segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

TRISTEZA PARA SER PENSADA




A tristeza de Juliette (papel de Kristin Scott Thomas) nos prende em seus mistérios – o que conduzira uma médica aparentemente tão sensata a prisão por quinze anos? É claro que a desolação, ou antes, um mistério desolador, está apenas na superfície do ótimo Há tanto tempo que te amo, de Philippe Claudel (França, 2008). Os aspectos morais do filme são muito curiosos.
A moralidade da produção está relacionada a duas questões particularmente interessantes. A primeira lida com a questão da aceitação. Juliette conta apenas com a irmã Léa (Elsa Zyberstein) para se reintegrar à sociedade. Léa é quem a busca na prisão, abriga-a na casa que divide com o marido e as filhas adotadas e faz de tudo para que a irmã mais velha volte a ter uma vida digna, mesmo que isso a coloque contra quase todos.
Há perdão para todos os criminosos? Pode-se admitir pessoas que cometeram crimes hediondos na convivência com os cidadãos de bem? O filme não oferece uma exaustiva resposta de âmbito sociológico, mas nos brinda com uma resposta de natureza mais prática, partindo de uma atitude acolhedora.
O processo de reintegração passa, sem dúvida, pela esfera familiar; mas isso não minimiza as dificuldades que a própria família tem de administrar os efeitos que a transgressão trouxe para si mesma, sem se levar em conta o constrangimento de ter de encarar a opinião pública. Em Há tanto tempo que te amo, o ostracismo de Juliette começou justamente no seio familiar, quando seus pais preferiram assumir que a filha estava morta a ter de conviver sob a nódoa do ato da filha.
Um segundo questionamento proporcionado pelo filme serviria como tema para um debate moral: cada família ou indivíduo tem o direito de solucionar questões que se relacionam com a vida humana com base em seus próprios conceitos? A eutanásia é uma decisão que pertence a familiares, à sociedade, ou ao governo? Aqueles que cometem o que consideramos crime por razões, diríamos, justificadas, são menos culpados por isso? Deveríamos nos eximir de criticar uma mulher que cometeu um aborto, um paciente terminal que escolheu abreviar o sofrimento ou uma multidão que linchasse um estuprador até a morte?
Se a única base para decisões desse calibre pertence aos critérios particulares do indivíduo, estaria estabelecido o caos! Ainda assim, é oportuno que surjam questionamentos para que a agenda pós-moderna se veja questionada e confrontada com outras opções mais racionais.

O drama de Juliette, com sua melancolia que se abre primaverilmente em uma alegria em tons pastéis, esconde um substrato de profundas questões humanas. Somente isso já recomendaria o filme de Claudel ao mais exigente expectador.

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