sexta-feira, 28 de abril de 2017

GRATA PELOS ANJOS


Por Noribel Reis
“Porque a Seus anjos Ele dará ordens a seu respeito, para que o protejam em todos os seus caminhos”. Salmo 91:11.

Aquele era o momento mais emocionante e pleno de toda a minha vida. Estava com minha filha em meus braços. Eu havia acabado de recebê-la, após 15 horas de trabalho de parto. Deus havia me concedido um lindo parto e esse momento era inexplicável. Estar com ela em meus braços, sentido seu aconchego em meu peito, enquanto mamava, era a mais pura emoção.
Em meio a muitos sentimentos que inundavam minha mente, tive uma impressão marcante. Não sei precisar quanto tempo após o parto. Mas, uma certeza inundou meu coração: Deus havia enviado um anjo para guardar minha filha do mal. Lembrei-me da promessa - "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra." Sl 34:7
Sim! Eu creio nos anjos e nas suas ações para nos guardar e proteger. Tenho um apreço muito grande por histórias de pessoas que são salvas por anjos. Agora, sentir que minha filha tinha um anjo enviado do céu para protegê-la foi algo incrível.
A Bíblia dá algumas informações sobre os anjos. Ela fala que aqueles que servem a Deus, amam a Jesus e guardam seus mandamentos possuem proteção especial.
Em Mateus 18:10 temos um texto específico dito pelo próprio Salvador sobre os anjos e os que creem no Senhor: “Cuidado para não desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste”.
Os anjos são enviados para protegem os justos do poder maligno. Essa proteção acontece nos lares cristãos, na vida familiar; ao saírem de casa e pedirem a proteção de Deus; ao tomarem decisões importantes e estarem em contato com outras pessoas. Veja o que diz no texto de Parábolas de Jesus, p. 341-342: “Quando inconscientemente estivermos em perigo de exercer influência má, os anjos estarão ao nosso lado, orientando-nos para um melhor procedimento, escolhendo-nos as palavras, e influenciando-nos as ações.” Mesmo quando não estamos vendo, os anjos de Deus estão nos protegendo e nos guardando.
“Os anjos de Deus, milhares de milhares, [...] nos guardam do mal, e repelem os poderes das trevas que nos estão procurando destruir. Não temos nós motivos de ser a todo momento agradecidos, mesmo quando existem aparentes dificuldades em nosso caminho?” (A Ciência do Bom Viver, p. 253-254)
Você já agradeceu a Deus por tanto cuidado e amor? Lembre-se que em nossa vida sempre haverá dificuldades, pois vivemos em um mundo de pecados; porém, Deus enviará anjos para estarem ao seu lado, ajudando-a a passar por todas as provações.


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terça-feira, 25 de abril de 2017

DESCOBRINDO O QUE IMPORTA (QUANDO HÁ TANTA FUTILIDADE ONLINE)



A cultura pop, expandida a partir do advento dos meios de comunicação em massa, surgiu com a função básica de entreter, seguindo algumas premissas comerciais. O foco dessa cultura é claramente o público mais jovem, havendo uma supervalorização da adolescência. É comum que se diga que enquanto o cinema europeu trata seu expectador como adulto, o americano se dirija a adolescentes. A observação vale para músicas, quadrinhos, entre outros produtos da cultura pop.
Essa infantilização é vista por diversas características: a ênfase na espontaneidade (observe que todo julgamento em um tribunal nos blockbusters são interrompidos de alguma forma); o rompimento com convenções sociais (Hollywood é a terra das noivas que desistem do casamento praticamente diante do altar para correr para os braços do amor verdadeiro); quebra de convenções sociais (sempre há uma personagem que obedece às regras e aprende a se “soltar”); isso além de diálogos rasos, roteiros ilógicos e ações inconsequentes.
Os conceitos da cultura pop influenciaram valores sociais ao longo de décadas, diluindo a herança protestante – do trabalho duro, da economia quase estoica, do propósito maior da vida consistir em servir a Deus, etc –, legado comum tanto aos Estados Unidos, quanto aos diversos países europeus. O ethos contemporâneo reflete muito mais características do hedonismo do que a mentalidade dos pais pioneiros.
Zygmunt Bauman sempre apontou a insegurança, volatilidade e infantilismo do capitalismo ocidental. A sociedade de consumo muitas vezes se parece com um passeio que as crianças de uma creche fizessem à seção de brinquedos de uma loja de departamentos.
Claro que quando se pensa na Web 2.0, a segunda fase da virtualização que se caracteriza pelo advento das mídias sociais, a mesma superficialidade, vulgaridade, boataria, humor raso e mensagens pseudo-espirituais marca forte presença. Seria injusto dizer que todo material compartilhado entraria nessas características, mas é inegável que isso se aplica à grande maioria do que se vê. Há muito que poderia ser dito sobre a depressão associada ao Facebook ou à ansiedade gerada pelos comunicadores instantâneos. Especialmente a pesquisa de Nicholas Carr é digna de nota, por revelar como o uso excessivo da internet desfavorece o aprofundamento intelectual necessário para a leitura de um livro, por exemplo.
Nessa época de superficialidade, cristãos podem tomar algumas atitudes para evitar de se tornarem igualmente superficiais:

(a)  Estudar a Bíblia: o estudo exaustivo da Palavra, além de representar um poderoso tonificar espiritual, contribui para uma percepção acurada da realidade, provendo uma moldura para interpretar os acontecimentos. Essa estrutura é o tema do embate cósmico entre Cristo e Satanás. A Bíblia ainda fortalece o intelecto, ao exigir que a mente humana sistematize as informações que ela fornece de forma propositadamente esparsa;

(b)    Ler livros cristãos profundos: tanto alguns clássicos cristãos, quanto livros que realizam estudos de temas bíblicos de forma séria são importantes para a formação espiritual e para conhecer melhor diversos aspectos e implicações da própria fé cristã. Evidentemente, há muito material descartável publicado por editoras cristãs e isso precisa ser evitado;

(c)  Cultivar hábitos saudáveis: a mensagem cristã pressupõe uma antropologia holística, admitindo que o homem não possui uma alma separada do corpo, como ensina a filosofia grega. Por isso, cuidado com a saúde faz parte de uma vida cristã equilibrada. Considerações sobre hábitos alimentares, separar tempo para exercícios físicos, tomar a quantidade ideal de água, dormir de forma adequada, entre outros tópicos igualmente fundamentais, são ações que evitam que a vida seja gasta de forma passiva, sedentária e vitimada pelo apego excessivo às mídias (como as famosas “maratonas de séries”, para ficar com um exemplo);

(d)    Interagir com pessoas reais: a ficção domina muitas mídias e até nas redes sociais pode-se criar uma existência fictícia; falta encarar a vida como ele é, cheia de perdas e dores, marcada pelos fracassos e sonhos. Sobretudo, falta uma perspectiva de realismo bíblico – que consiste em enxergar a vida não como um parque de diversão, mas um campo da batalha espiritual, no qual somos chamados a atuar como agentes do Reino do Senhor Jesus Cristo;

(e) Cultivar a experiência espiritual comunitária: aprofundamento de pessoas, desenvolvimento de talentos e crescimento espiritual são elementos que interagem entre si dentro da comunidade da fé. Daí a importância da frequência e participação em uma congregação local. Firmar-se na fé e no ensino também são outros dos benefícios providos por essa experiência coletiva.

Seria muito bom que os cristãos se destacassem como pessoas equilibradas, bondosas, inteligentes e diferenciadas em um mundo quase que completamente submerso na superficialidade…


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sexta-feira, 21 de abril de 2017

A CRISE DA RELIGIÃO NA ERA DA INFORMAÇÃO INSTANTÂNEA



Se é verdade que as mudanças trazidas pela liquidez dessa época afetam a questão da identidade individual, não é menos verdadeiro dizer que grupos religiosos sofrem com a perda de identidade. Como se adaptar a uma sociedade diversificada e em constante mudança? Como oferecer um contrapondo sólido, quando aquilo que é sólido soa como resquício da modernidade? Como alimentar convicções tradicionais entre os adeptos de uma comunidade, quando o mundo virtual os reloca para um oceano de outras convicções, de outras comunidades?
O cristianismo certamente viveu diversos períodos de adaptação, como lembra o teólogo Stanley Grenz, autor de diversas obras sobre a necessidade de se adaptar à presente época. Obviamente, não seria justo afirmar que todas as mudanças pelas quais o cristianismo passou foram no mesmo nível. Ou que foram realmente necessárias ou benéficas.
Muitas igrejas, endossando o cristianismo liberal das primeiras décadas do século XX, passaram simplesmente a atuar como agências humanitárias. A igreja alemã, por volta da segunda guerra, foi incorporada pelo partido nazista, dando origem a uma simbiose descaradamente pouco cristã em seu produto final. Nesse aspecto, vale lembrar que, se o assunto é viver o cristianismo, a melhor resposta se encontra no exemplo dos anabatistas. A princípio surgidos de um pequeno grupo de estudos da Bíblia, incentivado e liderado por Ulrich Zwínglio, aqueles que viriam a ser chamados de anabatistas não tardaram em romper com o reformador. Achavam que Zwínglio não estava disposto a reformar o suficiente a igreja. Aliás, nem ele ou Lutero, ou mesmo Calvino estavam, pois mantiveram muitos dos paradigmas da escolástica medieval. Os anabatistas, não. Ambicionavam reformar tudo à luz das Escrituras. Viver o cristianismo consistia em refletir a vontade de Deus em todos os aspectos, conforme a Palavra expressava.
Em um mundo acelerado, com mídias de alcance global, que possibilitam a milhões expressarem suas opiniões em canais de grande alcance, sem a mediação de conglomerados de comunicação, muitas vozes disputam um lugar ao sol. A saturação da informação chega a intoxicar! O que se tornou um verdadeiro banquete para o pluralismo religioso, também trouxe a necessidade de diluir a religião, de apresenta-la em uma moldura não agressiva. Alguém comentava de uma declaração feita por alunos de determinada universidade cristã, na qual constava a luta pelo direito de todos, inclusive de casais homossexuais.
Novas propostas surgem para renovar o conceito de igreja, como a igreja líquida – constituída de grupos afins que se reuniriam esporadicamente e, em certas ocasiões, haveria a reuniam desses diversos grupos. Eis um dentre muitos exemplos de como cristãos sentem a necessidade de se adaptar à pós-modernidade, de reinventar a roda. Não se pode jogar a água da banheira com o bebê; certamente, há boas contribuições que merecem ser analisadas. Entretanto, quanto dessas novas propostas partem da Bíblia, não da experiência ou necessidade? Mais do que reinventar a roda, é hora de fazê-la girar, porque para isso ela serve; a igreja foi concebida por Deus para ser igreja, com uma função específica no mundo. A igreja viva é a que se apoia no fundamento redescoberto pelos anabatistas. Fora disso, o cristianismo se colocaria em uma posição delicada e pouco confortável: fazer girar um quadrilátero.


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segunda-feira, 17 de abril de 2017

A ACELERAÇÃO DO COTIDIANO


O cotidiano é muito mais do que a rotina estabelecida, o número de atividades que cabe em um dia: trata-se, principalmente, de como se percebe o tempo. A vida cotidiana na contemporaneidade é marcada pela dispersão. Dispersão de propósitos, em meio a tantas opções de modelos de vocação; dispersão de identidade, em meio à possibilidade de se reconfigurar e assumir diversos papéis; dispersão do próprio tempo, com a valorização engajante do momento presente – a vida, entendida como um processo, uma série de etapas, fica reduzida ao momento presente, ao agora. Isso é o que importa.
Em contrapartida, pela ótica bíblica, até as atividades cotidianas fazem parte da providência divina (Ec 3:12-13), porque cada atividade humana encontra, na forma ilustrativa do sábio dizer, um tempo determinado (Ec 3:1-8). Todas as atividades elencadas são realizadas dentro do tempo; aliás, são mencionados recortes, momentos da existência humana, os quais são vislumbrados da perspectiva finita – deve-se notar a expressão “debaixo do céu”, um marcador usado no livro de Eclesiastes quando se fala do ponto de vista secular, para formar um contraste com a vontade de Deus, geralmente apresentada em seguida.
As atividades humanas são logo confrontadas com as atividades divinas, insondáveis e misteriosas (Ec 3:11), eternas e perfeitas (Ec 3:14). Em Eclesiastes, embora a vida pareça cíclica (Ec 1:4-11; 2:12; 3:15), ou, ao menos, aborrecidamente repetitiva, é preciso dizer que o foco do livro não é a apresentação de uma filosofia da história. O que se pretende é discutir o propósito da vida (Ec 1:3, 14; 2:11; 12:1-7); a solução final do livro constitui um retorno à sabedoria bíblica (Ec 2:26; 7:12, 19; 8:1; 9:18; 10:10) – portanto, o que se vê em Eclesiastes é um modo não convencional de apresentar o ensino tradicional. A sabedoria ganha expressão no fim do livro diante do horizonte desenhado por Deus – preparar-se para o julgamento divino por meio de uma vida de obediência (Ec 12:13-14). Diante de realidades inexoráveis como a morte (Ec 12:1-7) e o julgamento, nada melhor do que uma vida sábia e comprometida com os mandamentos.
No Novo Testamento, Jesus também trata da adoção da perspectiva correta para o cotidiano. Se a vida gravitar essencialmente na aquisição de roupas ou provisão de alimentos (Mt 6:25), isso não seria evidência de que o dinheiro ocupa o lugar de Deus (Mt 6:24)? Os dois versos são ligados pela preposição grega Διὰ, que, entre vários significados, pode ser traduzida como “através de”, “devido a”, “de outra feita”, “eficazmente”, “de forma adequada”, “por causa de”, etc. Assim, Mateus 6:25-33 seria uma continuação de Mateus 6:19-24. A impossibilidade de “servir a dois senhores” (Mt 6:24) seria uma conclusão inicial da atitude de ajuntar riquezas (Mt 6:19), ecoando na observação de que a vida é mais do que o que se têm (Mt 6:25) e na instrução de tornar o Reino de Deus uma prioridade (Mt 6:33) – o que implica em escolher servir a um só Senhor de forma integral e comprometida.
A excessiva preocupação em conseguir as coisas básicas da vida, resumindo o cotidiano ao imediatismo, é assinalada como maneira de viver pagã (Mt 6:32, ou, literalmente, dos gentios). Uma vida sem Deus leva a um cotidiano ordinário, sem a devida confiança na providência. Não é possível reconhecer o cuidado divino sobre os seres mais simples, o extraordinário sustentando invisivelmente o ordinário; ao contrário, Jesus apresenta o cuidado detalhista de Deus sobre as aves do céu (Mt 6:26) e os lírios do campo (Mt 6:28-30). Jesus termina Seu ensinamento afirmando que Seus discípulos não deveriam se preocupar “com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal.” (Mt 6:34). Evidentemente, deve-se ter cuidado para não interpretar isso como total falta de planejamento ou descaso contra o futuro. Preocupar-se aqui (greg.: μεριμνάω) significa estar dividido, mostrar-se distraído ou, diríamos, sem foco. Isso apresenta uma interessante ligação com o coração divido entre dois senhores (Mt 6:24). As preocupações quanto ao futuro não podem levar à dependência de recursos próprios, enquanto se olvida o foco espiritual e se deixa de enxergar a providência divina.
Seja no Antigo ou no Novo Testamento, o cristão encontrará incentivo para entender que a vida é mais do que o agora. A vida não é usufruto constante de prazeres imediatos, sem responsabilidade. O que os sentidos humanos percebem não esgota a existência. As Escrituras conclamam a todos a gastarem seu tempo com responsabilidade, enquanto confiam na providência e se preparam para o julgamento. O cotidiano humano não é algo isolado da esfera em que Deus atua. Ele Se faz presente no tempo e atua em favor de todos, o que é efetivamente aproveitado por aqueles que reconhecem Seu cuidado e correspondem com Seus planos.


sexta-feira, 14 de abril de 2017

A MAIOR NECESSIDADE DE UMA GERAÇÃO CONECTADA


É comum se referir à necessidade de contextualização da pregação bíblica no contexto do século XXI. Eu concordo: ao me tornar pai, isso ficou ainda mais claro. A cada fase, um bebê tem necessidades distintas. Agora, ver minha filha começar a juntar as mãos para orar ou prestando atenção nas músicas do culto é algo gratificante. O que se aplica a ela, em certa maneira, diz respeito a cada ser humano: as necessidades advindas da faixa etária, cultura, educação e classe social, para mencionar alguns fatores, não podem ser desconsideradas.
Entretanto, não se pode perder de vista que contextualização implica em uma ponte. Quem constrói pontes se preocupa com os dois lados da estrutura. As pontes existem para serem transitadas. Quem está de um lado, precisa atravessar com segurança para o outro.  Há um elo, uma ligação, nesse caso, entre a mensagem do cristianismo com a situação presente das pessoas. Quando se aplica isso a missões, sejam em locais estrangeiros ou às missões urbanas – entre pessoas que possuem um ethos pós-cristão –, o desafio é maior.
O risco mais desafiador é quando adaptações circunstanciais dão lugar a mudanças mais profundas, caracterizando identificação total ou parcial com aspectos da cultura que se oponham francamente ao evangelho. Quando isso acontece, estamos diante do sincretismo, a mistura da religião bíblica com qualquer outro elemento, filosofia ou ideologia externos. O catolicismo surgiu justamente dessa tendência de se adaptar acriticamente ao ambiente cultural, dando origem a um cristianismo com forte influência da filosofia greco-romano e com traços pagãos evidentes.
No contexto urbano contemporâneo, adaptar completamente a mensagem do evangelho implicaria em um tipo de cristianismo secularizado, racionalista, travestido de cultura pop, existencialista, ecumênico, marcadamente identificado com uma vocação mais social do que missionária no sentido bíblico. Aliás, alguns missiólogos expandiram o termo missional (originalmente cunhado para representar o desafio da missão em sociedades pós-cristãs) para se referir à participação social, política e até ecológica dos cristãos, tornando o uso do termo incompatível com a noção bíblica de missão e evangelização.
A contextualização precisa ser norteada por parâmetros bíblicos. É necessário estudar como o apóstolo Paulo evangelizou o mundo greco-romano, como Daniel viveu sua fé na Babilônia, como Jonas anunciou sua mensagem, para mencionar alguns casos. Apenas o cânon bíblico, analisado com seriedade, pode fornecer as diretrizes para que a contextualização respeite a essência da mensagem bíblica. Afinal, contextualização não deve cair no pragmatismo teológico…
Ainda sobre evangelismo urbano, especialmente no que se refere a novas gerações, talvez o mais prejudicial seja assumir a premissa de que, para alcança-los, devemos oferecer o que eles já têm. Essa geração midiática, plural, comunitária, que gosta de engajamento, toma as dores das minorias históricas e vive de experimentar novas sensações, ao mesmo tempo que se acostumou com objetos e relacionamentos descartáveis, não precisa de uma igreja que simplesmente reforce esses valores. Eles precisam de algo que vá além.
Precisam de uma mensagem que lhes dê solidez em um mundo cada vez mais incerto; precisam de bases eternas que desafiem e substituam o relativismo com o qual se acostumaram; precisam recuperar a ideia de um Deus acima da própria cultura, não nivelado pela mundanidade que perpassa as representações de sagrado em Hollywood.  Por incrível que pareça, eles necessitam de conexão – mas de um tipo específico. Precisam, fundamentalmente, de uma mensagem que destrua a estrutura viciada do pensamento pós-moderno, e que seja transmitida de forma simples. Fazer isso não exige treinamento ou altos investimentos em programas e recursos. Falta gente que, com sabedoria e humildade, tenha experimentado o evangelho a ponto de sentir o desejo de compartilha-lo com esta geração. 
O contato pessoal será decisivo para alcançar as pessoas desse tempo, porque é disso que mais se sente falta: gente que, verdadeiramente, amem e vivam a verdade. A conexão com Deus será possível para tantos jovens adultos suburbanos quando conhecerem crentes conectados com a mensagem de um Salvador morto, ressurreto, assunto ao Céu, atuante em Seu santuário e prestes a retornar.




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segunda-feira, 10 de abril de 2017

RELIGIÃO NO CONTEXTO DIGITAL


Os críticos da religião costumam denunciar sua hierarquia rígida, piramidal, o que para alguns chega a cair na esfera da manipulação em benefício de quem ocupa o poder. Todavia, na era digital a religiosidade apresenta uma difusão dessa hierarquia. Na terra-de-ninguém online, que é o mundo virtual, as patentes e títulos do mundo off-line nem sempre são reconhecidos. Desse modo, há a emergência de novos líderes e referenciais para a espiritualidade. Na prática, isso implica em (a) expressão para grupos minoritários; (b) expressões heterodoxas de movimentos tradicionais; (c) possibilidade de sincretismo religioso, uma vez que os participantes de uma determinada fé não são apenas apascentados por seus líderes religiosos constituídos, mas igualmente abertos aos pastores online.
Existem tours virtuais em lugares santos e cerimônias online (assim como cultos). As principais comunidades religiosas dispõem de ao menos um site para efeito de se fazerem presente. Isso sem mencionar sites pessoais de líderes religiosos e canais no youtube. As novas mídias se tornaram não apenas ferramentas para divulgação, mas também formas para interação entre adeptos religiosos das mais diversas comunidades. A virtualização fomentou a globalização da religião. Com isso, perde poder a instituição religiosa e ganha destaque a espiritualidade, cada vez mais entendida como a forma do indivíduo experimentar sua fé – às vezes, reciclando o que gosta em outras crenças e criando algo muito particular.
Sai o triângulo da hierarquia rígida para dar lugar ao poliedro com seus espelhos multifacetados de possibilidades infinitas. A religião deixou de ser monolítica e rígida para ser caleidoscópica, multicolor e disposta a se reinventar. Isso significa que as tradições são úteis apenas como repositórios que inspirem novos movimentos e não como moldes que restrinjam a abertura dos novos tempos. Criatividade e experimentação são elementos cruciais para um movimento religioso atrair jovens e passar a viralizar.
Inegavelmente, a fé bíblica segue na contramão. Não que sua preocupação esteja em manter o tradicionalismo, porque ela propõe uma constante evolução. Contudo, não se trata de uma perspectiva que siga de modo parelho as revoluções culturais. A cultura humana é fruto de diversas atividades humanas, que refletem comportamentos, ações, pensamentos e valores. A cultura é a colheita da semente chamada cosmovisão. Não se pode esperar que ela seja neutra. Imitá-la sem reconhecer suas bases e avalia-las pela cosmovisão cristã é como se o trigo resolvesse imitar o joio!
Se a fé cristã vive de revolução, isso é resultado de seu próprio plantio. Como os ramos de uma videira, os cristãos têm de ser podados para dar fruto. Suas perspectivas precisam ser confrontadas com a vontade divina expressa nas Escrituras. Não estamos à sombra da cultura secular, nem ela nos serve como espelho ou modelo. Estamos à margem, buscando outro tipo de experiência, uma interação verticalizada pelo convívio com o Espírito, sem deixar o relacionamento horizontal com aqueles que precisam de nossa mensagem.
Em um contexto dinâmico e sincretista, manter a pureza da fé é mais do que mera questão de sobrevivência: trata-se de cumprimento de uma missão profética. Se a fé deve se atualizar, isso não se dá por questão de o mundo ter mudado, mas em virtude da necessidade de crescer ajustada às Escrituras. Precisamos constantemente moldar quem somos e o que cremos em função da verdade revelada por Deus. Quer online, quer off-line, nossa pergunta não deve ser: “o que mundo quer ouvir?”, mas: “o que Deus quer que falemos?”


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sexta-feira, 7 de abril de 2017

JOVENS PENSANTES PRECISAM DO EVANGELHO INTEGRAL


O evangelicalismo legou um evangelho pela metade, sem preocupação com a mente cristã. Em parte, os apologetas do período moderno tentaram oferecer um contraponto, mas recorreram à filosofia. Nem pregadores, nem apologetas equalizaram uma fé integral, que abrangesse o estilo de vida bíblico.
Com a cultura divorciada das bases cristãs, geração após geração surge possuindo menos familiaridade com a Bíblia. Muitos sentem até repulsa em relação ao livro cristão – porque associam cristianismo com homofobia, pessoas pouco estudadas, pastores envolvidos em escândalos e preconceitos diversos.
Há décadas se discutem métodos para revolucionar a igreja, procurando atrair os descrentes. Alguns desses métodos se parecem com estratégias de marketing, outros propõem uma revolução mais radical, atingindo o próprio cerne do cristianismo, aproximando-o, assim, da própria cultura contemporânea. Contudo, há um silêncio assustador no que se refere à revolução de vidas. Por isso, até mesmo quando alguns métodos se mostram eficazes e multidões são atraídas ao evangelho, poucos permanecem cristãos depois de certo tempo. Parece que a vida espiritual perde interesse, torna-se vazia e cheia de ambiguidades.
A versão do evangelho pregado em muitos segmentos do cristianismo é incapaz de mudar vidas. Sem um conteúdo bíblico sólido e um incentivo a buscar a integração completa entre a vida cristã e os ensinos escriturísticos, só lhes resta propor soluções paliativas. Meias medidas, como adicionar guitarras e cajons à liturgia. Tirar a gravata dos pregadores e colocar em seus discursos uma pitada de autoajuda.
O evangelho eterno é uma mensagem de salvação integral. Reformula nosso comportamento, ações, pensamentos, valores, cosmovisão, tudo! Esse evangelho está estruturado na mensagem de um Salvador prometido, encarnado, crucificado, ressurreto, assunto e atuante em Seu santuário. A centralidade da obra de Jesus torna efetivo o amor de Deus que transforma. Isso provê uma estrutura para responder as grandes indagações, para atuar de forma justa, viver relacionamentos gratificantes e reagir com esperança em contextos marcados por corrupção, desigualdade e violência.
O mundo não precisa de artistas gospel aparecendo em programas dominicais ou youtubers cristãos tão histriônicos quanto as vertentes seculares (claro que há youtubers sensatos dos dois lados, mas temo serem a minoria). Cristãos parecem tão focados em atingir as pessoas com sua mensagem que se esquecem de que podem denegri-la ou corrompe-la quando apelam a jargões, formatos, ritmos e meios caracteristicamente seculares. Fazem um desserviço ao evangelho.
De que as pessoas precisam? De pais que amem aos seus filhos adolescentes e lhes sirvam de exemplo. De famílias realmente harmoniosas e equilibradas. De empresários honestos e humanos. De professores capazes de amar e se interessar pelos alunos. De mecânicos que cobrem o preço justo por um serviço excelente. De motoristas que se portem de maneira pacífica e ordeira. Enfim, o mundo está faminto pelo amor cristão, esperando ele deixar de ser simplesmente o tema de tantos sermões para ser o tema de algumas vidas.
A mensagem correta, bíblica, integral e transformadora deve tornar-se visível na vida do povo que espera o retorno de Jesus. Afinal, há um mundo que espera vê-la, para depois ouvi-la. Toda uma geração exigente, crítica e cética aguarda algo que lhes dê satisfação intelectual e respostas verdadeiramente praticáveis. E apenas o evangelho de Cristo preenche esses requisitos. Mas a mídia cristã, cheia de boas intenções e baixo orçamento, diz pouco a eles. Os eventos promovidos por igrejas podem até lhes despertar a curiosidade e proporcionar entretenimento. Programações evangelísticas são eficazes na medida em que eles abrem mão de seus preconceitos – e isso não ocorre sempre.
Porém, quando os jovens dessa geração conhecem e se relacionam com cristãos dedicados, humildes e fiéis, o poder do Espírito fala ao seu coração. Uma vida transformada é o melhor convite para que alguém aceite a transformação que Jesus oferece. Infelizmente, ainda se concentram esforços na direção errada. Queremos nos aproximar do mundo para ganha-lo quando deveríamos investir em gastar tempo em comunhão. Somente ligados a Jesus receberemos o poder que nos habilitará a ganhar qualquer geração. Precisamos do evangelho integral em nossa experiência. Devemos isso a tantos que necessitam dele. Devemos isso a Deus, que nos chamou para confiar nos métodos dele, não nos nossos.

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