Sou dependente de uma erva verde. Não, não daquela. Meu vício se chama orégano. Por ele, iria longe. E fui. Na falta do orégano, rumei para o mercado. Sem dúvida, uma prova de amor ao tempero. E à minha esposa, que estava na cozinha.
Mais tarde, já na fila do caixa (com todas as minhas compras, ou seja, um saquinho de orégano), notei algo. Era uma propaganda do Gillette Mach 3, estampando os atletas Roger Federer, Tiger Woods, Thierry Henry e Kaká.
Curioso ver o quarteto posando de heróis de filme, com direito a fundo negro e expressão posuda. A trajetória desigual dos esportistas em 2009 foi igualmente curiosa. Começo com o menos afortunado e sigo até ao melhor sucedido.
Espere um pouco: a ordem proposta impõe certa dificuldade. Afinal, quem teve a pior temporada: Woods ou Henry? Ambos pisaram na bola – ou melhor, no caso de Henry, botaram a mão na bola, num hábil procedimento que faria corar Maradona e Messi, outros craques que andaram trocando, literalmente, os pés pelas mãos. Mas creio que o inferno pessoal do tenista foi mais acentuado:
Tiger Woods é, praticamente, imbatível, e isto lhe rendeu fãs e, principalmente, muitos algarismos em sua conta pessoal. Desde 2002, Woods vem sendo o atleta que mais fatura, e chegou a ser o primeiro a tornar-se bilionário (veja aqui). Nesse ano, sua esposa Elin Nordegren, descobriu a infidelidade do marido, que saías com prostitutas e atrizes pornôs. Depois da divulgação do caso, ninguém sabe como ou de onde começaram a surgir mais e mais tigresas (com perdão do trocadilho), reivindicando a condição de amantes ocasionais do tenista.
A família do atleta ficou, naturalmente, abalada. Até a mãe de Tiger Woods estaria irritada com o jeito mulherengo do atleta (aqui). Em meio a tamanho escândalo, o decréscimo de popularidade de Woods foi recorde – o instituto norteamericano Gallup apurou que a aprovação pública ao tenista fora de apenas 33%, havendo caído 52% (em relação ao ano de 2005). Tamanha impopularidade – a maior queda, desde 1992, contando todas as medições relacionadas com celebridades - chegou a ser comparada a de George Bush em fim de mandato (here). Tudo isso pesou para que Woods anunciasse uma suspensão da carreira, sob pretexto de “dar prioridade” à “vida pessoal, ser um melhor marido, um melhor pai e uma pessoa melhor" (Estadão). Não sei se Tiger Woods gosta tanto de orégano quanto eu; pelo menos, já sabemos que ele não partilha da minha outra paixão – pela esposa.
Se Woods foi cortado pela Gillette, o episódio que maculou a carreira de Henry valeu uma brincadeira no site da empresa: ele surge em um vídeo ao lado de Roger Federer e Tiger Woods (antes das “tigresas”), cada qual com seu respectivo instrumento de trabalho, a raquete, o taco e a bola de futebol, sendo que esta última surge na mão do atacante do Barça! Quer dizer, isso na versão espanhola do site, não na francesa (Veja aqui).
Na verdade tudo ocorreu em um 18 de Novembro, na partida decisiva entre a sonolenta França e a raçuda Irlanda. O vencedor estaria com os pés (e as mãos) na África do Sul, sede da copa do mundo de 2010. a França já havia marcada um gol na primeira disputa, em Dublin. Na volta, a Irlanda devolvia o troco. Durante uma cobrança de falta, Thierry Henry impedido (!), ajeitou a bola com o braço (!!) e a conduziu com a mão (!!!) antes de tocar para William Gallas fazer o gol de embate da partida. A relação entre França e Irlanda ficou entrou em estol, com ameaças de boicotes, manifestações de políticos e muitos debates – os franceses adoram debater e adoram o que lhes dê motivo para um debate. Já do lado irlandês, a frase do comediante Ardal O'Hanlon resume os humores de seu país: "800 anos de opressão britânica? Deixa pra lá. Agora sim temos algo para reclamar" (aqui). Como ponderou meu amigo Joêzer, “As pessoas têm levado o futebol muito a sério. Daí as animosidades entre torcidas, daí a satisfação de ganhar mesmo com um gol de mão, daí que a França segura não mão do Henry e vai à Copa. Mas se existiu um momento para inserir a tecnologia do simples replay para diminuir as injustiças e punir os mandriões da bola, o momento é esse.”
O que resta falar de Kaká e Roger Federer? O primeiro não teve um ano de todo mal, sendo transferido milionariamente para o Real Madri, sem perder o carinho da torcida do San Ciro e, no mais da conta, conseguir o título da Copa das Confederações jogando pela Seleção Brasileira. Mas ainda falta a Kaká mostrar na terra das touradas o futebol pragmático e belíssimo que encantou a Itália. Sua atuação pelo Real não chegou a ser comprometedora, embora se mostrasse apagado na maior parte do tempo. No ano em que Lionel Messi se elegeu o melhor jogador do mundo, em votação organizada pela FIFA, Kaká apareceu em um discreto quarto lugar, com 883 votos a menos que La Pulga (1073 contra 190) (Confira).
Roger Federer, por seu turno, teve um 2009 mais agraciado que os companheiros de publicidade. Conquistou os Grand Slams de Roland Garros e Wimbledon, além de encabeçar a lista de atletas europeus mais importantes no ano, com 135 pontos (Globo Esporte). O tenista justificou sua presença na galeria de heróis barbeados.
Um site brasileiro de publicidade até discutiu o corte de Woods e Henry da lista de pagamento da Gillette, argumentando que os percalços morais afetam “sim a imagem do atleta e deixa-os menos inatingíveis, mas a marca não tem como se responsabilizar pelos atos de seus embaixadores.
“Por outro lado, o engajamento se torna mais verdadeiro, já que é mais fácil as pessoas se identificarem com alguém que também comete erros do que com o intocável.”
De minha parte, penso que tal identificação com o erro pode ser exagerada a ponto de minimizar (ou pior, relativizar) a falta em si. O que não deixa de ser uma pena, porque não posso negar o impacto de ter visto a emblemática figura de quatro brilhantes atletas pousada no caixa de um mercado de bairro…
Mais tarde, já na fila do caixa (com todas as minhas compras, ou seja, um saquinho de orégano), notei algo. Era uma propaganda do Gillette Mach 3, estampando os atletas Roger Federer, Tiger Woods, Thierry Henry e Kaká.
Curioso ver o quarteto posando de heróis de filme, com direito a fundo negro e expressão posuda. A trajetória desigual dos esportistas em 2009 foi igualmente curiosa. Começo com o menos afortunado e sigo até ao melhor sucedido.
Espere um pouco: a ordem proposta impõe certa dificuldade. Afinal, quem teve a pior temporada: Woods ou Henry? Ambos pisaram na bola – ou melhor, no caso de Henry, botaram a mão na bola, num hábil procedimento que faria corar Maradona e Messi, outros craques que andaram trocando, literalmente, os pés pelas mãos. Mas creio que o inferno pessoal do tenista foi mais acentuado:
Tiger Woods é, praticamente, imbatível, e isto lhe rendeu fãs e, principalmente, muitos algarismos em sua conta pessoal. Desde 2002, Woods vem sendo o atleta que mais fatura, e chegou a ser o primeiro a tornar-se bilionário (veja aqui). Nesse ano, sua esposa Elin Nordegren, descobriu a infidelidade do marido, que saías com prostitutas e atrizes pornôs. Depois da divulgação do caso, ninguém sabe como ou de onde começaram a surgir mais e mais tigresas (com perdão do trocadilho), reivindicando a condição de amantes ocasionais do tenista.
A família do atleta ficou, naturalmente, abalada. Até a mãe de Tiger Woods estaria irritada com o jeito mulherengo do atleta (aqui). Em meio a tamanho escândalo, o decréscimo de popularidade de Woods foi recorde – o instituto norteamericano Gallup apurou que a aprovação pública ao tenista fora de apenas 33%, havendo caído 52% (em relação ao ano de 2005). Tamanha impopularidade – a maior queda, desde 1992, contando todas as medições relacionadas com celebridades - chegou a ser comparada a de George Bush em fim de mandato (here). Tudo isso pesou para que Woods anunciasse uma suspensão da carreira, sob pretexto de “dar prioridade” à “vida pessoal, ser um melhor marido, um melhor pai e uma pessoa melhor" (Estadão). Não sei se Tiger Woods gosta tanto de orégano quanto eu; pelo menos, já sabemos que ele não partilha da minha outra paixão – pela esposa.
Se Woods foi cortado pela Gillette, o episódio que maculou a carreira de Henry valeu uma brincadeira no site da empresa: ele surge em um vídeo ao lado de Roger Federer e Tiger Woods (antes das “tigresas”), cada qual com seu respectivo instrumento de trabalho, a raquete, o taco e a bola de futebol, sendo que esta última surge na mão do atacante do Barça! Quer dizer, isso na versão espanhola do site, não na francesa (Veja aqui).
Na verdade tudo ocorreu em um 18 de Novembro, na partida decisiva entre a sonolenta França e a raçuda Irlanda. O vencedor estaria com os pés (e as mãos) na África do Sul, sede da copa do mundo de 2010. a França já havia marcada um gol na primeira disputa, em Dublin. Na volta, a Irlanda devolvia o troco. Durante uma cobrança de falta, Thierry Henry impedido (!), ajeitou a bola com o braço (!!) e a conduziu com a mão (!!!) antes de tocar para William Gallas fazer o gol de embate da partida. A relação entre França e Irlanda ficou entrou em estol, com ameaças de boicotes, manifestações de políticos e muitos debates – os franceses adoram debater e adoram o que lhes dê motivo para um debate. Já do lado irlandês, a frase do comediante Ardal O'Hanlon resume os humores de seu país: "800 anos de opressão britânica? Deixa pra lá. Agora sim temos algo para reclamar" (aqui). Como ponderou meu amigo Joêzer, “As pessoas têm levado o futebol muito a sério. Daí as animosidades entre torcidas, daí a satisfação de ganhar mesmo com um gol de mão, daí que a França segura não mão do Henry e vai à Copa. Mas se existiu um momento para inserir a tecnologia do simples replay para diminuir as injustiças e punir os mandriões da bola, o momento é esse.”
O que resta falar de Kaká e Roger Federer? O primeiro não teve um ano de todo mal, sendo transferido milionariamente para o Real Madri, sem perder o carinho da torcida do San Ciro e, no mais da conta, conseguir o título da Copa das Confederações jogando pela Seleção Brasileira. Mas ainda falta a Kaká mostrar na terra das touradas o futebol pragmático e belíssimo que encantou a Itália. Sua atuação pelo Real não chegou a ser comprometedora, embora se mostrasse apagado na maior parte do tempo. No ano em que Lionel Messi se elegeu o melhor jogador do mundo, em votação organizada pela FIFA, Kaká apareceu em um discreto quarto lugar, com 883 votos a menos que La Pulga (1073 contra 190) (Confira).
Roger Federer, por seu turno, teve um 2009 mais agraciado que os companheiros de publicidade. Conquistou os Grand Slams de Roland Garros e Wimbledon, além de encabeçar a lista de atletas europeus mais importantes no ano, com 135 pontos (Globo Esporte). O tenista justificou sua presença na galeria de heróis barbeados.
Um site brasileiro de publicidade até discutiu o corte de Woods e Henry da lista de pagamento da Gillette, argumentando que os percalços morais afetam “sim a imagem do atleta e deixa-os menos inatingíveis, mas a marca não tem como se responsabilizar pelos atos de seus embaixadores.
“Por outro lado, o engajamento se torna mais verdadeiro, já que é mais fácil as pessoas se identificarem com alguém que também comete erros do que com o intocável.”
De minha parte, penso que tal identificação com o erro pode ser exagerada a ponto de minimizar (ou pior, relativizar) a falta em si. O que não deixa de ser uma pena, porque não posso negar o impacto de ter visto a emblemática figura de quatro brilhantes atletas pousada no caixa de um mercado de bairro…
Um comentário:
Realmente, Tiger Woods e Henry pisaram na bola em 2009. Diria até mais de Henry; Está com o futebol apagado, desde sua saída do Arsenal da Inglaterra e se "esconde" atras das boas atuações de Lionel Messi e Ibrahimovic... Acho que não dura muito no Barcelona.
Kaka' e Federer, apesar de altos e baixos na temporada 2009, mantiveram suas respectivas imagens de "Bons rapazes" e continuam "bem na foto" . Querendo ou não, a pose de Super Heróis desses atletas, só valem enquanto os mesmos estão em alta na carreira e fora de algum tipo de escandalo.
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