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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

UM ATO DE RISCO


A intersecção entre frio e escuro,
De uma região anexa à outra;
Que nome melhor para esta zona
Senão nominá-la medo?

Pátria de todas as reticências
E abismo de todos os mistérios…
Dentro desta cúpula noturna
Ele se acha agora preso.

À mesa oval, compleição complexa,
Como um prisioneiro consciente
De que sua pena cumprir-se-á,
Porque escuta o andar dos guardas.

Ele sintoniza uma estação
E ouve o quanto o rádio lhe permite.
Ah! O rádio não passa de uma caixa
Com pronúncia de asmático.

Canções são sussurros indecisos.
Os sons insinuados contrapõem
O medo ao soprar dias melhores
– São gotas de um gozo em fuga.

De entre as grades ouve o carcereiro
Lúbrico – há prazer mais carcerário
Do que o cumprimento da sentença
– Um sadismo em tons bem justos.

Como se o homem-carcereiro fosse
A sociedade que se vinga
De algum criminoso que merece
Não justiça, mas a pena.

No presente caso, a transgressão
Pela qual seus olhos azuis pagam,
São crimes alheios e constantes
E a pena é sofrer o abuso.

Do alto de seus oito anos, é
O prisioneiro para quem
Jamais a próxima punição
Chegará a ser uma última.

Sobressalta-se e é de novo o medo
Algo como um tônico motriz.
Foge para a escada que há na sala,
Coruja empolada no alto.

Ouve os vitupérios no atropelo
Do esbravejo etílico lá fora.
Ele então se inclina ao corrimão,
Pensa em Deus. Transbordam olhos.

É hipicamente deslocado
O trinco da porta. Nisso, o medo
Passa de um pressentimento à forma,
Forma de invasor real.

Não se trata de um medo produto
De ficção. Não um medo sentido
– Ele pode ser tocado… e mais:
O medo pode tocar!

Vozes de estridente diapasão.
Distante da cena de ódio, enterra
O crânio entre as pernas, conflitante
Tanto quanto está confuso.

Cada berro feminino é como
Se algo quebrasse dentro dele.
Depois (e como o costume rege),
Um silêncio assaz litúrgico.

Ele se ergue e já não mais por medo;
Apoia-se em férreo corrimão,
E se toda escolha custa sempre,
Esta tem um preço acima:

Caminha, humano e homem, com oito anos
(O homem que se deve ser desponta).
Da poltrona, os engasgos violentos
De alguém menor, mas mais velho:

As ilusões de álbuns flanam ante
As retinas gastas sem proveito
– Conhece que são ilusões tolas
(Não que hajam ilusões sábias).

Reflete, sem que ouça os passos flébeis,
De quem se avizinha como aliado,
Aliado sensível. Vem da rua
A luz de um farol de carro.

Suficientemente duradoura
Para eternizar esse momento;
Levanta o menino a sua fronte,
Soldado pronto ao martírio.

Pela bronca aguarda e não há bronca.
Mal sabe: a hora é sua por decreto.
A luz do farol do carro trouxe
A compreensão vária à sala.

O homem na poltrona ergue a cabeça
(Antes entre os joelhos) e lhe lança
O confuso olhar. Do engano de ambos
Nasce a compreensão e o início.

O menino chega e toma as mãos
(As espessas mãos que cheiram a álcool),
Mãos sujas de sangue feminino),
Pondo as suas sobre elas.

O medo volta e ele quer voltar;
Resiste ao seu dono a própria perna.
Logo, recupera-se do choque,
Sua decisão mantém.

Quando o hálito de ambos preenche o vácuo,
O pequeno pare a frase em dores,
A frase que arrasa o inimigo:
“Eu amo você, papai!”.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

FEVEREIRO DE 2012: NOVO TERREMOTO ATINGE AS FILIPINAS


Um terremoto de magnitude 6,7 abalou a região central das Filipinas nesta segunda-feira, 6, matando ao menos 13 pessoas, afirmam as autoridades. O tremor ainda destruiu prédios e causou deslizamentos de terra que soterraram dezenas de casas e seus moradores. Pelo menos 29 pessoas estão desaparecidas.

Bullit Marquez/APSismólogo mostra a atividade sísmica perto das ilhas filipinasO terremoto ocorreu às 11h49 locais (1h49 em Brasília) e teve o epicentro próximo da Ilha dos Negros, a 20 quilômetros de profundidade, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Um grande deslizamento ocorreu na cidade de Guihulngan, de 180 mil habitantes, deixando 30 casas soterradas e 29 desaparecidos, segundo o prefeito Ernesto Reyes. "Vamos esperar pelo melhor, para que ainda haja sobreviventes", disse, acrescentando que as equipes de resgate trabalham no local.

Reyes disse que ao menos dez pessoas foram confirmadas como mortas na cidade, incluindo estudantes de uma universidade e de uma escola primária. Pessoas que estavam em um mercado que desabou também morreram. Há ao menos cem feridos.

O tremor também causou um deslizamento na cidade de La Libertad, também na província de Negros Oriental. O chefe da polícia local disse que há um número indefinido de pessoas soterradas. "Estamos pegando as ferramentas para começar o resgate. Algumas pessoas estavam gritando anteriormente", disse o oficial. Três pontes estão danificadas e estão intransitáveis.

Em Tayasan, uma cidade costeira de 32 mil habitantes e cercada por montanhas e a mais próxima do epicentro, duas pessoas morreram. Uma criança morreu quando uma igreja desabou em Jimalaud.

Os sismólogos filipinos chegaram a emitir um alerta de tsunami para as ilhas centrais, mas não houve feridos, apesar de algumas barracas montadas no litoral terem sofrido danos com ondas maiores que o costume. Houve mais de 40 réplicas e os moradores da região não voltaram para suas casas por conta dos tremores. As autoridades suspenderam o expediente e as aulas. O fornecimento de energia elétrica e os serviços de telecomunicações foram cortados em algumas áreas.

As Filipinas estão localizadas no Anel de Fogo do Pacífico, onde a atividade vulcânica e sísmica é bastante comum. Em 1990, um terremoto de magnitude 7,7 matou quase 2 mil pessoas em Luzon.

Estadão

sábado, 10 de setembro de 2011

ITAJAÍ: ESQUECIDA PELA MÍDIA, LEMBRADA POR DEUS

A história retrocedeu quando ouvimos falar da situação de várias cidades do litoral catarinense. Automaticamente, eu e minha esposa revivemos os momentos de isolamento vividos na enchente de 2008. Na época, morávamos em Itajaí, cidade que comporta o maior porto de Santa Catarina. Como na ocasião, o excesso de chuvas atingiu diversos municípios, como de Blumenau (foto ao lado), antes de descer para Itajaí, localizada na bacia do vale que leva o mesmo nome.

Como temos muitos amigos que moram na cidade, ficamos preocupados com a iminência de uma nova enchente. De fato, muitos irmãos adventistas de São Francisco do Sul, cidade onde atualmente residimos, comentaram nesse sábado sobre as primeiras notícias relativas à enchente deste ano. As duas cidades são unidas pela cultura (ambas de colonização açoriana) e pela economia que depende da atividade portuária. Assim, é comum que muitas pessoas de São Francisco tenham familiares ou conhecidos em Itajaí.






Ao que tudo indica, a enchente atual quase se equipara em estragos e vítimas a que ocorreu há três anos. Pelo menos essa informação apareceu quando minha esposa checou o site da Defesa Civil. Entretanto, para nossa surpresa, os telenoticiários não dedicaram muito tempo ao assunto. Um deles gastou cerca de dois minutos comentando o assunto. Isso nos surpreendeu. Afinal, a enchente de 2008 foi capa de revistas semanais, foi bem divulgada em diversos noticiários por algo equivalente a mais de uma semana e causou comoção nacional. Por que uma catástrofe de proporções similares passou despercebida?

É difícil explicar. Talvez por uma série de fatores. A começar pela proximidade com o aniversário do atentado ocorrido em 11 de Setembro, que monopolizou os principais veículos de informação. Ou isso se explique em decorrência do número de outras catástrofes ocorridas em território nacional (como a que ocorreu recentemente no Rio de Janeiro).

De minha parte, eu registro minha preocupação com tantas pessoas queridas. Lembrei-me daqueles que tiveram de reconstruir a vida, por terem perdido tudo em 2008. Boa parte desses queridos só conseguiu se reerguer pela liberação do fundo de garantia, autorizada pelo governo federal. E agora? Que fundo de emergência virá em socorro dessas pessoas? Oro, e peço que outros se unam a mim em oração, pela segurança de tantas famílias, desabrigadas, isoladas e sem perspectivas. Que Deus, que não se esquece dos desamparados, esteja presente ao lado daqueles que mais precisarem dEle; embora esquecidos pela mídia, os Céus os conhecem.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

REALENGO: A TRAGÉDIA QUE CHEGOU AO BRASIL



Pela televisão, os primeiros casos surreais de atiradores em escolas norte-americanas chegavam aos lares brasileiros como notícias indigestas. Entre várias situações similares, as mais dramáticas talvez sejam duas: a primeira, ocorreu ironicamente em um 2 de Novembro em 2006. Charles Carl Roberts, motorista de um caminhão de entregas, invadiu uma escola amish (grupo cristão conhecido pela austeridade no estilo de vida e forte apelo à vida comunitária). Cinco meninas foram amarradas e mortas; em seguida, Roberts cometeu suicídio. Poucos meses depois, o estudante sul -coreano Cho Seung-hui promoveu um verdadeiro massacre na Universidade Virginia Tech, em Blacksburg. Morreram 32 pessoas naquele fatídico 16 de Março de 2007.

Fora das terras do Tio Sam, Tim Kretschmer chocou a Alemanha ao invadir, em 11 de março de 2009, a escola secundária de Albertville, na cidade de Winnenden, e assassinar dezenas de estudantes. O rapaz foi perseguido pela polícia e, para não fugir do roteiro, suicidou-se ao se ver cercado pelos oficiais.

Nesta manhã de quinta, o que parecia tornar-se comum em escolas estrangeiras atingiu drasticamente ao Brasil. E justamente no Rio de Janeiro, estado tão sofrido, cuja bela geografia – assediada por turistas do mundo todo – tem servido de palco para sangrentos confrontos entre traficantes e policiais.

Wellington Menezes de Oliveira chegou insuspeito na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. O rapaz, de 23 anos, ex-aluno da escola, passou pela portaria ao alegar que faria uma palestra na instituição. Antes de comparecer ao prédio escolar, já baleara duas pessoas fora do recinto. Wellington subiu três andares entrando em salas de aula, numa espécie de ritual macabro. Era o início do terror.

Munido com dois revólveres de calibre 38, o jovem deixou mais de 30 feridos, sendo que até agora mais de 10 alunos faleceram. O massacre só não foi mais drástico devido à intervenção do sargento Márcio Alves, da Polícia Militar. Durante uma blitz nas proximidades da escola Tasso de Oliveira, o policial soube por uma vítima o que estava acontecendo. Mais do que depressa, ele compareceu ao local a tempo de confrontar o atirador. Wellington foi baleado e, na impossibilidade de prosseguir com seus planos, cometeu suicídio.

O crime bárbaro extraiu declaração emocionada da presidente Dilma Rousseff, conhecida por sua índole pouco emotiva. "Não era característica do país ocorrer esse tipo de crime, por isso eu considero que todos aqui, todos nós, homens e mulheres, aqui presentes, estamos unidos no repúdio àquele ato de violência, no repúdio a esse tipo de violência sobretudo com crianças indefesas”, desabafou a mandatária da nação.

Encontrou-se uma carta digitada junto aos pertences de Wellington segue na mesma trilha perversa de outros lunáticos: fissuras com ideias de pureza religiosa, pedido de perdão a Deus e mensagens desconexas. Mesmo que psquiatras desvendem a paranoia do assassino, será de pouco ou nenhum conforto para as famílias enlutadas em razão do crime mais brutal jamais cometido em uma escola brasileira.

Aliás, qual conforto encontrar em uma hora como essa? O que dizer para dezenas de famílias brasileiras que perderam entes queridos em uma escola, lugar o qual não deveria oferecer nenhum tipo de risco à sociedade? Como cristãos, como assimilar que um Deus de amor permita que tanto mal seja praticado contra inocentes? Certamente, muitas perguntas poderiam ser levantadas. Algumas com respostas humanamente impossíveis de serem alcançadas.

Uma coisa é certa: tragédias como as que testemunhamos nos lembram sorrateira e cruelmente da existência do mal. Embora as pessoas se entorpeçam com entretenimentos e a sensação de otimismo desponte irrefreável, nosso mundo decreta falência em várias áreas, como moralidade, segurança, bem-estar e garantia de felicidade, para ficar com aquelas que me parecem mais bem relacionadas a calamidades como a que teve lugar em Realengo.

O que esperar para o futuro? Mais segurança nas escolas? Reforma estrutural no policiamento? Novas decisões políticas para tranquilizar cidadãos? Não me soa racional crer que quaisquer medidas nestas direções façam mais do que conter momentaneamente a crise por conta da tragédia. Longe de um fato isolado, o que aconteceu aponta para uma direção escura, enevoada pelos piores pesadelos de cada pai e mãe, incertos de que, ao se despedirem dos filhos antes das aulas, reencontrar-se-ão com eles ao soar o último sinal no turno letivo.

A única esperança somente pode estar associada com Aquele que prometeu algo melhor para os seus filhos (Jo 14:1-3; Ap 21). Para além de um mundo em que mesmo escolas se transformam em trincheiras e crianças viram alvo, Deus promete um lar. Como ministro e educador, eu não posso conceber algo melhor do que a promessa feita por Jesus.

Ainda hoje à tarde, estive em uma aula com o terceiro ano do Ensino Médio. Em meus quase cinquenta minutos com os alunos, cantamos músicas cristãs, assistimos em um vídeo curto a apresentação de um teatro de sombras e refleti com eles, a partir da história bíblica de Neemias, sobre o poder da união. Ao fim, sugeri que eles orassem entre amigos e, em seguida, eu oraria com todos eles. Qual não foi minha surpresa quando a turma decidiu fazer um grande círculo para oraração em conjunto, por serem todos amigos? Terminamos a aula nos abraçando. Alguns choraram, porque aquilo lhes fez bem, não só como uma catarse, todavia, por se sentirem próximos de Deus e uns dos outros. Ah, se todas as aulas terminassem assim! Em um mundo de tanta dor e injustiça, nada como sair da escola sabendo que a vida continua e continua para sempre para aqueles que confiam nas palavras do maior Professor de todos os tempos, quando afirmou: “Voltarei!”

domingo, 26 de dezembro de 2010

UMA CATÁSTROFE A MAIS EM 2010 - É TEMPO DE PREPARO!

Para fechar um ano em que tantas catástrofes naturais chocaram a comunidade internacional, um terremoto atingiu Vanuatu, nação a Oeste do Oceano Pacífico. Segundo informou o Estadão, o tremor ocorreu às 24h16min de hoje. Em 27 de Maio deste ano, o site Último Segundo notificara a incidência de outro terremoto no país; ambos atingiram pelo menos 7 graus, sem causar maiores estragos, felizmente.

A incidência de catástrofes cresce de forma assustadora, chamando a atenção da mídia. Para aqueles que creem na Palavra de Deus, nenhuma surpresa. Mas fica o alerta de que devemos nos preparar diante desses acontecimentos para o retorno de Jesus, evento para o qual as tragédias apenas servem como sinais.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A ÚLTIMA PARADA

O local da tragédia: torre de babel hodierna

O que seria uma festa tornou-se tragédia. Durante a Love Parade, a maior festa de música eletrônica do mundo, um tumulto coletivo causou a morte de pelo menos 20 pessoas e feriu mais de 500 outras. O festival aconteceu na cidade alemã de Duisburg, no último sábado.

O portal R7 informou ter ocorrido um “surto coletivo” próximo ao palco principal, em um túnel. [1] Numa versão hodierna da torre de babel, pessoas desesperadas pediam socorro em diversos idiomas, enquanto se pisoteavam no túnel. O jornal El país, ao comentar um vídeo feito por vítimas a partir de um celular, apurou que “o aborrecimento com as autoridades, as quais descartaram que a falta de saídas, de espaço e ar causaram um ambiente de terror, constituiu o tom geral dos comentários feitos em redes sociais e dos testemunhos recolhidos” pelo próprio jornal. [2]

De fato, cresce a pressão sobre autoridades e organizadores do evento, de tal maneira que já se decidiu: a fatalidade se tornou a última edição da festa começada em 1989. Não haverá mais a Love Parade. [3]

A forma como se divulgaram as notícias foi outro fator que desagradou a população alemã. Especialmente a veiculação de fotos das vítimas, feitas pelo jornal Bild. [4] Parece que o impacto dos fatos e a comoção causada já foram suficientemente dolorosos, sem a necessidade do sensacionalismo peculiar à mídia.

Festas gigantescas que atraem pessoas de diversos lugares têm se tornado prática comum em centros urbanos ou locais abertos de fácil acesso. Em muitos casos, não há preocupação com a estrutura do evento, especialmente no quesito segurança. Ao mesmo tempo, fica a dúvida sobre o que teria causado o pânico em Duisburg: teria a própria música contribuído para o clima de histeria? Resta que as autoridades alemãs apurem o ocorrido, e novas informações venham à tona.

Num mundo que se entrega sofregamente ao prazer inconsequente, tragédias semelhantes à vista na Love Parade revelam a fragilidade tanto da vida humana quanto dos objetivos de uma geração intoxicada com diversão, orgia e escapismo. Infelizmente, para muitos daqueles que afluiram para Duisburg no último sábado, aquela foi sua última parada.


[1] Número de mortos em festival alemão sobe para 20, disponível em http://noticias.r7.com/internacional/noticias/numero-de-mortos-em-festival-alemao-sobe-para-20-20100726.html .
[2] Anna-Maria Holain, Gritar socorro en varios idiomas, disponível em http://www.elpais.com/articulo/internacional/Gritar/socorro/varios/idiomas/elpepuint/20100726elpepuint_1/Tes .
[3] Sobe para 20 número de mortos no Love Parade da Alemanha, disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,sobe-para-20-numero-de-mortos-no-love-parade-da-alemanha,586290,0.htm .
[4] Abordagem da imprensa na tragédia de Duisburg gera críticas, diposnível em http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/07/abordagem-da-imprensa-na-tragedia-de-duisburg-gera-criticas.html .

segunda-feira, 1 de março de 2010

HAITI, CHILE E EUROPA: O QUE AS CATÁSTROFES REVELAM




Mal tivemos tempo para contabilizar as mortes causadas pelo terremoto no Haiti em Janeiro (estima-se que 200 mil pessoas perderam a vida com a tragédia);no sábado, o Chile também foi vítima de um terremoto de 8,8 graus na escala Richter, sendo que, até o momento, mais de 700 vítimas fatais foram apontadas. Na Europa, o número de mortos em Portugal, Espanha e França chega a 50, desde que as tempestades começaram a atingir esses países, deixando mais de um milhão de casas sem eletricidade. Poderíamos pensar igualmente nas fortes chuvas que afetaram São Paulo, no início do ano, e as fortes chuvas que afetaram a cidade de Campo Grande (MS), no último sábado.Afinal, o que está acontecendo com o clima do planeta?

Tanta destruição chega a fomentar pânico. Ou, ao menos, deveria inspirar alguma comoção. Mas parece que nem dá tempo. Mal uma tragédia cai na bca do povo, e a mídia já notifica outra ocorrêcia funesta. As imagens são, todas elas, chocantes: carros esmagados, asfaltos despedaçados, casas em ruínas, pessoas gritando ou procurando os familiares entre os escombros. 2010 mal começou e milhares de vidas foram perdidas em grandes tragédias naturais. O próprio termo, apesar de se referir a eventos climáticos, não me parece, por um lado, próprio, afinal, é estranho associar a morte de tantas pessoas ao adjetivo “natural”.

De fato, algo deve estar acontecendo e não se enquadra na normalidade. Não digo pela incidência de fenômenos da natureza (embora creia que eles não existissem em um mundo sem pecados, bem sei que ao longo da história eles se repetiram com poder devastador); o que me preocupa é a frequência. Mais do que nunca ouvimos de tragédias tão dramáticas numa sequência tão frenética. Parece que já podemos advinhar que na próxima semana no Japão ou Havaí virá outro terremoto, tsunami ou tempestade esmagadores…

Quando lemos Mateus 24, Jesus nos fala ali sobre os sinais que antecederiam Sua vinda. O texto compara o ciclo de crises que o mundo enfretaria às dores de uma parturiente. Disso eu entendo – afinal, tenho crises renais! As dores aumentam insuportavelmente, mas, de repente, cessam. Depois, as contrações retornam com maior intensidade, e cessam. Finalmente, quando a dor se torna insuportável, é a hora de um bebê vir ao mundo!

A má notícia: nada melhorará. Catástrofes se sucederam, causando pavor e destruindo vidas. A boa notícia: tudo isso não é o fim, mas aponta para o retorno do Messias Carpinteiro, o Senhor Jesus. Devemos atentar para essas coisas com a consciência de que o mundo está com a data de validade vencida. Jesus está voltando e devemos nos preparar para encontrá-Lo. Enquanto ainda estamos vivos – até por que ninguém sabe em que lugar acontecerá a próxima tragédia…

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

IGREJA ADVENTISTA EM GUARULHOS SE MOBILIZA PARA AUXILIAR FLAGELADOS PELA CHUVA




Para muitas pessoas, o ano de 2010 começou literalmente debaixo d’água, uma vez que as chuvas atingiram diversas localidades do país. No interior do estado de São Paulo, o rio Paraíba transbordou devido ao volume das chuvas. Taubaté, São Luiz do Paraitinga, Aparecida, Ubatuba, entre outras que fazem parte do Vale do Paraíba, foram gravemente afetadas. No entanto, enchentes e consequentes perdas materiais e humanas têm sido veiculadas na mídia com tanta frequência que algumas pessoas já nem se comovem diante dessas tragédias.

Mas Reginaldo se comoveu.

O irmão Reginaldo Cardoso é ancião jovem da Igreja Adventista de Bela Vista, sede de um distrito pastoral em Guarulhos, na grande São Paulo. Após acompanhar as notícias trágicas, ele ficou impressionado, e mais ainda quando, ao abrir sua Bíblia para o estudo diário, se deparou com Mateus 25:40, que diz: “Ao que lhes responderá o Rei: Em verdade vos digo que, quando o fizeste aum destes pequeninos irmãos, a mim o fizeste.” Naquela hora, Reginaldo ouviu Deus lhe dizendo: “Faça algo!” E ele fez.




Na sexta-feira daquela mesma semana, ele convocou uma reunião emergencial com outros líderes da igreja, obtendo imediato apoio. No sábado seguinte, iniciou-se o projeto “Ajuda aos desabrigados”. Os líderes mobilizaram a igreja durante o culto para se engajar no plano de ação: veiculou-se um vídeo, mostrando a situação de pessoas afetas pelas enchentes, e a comunidade levantou uma oferta especial em favor das vítimas, no valor de R$1.150,00

À tarde, houve um comparecimento em massa de membros da igreja, que fizeram um mutirão solidário pelas proximidades da igreja. O irmão reginaldo também promoveu a campanha no condomínio onde reside, colocando duas caixas nas quais ficaram armazenadas as doações. Um dos moradores doou 5 cestas básicas e muitas outras doações ainda estão chegando. Outros membros da igreja estenderam a campanha em seus locais de trabalho e vizinhança.

No total, foram recebidos quase 5 mil peças de roupas e cerca de 500 Kg de alimentos. A unidade da ADRA sediada na igreja Adventista de Pq. Meia Lua, em Jacareí (SP), receberá as doações no próximo dia 17 de Janeiro.





“Uma coisa que aprendi é que, quando olho os sinais da volta de Jesus apenas como um cumprimento de uma profecia, nada vai mudar em minha vida; mas se vejo esses sinais como uma oportunidade que Deus me concede para amenizar, um pouco que seja, a dor de muitos, então consigo ver Deus em tudo que fazemos pelo proximo”, conclui o jovem Reginaldo.

Leia também:

"CHOVE CHUVA": MINHA EXPERIÊNCIA COM UMA ENCHENTE
ITAJAÍ: NOTÍCIAS DE UM MICROCOSMO

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

MILTON EM PORTUGUÊS




Provavelmente, uma das tarefas mais árduas e ingratas seja traduzir poemas. Os melhores poetas exploram as peculiaridades de sua língua, produzindo efeitos dificilmente transponíveis para alheio idioma.

Já traduzi alguma coisa do Francês, como treino. Agora, me aventuro pelo Inglês. A dificuldade é maior, uma vez que a língua de Shakespeare é muito mais concisa do que a de Camões (e também em relação à de Leconte de Lisle).

Aliás, já que cito grandes autores, vale dizer que escolhi simplesmente um dos mais ilustres escritores ingleses: John Milton, autor de Paradise Lost. Seu soneto original, On the Late Massacre in Piedmont, é decassílabo e já se encontra em Português, vertido por Isolina Waldvogel, o maior poeta adventista de todos os tempos.

Justamente as opções estéticas de Isolina na tradução de Milton revelam as dificuldades do ofício, o que comentávamos antes. Por exemplo: seguindo um caminho comum, a brasileira usa o alexandrino para comportar o decassílabo inglês. Ela também não se atém ao esquema métrico original, muito menos se furta de interpretar o fraseado peculiar de Milton, nos trechos em que a métrica a obriga a isso.

Diferentemente, minha tradução parte do decassílabo e segue as disposições de rimas miltonianas (que, aliás, fogem do padrão elizabetano do soneto, para seguir o soneto italiano, bem familiar aos leitores luso-brasileiros). O tom das traduções é bem distinto. Isolina é mais melodiosa, evitando os enjabemants do original, enquanto a minha tradução é mais entrecortada, brusca às vezes. Milton encontrou um ritmo mais equilibrado se o cotejarmos ao das duas versões. Procurei ser conciso (até em virtude de o “espaço” disponível no decassílabo ser menor) e o mais fiel ao modo de escrever de Milton.

Claro que fidelidade total seria impossível; no entanto, procurei fazer algo equivalente, num exercício de recriação do poema. Um exemplo disto está no conjunto “stocks/stones” (v.4) usado por Milton, que se constitui de uma paronomásia graciosa. Traduzir literalmente "toras (de madeira)/rochas" não produz o mesmo efeito. Isolina interpreta a expressão, empregando a forma enxuta “ídolos”, que não foge à caracterização da idolatria proposta pelo poema original. Quanto a mim, procurando acompanhar Milton, verti os termos para “lenha/penha”, criando um equivalente linguístico, tanto em significado, quanto em efeito sonoro.

Obviamente, nenhuma tradução é perfeita ou isenta de correções. Mas, com seus méritos e defeitos inerentes, tanto eu quanto (imagino) Isolina tencionamos comunicar a beleza da poesia religiosa de um dos mais relevantes autores ingleses; apesar de partir de um caso real de perseguição religiosa, Milton dá grandiosidade ao tema, fugindo do reles denuncismo para acrescentar uma perspectiva escatológica, apoiada tanto na vingança futura do Senhor, como no triunfo da verdade. Somente este enfoque já justificaria o trabalho para traduzir o seu belíssimo soneto.

On the Late Massacre in Piedmont

Avenge, O Lord, thy slaughtered Saints, whose bones
Lie scattered on the Alpine mountains cold;
Even them who kept thy truth so pure of old,
When all our fathers worshiped stocks and stones,
Forget not: in thy book record their groans
Who were thy sheep, and in their ancient fold
Slain by the bloody Piemontese, that rolled
Mother with infant down the rocks. Their moans
The vales redoubled to the hills, and they
To heaven. Their martyred blood and ashes sow
O'er all the Italian fields, where still doth sway
The triple Tyrant; that from these may grow
A hundredfold, who, having learnt thy way,
Early may fly the Babylonian woe.

(Trad. Isolina Waldvogel)

Vinga, ó Senhor, Teu massacrado povo santo,
Cujos ossos jazem nos Alpes espalhados,
Aqueles que a verdade Tua amaram tanto,
Embora os pais houvessem ídolos louvado.

Não os esqueças, pois Teu livro relatadas
Traz as angústias dessas Tuas ovelhinhas
No montanhês redil outrora trucidadas,
Lançadas rocha abaixo – mães com criancinhas

O vale seu gemido ecoava aos altos montes,
E as cinzas desses mártires predestinados
Cobriam vastos campos, lá no Piemonte,

Por tríplice, cruel tirano dominados.
Surjam das cinzas multidões de seguidores
E fujam cedo aos babilônicos horrores.

(Trad. Douglas Reis)
dedicado a Danivia Mattoso

Vinga, ó Senhor, Teus santos, pois dos tais
Ossos nos Alpes veem-se em cada canto
– Tinham áurea a verdade há muito, enquanto
Louvavam lenha e penha os nossos pais.

Lembra-te: anota em Teu livro os seus ais,
Que eram Tua grei, mas dos montes tanto
Mães quanto filhos se jogou. Que o pranto
Ressoe destes vales tão brutais

Pelo Piemontes todo e dali para
O Céu. A cinza e o sangue do martírio
Enchem a Itália, e abalam a tiara

Tripla do opressor; dê o sangue empíreo
Noutra grei, que o conheça e em senda clara
Fuja do babilônico delírio.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NOVO TSUNAMI, NOVAS VÍTIMAS


Em 2004, o mundo surprendeu-se com a força destruidora de um tsunami (termo até então pouco conhecido); atualmente estima-se que mais de 143 a 230 mil vidas foram ceifadas pela catástrofe. Mas se engana quem pensa que se trata de um fenômeno recente. Ao longo da História, outros tsunamis afetaram a Jamaica (1692), Portugal (1755), Chile (1835), entre outros países. O "recordista" parece ser o Japão (1707, 1896, 1933 e 1993). (Confira aqui uma listagem completa de "edições" do tsunami).

Ontem a tragédia voltou a abater o Oriente. Um terremoto (que alguns apresentam como sendo de 8,3 graus na escala Richter, enquanto outros afirmam que possuia 7,9 graus) provocou novo tsunami. A Samoa e demais ilhas do Pacífico sentiram os efeitos do fenômeno, provocado por um terremoto. Ondas com até 3m de altura invadiaram as cidades e trouxeram pânico aos moradores locais. Até agora, o número de vítimas chega a 114 pessoas, conforme informou o Correio Braziliense. Prevê-se que mais vítimas sejam encontradas.

Jesus asseverou que, no fim dos tempos, houveríamos falar de terremotos (Mt.24:7). Pela incidência e gravidade das tragédias, podemos estar certos da proximidade do fim,o que, em última instância, deve nos levar ao preparo espiritual cada vez mais consciente.

sábado, 29 de novembro de 2008

ITAJAÍ: NOTÍCIAS DE UM MICROCOSMO


Os últimos 3 dias foram de trabalho duro. O colégio adventista de Itajaí não tinha mais professores – todos nos tornamos zeladores, na expressão do engenheiro da Associação Catarinense, o irmão Íris. Ele foi responsável pela coordenação dos trabalhos de limpeza na área de Educação Infantil, laboratórios, cozinha, quadro externa e pátios, afetados pela enchente.

Retiramos carteiras, mesas e quadros das salas para submetê-los à rigorosa higienização. Recolhemos cadernos, livros, materiais escolares completamente enlameados, que não tiveram outro destino a não ser o lixo. E haja sacola para tanta coisa que se perdeu!

As paredes foram esfregadas, as grades da quadra ensaboadas, o pátio recebeu uma “ducha” com o auxílio de um caminhão pipa. Todos tinham seus rodos na mão, vassouras, panos, jatos d’água, desinfetantes ou algo equivalente. A tarefa só não se tornou intransponível devido ao precioso auxílio de funcionários da própria Associação Catarinense (da Igreja Adventista) e de outros colégios (de Florianópolis, do IAESC, etc), que lotaram uma van para nos socorrer. Mesmo assim, foram 3 dias exaustivos.

Neste intercurso, as notícias iam chegando. Famílias de alunos que perderam seus bens. Carros de professores encharcados com as águas da enchente. Funcionários da escola que não conseguiram salvar roupas e móveis.

Cerca de 30 famílias do distrito de São Vicente (em Itajaí) tiveram prejuízo total. Louças cheias de lama, roupas apodrecendo, casas de madeira desabando, racionamento de comida e água. Relatos chocantes de uma tragédia que veio sem hora marcada e parece não ter acabado totalmente.

Pessoalmente, eu, que fui um dos menos atingidos, só pude refazer as pazes com o barbeador na noite de quinta, que não vai tão cedo da minha memória: meu primeiro banho decente em 3 dias, tomado na casa de amigos. Apenas hoje pela manhã havia água no chuveiro de minha casa (havia, porque não há mais!…).

Não seria justo de minha parte me queixar de nada – mesmo porque estou consciente de minha situação altamente privilegiada (se assim posso me expressar) em vista de tantas famílias que ainda estão empenhadas em remover a lama de seus lares.

Além do Colégio Adventista de Itajaí, as nossas igrejas na cidade tiveram que se adaptar à vida pós-enchente. Os adventistas de São Vicente realizaram um culto distrital, emprestando o prédio da Comunidade Evangélica em Itajaí (CEI), uma vez que as congregações adventistas foram gravemente afetadas (por se localizarem naqueles bairros em que água mais subiu).

Quanto ao distrito Central, que sentiu menos o efeito da calamidade (falando de uma forma generalizada), o culto foi reduzido em função da nova realidade. O distrital, Pr. Ademar Paim explicou à membresia sobre o apoio financeiro e material vindo de lugares como Curitiba, São Paulo (Igreja de Moema e do IASP), entre outros. O pastor vibrou emocionado diante do que classificou como a “maravilhosa família adventista”.

À tarde, os membros de todo o distrito se dividiram para distribuir cestas básicas com as primeiras doações que chegaram. Eu, minha esposa Noribel, professores do colégio Adventista e amigos visitamos os bairros São Bento e Promorar. Neste último, o cenário é devastador: muita lama nas ruas não asfaltadas e pilhas de objetos irrecuperáveis – de sofás e móveis a eletrodomésticos. Entregamos água mineral, cestas básicas e esperança a alguns moradores. Não deixávamos os lares antes de realizar uma oração.

Ao mesmo tempo em que as coisas começam a dar uma guinada no sentido de retomar seu ritmo habitual, a realidade ainda se afigura com requintes de extrema escuridão. O maior mercado atacadista de Itajaí foi saqueado. Moradores iam com barcos até o estabelecimento e saíam carregando televisores de plasma (não imagino que alguém, mesmo em estado de extrema necessidade, consiga comer um televisor!) e geladeiras. Latinhas de cerveja furtadas de mercados eram vendidas em semáforos. O mesmo saque covarde aconteceu em quase toda a cidade de Itajaí – do bar do Garnizé às Casas Bahia!

Na quinta-feira foi decretado o toque de recolher às 22 horas. O policiamento tornou-se constante. Ouvi comentários sobre a segurança instável da cidade, comparável a do Rio de Janeiro (ou pelo menos ao estereótipo da “cidade maravilhosa” que a mídia nos fez aceitar).

Itajaí e as demais cidades envolvidas pela calamidade (como Ilhota, Blumenau, Gaspar, Pomerode, Luís Alves) tornaram-se um microcosmo dos últimos tempos. Já dá para divisar o que vem por aí, em termos de calamidades globais, tanto as que se classificam como sinais da volta de Jesus, como aquelas que entram na categoria de últimas pragas (Ap. 16). Mas por que justo essas cidades? Por que aqui, em Santa Catarina?

A resposta a estes questionamentos exige muita cautela. Afinal, deste lado da eternidade é temerário exprimir juízo definitivo, uma vez que temos uma visão apenas parcial dos eventos. Somente Nosso Senhor sabe os motivos. Conquanto nossa compreensão seja limitada, podemos arriscar refletir sobre uma passagem bíblica instrutiva.

Jesus, comentando de uma chaga social de seus dias (o massacre de alguns galileus que se insurgiram contra o governador Pilatos) nos ensinou a não pensar nos flagelados como mais culpados do que as demais pessoas. Podemos divisar no juízo de valores do Mestre um motivo exemplar para que sobre algumas pessoas ou regiões recaiam as calamidades: “Pensais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo! Antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Luc. 13:2 e 3.

Embora os juízos finais de Deus sigam certa “ordem de prioridade”, sendo derramados sobre aquelas cidades e países que tenham majoritariamente se declarado em rebelião contra Deus e Sua Palavra, não podemos nos esquecer que a necessidade de arrependimento e preparação para a última crise são fundamentais a todas as pessoas. Daí se poder falar no aspecto exemplar: todos necessitam se aperceber, através dessa calamidade, que precisam acertar as contas com Deus antes de Seus juízos lhes sobrevirem. Ricos e pobres, todos foram afetados pela enchente. Um dia, os grandes e pequenos se lamentarão diante da face do Senhor, temendo aquele encontro que adiaram ao máximo enquanto desfrutavam desta vida transitória (Ap. 6:15-17). Isto podemos aprender com a tragédia: a necessidade de estar preparado sempre!

Leia também:

Textos de Ellen White sobre a destruição às cidades no Tempo do fim: Calamidades
Os primeiros relatos que pude fazer sobre a crise em Itajaí: "CHOVE CHUVA": MINHA EXPERIÊNCIA COM UMA ENCHENTE
Sobre um catarinense emocionado e um Deus amoroso:Coração catarinense
Contribua para socorrer as vítimas da enchente depositando qualquer valor na conta: Banco do Brasil - Agência 3425-8 e C/C 15.000-2 em nome de ADRA DESABRIGADOS SC).

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"CHOVE CHUVA": MINHA EXPERIÊNCIA COM UMA ENCHENTE

A nova piscina da minha casa!

A decisão mais importante que tive de fazer de domingo para cá foi, sem dúvida, a de subir os móveis.

Contrariando a máxima segunda a qual “ninguém é uma ilha”, vários municípios catarinenses foram vitimados por enchentes, ocasionadas pelas fortes chuvas que sobrevieram à região.

No sábado à noite, durante uma programação regional da igreja, fiquei sabendo da gravidade do problema das enchentes. O presidente da Associação Catarinense dos Adventistas, Pr. Lorival Gomes, informou-nos da situação do município vizinho de Joinville; o Colégio Adventista Central da cidade já fora afetado pelas enchentes e houve perda de recursos. Confesso que, até então, ainda era impossível prever o que me aconteceria. Averiguamos, mais por curiosidade, através da internet, a situação calamitosa de cidades vizinhas, como Brusque, Blumenau, Joinville, etc.

Na manhã seguinte, um de meus amigos, o professor Jean Benassi, que trabalha no mesmo colégio que eu, ligou para minha casa. Ele precisava do telefone do diretor (cuja residência fica em cima da minha), porque seus irmãos estavam desabrigados e ele próprio temia ficar ilhado. Quase em seguida, uma das coordenadoras da escola nos ligou, recomendando que deixássemos nosso veículo em frente à prefeitura. Ela já havia tomada a mesma medida, prevendo que a água do rio entrasse em sua casa.

Ainda incrédulos, eu e minha esposa consultamos o diretor e a dona da casa em que moramos. Dona Terezinha, moradora antiga da cidade, nos garantiu que a água poderia subir ao nível da metade de nosso quintal, sem, contudo, chegar a entrar em nossa casa (que é mais alta do que as demais da rua).

Eu e minha esposa fizemos um “tur”, verificando as ruas próximas a nós que estavam afetadas. Voltamos para casa e logo o pesadelo ganhou contornos realísticos.

O nível da água começou a subir em nossa rua. Ficamos na casa do diretor do Colégio Adventista de Itajaí, Pr. Sonir Brum. Acompanhamos durante boa parte da tarde e noite a cobertura da TV Brasil Esperança, emissora local, sobre os resultados da enchente na cidade.

Vimos lanchas socorrendo idosos em bairros nos quais a água invadiu completamente as residências. Abrigos indicados pela Defesa Civil eram recomendados à população, que ouvia a instrução: “Se a água subir, levante os móveis e saia de casa”.

O apresentador Delísio cobrava a todo instante a prontidão das autoridades – bombeiros, Defesa Civil, Prefeitura –, além de convocar voluntários para socorrer os telespectadores que ligavam dando seus endereços e contando de sua situação. Fomos informados de saques feitos às casas que eram deixadas pelos moradores temerosos. Políticos eram contatos para dar a desculpa rotineira: “Eu não sabia…”

Neste contexto, eu e minha esposa ficamos decidindo o que faríamos com nossos móveis. Se por um lado, tínhamos a garantia de Dona Terezinha de que a água não entraria em nossa casa, acompanhávamos o nível da água subir, chegando mesmo a invadir nosso quintal progressivamente. Não parava de chover desde sábado à noite.

Os carros, por precaução, foram colocados na parte superior do quintal, para evitar possíveis avarias com a subida do nível da água.

A igreja Adventista central de Itajaí tornou-se um posto para atender os desabrigados, sob os cuidados da ADRA. O pastor Paulo Predebom, distrital de São Vicente, o outro distrito da cidade de Itajaí, arrumou um caminhão para fazer mudanças das famílias mais atingidas pela crise.

Acabamos indo dormir. A preocupação nos levou a acordar de hora em hora, durante madrugada, para acompanharmos o avanço do nível da água. Lá pelas 4 da madrugada, percebendo que corríamos o risco de ver nossa sala alagada, chamamos nossos amigos e erguemos os móveis. A geladeira ficou postada sobre as quatro cadeiras da cozinha, enquanto os dois sofás foram apoiados em quatro outras cadeiras emprestadas. Somente depois disto, pudemos dormir em relativa paz.

Pela manhã, o Pr. Sonir e o Emerson, diretor de disciplina do colégio, saíram para ver a situação da escola. O Emerson passara a noite na casa do diretor, e ambos já haviam visitado o colégio várias vezes ao longo do domingo, sem detectar a menor probabilidade de a enchente atingir a instituição. Porém, ao saírem de casa, com a água batendo em suas cinturas, acabaram encontrando uma triste realidade: a área da Educação Infantil, juntamente com os laboratórios (de Ciências e de Informática) e a cozinha do colégio, estavam com mais de um metro de água. Computadores, a geladeira, os materiais das salas – tudo foi perdido, devido à vala próxima que transbordou, trazendo suas águas fétidas para a área mais baixa do colégio.

Próximo das dez da manhã, eu e minha esposa levamos o colchão, roupas, alimentos e materiais de escola para a casa do Pr. Sonir e sua família. As gavetas mais baixas foram postas no estrado da cama. Já estávamos sem energia elétrica.

Passamos o dia recebendo ligações de parentes e amigos, informando e sendo informados sobre a situação dos moradores de Itajaí. Tínhamos alimento abundante, pela Providência divina. Infelizmente, víamos transeuntes vagando com seus apetrechos, enquanto outros deixavam a vizinhança sem muita expectativa de salvar seus pertences.

Acompanhávamos o trânsito de pessoas pela rua, tendo que atravessar a água quase à cintura. Botes salva-vidas, lanchas, caiaques e Jet-sky transitavam por nossa rua, agitando uma marola repugnante. O reflexo da água, sob o sol que abriu, era visto serpenteando pelas paredes das casas, como se a rua toda se tornasse uma imensa piscina marrom. O nível da água em nosso quintal era rigorosamente fiscalizado através das lajotas que levam da garagem a minha porta: contávamos quantos lajotas ainda faltavam para a água chegar à porta de casa.

Somente à tarde, a água invadiu minha casa, através de uma infiltração localizada no pequeno escritório. Como a sala fica em um plano mais alto que o restante dos cômodos, era justamente a sala que ficou incólume ao líquido podre e habitado por baratas. Minha esposa teve de me convencer (e ela pode dizer que não foi fácil) a retirar nossos criados-mudos do quarto e levá-los para a sala enxuta.

Somente a partir de umas 17 horas, começou o recuo da água. A energia elétrica voltou quatro horas depois. Recebemos as primeiras informações: de toda a Santa Catarina, colocada sob estado de emergência pelo governador Fernando Henrique no sábado, Itajaí fora a mais afetada, com cerca de 90% da cidade tomada pela enchente. E os relatos comoventes continuam: agora a pouco homens uniformizados retiraram uma mulher em serviço de parto em um edifício vizinho de onde estamos (minha esposa e a Profª Eude Bahia acompanharam a empreitada, saldada com palmas por populares).

Ainda não sabemos o que nos acontecerá. Só tenho a agradecer a Deus pelos cuidados dispensados a minha família e amigos. Também conto com as orações e apoio material a todos aqueles que perderam tudo naquela que pode ser a mais trágica enchente a afetar o estado catarinense. Oramos para que Deus cuide de vidas que podem se perder sem tempo para conhecê-Lo.