Pela televisão, os primeiros casos surreais de atiradores em escolas norte-americanas chegavam aos lares brasileiros como notícias indigestas. Entre várias situações similares, as mais dramáticas talvez sejam duas: a primeira, ocorreu ironicamente em um 2 de Novembro em 2006. Charles Carl Roberts, motorista de um caminhão de entregas, invadiu uma escola amish (grupo cristão conhecido pela austeridade no estilo de vida e forte apelo à vida comunitária). Cinco meninas foram amarradas e mortas; em seguida, Roberts cometeu suicídio. Poucos meses depois, o estudante sul -coreano Cho Seung-hui promoveu um verdadeiro massacre na Universidade Virginia Tech, em Blacksburg. Morreram 32 pessoas naquele fatídico 16 de Março de 2007.
Fora das terras do Tio Sam, Tim Kretschmer chocou a Alemanha ao invadir, em 11 de março de 2009, a escola secundária de Albertville, na cidade de Winnenden, e assassinar dezenas de estudantes. O rapaz foi perseguido pela polícia e, para não fugir do roteiro, suicidou-se ao se ver cercado pelos oficiais.
Nesta manhã de quinta, o que parecia tornar-se comum em escolas estrangeiras atingiu drasticamente ao Brasil. E justamente no Rio de Janeiro, estado tão sofrido, cuja bela geografia – assediada por turistas do mundo todo – tem servido de palco para sangrentos confrontos entre traficantes e policiais.
Wellington Menezes de Oliveira chegou insuspeito na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. O rapaz, de 23 anos, ex-aluno da escola, passou pela portaria ao alegar que faria uma palestra na instituição. Antes de comparecer ao prédio escolar, já baleara duas pessoas fora do recinto. Wellington subiu três andares entrando em salas de aula, numa espécie de ritual macabro. Era o início do terror.
Munido com dois revólveres de calibre 38, o jovem deixou mais de 30 feridos, sendo que até agora mais de 10 alunos faleceram. O massacre só não foi mais drástico devido à intervenção do sargento Márcio Alves, da Polícia Militar. Durante uma blitz nas proximidades da escola Tasso de Oliveira, o policial soube por uma vítima o que estava acontecendo. Mais do que depressa, ele compareceu ao local a tempo de confrontar o atirador. Wellington foi baleado e, na impossibilidade de prosseguir com seus planos, cometeu suicídio.
O crime bárbaro extraiu declaração emocionada da presidente Dilma Rousseff, conhecida por sua índole pouco emotiva. "Não era característica do país ocorrer esse tipo de crime, por isso eu considero que todos aqui, todos nós, homens e mulheres, aqui presentes, estamos unidos no repúdio àquele ato de violência, no repúdio a esse tipo de violência sobretudo com crianças indefesas”, desabafou a mandatária da nação.
Encontrou-se uma carta digitada junto aos pertences de Wellington segue na mesma trilha perversa de outros lunáticos: fissuras com ideias de pureza religiosa, pedido de perdão a Deus e mensagens desconexas. Mesmo que psquiatras desvendem a paranoia do assassino, será de pouco ou nenhum conforto para as famílias enlutadas em razão do crime mais brutal jamais cometido em uma escola brasileira.
Aliás, qual conforto encontrar em uma hora como essa? O que dizer para dezenas de famílias brasileiras que perderam entes queridos em uma escola, lugar o qual não deveria oferecer nenhum tipo de risco à sociedade? Como cristãos, como assimilar que um Deus de amor permita que tanto mal seja praticado contra inocentes? Certamente, muitas perguntas poderiam ser levantadas. Algumas com respostas humanamente impossíveis de serem alcançadas.
Uma coisa é certa: tragédias como as que testemunhamos nos lembram sorrateira e cruelmente da existência do mal. Embora as pessoas se entorpeçam com entretenimentos e a sensação de otimismo desponte irrefreável, nosso mundo decreta falência em várias áreas, como moralidade, segurança, bem-estar e garantia de felicidade, para ficar com aquelas que me parecem mais bem relacionadas a calamidades como a que teve lugar em Realengo.
O que esperar para o futuro? Mais segurança nas escolas? Reforma estrutural no policiamento? Novas decisões políticas para tranquilizar cidadãos? Não me soa racional crer que quaisquer medidas nestas direções façam mais do que conter momentaneamente a crise por conta da tragédia. Longe de um fato isolado, o que aconteceu aponta para uma direção escura, enevoada pelos piores pesadelos de cada pai e mãe, incertos de que, ao se despedirem dos filhos antes das aulas, reencontrar-se-ão com eles ao soar o último sinal no turno letivo.
A única esperança somente pode estar associada com Aquele que prometeu algo melhor para os seus filhos (Jo 14:1-3; Ap 21). Para além de um mundo em que mesmo escolas se transformam em trincheiras e crianças viram alvo, Deus promete um lar. Como ministro e educador, eu não posso conceber algo melhor do que a promessa feita por Jesus.
Ainda hoje à tarde, estive em uma aula com o terceiro ano do Ensino Médio. Em meus quase cinquenta minutos com os alunos, cantamos músicas cristãs, assistimos em um vídeo curto a apresentação de um teatro de sombras e refleti com eles, a partir da história bíblica de Neemias, sobre o poder da união. Ao fim, sugeri que eles orassem entre amigos e, em seguida, eu oraria com todos eles. Qual não foi minha surpresa quando a turma decidiu fazer um grande círculo para oraração em conjunto, por serem todos amigos? Terminamos a aula nos abraçando. Alguns choraram, porque aquilo lhes fez bem, não só como uma catarse, todavia, por se sentirem próximos de Deus e uns dos outros. Ah, se todas as aulas terminassem assim! Em um mundo de tanta dor e injustiça, nada como sair da escola sabendo que a vida continua e continua para sempre para aqueles que confiam nas palavras do maior Professor de todos os tempos, quando afirmou: “Voltarei!”
2 comentários:
As lágrimas escorrem do meu rosto... Estou revoltada. Como um ser humano é capaz de matar um igual?! JESUS TEM LOGO QUE VOLTAR!!!
Me emocionei ao ler o que aconteceu em sua aula! Lembrei de minha época em escola adventista... Educação diferenciada, que preza valores e princípios! A tragédia choca mesmo e vemos o quanto somos vulneráveis. Sem Deus, ficamos perdidos, sem esperança...
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