Em que você
pensa quando ouve a palavra “Jesus”? Algumas imagens, sem dúvida, aparecem de
forma automática em seu cérebro: um homem ainda jovem estendendo a mão sobre um
cego acamado ou alguém submetido a ofensas e maus-tratos até ser pendurado em
uma cruz. Conhecemos o Jesus que nasceu de uma virgem e foi acolhido em um
estábulo. Ouvimos do Jesus que no início da adolescência impressionou os
experts em religião. Estamos familiarizados com poucos pães alimentando grandes
públicos, travessias sobre ondas bravias, mortos deixando suas tumbas em rochas
e paralíticos que, ao serem curados, pareciam estar em uma aula de aeróbica, de
tão eufóricos!
A questão é
que, para além de um Jesus atrelado a essas atividades tão bem retratadas nos
evangelhos, vemos outro Jesus: Aquele que morreu, ressuscitou, ascendeu ao Lar
e hoje ministra no santuário celestial. E este aspecto importantíssimo é
retratado nas profecias de Daniel. O estudo do magnífico ministério de Cristo
em Seu santuário vai exigir mais de nossa atenção, contudo irá nos presentear
com uma compreensão mais clara de Jesus e Sua obra.
Primeiramente,
vamos relembrar o que descobrimos no capítulo 8. Além de apresentar os grandes
impérios mundiais desde a época de Daniel até o fim, a profecia destaca o poder
perseguidor que se colocaria contra Deus e Seu povo – o poder romano. Tal poder
perseguidor é retratado em suas duas fases: a Roma dos imperadores e a Roma dos
papas. Esta última ganha maior destaque em Daniel 8.
Outro
detalhe vale ser mencionado: no capítulo 8, nem tudo recebe explicação! O
próprio anjo, que serve de intérprete para Daniel, declara: “A visão da tarde e
da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu porém, preserva a visão, porque se
refere a dias ainda muito distantes.” (Dn. 8:26). Qual parte da profecia deixou
de receber esclarecimento? Aquela que se referia a um período específico de
tempo, as 2300 tardes e manhãs (Dn. 8:14). Daniel se incomodou bastante por não
compreender este pedaço da visão, a ponto de adoecer (Dn. 8:27).
Passam-se os
anos, Babilônia é subjugada pelo Medo-Pérsia e a situação dos judeus continua a
mesma. Talvez isso perturbasse Daniel, conhecedor que era de que o cativeiro de
Israel duraria 70 anos (como descobrimos, Daniel era um profundo estudioso das
profecias de Jeremias). E se a parte não esclarecida da visão (capítulo 8)
indicasse uma nova resolução divina, no sentido de prolongar o tempo de
cativeiro?
Neste ponto,
Daniel é como eu e você, alguém que tinha dúvidas a respeito do cumprimento da
vontade de Deus. A saída? Orar! O experiente estadista só poderia pedir ao
Senhor restaurar Sua nação desgarrada. O mais tocante é que o coração do Santo
do Universo não fica imune aos rogos de seus filhos sinceros e, por isso, a
oração do profeta cativo em terra estranha teve pronta resposta.
O mesmo anjo
responsável por dar a notícia a uma jovem israelita de que ela seria mãe do
Salvador da raça humana foi incumbido de socorrer Daniel. O motivo? Deus amava
e tinha em alta conta o profeta (Dn. 9:21-23). O mesmo tipo de interesse pela
alma em dúvida, que se ajoelha em busca de luz, é manifestado pelo Céu em
nossos dias.
O anjo
didaticamente responde a dúvida de Daniel a respeito da visão. De qual visão
estamos falando? A única visão que não fora completamente elucidada, como
vimos, é a que acompanhamos no capítulo 8. As “2300 tardes e manhãs” não
receberam uma explicação; sendo assim, voltar para este assunto era parte da
tarefa do anjo Gabriel.
Vale
observar que “tardes e manhãs” é o fraseado que na Bíblia descreve o dia
judaico – que se inicia ao pôr-do-sol (à tarde, portanto) e se estende ao
poente do dia seguinte (cf.: Gn. 1). Logo, 2300 tardes e manhãs são 2300 dias.
“Setenta
semanas estão determinadas sobre o teu povo” (Dn. 9:24). O termo “determinadas”
significa, literalmente, que as setenta semanas foram “cortadas”, “separadas”
de um período maior. Setenta semanas equivalem “quatrocentos dias, um período
menos do que os 2300 dias. Na verdade, as setenta semanas são uma fatia dos
2300 dias.
Quando tem
início esta profecia? De acordo com a exposição feita por Gabriel, a partir da
“saída da ordem para edificar Jerusalém”, que naquele instante histórico,
estava reduzida a escombros (Dn. 9:25 ). Houveram pelo menos três decretos
permitindo aos judeus o retorno a sua pátria. Somente um deles, o último, nos
interessa, pelo seu caráter definitivo que levou à libertação de Israel. Este
decreto, assinado por Xerxes, em 457 a.C., se acha registrado em Esdras 6:6-12.
Temos de
aplicar o princípio dia/ano que usamos para entender o capítulo 7. O uso desta
ferramenta nos levará a entender que as 70 semanas ou 490 dias equivalem a 490
anos literais. Este período começa em 457 a.C. e termina em 27 d.C. (isto
porque não existe o ano-zero; o ano 1 a.C. é seguido pelo ano 1 d.C.). Qual a
finalidade deste tempo especial predito por Daniel? Os 490 anos servem como uma
oportunidade para que os judeus, como um povo, deixassem de pecar, tivessem
suas faltas removidas, experimentassem a justiça eterna e o santuário celestial
fosse ungido, como uma forma de inauguração (Dn. 9:24).
Para
entender como isto iria acontecer na prática, temos de nos voltar para a última
semana (de 27 a 34 d.C.). Nos últimos sete anos, viria o Ungido, ou seja, Jesus
estaria capacitado para a sua missão como Salvador. Sabemos que antes de
começar Seu ministério efetivamente, Jesus foi batizado por João Batista (Mt.
3:13-17). O batismo foi Sua unção. O que viria a seguir?
“Ele [o Unido, Jesus] fará firme aliança com
muitos por uma semana; na metade da semana [o que equivale a 3 anos e meio]
fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares […]” Daniel 9:27. O ministério
de Jesus durou 3 anos e meio, exatamente como Daniel predisse! Ao fim deste
tempo, Jesus foi sacrificado na cruz, anulando a lei cerimonial judaica, que
servia apenas como um símbolo de sua vinda. Cordeiros não precisavam ser
mortos, porque o Cordeiro de Deus finalmente chegara (Jo. 1:29).
Se Jesus
começou Seu ministério em 27 d.C. e morreu 3 anos e meio depois, estamos no ano
31 d.C. Mas ainda haveriam outros 3 anos e meio, equivalentes à segunda metade
da última semana. Só daí acabaria a oportunidade que Deus dera aos judeus.
De fato, a
oportunidade passou sem ser aproveitada! No ano 34 d.C., os judeus marcaram sua
recusa ao plano de Deus, condenando o diácono Estêvão (At. 7) e iniciando uma
perseguição que dispersou os cristãos de Jerusalém. Com isso, os seguidores de
Cristo passaram a compartilhar as boas-novas em outras terras.
As 70
semanas apontam para o amor incondicional de Deus, e também mostram a
ingratidão e descaso humano diante das oportunidades da graça.
Como foi
falado, as setenta semanas (ou 490 anos) são uma “fatia” dos 2300 anos.
Levando-se em conta que os 490 anos terminam em 34 d.C., temos que continuar a
partir desta data para contabilizar a última parte da profecia. Dos 2300 anos,
descontado 490 (que se aplicam aos judeus especialmente) sobraram 1810 anos. Contando
de onde paramos, chegaremos a data de 1844. O que aconteceria, portanto, em
1844? “Até duas mil trezentas tardes e manhãs e o santuário será purificado.”
Daniel 8:44.
Em 22 de
Outubro de 1844 , Jesus iniciou Sua obra no Santuário celestial, “que o Senhor
erigiu, não o homem” (Hb. 8:2). O santuário celeste, que serviu de modelo para
Moisés construir o tabernáculo do deserto (Hb. 8:5), agora serviria de palco
para uma nova fase da obra de Jesus. Graças a esta nova obra, você pode se
aproximar de Deus. Atenda o convite inspirado: “Acheguemos-nos, portanto,
confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e
acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.”
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