pode ser conhecido de forma objetiva; talvez nem exista um motivo ou sequer um responsável pelo seu cativeiro. De qualquer forma, uma hipótese que tentasse explicar a situação não teria como ser comprovada.

O estranho quadro acima não descreve a situação de um refém sequestrado por criminosos ou mesmo mantido em alguma prisão militar. O cativeiro descrito é onde se encontra o homem do Pós-Modernismo. A concepção da realidade, a partir do período iluminista, atravessando a Modernidade até o advento da Pós-Modernidade, impede o homem de se realizar, enquanto ser pessoal, aprisionando-o em um Universo vazio
[1]. A única esperança existe em bases subjetivas, fantasiosas. A realidade é implacavelmente desesperadora.

De alguma maneira, o apóstolo Pedro, ao prevenir os crentes do 1 séc d.C. sobre a influência de certos “escarnecedores”, descreve um tipo de raciocínio que vem prevalecendo há séculos no Ocidente (2 Pe. 3:3). Vamos acompanhar as declarações de Pedro, procurando traçar paralelos com o que enfrentamos em nossa própria época, esboçando sucintamente o desenvolvimento histórico do que veio a ser conhecido como Pós-Modernidade. Sem ter a intenção de apresentar toda a ideologia pós-moderna em minúcias, fornecemos um quadro geral para habilitar todo seguidor de Jesus a lidar com os desafios desta época.[2]

QUANDO AS PORTAS SE FECHARAM

“Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles dirão: ‘O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação’.” 2 Pe. 3:3-4, NVI.
As críticas à esperança na segunda vinda de Cristo repercutiam no final da era apostólica. Não é simplesmente o aparente atraso de Jesus que pende na balança – a própria impossibilidade de uma intervenção divina está no cerne do argumento, porque, para os críticos, “tudo continua como desde o princípio da criação.” A alegação sobre a falta de evidências de que um deus superior atuasse no mundo físico mina o senso de alerta e preparo que Pedro evoca no contexto do julgamento prestes a vir (1 Pe. 1:13; 2:23; 4:45; 5:1; 2 Pe. 2:4-16). Esta visão dos críticos, conforme esboçada pelo apóstolo Pedro – (1) Não há intervenção divina na história humana, (2) Não há um Deus ou entidade superior a quem prestar contas e (3) Tudo o que há é o que se apresenta no mundo físico, o qual permanece inalterável –, é compatível com os pilares do Naturalismo, uma visão de mundo concorrente com a fé cristã. O Naturalismo moldou o curso da História, levando o Ocidente da Idade Média à Idade Moderna. O fruto mais recente do Naturalismo é o Pós-Modernismo.
[3]

Como o Naturalismo surgiu no mapa do Ocidente, vindo a desbancar Deus de Seu lugar na consciência do indivíduo e de Seu papel como fundamento para a ordem social? De certa forma, o abandono de noções cristãs, entre as quais citamos Criação, Providência e Mordomia, se deu através do desenvolvimento tecnológico do homem no século XVII, culminando na revolução Científica, que, de forma curiosa, foi promovida dentro de uma mentalidade predominantemente cristã. O homem tratou de conceber o Universo como uma máquina em funcionamento. Bastava o conhecimento necessário sobre os mecanismos para dominar a Natureza. Deus passou a ter um papel reduzido neste quadro: do “Relojoeiro” desinteressado em Sua obra no Deísmo para uma crença desnecessária no Naturalismo Ateísta, sendo, por fim, banido do Ocidente.[4]

Agora, o homem era o centro, com suas conquistas tecnológicas e seus sonhos com uma sociedade que colhesse os benefícios do conhecimento científico. Chegamos à Modernidade, “um feixe de processos cumulativos que se reforçam mutuamente”, processos estes relacionados ao capital, à dinâmica do trabalho, aumento da autoridade política, fomentação de identidades nacionais, secularização, entre demais características “modernas”[5]. Com justiça, constatou o teólogo Hans Küng que foram atribuídas ao progresso “qualidades quase divinas, como eternidade, onisciência, onipotência e excelência […] Nasceram a auto-determinação humana e o poder humano sobre o mundo – uma religião substituta para um número cada vez maior de pessoas.”[6]

Todavia, esta revolução no pensamento Ocidental desencadeou uma profunda dicotomia entre a realidade e a esperança, jamais superada pelos filósofos da Era Moderna. Para entender melhor esta questão, vamos averiguar mais de perto as premissas naturalistas em seus resultados práticos.

DEMOLINDO OS ALICERSES DA ESPERANÇA

Ao assumir o Naturalismo como bússola, a Modernidade viu desvanecer os valores tradicionais que faziam parte do legado cristão do Ocidente. Pensemos na moralidade, nosso senso de discriminar as ações entre corretas e incorretas. Sem a presença de um Deus pessoal, torna-se impossível determinar de forma universal o que é o Bem e o que é o Mal. O raciocínio é simples: se Deus não Se importa com o mundo ou simplesmente não existe, não temos ninguém a quem prestar contas, ninguém que nos veja (1 Pe. 3:8-12). Como alguém já notou, “entre a primeira palavra da criação de Deus e a última palavra de seu julgamento o nosso modo de viver é a nossa resposta à Palavra de Deus. […] O que fazemos então, quando ninguém a não ser Deus nos vê, é este o verdadeiro teste de nossa responsabilidade.”[7] Sem Deus, cai por terra o senso de prestação de contas (Mordomia Cristã). Somos livres para viver da forma como bem entendemos.

Um outro ponto que afeta a compreensão básica de moral tem que ver com o senso de propósito para a existência humana. Observe como o biólogo Richard Dawkins, conhecido partidário do Naturalismo, fala sobre as implicações do evolucionismo sobre o senso de propósito: “O processo verdadeiro que dotou as asas e os olhos, os bicos, os instintos de procriação e todos os demais aspectos da vida de uma intensa ilusão de plano proposital está agora bem entendido. É a seleção natural darwiniana. Nossa compreensão disto, de modo espantoso, chegou até nós recentemente, no último século e meio. Antes de Darwin, mesmo as pessoas instruídas que haviam abandonado as perguntas do tipo ‘por quê?’[ou seja, questionavam o propósito destas coisas] com respeito às rochas, cursos d’água e eclipses ainda aceitavam implicitamente este tipo de pergunta sempre que dizia respeito às criaturas vivas. Agora apenas os cientificamente analfabetos a fazem.” Em outro livro, Dawkins deixa claro que apenas os loucos depositariam “as esperanças de sua vida no destino final do cosmo”; para ele, “todo tipo de ambições e percepções humanas” regeriam nossa vida[8], ao invés de algum senso de propósito transcendente, uma vez que a natureza é fruto do acaso e do trabalho cego da seleção natural.

Há tremendas implicações na admissão do conceito naturalista de um universo fechado regido por forças impessoais. Se não existe um propósito para a existência humana, e estamos fadados a ter no mundo físico a única realidade externa, acaba todo o fundamento para o estabelecimento de conceitos como Bem e Mal, já que num mundo manchado pelo pecado, Bem e Mal andam de mãos dadas, só podendo ser explicados e diferenciados por algum referencial externo ao próprio mundo (o que a Teologia chama de “Revelação especial”, ou seja, a atividade profética que se acha registrada na Bíblia). Dinesh D’Souza assim resume as consequências da visão naturalista: “ O homem nada mais é do que matéria em movimento. A alma? Um produto da fantasia. A vida após a morte? Um mito. O propósito humano? Uma ilusão.”[9]

Leia a segunda parte

[1] Esta descrição é uma ampliação das afirmações de James W. Sire, no seu clássico “O Universo ao lado: a vida examinada:” (São Paulo, SP:Editora Hagnos, 2004), p. 106.
[2] Em certo sentido, o texto bíblico de que iremos tratar já tem sido explorado em suas implicações contrárias à concepção de um universo fechado até por autores não-adventistas; para um exemplo, ver Michael Green, “II Pedro: Introdução e Comentário” (São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2007), série Cultura Bíblica, 5ª reimpressão, pp. 121-124.
[3] “O pós-modernismo como apresentado não é uma cosmovisão completa. Mas é uma perspectiva que tem modificado várias cosmovisões, sendo uma das mais conhecidas o naturalismo. Na verdade, o melhor caminho para pensar sobre grande parte do pós-modernismo é vê-lo como a mais recente fase do moderno, a mais recente forma de naturalismo.” James Sire, opus. cit., p.232.
[4] Uma interessante e sucinta história do surgimento da Ciência, dentro de um contexto cristão, e seu desenvolvimento cada vez mais autônomo, sob o influxo do Naturalismo, pode ser encontrada em Colin A. Russel, “Correntes cruzadas: interações entre a ciência e a fé” (São Paulo, SP: Hagnos, 2004).
[5] Jürgen Habermas, “O discurso filosófico da modernidade” (Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1998), p. 14
[6] Hans Küng, “A Igreja Católica” (Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2002), p. 190.
[7] Os Guiness, “O Chamado: uma iluminadora reflexão sobre o propósito da vida e seu cumprimento” (São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2001), pp.99 e 101.
[8] Richard Dawkins, “O Rio que saía do Éden: uma visão darwiniana da vida” (Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1996), p. 91 e “Desvendando o arco-íris: Ciência, ilusão e encantamento” (São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2000), p. 9. Grifos meus.
[9] Dinesh D’Souza, “A verdade sobre o Cristianismo: Por que a religião criada por Jesus é moderna, fascinante e inquestionável” (Rio de Janeiro, RJ: Thomas Nelson Brasil, 2008), p.46. O autor está parafraseando o pensamento de Daniel Dennet, autor de “A perigosa Ideia de Darwin”.

PÓS-MODERNIDADE: BREVE OLHAR CRÍTICO SOBRE SUAS RAÍZES E PERSPECTIVAS À LUZ DE 2 PEDRO 3 - parte 2


Além disso, se tudo quanto existe pode ser explicado pelas forças impessoais que atuam no universo, como quer o Naturalismo, segue que até a consciência humana é um resultado destas mesmas forças. Logo, menos claramente se pode distinguir entre ações boas ou más, porque todas são naturais, parte do comportamento do homem-máquina, preservadas pela Seleção Natural que garantiu a nossa sobrevivência. Isto reforça a impossibilidade da responsabilidade pessoal por qualquer ato – mesmo aqueles que são caracterizados como crimes hediondos[1]. Não surpreende que dois estudiosos darwinistas (um biólogo e um antropólogo) sustentassem em um livro recente que o estupro é um comportamento natural![2] Tal suposição de que todo ato humano tem explicação natural leva, logicamente, ao caos social. Como disse o escritor Conrado Álvaro: “O grande desespero que pode se apoderar de uma sociedade é a dúvida de que viver honestamente seja inútil.”[3]

A falta de base para o conhecimento unificado (sobre nós, sobre o mundo e que caminhe rumo a algum senso de propósito para a vida) leva ao desespero. Por esta razão, torna-se impossível viver suficientemente pelos resultados da proposta naturalista.[4] Esta constatação criou várias contrapartidas ao Naturalismo no decurso do século passado – do Existencialismo à Contracultura da década de 60. Neste último caso, misticismo e drogas alucinógenas eram a maneira de “abrir a mente” para uma nova realidade[5]; levando-se em conta que a realidade da ótica naturalista não poderia oferecer qualquer alicerce para nenhum tipo de esperança, restava o refúgio da utopia irracional. O seguinte depoimento é um registro da mentalidade da contra-cultura: “– A droga naqueles dias foi um componente de revolta, com um significado especial para cada um de nós. Não fumávamos apenas porque era bacana ou para alterar o sentido de percepção – que era o barato –, mas para quebrar toda uma estrutura política. A postura iconoclasta seria um fenômeno mundial, uma atitude de contracultura diante de um país vivendo os ‘anos de aço’ da ditadura militar. Éramos rebeldes com boas causas. Na França os motivos eram outros, mas a reação foi a mesma.”[6]

Depois de flertes com a utopia mística, a última faceta do desespero humano desemboca na Pós-Modernidade.

PÓS-MODERNISMO: A ÚLTIMA ESTAÇÃO

A mente pós-moderna desistiu da busca pela verdade absoluta – o que importa agora é a verdade útil, que funcione e traga satisfação em nível individual. A verdade agora pertence à esfera privada, não mais pública.[7] Desta perspectiva, temos de encarar o surto de espiritualidade em anos recentes não como o reacender da chama da fé, mas uma demanda para fugir das implicações naturalistas, sem, contudo, expressar rejeição à própria base do Naturalismo que torna inócuas todas as esperanças para além do mundo físico. Cada pessoa pode mesclar os elementos religiosos de qualquer tradição, da forma como quiser, buscando alcançar conforto, embora este conforto não passe de uma ilusão autoadministrada.

Sendo o Cristianismo, particularmente os ramos Protestante e Pentecostal, uma religião de “conversão individual”, sua compreensão valoriza o “ingresso voluntário” na comunidade[8]. Diante disso, o boom da espiritualidade soa promissor para a expansão da fé cristã. Entretanto, este “retorno da religião” fica condicionado pelo Pós-Modernismo à esfera “do privado, do íntimo, o que retira da religião a importância que tivera enquanto matriz cultural totalizante”; a religião, assim limitada, perde “a capacidade de exercer influência sobre qualquer âmbito de relevância na vida social, limitando-se a esfera individual.” O novo conceito de Cristianismo oferece não valores sólidos, mas “postos de oferta mágico-místico”. A religião cristã deixou de oferecer uma base racional, apenas para se tornar mais uma utopia irracional, uma fantasia conveniente.[9]

Em meio a tantas mudanças, podemos dizer que o caminho do Pós-Modernismo seja satisfatório aos anseios da Humanidade? O conhecido sociólogo Zygmunt Bauman compara Modernidade e Pós-Modernidade a horizontes: na Modernidade, a busca por coisas como “verdade absoluta”, “arte pura”, “ordem”, “certeza” e “harmonia”, constitui o horizonte, para o qual “quanto mais rápido se anda mais velozmente” ele recua, restando o consolo de uma “ilusão sustentadora de um destino, propósito e direção”, que faz com que o caminhante imagine (em vão) estar avançando para algum lugar. Mas este modelo enganoso de sucesso prometido pela Modernidade deu lugar a algo não menos enganoso: agora, na Pós-Modernidade, não existem padrões, exceto que “o consumo é a medida de uma vida bem-sucedida”, o que leva Bauman a concluir que “foi retirada a tampa dos desejos humanos”. A substituição de modelos de vida pela busca insaciável de desejos e “sensações emocionantes” não leva o homem a um maior grau de satisfação. Estamos novamente diante de uma linha de chegada que “avança junto com o corredor”[10]. Em outras palavras: na prática, Modernidade e Pós-Modernidade falham em dar ao homem um senso de satisfação resultante de se alcançar o propósito final de sua vida. A razão? Modernidade e Pós-Modernidade são edifícios erigidos sobre a pedra fundamental do Naturalismo, que “esvaziou” o Universo ao ignorar a existência e atuação de Deus.

Toda a crise oriunda da concepção de um universo fechado resultou na supervalorização otimista do racionalismo, num primeiro momento, para gradativamente afluir no pessimismo e insuficiência do Pós-Modernismo. A única solução para o impasse do homem a beira da falta de sentido está na volta do Teísmo, única visão de mundo que oferece a presença pessoal de um Deus infinito, o que é capaz de prover a contento as necessidades humanas mais intrínsecas. É preciso entender que a vida só faz sentido se o Universo – tanto o físico/externo quanto o pessoal/interno – estiver aberto para a atuação do Deus que a Bíblia apresenta, aceitando Sua completa soberania.


[1] James Sire, “O Universo ao Lado”, pp. 101-103.
[2] Randy Thornhill e Craig T. Palmer, “The natural history of rape: biological bases of sexual coercion” (Cambridge, Massuchusets:MIT Press, 2000). O livro repercutiu no Brasil através da matéria de Mario Sabino, “O estupro é ‘natural’?”, publicado em Veja, 15 de Março de 2000, p. 152. Para uma avaliação do livro de uma perspectiva cristã, ver Nancy Pearcey, “Verdade Absoluta: libertando o Cristianismo de seu cativeiro cultural” (Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006), pp. 235-236.
[3] Conforme publicado no jornal A Notícia, 2 de Janeiro de 2009, nº 24.753, seção “Canal Aberto”, p. 6.
[4] Francis Schaeffer, “A Morte da Razão” (São Paulo, SP: Aliança Bíblica Universitária do Brasil; São José dos Campos, SP: Editora Fiel da Missão Evangélica Literária, 1989), 5ª ed., p. 44. Para uma análise mais detalhada da insuficiência do Naturalismo, ver James W. Sire, “O Universo Ao lado”, pp. 81-91, 95-113.
[5] Sobre contra-cultura, drogas e misticismo, consultar: (A) Fernando Aranda Fraga, “Pós-Modernismo e Nova Era: as conexões sutis”, Diálogo Universitário, vol. 9, nº 3, 1997, p. 11; (B) Os Guinnes, “The dust of Death” (Dowers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1973), capitulo 7, pp.232-269; (C) Francis Schaeffer, “A Morte da Razão”, pp.52 e 53.
[6] Depoimento de Ivan da Costa, um dos amigos do poeta Paulo Leminski, falando sobre o consumo de drogas entre o grupo de pessoas reunidas em torno do artista, em Toninho Vaz, “Paulo Leminski: o bandido que sabia Latim” (Rio de Janeiro, RJ: Editora Record, 2001), p. 90.
[7] David Well, “A supremacia de Cristo em um mundo pós-moderno”, em John Piper e Justin Taylor (org.), “A supremacia de Cristo em um mundo pós-moderno” (Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2007), 26.
[8] Antônio Carlos Perucci, “A religião como solvente - uma aula", disponível em http://www.cebrap.org.br/imagens/Arquivos/religiao_como_solvente.pdf, p. 10.
[9]Fabiana Luci de Oliveira "O campo da sociologia das religiões: secularização versus a 'Revanche de Deus'”, disponível em www.periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/article/viewPDFInterstitial/724/574, pp.5-7, 11-12. A autora está discutindo a posição de Antônio Carlos Perucci, sobre a chamada “desmoralização” da religião, com a qual não concorda; Oliveira apresenta a alternativa de uma mudança de aspecto na religião, que, segundo a autora, continuaria influente no mundo moderno. Em nossa avaliação, Perucci e Oliveira estão, cada qual, olhando para lados opostos da mesma moeda, sendo possível conciliar suas opiniões a respeito da religiosidade moderna.
[10] Zygmunt Bauman, “Modernidade e ambivalência”, (Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 1999), pp. 17-18 e “O mal-estar da pós-modernidade”, (Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 1997), p. 56.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ENCONTRADA BÍBLIA MILENAR


O manuscrito foi encontrado durante uma batida policial contra supostos contrabandistas de antiguidades. A polícia turco-cipriota afirmou acreditar que o manuscrito possa ter dois mil anos de idade.

O objeto contém trechos da Bíblia escritos em letras douradas sobre velinos atados precariamente, segundo as fotos fornecidas à Reuters. Uma página traz o desenho de uma árvore, e outra oito linhas de escrita cirílica.

Entretanto, especialistas estão divididos quanto à proveniência do manuscrito e sobre este ser autêntico, o que o tornaria inestimável, ou uma fraude.

Eles dizem que o uso de letras douradas no manuscrito torna provável que tenha menos de dois mil anos.

"Creio ser mais provável que tenha menos de mil anos", disse à Reuters Peter Williams, da Universidade de Cambridge e grande perito no assunto.

Autoridades turco-cipriotas se apossaram da relíquia na semana passada e nove indivíduos estão sob custódia, aguardando maiores investigações. Mais pessoas ligadas ao achado estão sendo procuradas.

As investigações ainda descobriram uma estátua de orações e um entalhe em madeira de Jesus que se acredita pertencer a uma igreja no norte, de domínio turco, assim com dinamite.

A polícia acusou os detidos por contrabando de antiguidades, escavação ilegal e posse de explosivos.

O cirílico é um dialeto do aramaico, a língua nativa de Jesus, outrora falado em boa parte do Oriente Médio e da Ásia Central. Ele é usado por cristãos sírios e continua em uso na Igreja Ortodoxa Síria de Chipre, enquanto o aramaico ainda é utilizado em rituais religiosos de cristão maronitas no Chipre.

Embora não estejamos de posse dos originais da Bíblia (até porque o material usado não sobreviveu para a posteridade), um número de milhares de cópias tem respaldado os estudiosos e fortalecido a credibilidade do livro dos cristãos. Esperemos para ver se esta nova cópia da Bíblia auxiliará na documentação do livro mais influente do mundo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A FÉ NAS PARADAS

Pode até não parecer, mas são todos cantores cristãos!
Em uma de minhas primeiras experiências com a colportagem, saí com um amigo, Fernando Panontim (hoje, capelão em Porto Alegre). Paramos em uma borracharia. Estava um dia quente. Fernando pediu um copo com água para o dono do estabelecimento. O senhor, muito atenciosos, perguntou-me se também queria água. Talvez o leitor fique com uma má impressão a meu respeito, mas tenho de confessar que, se não percebo que o ambiente é limpo, fico com pé atrás para tomar água e até em usar o banheiro (que ninguém conclua, mediante o que disse, que todas as borracharias são sujas!).

Veio o copo com água, o Fernando deu a oferta de um livro, e saímos sem vender nada. Porém, eu me lembro de que, ao tomarmos certa distância da borracharia, meu companheiro fez a seguinte observação: “Ainda bem que você não aceitou beber água! O copo não estava limpo, e senti mais o gosto de cerveja do que de água”.

Na edição de semana passada, a Veja trouxe uma matéria[1] retratando cantores religiosos, tanto católicos quanto evangélicos, que vem se consagrando junto ao grande público. O padre-galã Fábio de Melo (o artista que mais vendeu no ano de 2008 no mercado nacional, atingindo a marca de 600 mil cópias vendidas de seu CD “Vida”), Soraya (grande vencedora do Grammy Latino), Regis Danese, as bandas Eterna (católica) e Oficina G3 (evangélica), além das pop-stars Aline Barros e Fernanda Brum, entre outras.

O sucesso de cantores religiosos tem desbancado muitos de seus equivalentes seculares. Músicas evangélicas se incorporaram às trilhas sonoras de novelas (!) e a aparição destes artistas em programas de televisão tem causado algum auê. Se este sucesso fonográfico leva os religiosos à conclusão de que estão divulgando suas convicções de forma eficaz, até estudiosos se perguntam sobre a coerência em misturar fé e música popular. “Um padre com a imagem sexualizada é algo espantoso. O que virá seguir?”, alarma-se Samuel Araújo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro[2].

A bem da verdade, enquanto cristãos não desenvolverem uma estética musical adequada ao que creem, estarão colocando água limpa em um copo sujo – metáfora que uso para transmitir o conceito da contaminação da mensagem cristã através de um meio inapropriado. Apesar da formação de muitos músicos cristãos passar pelo estudo da música popular e mesmo a despeito das influências de evangélicos estrangeiros (sobretudo norteamericanos), uma filosofia bíblica do louvor tem de ser formulada. Ou então, os não-cristão comprarão nossos CDs cada vez mais, não por estarem aceitando nossa mensagem, mas porque nós a teremos rejeitado há muito tempo. A fé que está ganhando as paradas está migrando, deixando de ser fé em Deus, para ser fé nas paradas, crença no sucesso como um fim em si mesmo, forte o suficiente para justificar toda a incoerência cometida em nome de Deus.

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A música sacra dentro da cosmovisão adventista: interpretando e aplicando conceitos de Ellen White (parte 1 parte 2 parte 3 parte 4)

[1] Marcelo Marthe e Sérgio Martins, “Cantar com fé”, Veja, ed. 2098, ano 42, nº 5, 4 de Fevereiro de 2009, seção “Artes & Espetáculos”, pp. 120-125.
[2] Idem, p. 124.