A tristeza
de Juliette (papel de Kristin Scott Thomas) nos prende em seus mistérios – o
que conduzira uma médica aparentemente tão sensata a prisão por quinze anos? É
claro que a desolação, ou antes, um mistério desolador, está apenas na
superfície do ótimo Há tanto tempo que te
amo, de Philippe Claudel (França, 2008). Os aspectos morais do filme são
muito curiosos.
A moralidade
da produção está relacionada a duas questões particularmente interessantes. A
primeira lida com a questão da aceitação. Juliette conta apenas com a irmã Léa
(Elsa Zyberstein) para se reintegrar à sociedade. Léa é quem a busca na prisão,
abriga-a na casa que divide com o marido e as filhas adotadas e faz de tudo
para que a irmã mais velha volte a ter uma vida digna, mesmo que isso a coloque
contra quase todos.
Há perdão
para todos os criminosos? Pode-se admitir pessoas que cometeram crimes
hediondos na convivência com os cidadãos de bem? O filme não oferece uma
exaustiva resposta de âmbito sociológico, mas nos brinda com uma resposta de
natureza mais prática, partindo de uma atitude acolhedora.
O processo
de reintegração passa, sem dúvida, pela esfera familiar; mas isso não minimiza
as dificuldades que a própria família tem de administrar os efeitos que a transgressão
trouxe para si mesma, sem se levar em conta o constrangimento de ter de encarar
a opinião pública. Em Há tanto tempo que
te amo, o ostracismo de Juliette começou justamente no seio familiar,
quando seus pais preferiram assumir que a filha estava morta a ter de conviver
sob a nódoa do ato da filha.
Um segundo
questionamento proporcionado pelo filme serviria como tema para um debate
moral: cada família ou indivíduo tem o direito de solucionar questões que se
relacionam com a vida humana com base em seus próprios conceitos? A eutanásia é
uma decisão que pertence a familiares, à sociedade, ou ao governo? Aqueles que
cometem o que consideramos crime por razões, diríamos, justificadas, são menos
culpados por isso? Deveríamos nos eximir de criticar uma mulher que cometeu um
aborto, um paciente terminal que escolheu abreviar o sofrimento ou uma multidão
que linchasse um estuprador até a morte?
Se a única
base para decisões desse calibre pertence aos critérios particulares do
indivíduo, estaria estabelecido o caos! Ainda assim, é oportuno que surjam
questionamentos para que a agenda pós-moderna se veja questionada e confrontada
com outras opções mais racionais.
O drama de
Juliette, com sua melancolia que se abre primaverilmente em uma alegria em tons
pastéis, esconde um substrato de profundas questões humanas. Somente isso já
recomendaria o filme de Claudel ao mais exigente expectador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário