sexta-feira, 30 de abril de 2010

PARA QUEM AINDA NÃO SABIA: O SEGREDO DO SUCESSO DA COCA-COLA

Na última edição da revista Galileu (Maio 2010, no 226, p. 24), uma pergunta intrigante aparece: “Por que gostamos tanto de Coca-Cola?” Além do fatores marketing e sabor (esse, discutível) serem mencionados, outro aspecto importante é mencionado.

Para os professores de Química André Silva Pimentel (PUC – Rio) e Flávio Matsumoto (UFPR), a cafeína é o maior segredo da Coca-Cola: isso porque a cada 200 ml do refrigerante, encontramos 14 mg do estimulante, que causa dependência.

Com todos os malefícios advindos da cafeína, há, portanto, boas razões para abandonarmos o consumo da Coca-Cola.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

OS PROCESSOS


Fala o mal: rolo ou me assento,
Como um mascote do abismo
(Que tempera o adestramento
Com requintes de sadismo).

Caso a inicial apenas
Do nome do Príncipe ouça…
Jesus vence aros e arenas
E junta as partes da louça.

Descarrilado o comboio.
Sucumbo a passos cambaios;
E incumbido de ser joio,
O câmbio ergue do olho os raios:

Tudo em mim se opõe à troca,
Por aspiração de vida,
Que em melhor grau me coloca
Do que o da vida ingerida.

Pelas costas soergue a crista
Um mal de outra casta, e custa
Subtrair a crosta que exista
Para ser casto em fé justa.

Perfaça em mim a assepsia
Liberadora de fé,
Porque a alma que mais confia
Mais livre das trevas é.

Quero dedicar-me ao plano
Que Deus, não eu, delineia,
Pois minha fome de um ano
Sacia com Sua ceia.

Foste à feira e na balança
Pesaste o sangue por preço
Deste escravo (eu) que nu dança,
E a mudança não mereço.

Da forja do inferno para
O cepilho da Justiça,
Sendo que a luz ruge clara
E seu bramido à alma atiça.

Na diáspora me despira
Do mal que dopara tanto;
Deparo-me com a pira
Que depura e me faz santo.

Agora me resta a espera
(Mesmo que no imo a ação queira),
Já que o trigo que o chão gera
Deve saltar na peneira.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A IGREJA E A PEDOFILIA: AS CARTAS NA MESA

O pontificado de Bento VI chega aos cinco anos sem muitos motivos para comemorações. Com a crise desencadeada pelas denúncias de padres pedófilos, devidamente acobertados por suas dioceses, o papa enfrenta um momento delicado.

Para contornar o problema, Bento XVI escreveu aos bispos irlandeses sobre o assunto, no último 19 de Março. Na missiva, o sumo-pontífice aponta os fatores da crise: (1) falta de uma proposta adequada ao fenômeno da secularização; (2) relaxamento da devoção sacerdotal; (3) abandono do Evangelho como referencial para o pensamento e o julgamento; (4) prática de impedir que situações canônicas irregulares sejam julgadas pela lei secular; (5) falha nos critérios de seleção dos candidatos ao sacerdócio; (6) formação decitária nos seminários e noviciados, (7) favorecimento do clero e de fuguras de autoridade em caso de denúncias; (8) a trendência de zelar pelo nome da igreja em detrimento da apuração e julgamento pertinente aos fatos.

Qual a solução para a crise? De acordo com Joseph Ratzinger, ela consiste de 5 passos: Bento XVI propõe cinco medidas: “1) um ano de penitência, 2) redescobrir o sacramento da Reconciliação (a confissão), 3) fomentar a adoração eucarística, 4) uma Visita Apostólica (uma inspeção) em algumas dioceses, seminários e congregações religiosas, 5) uma missão para todos os bispos, sacerdotes e religiosos. Entre outras palavras: fazer a limpeza” [1].

Mas há quem não leve a sério a repentina severidade do bispo de Roma. Em outra carta, essa publicada pelo The New York Times, o teólogo suíço Hans Küng conclama os bispos católicos a uma reforma. Para ele, o diálogo ecumênico, no espírito do Concílio Vaticano II, precisa se recuperado. Decisões do pontificado atual são repassadas e analizadas; segundo o juízo de Küng, a Igreja Católica vive um retrocesso, por promover a missa Tridentina, evitar decisões conciliares, e exigir submissão indiscutível à Roma. Some-se a isso a atual bancarrota moral e ninguém precisa de mais explicação para o pedido de reforma!

Hans Küng pede aos seus destinatários, os bispos católicos, que (1) não se calem, de forma conivente; (2) comecem a reforma, em qualquer nível, pressionando a Cúria a adotar mudanças; (3) retomem a ação colegiada, proposta pelo Vaticano II e, em seguida, abandonada por papas desde então; (4) manter obediência inquestionável somente a Deus, mas falar a verdade, mesmo contra os superiores; (5) focar nas soluções regionais, como no caso do celibato (bastante questionado por causa da onda de pederastia na igreja), momento em que os bispos deveriam apoiar padres que desejassem se casar; (6) exigência da convocação de um concílio, única maneira de solucionar a crise e recuperar a imagem da igreja [2].

A despeito de tantas propostas, é possível que nada seja efetivamente resolvido. A solução adviria de uma volta a Bíblia, enquanto que o papa insiste em exigir uma conduta orientada pela tradição e Küng oferece uma alternativa que se embasa no Vaticano II. Em ambos os casos, as soluções não passam de mero paliativo. Ao menos, as cartas estão na mesa.

[1] Marc Argemí, Crise de pederastia na Igreja em 1.001 palavras, disponível em http://bxvi.wordpress.com/2010/04/24/la-crisis-de-la-pederastia-en-la-iglesia-en-1-001-palabras/ . Reproduzido em http://zenit.org/article-24700?l=portuguese .
[2] A tradução da carta de Küng, feita por Celso M. Paciornik, foi publicada como Epístola da desobediência, em http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,epistola-da-desobediencia,539615,0.htm .

A TRANSFORMAÇÃO QUE DÁ IBOPE

Diversas mídias deram destaque à novela Bela, a Feia, exibida pela rede Record. O folhetim, inspirado na colombiana Yo soy Betty la Fea, provou de um boom na audiência. A razão? A aguardada transformação que a personagem principal Bela sofreu. Dada como morta, ela retorna como Valentina, executiva belíssima. Aliás, uma rápida pesquisa de imagens no Google confirma: nem na série original ou mesmo no remake norteamericano Ugly Betty a transformação foi tão radical.

O segredo do sucesso repentino sequer chega a surpreender. Basta tomar uma belíssima atriz e usar todos os recursos de maquilagem para enfeiá-la (diversas reportagens contaram o que fizeram a Gisele Itié, protagonista da trama da Record, para que a atriz parecesse gorda e com rosto desproporcional). Daí, cria-se a expectativa de sua transformação e voilá.

O fundo moral de Bela, a Feia bate na velha tecla: não importam as aparências, mas o interior e blá, blá. Ironicamente, a novela se desmente: se o interior é o mais importante, por que a menina feia tem que se submeter a uma superprodução e aparecer fashion? Isso sem se levar em conta o público, que reagiu positivamente à Bela repaginada, mostrando que beleza interior é mesmo assunto que interessa apenas a decoradores. De reles 5 pontos, pior momento da novela, com a nova versão, foram atingidos 18 pontos de audiência. Alguns chegam a especular que no Rio de Janeiro a Record passou a Globo em audiência com a novela, atingindo o primeiro lugar.

Isso porque as aparências não importam…
Leia também:

ENTRE A JUSTIÇA E A VINGANÇA

A tênue linha que separa o desejo de punir os culpados e crueldade vingativa é explorada intrigantemente pelo filme Código de Conduta (Law Abiding Citizen, EUA, 2009, Imagem Filmes. Direção: F. Gary Gray). Há algo que nos faz pensar na produção, apesar das lacunas – entre as quais, o descompasso entre a proposta inicial de um filme cabeça em relação ao ritmo alucinado da segunda metade, razão das alfinetadas de boa parte da crítica.

Na trama, o aparentemente pacato Clyde Shelton (Gerard Butler) presencia sua mulher e filha serem violentadas e mortas. Como testumunha de um crime, ele espera a justiça, confiando no promotor Nick Rice (Jamie Foxx). Entretando, Rice faz um acordo com um dos bandidos, diminuindo a sua pena por ter ele colaborado em outra investigação. Dez anos depois, Shelton volta para se vingar.

A partir desse ponto, o filme dá uma guinada. Requintes de crueldade e sofisticação extrema passam a fazer parte do arsenal de Clyde Shelton. A personagem deixa a postura de bom-moço para encarnar uma improvável mistura de Jigsaw (Jogos Mortais) e Ethan Hunt (Missão Impossível).

Porém, o ponto alto da aventura é revelar como a sede de justiça pode conduzir à desidratação própria da vingança. Nada justifica o terrorismo contra a Sociedade, mesmo as injustiças comuns à Sociedade. Claro que ver Shelton mutilar o assassino de sua família pode produzir alguma satisfação carnal; entretanto, se justiça for equivalente a fazer o outro sofrer para além do crime, isso, em si, não constituiria um crime, também passível de punição?

Embora falho, o Sistema Judicial ainda é melhor alternativa do que a anarquia. E Código de Conduta tira proveito da consequência insensata de uma utopia comum dos filmes do gênero: vingança a todo custo e sem regras. O final, ainda que tenha visíveis fraquezas lógicas no desenrolar da ação, apresenta algo ilustrativo: quem semeia vingança, tem que se preparar para colher o mal que plantou.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

QUANDO ALGUÉM DEVE SE UNIR A IGREJA?


Em décadas passadas, os cristãos não-católicos eram até mesmo ridicularizados por seus costumes severos. A despeito dos exageros de determinadas regras impostas à comunidade, os líderes religiosos pautam-se de forma criteriosa quando o assunto era vida cristã. Não era diferente quando se tratava de examinar membros em potencial. Talvez este seja um tópico que, adespeito de sua antiguidade, permaneça controverso: o que é necessário para que alguém seja aceito na comunidade cristã?

A Bíblia não deixa dúvidas de que o batismo é o rito de iniciação para que alguém se torne um cristão (At 2:38,44,47). Além disso, o batismo pressupõe que já houve uma experiência mística de conversão real, associada à morte e ressurreição de Jesus (Rm 6:3-8). A questão gravita sobre o quanto de instrução é necessário para alguém tornar-se um discípulo e poder se batizar. A julgar pelo que Cristo disse, a instrução deve ser o mais completa (Mt 28:20).

Obviamente, instruir é uma parte do processo, a qual se faz acompanhada da prática de uma vida santa, transformada, sinal não somente dos efeitos do ensino, como, principalmente, da comunhão com o Senhor que primeiramente transmitiu as verdades ao ser humano. Enquanto a instruição constitui um processo objetivo, a transformação da vida é algo subjetivo, embora mensurável pelos hábitos de vida.

Max Weber observou entre os protestantes norteamericanos a ênfase na vida ética, que subjulgava o próprio caráter da mensagem da transformação de vida. Ele comenta que, dentro do contexto sócio-religioso de seus dias, não importava a que se seita se pertencia; “[…] o decisivo é que se seja admitido como membro através de ‘citação’, depois de um exame e uma comprovação ética no sentido das virtudes que estão a próprio para o ascetismo ao mesmo tempo íntimo e voltado para o mundo, do protestantismo, e, daí, para a tradição puritana antiga.” Naqueles idos, uma “seita de reputação só aceitaria como membro a pessoa cuja ‘conduta’ a tornasse moralmente em condições disso, fora de qualquer dúvida.” [1]

Com isso, é pouco dizer que as pessoas já deveriam estar completamente transformadas antes do batismo; em verdade, elas nunca deveriam ter sido pecadoras o suficiente a fim de necessitarem uma transformação radical! Logo, a salvação alcançava a bem poucos.

Gritante contraste essa visão produz quando comparada com a práxis dos cristãos contemporâneos, para os quais a sensação da conversão é mais importante do que a ética. O pêndulo correu rapidamente para o lado oposto.

Perdeu quase toda a importância a instrução; são evocados exemplos como o ladrão na cruz (Lc 23:40-43), como de conversão dramática. Claramente, entretanto, estamos diante de uma exceção, por se tratar de alguém que aceitou a Cristo nos momentos finais de sua vida, com base num conhecimento limitado que tivesse dEle e Sua obra.

Outra situação evocada é a do Eunuco etíope, que se batizou após uma conversa com Filipe (At 8:26-39). Porém, o texto nos informa que o funcionário real havia ido a Jerusalém para adorar (v. 27), o que nos sugere que ele fosse um prosélito do judaísmo. Algum conhecimento da Verdade aquele homem possuía e o que lhe faltava, certamente, Filipe supriu durante a conversa que tiveram.

Requer acrescentar aos fatos citados a compreensão de que, para muitos judeus do primeiro século, a verdade que lhes fatava era a vinda do Messias cumprida em Jesus de Nazaré, e a decorrente abolição das leis cerimoniais. Em contrapartida, estamos em um mundo dito pós-cristão, que despreza ou relativiza muitas das doutrinas bíblicas. As pessoas não possuem uma base comum a partir da tradição cristã [2]. No contexto brasileiro, a Igreja Católica deixou resquícios ubíquos, e esses influem sobre a mentalidade religiosa da sociedade, criando um substrato que precisa ser demolido, a fim de que se queira assegurar uma instrução cristã adequada [3].

Ainda assim, há igrejas pentecostais para as quais é comum a prática de convites (apelos) feitos durante o culto para que a pessoa se batize imediatamente! Como já dissemos, a questão, para tais grupos, não envolve preparo, tão somente a dramaticidade da conversão (reduzida à decisão de “aceitar a Jesus”, sem se levar em conta as implicações no ethos pessoal ou mesmo o preparo doutrinário formal).

Em benefício do recém-converso, o preparo doutrinário evitará confusão, além de favorecer seu crescimento espiritual sadio; sem a instrução necessária, haverá, muito provavelmente, uma má compreensão da vida cristã, bem como sua possível idealização. Conquanto o acompanhamento por parte de cristãos maduros seja necessário, o neófito precisa estar bem fundamentado em sua decisão e ter tido aquela experiência pessoal com Jesus, antes de se batizar: somente assim, ele se sentirá seguro de poder ir a Jesus como está, sabendo que um Deus de amor, por misericórdia a ele, não permitirá que ele fique como está – antes, o transformará a cada dia, em uma “nova criatura”.

[1] H. Genth e C. Wright Mills (org.): Max Weber, Ensaios de Sociologia (Rio de Janeiro, RJ: Zahar Editores, 1974), 3a ed., pp. 352-3, 351. Grifos no original.
[2] Creio que a primeira observação que ouvi feita nesse sentido partiu do teólogo Alberto R. Timm, em uma de suas aulas.
[3] Para as influências do Catolicismo sobre a liderança neopentecostal, ver Augusto Nicodemos, O que estão fazendo com a igreja: ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro (São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2008), p.27-ss.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

CRISTÃOS: IMAGEM DE FELICIDADE



"Os cristãos não são super-homem, mas têm problemas. Estamos sujeitos às mesmas dificuldades que os outros. Em nome da defesa do evangelho, vendemos uma imagem de felicidade que não condiz com a realidade da nossa vida e muito menos com a natureza do evangelho. Há muitas pessoas que sofrem por causa desse estoicismo estranho à. Há um dom em você Bíblia. Paulo mesmo, ao longo de suas cartas, fala naturalmente de seus sofrimentos. Jesus não escondeu sua angústia diante da iminência da morte."

Israel Belo de Azevedo, Gente cansada de igreja, (São Paulo, SP: Hagnos, 2010) pp.8-9.

terça-feira, 20 de abril de 2010

SEMPRE O EGOÍSMO!



ODE XI

Estala o dedo o tolo para que o ouçam estrelas
– Desconhece a loucura de adquirir seus desejos;
Logo se gaba ante outros das terras que acumula.
Mas veja-o na dura hora: fica o bem, vai-se a posse!
Deu nome às terras, pena: lhe encobre o nome esta última.
No íntimo soube – ocorre que se rendeu aos olhos;
O óleo da unção não pode mudar a vida egoísta…
Leia também: Ode VIII

segunda-feira, 19 de abril de 2010

JENNIFER KNAPP, RAY BOLTZ E A DEMOLIÇÃO DO ARMÁRIO



A produção artística faz com que, aos 36 anos, Jennifer Knapp pareça uma adolescente. Isso é ideal para a cantora cristã que envereda pelo caminho do pop. O que não cairá bem para a sua imagem será quando os fãs descobrirem que Knapp assumiu a homossexualidade.
Recentemente, a mudança de orientação sexual da cantora, que teria passado dez anos sem possuir um par (e sem envolvimento sexual), chamou a atenção da Reuters. Em matéria divulgada pela agência, Jennifer Knapp divulgou o lançamento de seu novo álbum, que atingirá “o grande público” – ou seja: um álbum secular, assim como Freedom, lançado por Michael English logo quando o cantor assumiu um caso extraconjugal (aliás, English, Sandi Patty e Amy Grant aparecem na reportagem como exemplos de astros cristãos que tiveram seus deslizes morais).
Ainda assim, Jennifer se considera uma pessoa de fé. Seu vaticínio de que sofrerá preconceito – ‘“Sei que vão me enterrar antes de ouvirem a história inteira”’ –, não a impede de solicitar compreensão da parte de pessoas religiosas: ‘“Se existe alguma frustração, é por tentar romper com cortesia o jugo de ter que ser algo que não consigo, dizendo com toda humildade: 'Por favor sejam gentis comigo quando descobrirem a verdade'. É tudo o que você pode fazer."’
Outro famoso cantor gospel, Ray Boltz, chocou o mundo religioso por “sair do armário”. Boltz é autor de canções conhecidas entre os adventistas, como Watch The Lamb (cujo vídeo é exibido na Semana Santa), Thank You (“Obrigado/Por dar-me pro Senhor/Hoje eu estou/transformado”, na voz de Fernando Iglesias), I Pledge Allegiance To The Lamb (que fala sobre os mártires, e possui um vídeo comovente), entre outras.
Recentemente, Ray Boltz divulgou em seu site a música Don't Tell Me Who To Love (“Não me diga a quem amar”), deixando bem clara sua posição, assumida durante uma entrevista dada ao periódico The Washington Blade (veja aqui a matéria da Christianity Today).
A exemplo de Knapp e Boltz, a alegação comum de cristãos que assumem sua homossexualidade é não terem mais como lutar contra a própria natureza. A aceitação da “condição” nesses casos não costuma ser tão entusiástica como a de Ricky Martin. Geralmente, primeiro vem a confissão de ser impossível resistir (mesmo sabendo ser errado); a defesa da homossexualidade (e, em alguns casos, a militância) se desenvolvem a posteriori.

Mas a Bíblia ensina a lutar contra a nossa natureza: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria.” Portanto, toda e qualquer fraqueza se deve submeter a Cristo, por meio de quem se obtém a vitória. Em Jesus, ninguém sairá do armário ou viverá nele: o armário, simplesmente, será demolido!


Colaboração: Levi Tavares (Música e Adoração)

domingo, 18 de abril de 2010

NADA COMO OS ÔNIBUS DE SÃO PAULO

O metrô me deixou no terminal e, uma vez informado, tomei o ônibus que me poria na última etapa do caminho para o UNASP campus 1. Lá seria minha entrevista de emprego. Eu me arrumara para a ocasião e sentia certa ansiedade. Entrei no ônibus longo e tomei assento.

De frente para mim sentara-se um homem negro, careca, com grandes oósculos espelhados. Tive a impressão de que ele me encarava. Entretanto, julguei que a impressão se devia mais à posição dos assentos do que a qualquer outro fator. A viagem transcorreu.

Lá pela metade do caminho, um rapazote loiro, com fiapos de barba, saiu de seu lugar no fundo do veículo, e veio ficar ao meu lado. Aquilo me perturbou por alguns instantes, por parecer desprositado que alguém deixasse seu lugar e viesse sentar-se justamente ali, onde eu me encontrava. Acalmei-me com o pensamento de que não haveria de ser nada de mais.

Eu me enganara. Passados poucos minutos, o rapaz me cutucou. Olhei para ele, que sinalizou para que eu olhasse para frente. Instintivamente, virei-me e o senhor negro, levantou a camisa e me mostrou um revolver cujo cano prendia-se à calça. O homem fez um gesto para que eu mantivesse o silêncio.

Há momentos em que um homem deve mostrar de que é feito. Reuni toda a minha coragem. Afinal, não permitiria que ele simplesmente me pedisse para ficar quieto. Tinha que tomar uma atitude. Olhando firmemente para ele, acenei com a cabeça, concordando!

O rapaz ao lado em revistou e tenho que dizer da sua decepção: um celular sem crédito, um relógio com o vidro trincado, R$ 13,00 – eis tudo o que eles arrancaram de mim (mesmo porque, eu possuía apenas tais bens). “E os cartões de crédito?”, perguntou o malfeitor que tinha a arma oculta. Eu consegui responder, achando alguma graça da pergunta, que não os tinha.

Eles deixaram o ônibus minutos após, ainda pedindo a minha cooperação quanto ao sigilo. Enquanto eles saíam, agradeci a Deus em oração. Bens podem ser comprados. O principal, porém, era a vida, a segurança, o não ter sofrido nenhum dano. Deus guardara-me incólume.

Agradeci igualmente pela minha jaquete marrom que os gatunos deixaram para trás. Na verdade, por se tratar de um presente de meus pais, muito me agradara o tê-la conservado. Mal acabara de proferir esse último preito, quando o mais novo dos assaltes voltou e proferiu a frase chocante: “Passe a jaqueta também”.

Com bastante calma, argumentei com ele que não precisava levar a jaqueta, que fora um presente. Embora ele insistisse, acabou desistindo e voltando a sair do ônibus. A melhor explicação que encontrei para a desistência, humamente falando, foi que provavelmente o rapaz não estivesse armado e também pelo fato de o veículo estar parado esperando que ele descesse. Portanto, não havia muito tempo para que ele insistisse ou talvez arma que usasse para me obrigar.

Do vidro de trás do ônibus, avistei os comparsas ainda me observando, em uma despedida constrangedora. Sinalizavam-me, mostrando que ainda estavam de olho. Pensei: o que me impediria de denunciá-los? Como saberiam? Dei-me conta então de que, muito provavelmente ainda outro integrante da quadrilha permanecera a bordo.

Enquanto essas reflexões me acudiam, um passageiro que estivera todo o tempo ao lado do homem negro me abordou, perguntando o que ocorrera, se eu fora assaltado. Achei fora de lugar a questão. Afinal, o homem, pela proximidade do ocorrido, testemunhara tudo. Não participara diretamente da ação, antes, soubera manter-se icógnito, disfarçando sua presença com discrição total. Desconfiei de que sua curiosidade não passasse de dissumulação. Dei algumas evasivas e esperei até chegar no terminal João Dias.

Assim que desembarquei, restava tomar outra condução até meu destino. Como me achava completamente dilapidado, tive de usar de minha coragem (essa era a hora para agir corajosamente!) para ir até o motorista e revelar minha completa falta de recursos. Expliquei-lhe sobre o assalto. Quamanha naturalidade ele mostrara, que percebi que assaltos deveriam ser frequentes naquelas bandas.

Assim que subi, notei que o mesmo homem curioso que se dirigira a mim após o assalto também embarcara. Em vários momentos da viagem curta, reparei que aquele cidadão me olhara. Aquilo me trouxe preocupação aflitiva.

Quando finalmente cheguei ao UNASP, uma sensação paronóica me percorreu. Todos eram suspeitos. Demoraria ainda meses para que aquilo me deixasse (e, a bem da verdade, ainda sou excessivamente cauteloso). Enfim, nada como uma viagem de ônibus em São Paulo para trazer um pouco de suspense e adrenalina!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

COSCIÊNCIA SEM SOSSEGO


(TURBILHÃO)

Isso é assunto deles. Eu fiz o que pude
– E até fiz demais!... Hum! Meus pés doem, e os braços...
Devo estar com uma aparência horrível. Traços
Da última noite mal dormida, a barba rude...

Quem era aquele homem tão digno? Ouço ainda os passos
– Parecem ir para o local da pena. Alude
Minha mente ao fato: eu tentei salvá-lo amiúde.
Os sacerdotes, foi culpa deles. Em laços

Vi-o pêgo, e depois, quando o examinei...Plebe
Cheia das crenças mais estranhas! No entanto...Ora...
“O que é a Verdade?” Açoitado! Ouço a voz do povo...

A mulher disse! O fim de minha mão recebe.
Foram eles, não eu! Não lhe puseram fora.
Por que quando a olho, vejo suja a mão de novo?

MESSI: O LADO HUMANO DE UM DEUS



Os catalães deliram. A Europa reconhece que ele é melhor do que Pelé. Ronaldo se diz encantado com ele. Ronaldinho Gaúcho teria vibrado a cada gol dele contra o Arsenal – e foram quatro, em uma só partida! Tévez o escalou para sua “seleção ideal”. Zico reconhece que nunca (mesmo em seu auge) jogou como ele. Maradona delarou que ele chegará a ser o melhor de todos os tempos. Pelos quatro cantos do planeta, Lionel Messi é chamado de o novo deus da bola.

De fato, qualquer um que assistir aos lances de partidas recentes ficará estonteado. O argentino, campeão do mundial de clubes pelo Barcelona, é, como dizem, “de outro mundo”. Claro que amantes veteranos do futebol se lembrarão de outros craques, igualmente aclamados e reverenciados. Os próprios torcedores do Barça já foram devotos de Ronaldinho Gaúcho, a mesma divindade dentuça que hoje sofre com a iconoclastia do técnico Dunga.

Por outro lado, a tarefa de comparar o desempenho de jogadores de épocas diferentes soa como hercúlea. Mais justo seria comparar o jogador consigo mesmo. Thierry Henry, por exemplo, já encantou os gramados ingleses, mas hoje é mais conhecido pelas suas habilidades com a mão do que com as pernas. Mesmo atletas em grande fase dificilmente conseguem ser brilhantes e surpreender a cada jogo.

Mesmo Messi, a divindade da vez, revela seu lado drasticamente humano na condição que mais interessa aos brasileiros: jogando pela Seleção Argentina.
Leia também:

DO "SUMMUM BONUM" PARA "O MEU BEM MAIOR": E DEUS PERDE TERRENO!

Regis Danese: o milagre ficou menor!


A expressão religiosa perdeu seu impacto modificador em detrimento de sua compartimentalização. Não se trata mais de uma busca pela Verdade, mas de seguir algo, desde que aquilo me faça bem. A sociedade valoriza o lado social da igreja e sua orientação no que tange aos problemas próprios à juventude (incentivo ao trabalho honesto, afastamento dos vícios, prevenção da gravidez na adolescência, etc); entretanto, restrito a essas e outras contribuições menores, o papel da igreja tem relevância reduzida e quota zero de imprescindibilidade (alguém pode, afinal, não se envolver com entorpecentes, ainda que não seja adepto de uma determinada denominação cristã).

Obviamente, o Cristianismo tradicional é algo muito maior do que esse tigre de unhas podadas e acostumada a pratos de leite que se vê por aí. Pensemos na contribuição fundamental dos grandes pensadores cristãos, como Agostinho, bispo de Hipona (norte da África). Quem era Deus para Agostinho? Na concepção do teólogo ocidental mais influente, Deus é o summum bonum, o bem supremo, ao qual procuramos “por si mesmo, e não por causa de outra coisa, e uma vez conseguido esse bem não procuramos mais nada para ser felizes.” [1] Logo, partindo-se de semelhante conceito, viver alheio em relação a Deus é alienar-se de sua própria felicidade.

Para marcar o sinal da mudança quanto ao paradigma de Agostinho, usarei um exemplo da cultura popular. Assistimos atualmente ao advento de músicas evangélicas que repercurtem na mídia secular. Uma delas é a composição Faz um milagre em mim, interpretada pelo cantor Regis Danese. No refrão se diz “Entra na minha vida/Mexe com minha estrutura/Sara todas as feridas/Me ensina a ter Santidade/Quero amar somente a Ti,/Porque o Senhor é o meu bem maior,/Faz um Milagre em mim.”

Curioso notar o uso da expressão “meu bem maior”, que revela a mentalidade dos religiosos, em consonância com o pensamento da época. O summum bonum de Agostinho não vem acompanhado de pronomes possessivos, embora o teólogo afirme a possibilidade de tal bem ser “conseguido”. A diferença, portanto, envolve a ênfase: dizer que Deus seja o bem maior implica, para Agostinho, a necessidade de se adquirir tal bem, o que traduz uma busca fundamental, respondida por um Objeto Absoluto e Insubstituível.

Na letra de Danese, Deus agora é “o meu bem maior”, ou seja, aquilo que de mais importante eu tenha, objeto de minhas afeições e certeza de que meus problemas (“feridas” e aquilo que envolva a “minha estrutura” pessoal) serão solucionados. É mais um Deus para ser experimentado em nível pessoal do que o Deus Absoluto que responde anseios universais. Não quero dizer que não se possa obter uma experiência com Deus (Agostinho mesmo o sugere com a metáfora da busca/fruição); a questão é a qualidade da experiência e sua legitimação, não somente como opção entre outras, mas como a Opção.

Enquanto Deus for mostrado como somente uma opção útil em nível pessoal, e o Cristianismo se permitir vitimar pelo vigente relativismo, não poderemos clamar por um milagre dentro de um contexto maior, mas teremos que dizer – baixinho, cada vez mais baixinho – “Faz um milagre em mim”.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A MODA QUE "PEGOU" ENTRE OS "PEGADORES"


Sandra: em um dia premiada, no outro castigada pela infidelidade

Absurdo. 9 entre 10 pessoas concordariam que a atriz Sandra Bullock é um exemplo de mulher bonita. Bullock provou, ao receber o Oscar de melhor atriz (por Um sonho Possível), que é igualmente talentosa e competente. Com tantas qualidades, parece impossível que um homem pudesse sentir-se insatisfeito ao lado de alguém como a atriz. Mas Jesse James, seu marido, conseguiu a façanha e, de quebra, a traiu com a modelo Michelle McGee. Ao que consta, McGee não possui um décimo da beleza de Bullock, e uma porcentagem ainda menor de seu talento. O que tem a mais (um diferencial?) é a horripilante coleção de tatuagens espalhadas pelo corpo.

De fato, enquanto Sandra Bullock filmava o longa que lhe renderia o prêmio máximo do cinema, Jesse James abordava a outra com a conversa-mole favorita dos infiéis: “meu casamento não anda bem, eu e minha mulher queremos nos separar e, enquanto isso, quem sabe se nós dois…”.

Recentemente, outro caso de traição improvável ganhou a mídia: o golfista Tiger Woods teve diversos casos conjulgais. O impressionante é que o esportista é casado com Elin Nordegren, uma sueca que faz juz à fama da beleza escandinava (alguém, com muita boa vontade, diria que Woods é, no máximo, simpático…).

Depois de alguns escândalos, o golfista cara-de-pau, como o sobrenome já diz, voltou ao esporte. Num jogo entre veteranos, em Mangusta, todos foram supreendidos quando um avião cruzando os céus, com uma faixa que estampava o seguinte: “Tiger, did you mean bootyism?” (“Tiger, você não quis dizer bootyism”?). O dizer fazia trocadilho entre o Budismo, religião de Woods, e o Bootysm, uma seita que advoga a poligamia.

Homens como Jesse James e Tiger Woods, invejados pelo seu sucesso e por suas companhias, demonstram que a infidelidade é muito mais do que mera insatisfação; é um hábito, uma adicção! Até sem motivos, o traidor segue sua natureza e sai por aí, flertando com o primeiro rabo de saia.

Todavia, a desculpa dos famosos funcionou: ao ser descoberto, o traidor agora pede desculpas e se interna às pressas, alegando que é viciado em sexo. Pobres maridos! Bem sucedidos, bem acompanhados e presos a um viciozinho à toa! Eles tentam, mas em vão. Como resistir ao que é mais forte do que eles? Ai das mulheres – se modelos e atrizes incensadas não conseguem exclusividade de seus cônjuges, como as “meras mortais” (expressão popular com a qual não concordo) evitariam ser traídas? Parece que a única alternativa que resta às mulheres é se conformar à natureza masculina, sempre volúvel e instável.

Os evolucionistas diriam que isso é parte do pacote evolutivo, mas seria irresponsável, além de cômodo, usar essa escusa, que, além do mais, não passa de mera conjectura de alguns autores (homens, curiosamente…). A questão envolve caráter – ou melhor, falta dele! Fidelidade conjugal é um compromisso que se faz. Tal aliança se vale de decisões construídas no dia a dia, com amor e dedicação atenciosa. Esse, sim, é um sonho possível.
Veja mais:

sexta-feira, 9 de abril de 2010

ARQUEÓLOGO ADVENTISTA PARTICIPA DE REPORTAGEM SOBRE A MORTE DE JESUS

A revista Isto É publicou interessante matéria analisando a forma como Jesus fora crucificado. A reportagem, assinada por Rodrigo Cardoso, mantém neutralidade jornalística, além de consultar especialistas em estudos do Novo Testamento. Um dos estudiosos citados é o Dr. Rodrigo Silva, professor do UNASP- campus 2, reconhecida autoridade na área de Arqueologia bíblica e já mencionado em reportagens anteriores da revista.

Segundo muitos estudiosos, Jesus teria permanecido sentado no momento da crucifixão. Abaixo, um gráfico publicado pela revista, que representa o que os estudos mais recentes propõem sobre a forma como Jesus morreu.


GÊNESIS E DARWIN DISPUTAM PRÊMIO DE MELHOR HQ


O site HQ Maniacs divulgou uma lista com os indicados ao Eisner Awards 2010, que premia as melhores HQs. Na categoria de melhor adaptação, entre os indicados, aparecem Charles Darwin´s On the Origin of Species: A Graphic Adaptation, adaptado por Michael Keller e Nicolle Rager Fuller (Rodale) e Gênesis, de R. Crumb (Norton).

Esse último trabalho saiu no Brasil publicado pela editora Conrad. Pude conferi-lo no início do ano. Por mais que Crumb afirme fidelidade ao texto, à guisa de introdução ela fala dos erros intencionais dos tradutores, como se o fato dele ter retratado a história bíblica o promovesse à exegeta! Além do mais, o cartunista não se exime de criar cenas de alto teor erótico, dando a impressão de que os patriarcas eram nômades africanos, que viviam para o sexo e matança.

Sem dúvida, seja quem for o ganhador dessa disputa (no caso de uma das duas obras sagrar-se vitoriosa, sem levar em conta as demais concorrentes), a verdadeira vitória caberá ao espírito pós-moderno: afinal, ele se municia de bases evolucionistas (embora não endosse o Evolucionismo de forma acrítica) e reduz a Religião à Antropologia.


Leia também: Deus não está escrito nos gibis

quarta-feira, 7 de abril de 2010

SURPRESO TETZEL




“Vinde, obtei, almas sem feitio e andança nula,
Perdão, que se alto o custo, o alcance lhe compensa,
Pois se quereis achar da horda em chamas licença,
Nem a cruz benefício oferta como a bula!

“A espada que desfralda, o punho que estrangula,
Podem garantir junto aos anjos a presença.
Sufocai no ouro o papa!…(e os reinos, que ele os vença);
Deixai a Quem montou a cria de uma mula.

“Mostrai amor aos que andam dentre o purgatório:
Vendei títulos, daí vossas túnicas caras,
E os removereis deste hórrido território.”

Munido Tetzel com astúcia e catequeses,
Acha a superstição frouxa e inodoras aras,
E tudo a rescindir noventa e cinco teses.
Leia também: Ósculo de Miltitz

domingo, 4 de abril de 2010

CARTA ABERTA A UM TEÓLOGO QUE VÊ A MÚSICA SACRA COMO LETRA RELIGIOSA





Prelúdio: após meses do debate que gerou esse texto, recebi ameaças de processo do teólogo a quem me refiro aqui por J.B. Não só a mim, mas ele intimidou editores de sites cristãos e até mesmo o Centro White Brasil. Sua acusação? Plágio! Em realidade, ele pedia que retirássemos todo conteúdo relacionado a ele em nossas páginas na internet. Veja lá a situação (no meu caso): o indivíduo comenta no blog, que é livre, inicia um debate infinito e tudo por conta própria; daí, meses depois, exige, isso aí, exige, que eu exclua seus comentários ou então me acusaria de… plágio. Pois é, sem pé nem cabeça. Mas, já que ele pediu, eu atendi: apaguei seus comentários e referência que outros fizeram a ele (confesso que a tarefa foi muito gratificante...). Fiquei me perguntando depois: se não queria debater, porque iniciou o imbróglio? Acho isso falta de etiqueta na rede: se discorda, não precisa arrumar briga! Quanta baboseira leio por aí e nem por isso fico usando o espaço de outrem para expressar minha opinião. O mais cômico da história: descobrimos que o tal advogado a quem J.B. recorreu nem exercia a profissão, por falta de licença da OAB! Hoje, J.B. continua divulgando seus textos, sobre adoração liberal, a descrença em 1844, oferecendo interpretações alternativas sobre o Apocalipse e ridicularizando marcos adventistas, como 2300 tardes e manhãs e o conceito de decreto dominical. E pior: ele jura que é adventista! Vá entender…

J.B [nome fictício], As opiniões que você expressou nos últimos comentários à postagem Critérios para a Música Sacra são, no mínimo, curiosas. Elas lembram mais a exegese que os adversários tradicionais da Igreja Adventista utilizam contra nós do que a maneira de argumentar que nos é própria. 
Exemplifico: Você usa uma parte de um texto de Ellen White para basear um princípio que fere todas as demais declarações da escritora; semelhantemente, há aqueles que se valem de textos como Rm 14:5 para relativizar a guarda do sábado, sem considerar adequadamente o contexto do verso, e desprezando todas as outras referências – centenas delas! – ao sábado como dia de repouso. 
Para você, quando Ellen White escreveu que “nem todas as mentes são alcançadas pelos mesmos métodos" (Testimonies 6:616) pode se entender que, qualquer método que leve alguém a Cristo, o que inclui gêneros musicais diversos, é válido. Sua interpretação condiz com o texto? 
Ponderemos: se qualquer música serve, desde que se “encaixe” em um determinado contexto, e, naturalmente tenha uma letra biblicamente correta, então o que fazer com as demais declarações de Ellen White, que repreendem ou orientam as pessoas sobre o tipo de música que agrada a Deus? 
Além disso, por que a declaração de Ellen White não é avaliada à luz do que ela escreveu sobre métodos missionários, que, de fato, é o assunto principal do contexto (e não a música, que sequer é citada?). Vejamos esta declaração: ““Em seus esforços por alcançar o povo, os mensageiros do Senhor não devem seguir os costumes do mundo”. 
(Testimonies, vol. 9, p.143). Será que, ao confrontarmos as duas declarações, seria correto considerar qualquer gênero musical como adequado ao Senhor? Será que usar o pop com letra cristã ou mesmo o samba não incorreria em “seguir os costumes do mundo”? 
Quanto aquilo que você menciona ser “o segundo princípio axiomático”, ou seja, o do culto racional, não é interessante que ele encontra paralelos nos escritos de Ellen White com a frase “espírito e entendimento”, também usado por Paulo (1 Co 14:15). Agora, ao contrário do que você afirma, Ellen White associa esse termo a orientações bem específicas (veja os slides 14,15, 37 da postagem Critérios para a Música Sacra); aquilo que você chama de “elementos periféricos” está, nos escritos de White associado ao culto racional, ao cantar com “espírito e entendimento”. Caso não fossem elementos importantes, por que ela os mencionaria? Deixarei que você explique… 
Você ainda questionou sobre ser possível seguir as orientações de Ellen White, uma vez que ela não nos deixou partituras. Objeções de mesma natureza poderiam levantar nutricionista adventistas: “será possível seguir os conselhos de Ellen White se ela não montou cardápios?” E diriam os pedagogos: “como pautar nossos bases educacionais em Ellen White se ela não legou um plano de aula ou um currículo modelo?” Enfim, se todos fôssemos seguir tal raciocínio, terminaríamos perguntando: afinal, de que valem os conselhos de Ellen White, se não os podemos praticar? 
Voltando à música, deixarei um músico adventista responder sua objeção por mim: “Algumas pessoas podem afirmar em tom irônico que Ellen não nos deixou partituras. Mas reflitamos: seus conselhos foram em sua maioria de cunho filosófico. Entretanto, a Música Filosófica está intimamente relacionada com a Música Notação." (Samuel Krähenbühl, Ellen G. White: Autoridade em Música?, Revista Adventista, Março de 1999, p. 11). 
Deus não nos deixou esquemas prontos, coisas mastigadinhas. Há trabalho para aqueles que aceitam a Revelação. Os conselhos devem ser considerados e aplicados de forma coerente. Quando você, por exemplo trata da dissonância (Ellen White fala da música deveria não ter dissonâncias), apresenta a mesma solução que esbocei, a qual tem sido proposta pelos estudiosos dos escritos dela: obviamente, ela trata de dissonância mal resolvida. Música sem dissonância é quase como um carro sem rodas – não sai do lugar. Mas há uma forma inteligente de interpretar e colocar em prática o que ela escreveu. É você quem o afirma: “[…]Temos que fazer escolhas com nossa mente iluminada pelo Espírito.” Nisso, estamos de acordo. 
Quero abordar um outro tópico: você afirma que música sacra provem da vertente secular. Em sentido restrito, aceito a declaração. Como eu já havia me expressado anteriormente: “Em partes isso tem algum cabimento, porque, quando uma determinada cultura começa a se expressar, dificilmente produz algo sacro (a não ser uma cultura permeada de forte senso religioso, seja de qual orientação for). Nesse caso, a religiosidade surge com o tempo, tomando aspectos legítimos da própria cultura para se expressar. Não vejo como ofensivo a Deus que, no caso dos brasileiros, a poética da música popular influenciem nossos letristas ou que tenhamos, enquanto adventistas brasileiros, o gosto por orquestrações (como já observou em uma entrevista o maestro Jetro, do UNASP). Há aspectos da cultura que podem ser aproveitados. Mas, como já asseverou B.B. Beach, o culto é transcultural, porque ultrapassa os valores da cultura e os transforma.” 
Entretanto, amigo, essa é uma perspectiva estritamente sociológica (e de uma Sociologia Secular), que admite que a música, como qualquer outra manifestação cultural, parte do ser humano apenas. Na Bíblia, já existia música antes de haver seres humanos para comerem arroz e feijão e poluir os oceanos (Jó 38:7). E o que dizer da música sacra produzida pelos nossos primeiros pais? E o povo de Israel, seriam eles influenciados pelos seus vizinhos pagãos em sua adoração (apenas se você recorrer a algum teólogo alemão liberal, desses que explicam milagres de forma racionalista, terá uma afirmação nesse sentido)? 
Finalmente, sobre Ellen White e a Bíblia: você afirma que a Bíblia deve ser prioritária, e eu concordo. O propósito de minha pequena apresentação foi destacar conceitos de Ellen White na adoração. Entretanto, o principal paradigma que utilizei parte de um verso bíblico (slides 11-13), além de suscitar a necessidade de compreender a adoração no contexto da primeira mensagem angélica (Ap. 14:7, slide 2). Além disso, já pude abordar, em outros materiais, princípios bíblicos de forma mais abrangente (sugiro a leitura dos artigos que escrevi: Amúsica sacra dentro da cosmovisão adventista: interpretando e aplicandoconceitos de Ellen White – parte 1 e seguintes; apesar do título, a série de textos recorre a textos bíblicos e trata de muitas objeções que você levantou). 
Todavia, volto a enunciar a questão que você ainda não quis ou não soube responder: “Se eu fosse empreender um estudo cúltico a partir dos Salmos, ou mesmo de qualquer outro livro bíblico, você acha que encontraria padrões diferentes, em essência, que chegassem a contradizer o Espírito de Profecia? Se a sua resposta for positiva, então Ellen White não pode ser inspirada! Se a sua resposta for negativa, então você terá de concordar que estudar o assunto explorando o Espírito de Profecia ou a Bíblia chega ao mesmo resultado e há critérios para a adoração! Qual a sua resposta?” 
Aliás, esse é um dos pontos de tensão mais sensíveis para os adventistas contemporâneos: acatar aspectos da Revelação que tratam do entretenimento ou que ferem gostos pessoais. Tudo bem crer na inspiração de Ellen White, desde que eu continue indo ao MacDonalds. Posso aceitar que ela não respirava quando estava em visão, desde que não deixe de frequentar o cinema. Até gosto do Caminho a Cristo, mas quero continuar ouvindo Jeremy Camp ou Jars of Clay
Será que essa recusa que assistimos em nossa denominação em aceitar os aspectos normativos da mensagem do profeta não é uma sutil forma de descredenciá-lo? Quando escolho o que me agrada na mensagem profética, não estou deixando de atender à vontade de um Deus tão amoroso, que foi capaz de providenciar orientações seguras para a minha vida? 
Enfim, J.B., espero que você reflita nesse assunto. Não quero que você pense que me considero totalmente alinhado com a Revelação, porque ainda estou aprendendo muita coisa e quero continuar disposto a aprender. Eu o considero um irmão em Cristo e, apesar de divergirmos em nossas perspectivas, sei que podemos aprender um com o outro, até atingirmos a plenitude de Cristo, naquele Lar onde a adoração será perfeita. 

Fraternalmente, Douglas Reis.

Pósfácio (alguns anos depois): O mais curioso é que J.B. tem vários admiradores (que o citam recorrentemente no Facebook e alguns amigões do peito, entre músicos e pastores). Acho curiosa a afinidade. Afinal, poucos deles, pelo que conheço, ou mesmo poucos dos adventistas que vejo citarem os artigos de J.B. concordariam com suas conclusões liberais ao extremo. Engraçado como as pessoas não percebem que o teólogo só consegue ignorar as afirmações dos testemunhos, embora as cite abundantemente (quando lhe convém), porque adota um método de interpretação chamado idealista, que em nada, nadica de nada, se relaciona com o que os adventistas creem. Assim, argumentando que toda profecia se refere a sua audiência primária (coisa que os adventistas e demais historicistas reconhecem), J.B. vai além: ele confina a mensagem dos profetas àquela época. Desse modo, consegue afirmar que o que E.G. White fala sobre a carne santa e manifestações carismáticas dos últimos dias se cumpra apenas no futuro imediato dela, ficando em um passado longínquo em relação a nós; e isso a despeito da expressão que ela usa “antes da terminação da porta da graça”, para se referir ao tempo dos acontecimentos (– veja 2 ME, p. 35- ss.). Usando o mesmo método, J.B. afirma que as profecias de Apocalipse 13 não se referem ao papado! Oi? Pois é. Esse é o adventismo dele: música carismática, sem base profética e sequer espaço para um estilo de vida do remanescente (já que ele defende o uso de joias, por exemplo). Daí, fico me perguntando: como é que o pessoal que aplaude suas explicações sobre música sacra não o segue nas demais coisas? Como eles não percebem a incoerência? Claro, J.B. é coerente – liberal em tudo que diz! Agora, todos os demais querem ser meio liberais, elencando algumas poucas áreas de liberalismo. E ainda continuar adventistas. Vá entender essa gente…

quinta-feira, 1 de abril de 2010

HISTÓRIAS DO PESCADOR VALDEMIRO

O apóstolo Valdemiro Santiago em pregação televisiva: "trízimo" e banho de suor nos fiéis


O que fizeram os protestantes em prol da exegese, promovendo o método histórico-gramatical, desfizeram os pentecostais, regredindo para o método alegórico (da era medieval). Interpretar a Bíblia se tornou não uma atividade espiritual criteriosa, mas um jogo de malabares em favor da ética do toma-lá-dá-cá. Você quer a cura do câncer, ficar livre do “encosto”, o sucesso financeiro e um casamento abençoado? Então, abra a carteira, e dê tudo, tudinho, porque Deus vai reprimir o devorador e abrir os celeiros do Céu.

A maior parte da pregação não trata de temas bíblicos que constituem a mensagem cristã tradicional. O que interessa os bispos e apóstolos é o seu dinheiro, e eles não se furtarão (o termo aqui vem toda a dubiedade) de usar textos bíblicos para legitimar os veementes apelos financeiros.

Nem adiantaria perguntar, porque nenhum destes crentes revolucionários faz a menor ideia de quem foram Herman Dooyeweerd, Oscar Cullmann e Paul tillich, porque a revolução deles descarta a necessidade de razoável reflexão teológica. “O Espírito vivifica, a letra mata”, arrematarão, confirmando o caminho (anti-) exegético que apontamos acima.

Esse evangelho da picaragem, do mau-caratismo, não tem nada que ver com a good news – trata-se de worse news. Entretanto, cresce assustadoramente. A cada vez, um líder religioso emergente trilha o caminho de expansão no número de templos, agressiva campanha midiática – o que inclui crescimento de espaço em emissoras abertas, compra de emissoras próprias e aquisição de gravadoras –, além de escândalos judiciais.

Recentemente, Valdemiro Santiago ganhou as páginas da revista Época, numa extensa reportagem que analisa as controvérsias sobre seu “ministério”[1]. Embora o nome sugira que estamos diante de um cantor brega, vale dizer que Valdemiro é apóstolo, ou, ao menos, assim se denomina.

Dissidente da Igreja Universal do Reino de Deus, Valdemiro fundou a Igreja Mundial do poder de Deus. No site da denominação, a seção Em que cremos apresenta apenas três itens. Toma um deles para ilustrar a debilidade com que uma doutrina bíblica é apresentada:

A Santa Ceia é feita a partir dos seguintes mandamentos:

1 • Senhor Jesus pegou o pão e o abençoou;
2 • Senhor Jesus partiu o pão;
3 • Senhor Jesus distribuiu o pão entre eles.

Que significam:

1 • Senhor Jesus nos pega e nos abençoa;
2 • Senhor Jesus nos quebra como o vaso do oleiro (tirando orgulho, vaidade, etc...);
3 • Senhor Jesus nos envia para testemunhar seus milagres e evangelho. [2]

Não se requer amplo background teológico para perceber a confusão da ceia do Senhor com a multiplicação de pães, dois eventos distintos! Teólogos como o reformado Zuínglio até traçaram paralelo entre as declarações de Jesus sobre o binômio carne/pão feitas em ambas as ocasiões (Jo 6:51; Mt 26:26) [3]; ainda assim, a instituição da ceia não se deu com o milagre dos pães. Outro agravante: a aplicação das verdades (seu significado para o crente hoje) são expostos de forma alegórica, desrespeitando as intenções do texto, que serve apenas a propósitos denominacionais.

A despeito de apresentar teologia precária, a Igreja Mundial cresce a passos largos. E há um fator curioso em seu processo de crescimento: a igreja tem pescado “‘no próprio aquário dos evangélicos’” [4]. Paulo Romeiro, estudioso evangélico do pentecostalismo, afirma na reportagem de Época que “‘mais de 50% dos membros da Mundial saíram da Universal, uns 30% da Internacional da Graça e o resto das demais evangélicas ou outras religiões’” [5].

A fama de milagroso do apóstolo Valdemiro Santiago contribui para atrair as massas. O próprio Romeiro é quem explica a crença pentecostal sobre a cura: “Para muitos pregadores da teologia da prosperidade, as doenças não têm relação com problemas hereditários, condições do meio ambiente ou do contexto social e geográfico em que vive o doente. Em outras palavras, as enfermidades não são provocadas por agentes físicos, mas espirituais. Assim, as armas para combater as enfermidades não devem ser físicas, mas espirituais.” [6]

Valdemiro, que tem pescado em aquário alheio com sucesso, tem boas histórias para contar. Como todo bom pescador, é provável que ele exagere um pouco. Sobreviveu a um naufrágio em Moçambique, nadando 8 horas, contra a força de ondas, tubarões e águas-vivas descomunais; o apóstolo também sobreviveu à queda do 8o andar de uma obra e à uma explos, a qual teria lançado seu carro uns 3 metros para cima. O fundador da Mundial ainda exparge suor pelos fieis, que o disputam como a um líquido milagroso e exige o dízimo de 30 % (o que chamam alguns de "trízimo") [7].

Obviamente, a habilidade retórica do apóstolo tem sido útil, não somente para angariar novos seguidores, como também para se explicar perante a Justiça. Época relembra a prisão de 3 pastores da igreja efetuadas no início de Março pela Polícia Rodoviária, em Mato Grosso do Sul. Sebastião Braz da Fonseca Neto, e Felipe Jorge da Silva Freitas foram detidos pelo porte de armas e confessaram que um terceiro ministro, Francisco Ferreira de Moura, os aguardava em Campo Grande (MS). Os três admitiram que as armas seriam levadas para o Rio de Janeiro e que receberiam R$ 20 mil para trasportá-las [8].

O próprio Valdemiro Santiago não se restringe à pesca, mas pratica a caça – ou isso, ou não conseguiu outra explicação melhor para apresentar à polícia, quando flagrado com porte ilegal de armas [9]. E pensar que cristãos tinham na Bíblia sua única arma! Mas, pelo visto, em tempos em que as Escriturass judaico-cristãs não passam de mera coleção de alegorias úteis para suster a ganância de bispos e apóstolos, a tendência é confiar no poder de outras armas. Sinal de que o evangelho de nosso tempo reproduz com exatidão todos vícios e defeitos da sociedade de consumo, ao invés de reformá-la.
Leia também:
[1] Mariana Sanches e Ricardo Mendonça, Milagres e Milhões, Época, 29 de Março de 2010, no 619, pp. 56-65. De agora em diante, M&ME.
[2]http://www.impd.com.br/emquecremos.asp
[3] J. H. Merle D’aubigné, História da Reforma Protestante do décimo-sexto século (São Paulo, SP: Casa Editora Presbiteriana, s/d), p. 93.
[4] M&ME, p.58.
[5] Idem.
[6] Paulo Romeiro, Decepcionado com a graça: esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal (São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2005), p. 102.
[7] M&ME, p.58-59, 60-61.
[8] M&ME, p.61. Ver igualmente Fábio Gusmão (ed.), Pastores são presos com fuzis que vinham para o Rio, diponível em http://extra.globo.com/geral/casodepolicia/posts/2010/03/11/pastores-sao-presos-com-fuzis-que-vinham-para-rio-273698.asp.
[9] M&ME, p.62.