Ninguém imaginaria ver o Super-Homem lutando com o desemprego ou
diante de problemas na sua vida “civil” por causa da dupla identidade.
Entretanto, justamente isso se sucedia com o Homem-aranha, um rapaz franzino
que teve “azar” e se tornou um herói. Justamente essa dimensão humana, os
conflitos psicológicos e uma imersão no dia a dia fizeram dos heróis da Marvel Comics a vanguarda dos anos 60s.
Por trás da revolução, existe um nome: Stan Lee.
Lee é, assombrosa e certamente, o maior criador de HQs ainda vivo.
Ele reestruturou as comics ao
contrapor ao heroísmo de colan o aspecto dramático oriundo do mundo real. Não
que realismo e verossimilhança não houvesse antes: nós os encontramos, por
exemplo, na obra de Will Eisner, gênio criador de The Spirit. Mas as personagens do universo noir de Eisner não eram, a rigor, super-heróis. Com o trabalho de
Stan Lee, o panteão das HQs ganhou novos contornos. Surgiram Hulk, Demolidor,
Quarteto Fantástico (revista cancelada, devido à queda de braço entre a Marvel e a Sony), X-Men, além de um certo escalador de paredes…
Aliás, até hoje o cérebro por trás das HQs da Marvel não conseguiu
se lembrar se houve ou não a participação de seu ex-parceiro Jack Kirby na
concepção do uniforme do Homem-aranha. Oficialmente, Lee divide a criação com
Steve Ditko. Mas, segundo o próprio Stan Lee, originalmente a parceria era com
Kirby e só não continuou porque sua primeira versão do cabeça de teias era
muito musculosa e, portanto, convencional (seguia o padrão dos demais heróis).
Como Lee queria uma personagem adolescente, procurou outro desenhista, no caso,
Ditko. Em meio a esta situação confusa, o próprio Lee não sabe dizer se o
uniforme do aranha desenhado por Ditko havia sido concebido antes por Kirby ou
se o próprio Ditko o inventou. Vai saber…
Lee tem brincado de Wally na última década: vive um eterno
esconde-esconde nos filmes dos heróis que criou, aparecendo em longas do
Homem-aranha, Homem de Ferro, entre outros. Mas sua interação com novas mídias
não se limita ao seu lado “bicão de festa”.
O roteirista continua trabalhando, sempre em contato com um
público ainda mais exigente. Prova disso é o envolvimento de Lee na estranha
série Super-humanos, veiculado pelo History Channel. O programa busca
pessoas com supostas capacidades além das explicações convencionais da ciência.
A bizarrice é digna de um programa dominical! Mas Lee jura de pé junto que não
vê outra alternativa do que crer que as pessoas exibidas em seu programa sejam,
de fato, super-humanos. Ou seja: ele falou tanto em aranhas radioativas e raios
gama que agora deu para acreditar no que antes era ficção!
Surpreendente mesmo é o novo projeto de Stan Lee, em parceria
(inusitada) com Arnold Schwarzenegger: a série The Governator. Filmes, desenhos animados e HQs fazem parte desse
projeto, formando um pacote com aspecto retro.
Na série, Arnold é… tcham-tcham – Arnold! Surpreso, né… Pois bem, o
ex-governador passa a combater o crime com a ajuda de um jovem nerd (o velho tema do herói e do
parceiro mirim). Em um spoiler do
desenho animado, o que se vê é uma cópia descarada do visual de O Exterminador
do Futuro, filme que consagrou o ex-governador da Califórnia. Até alguns robôs
que Arnold destrói são a cara dos famosos exterminadores da obra de James
Cameron. Provavelmente se Cameron não estivesse tão interessado com ecologia na
sua existência pós-Avatar, já teria processado Stan Lee. Ou não: afinal, o
conceito de viagem no tempo já havia sido utilizado em uma história do X-men
(da dupla Claremont e Byrne, lembra?) de forma bem semelhante a do filme O Exterminador do Futuro (Cameron nunca
escondeu a inspiração). Parece, portanto, que Stan Lee deu troco.
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