quinta-feira, 28 de agosto de 2008

MUDANÇA DE PERSPECTIVA – E A FÉ VAI PARA GAVETA




No pensamento contemporâneo, a religiosidade é um elemento da vida responsável pelo consolo (apoio psicológico), esperança (na acepção de crença em algo futuro) e fundamento místico (provendo uma ligação com os aspectos irracionais, não-empíricos da existência).
Esta maneira de encarar a religião a torna distante de algo verificável, que possa ser entendido em termos de certo ou errado; não há uma crença melhor, ou mais correta. Há simplesmente um determinado tipo de credo que sirva melhor a um paladar e não a outro.
Cada vez mais aparecem exemplos que comprovam haver um reducionismo no papel da religião para o homem do século XX. Foi-se o tempo em que a herança judaico-cristã formava a base do pensamento social e da própria cultura.
A religião ganhou a sua própria gaveta – ela não passa de uma pequena esfera incapaz de influenciar a vida como um todo. Quase não se pode apresentar o que se crê em pontos lógicos, porque a crença é difusa, ilógica, utilitária e circunstancial. Tão enfraquecida como está, não é à toa que a religião seja relegada a um papel sem importância, e apenas em nível particular para a maioria das pessoas.
Eventualmente as pessoas se unem em passeatas ou fóruns religiosos, eventos de caráter humanitário capazes de convergir elementos e indivíduos oriundos de culturas religiosas diferentes em uma massa guiada pelos mesmos objetivos.
Assim, enquanto crenças tradicionais perdem seus referenciais na mente de indivíduos no século XXI, torna-se mais comum que ocorram esforços no sentido de reunir todos sobre uma fé comum, na qual crenças tradicionais são diluídas em alguns poucos valores aceitos por quase todos: amor/tolerância pelos diferentes, concepção de Deus como sendo Amor (mas sem o senso de Justiça que a Bíblia Lhe atribui), fazer bem ao próximo (causas humanitárias) e a busca da satisfação imediata de problemas de várias áreas da vida através da comunhão mística com Deus (proporcionada pela forma contemporânea de culto, com seus apelos emocionais, discursos subjetivos e o emprego de música popular com a qual as pessoas se identifiquem). 
Dentro do quadro descrito acima, não choca mais que algumas pessoas afirmem crer em Deus, conquanto não pautem sua conduta pessoal pelo entendimento tradicional do Cristianismo. Quero destacar um caso que exemplifique a premissa pós-moderna da fé como sendo independente da conduta da pessoa.
Recentemente, a cantora Katy Perry, com 23 anos, passou a ser uma das mais populares cantoras de sua geração. A moça, filha de pastor, começou como cantora gospel, mas já declarou em uma de suas músicas sentir-se atraída por uma garota (a canção chama-se I Kissed a Girl, ou “eu beijei uma garota”).
A própria Perry afirma: "Já cantei músicas gospel, sim. Tenho fé, acredito em Deus, acredito que haja algo muito maior do que nós, mas minha perspectiva mudou um pouco." [1]

Katy Perry não é a única que mudou de perspectiva. O engavetamento da fé é um processo admitido por muitos cristãos, em detrimento da perspectiva bíblica. Resta saber até quanto tempo mas uma fé soft se sustentará a despeito das contradições que possui.



Leia também: A CANÇÃO E A VIDA

[1] Thiago Ney, Ex-gospel, cantora faz sucesso com beijo lésbico, disponível aqui.


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DEUS CONSCIENTE OU MERO SÁBIO? parte 2

Tomemos como exemplo a seguinte sentença: “[…] É possível extrair essas linhas gerais da missão de Jesus do material contido no Novo Testamento, mas é bem mais complicado afirmar se, durante sua vida terrena, Cristo considerava ser Deus encarnado, como defende o dogma cristão, ou mesmo se ele tinha consciência plena de que sua morte na cruz serviria para redimir a humanidade.”[1]

Essa afirmação é pontuada por dois questionamentos cuja resposta é facilmente encontrada na própria narrativa bíblia; a questão é se o estudioso aceita ou não a suficiência da Revelação.

Jesus está bem consciente de Sua divindade – Ele é acusado de blasfemar (fazer-se igual a Deus) porque reivindica poder de perdoar pecados (Mt. 9:2-7); o Mestre também afirma ser superior às personagens históricas, como Jonas, Salomão e Davi (Mt. 12:41 e 42; 22:42-45). O uso extensivo do título “Filho de Deus”, chamado pela matéria de Galileu de “misterioso”, é a mais clara referência à divindade, uma vez que filiação envolve compartilhar as mesmas características, e não necessariamente descendência (isto numa cultura em que os filhos aprendiam uma profissão com os seus pais, o que certamente levava a alguém a concluir que o filho de um carpinteiro era carpinteiro, compartilhando o mesmo ofício com seu pai; logo, o Filho de Deus deverá igualmente ser divino).

O Evangelho de João registra as incisivas afirmações contendo a expressão “Eu Sou” (gr. Ego Emi). Jesus é o Pão da vida (Jo. 6:35, 41, 51), a Luz do mundo (Jo. 9:7), a Porta por onde entram as ovelhas (Jo. 10:7), o Bom Pastor (Jo. 10:10, 14), a Ressurreição e a Vida (Jo. 11:25), a Verdadeira Videira (Jo. 15:1, 5).

O uso extensivo do termo tem suas origens na Septuaginta (versão grega do Velho Testamento), que o emprega para traduzir o tetragrama hebraico YHWH, um dos nomes que Deus emprega (cf.: Êx. 3:13 e 14). O tetragrama, cuja pronúncia exata se perdeu, indica a eternidade do Ser divino. O uso que Jesus fez do equivalente grego (Ego Emi) para a expressão hebraica YHWH indica que conscientemente o Mestre Se igualava ao próprio Deus. A maior prova deste fato está no uso absoluto da expressão na frase “[…] ‘Eu lhes afirmo que antes que Abraão nascer [Abraão viveu em cc. 1.500 a.C.], Eu Sou!’” (Jo. 8:58, ênfase suprida).

O mesmo pode ser dito da consciência de Jesus do propósito de Sua morte (Mt.16:21; 20:28; Mc. 8:31 e 32; Lc. 18:31; Jo. 6:37-40; 17:2 e 3, etc.). A questão não é se o Jesus apresentado nos Evangelhos sabia ser Deus ou conhecia previamente que sua morte significaria a salvação dos que cressem; a grande questão é se aceitamos ou não os registros canônicos como autênticos e dignos de crédito.

PODE-SE CONFIAR NOS EVANGELHOS?

Ao contrário do depoimento do Padre Léo Zeno Konzen, para quem na narrativa bíblica encontramos uma mistura de “elementos históricos” com “interpretações” posteriores, feitas pela comunidade cristã [2], há pontos que favorecem a credibilidade dos evangelhos, a começar pela sua antiguidade. Afinal, os melhores estudiosos apontam que o evangelho mais antigo, escrito por Marcos, veio apenas 20 anos depois dos eventos que descreve (na década de 50 d.C); este é um tempo relativamente pequeno do ponto de vista da História. Muitos que haviam visto o Jesus histórico estavam vivos para contestar qualquer fato que fosse meramente inventado. Os discípulos sabiam disto e, mesmo assim, continuavam apelando para seus ouvintes averiguarem os eventos (cf.: At. 2:22, 36; 3:15-17; 4:8-11).
As aparentes discrepâncias de dados nos evangelhos podem ser explicadas pela diferença de ênfase que o escritor sagrado dá na mensagem, de acordo com o público que intenta alcançar com sua pregação. Os dados podem, então, ser facilmente harmonizados com um estudo cuidadoso e sem preconceitos.

Outro aspecto que torna os evangelhos críveis é o “Critério do Constrangimento”[3], ou seja, algumas coisas na vida de Jesus são tão constrangedoras que só poderiam ser incluídas por alguém que estivesse disposto a falar toda a verdade, porque não contribuem para reforçar a boa imagem de Jesus Cristo, uma vez que são informações que desafiam os padrões sociais, éticos e religiosos da época. Apresentar postulados sobre os últimos serem os primeiros, que o líder deva servir os demais, aceitar homenagens de pessoas simples e de reputação dúbia, contemplar os humildes e não os instruídos com Seus ensinamentos, beneficiar pessoas imorais e advogar uma moral que ensina a não revidar aos insultos – são essas algumas das ações de Cristo preservadas nos evangelhos que são tão escandalosas quando postas em contraste com a moral de Sua época que dificilmente seriam inventadas pelos discípulos (a menos que quisessem denegrir a imagem de seu Mestre!).[4]
Parece-nos, portanto, que a mais confiável forma de reconstruir Jesus, no sentindo de montar as peças do quebra-cabeça espalhadas pela História é recorrendo a Bíblia, que o retrata como o Deus-Salvador que Se fez homem na intenção de resgatar a Humanidade, e que, tendo ascendido ao Céu, após a Ressurreição, vive para interceder por nós (Hb. 7:25).


Leia também:

NOVAS PÉROLAS DE CROSSAN NA SUPERINTERESSANTE - parte 1

Como viver biblicamente de verdade?

RECONSTITUIÇÃO DA MORTE DE JESUS NA REVISTA ISTO É


[1] Idém, PP. 52 e 54.
[2] Idem, p. 44.
[3] Idem, p. 54.
[4] Rodrigo P. Silva, “Um desconhecido Galileu: uma abordagem histórico-científica da vida e obras de Jesus de Nazaré” (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista de São Paulo, 2001), ver gráfico na p.45.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

DEUS CONSCIENTE OU MERO SÁBIO?

“Novas descobertas trazem à tona um homem simples, talvez analfabeto, difícil de ser rastreado e longe de se sentir uma entidade poderosa e onisciente. Como ficam as crenças cristãs diante desse Jesus Histórico?” Com palavras assim desafiadoras, inicia-se a reportagem “CSI: Jesus”, publicada na última edição da Revista Galileu.[1] Como sempre acontece com relação às matérias de teor semelhante, algum tipo de desafio às crenças cristãs é inevitavelmente feito. No entanto, nenhuma crítica lançada fica sem deixar no ar uma sensação de deja vu.


“Não há nada novo debaixo do sol”. A sentença repetida ao longo do livro bíblico de Eclesiastes bem poderia se aplicar às críticas atuais ao Cristianismo. Cada vez que uma reportagem sobre Jesus ou Seus ensinamentos aparecem nas principais revistas do país, tem-se certeza de que se trata de mera reciclagem da Alta Crítica do século XIX ou dos Ciclos liberais cristãos do primeiro quarto do século XX. A questão sobre o Jesus Histórico, que fustigou os ânimos de eruditos em outras épocas, estaria superada, se não fosse freqüentemente assunto de capa e tema de reportagens de publicações nacionais. Em benefício daqueles que possam se impressionar com as insinuações destas matérias, ainda vale apresentar argumentação contrária às suas pretensões.


JOGO DOS ERROS E ACERTOS

A seu favor, a matéria de Galileu tem a refutação da historicidade de conturbados achados arqueológicos recentes, o ossuário de Tiago (encontrado em 2002, supostamente pertencente ao irmão de Jesus e considerado uma fraude) e um segundo ossuário, identificado como sendo de Jesus, filho de José, Maria e Mariamne, que erroneamente pensou-se tratar de Maria Madalena (nomes comuns na época, mas houve polêmica causada por um documentário sobre o artefato dirigido por James Cameron).[2]

Outro modismo, quando se pesquisa a respeito de Jesus, está na supervalorização dos evangélicos apócrifos, que incluem narrativas com elementos mitológicos e místicos sobre Jesus, cuja autoria é incerta, uma vez que o verdadeiro escritor usa uma personagem histórica ligada a Jesus, pretendendo adquirir credibilidade (por exemplo: “O Evangelho de Tomé”, “O Evangelho de Pedro”, “Atos de Paulo e Tecla”, etc.). Galileu acertadamente descarta os evangelhos apócrifos como fonte de pesquisa, mostrando que são dependentes do material canônico (os quatro evangelhos que constam na Bíblia) e orientados pelo Gnosticismo (seita cristã, bastante influenciada pelo Neo-Platonicismo e pelo misticismo judaico).[3]

A despeito de seus pontos positivos, a matéria de Galileu oscila muito de direção, adotando uma postura liberal a princípio, e tornando-se mais conciliatória à medida que avança para o fim. Isto se deve a consulta de especialista de diferentes confissões. O leitor comum não é avisado de que não há consenso entre muitos estudiosos do texto sagrado – enquanto alguns teólogos aceitam completamente a inspiração do texto recebido, outros assumem pressupostos críticos, influenciados pela teologia liberal. Falta um esclarecimento sobre as visões diferentes, o que faria o leitor perceber que muitas das afirmações feitas no texto de Galileu não são inquestionáveis, muito menos representam a “última palavra sobre o assunto”.

[1] Reinaldo José Lopes, “CSI:Jesus”, publicado em Revista Galileu, Setembro de 2008, nº 206.
[2] Idem, pp. 47 e 48.
[3] Idém, quadro “Apócrifos: muito barulho por nada”, p. 55.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

ADICTA E CONVICTA


33 anos antes. A pesquisa dos repórteres alemães Kai Herman e HorstRieck (revista Stern )sobre usuários de Heroína se deparou com Christiane. Menina de pais divorciados. Sem rumo, ela passou a frequentar a Gangue do Zoo (que injetava a droga nos banheiros da estação de trem Banhof Zoo). Além de usuária, Christiane se prostituía para continuar comprando Heroína. E isto aos treze anos. Aquele achado humano extrapolou a matéria da Stern. Surgiu um livro contando a vida da menina que Herman e HorstRieck entrevistaram – “Eu, Christiane F., 13 anos, Drogada e Prostituída”. Lembro-me do volume, que trazia na capa o rosto de uma moça desconcertantemente triste, na estante da casa de meus pais. 
Na esteira do sucesso do livro, surgiu um filme homônimo. Com o ganho pelos direitos autorais, a pequena Christiane tinha a oportunidade de largar a vida miserável dos guetos. Mas não foi bem assim que a realidade se apresentou. Um breve histórico da vida de Christiane mostra o que aconteceu:

1983: Christiane é detida no apartamento de um traficante. Sai livre, mediante pagamento de fiança.
2005: Problemas circulatórios, dependência de Metadona (analgésico que substitui a heroína em tratamento para dependentes) e hepatite tipo C fazem parte do diagnóstico de Christiane. Parecia não haver mais solução.
2007: Christiane, em entrevista ao canal TV ARD, fala sobre sua recuperação e abandono completo da dependência das drogas.

33 anos depois (2008). Após voltar de Amsterdã, aonde viveu uma conturbada temporada com o amigo Joachim S. e o filho Jan-Nicklas (de 12 anos), Christiane perde a guarda do menino. Segundo o depoimento de Joachim, Christiane, durante o tempo na Holanda, bebia, fumava maconha e relegava o seu filho à companhia do videogame. Posteriormente, repórteres do jornal B.Z. encontraram adivinhe quem comprando a droga Rohypnol (semelhante à Heroína)!…
Em mais de 30 anos, com 15 internações e muitas recaída[1], Christiane Vera Felschrinow ensina sobre o poder da vontade humana, que é tanto capaz de se determinar a alcançar o que delibera, quanto de se acomodar e se quedar vencida.

[1] Usei livremente as informações da reportagem de Celso Masson, “De volta ao inferno”,  in Época, nº 535, 18 de Agosto de 2008, seção Primeiro Plano, 19-20.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

DUNGA: BEIJIN, BEIJIN, TCHAU, TCHAU


Ontem, o colégio em que trabalho parou. Montamos um telão no pátio. Os alunos foram se aproximando, sentando em cadeiras. O clima era de euforia: Brasil e Argentina numa semi-final olímpica. Aos poucos os gritos de nossa torcida foram vencidos pelo desânimo diante do futebol medíocre de nossos craques. E dá-lhe Argentina. Los Hermanos, encabeçados por Messi e companhia, armavam, atacavam, punham a seleção verde-e-amarelo na roda. Ao todo, a Argentina marcou três gols, fora o show.

Num clima de mal-estar, nenhum atleta consegue explicar o fracasso da campanha brasileira em mais uma edição das olimpíadas. Talvez a torcida dos pé-frios da ginástica olímpica (que em um dos momentos da transmissão global apareceram passando muita "vibração" à seleção de Dunga). Ou a insistência de jogar na retranca . Vai saber.

Mas como ocorre a cada novo tropeço futebolístico, as más línguas especulam sobre a permanência do técnico da seleção brasileira em seu cargo. Para alguns, a era Dunga estaria com os dias contados.

Mas, por favor, pense e me diga: em que o bom andamento ou a derrocada da Seleção masculina de Futebol vai mudar o cotidiano dos milhões de brasileiros? Em dado momento, deixei de assistir o fiasco, quer dizer, o jogo, e passei a reparar no semblante dos espectadores. Sarcasticamente cheguei a comemorar os gols argentinos, para o desespero dos alunos do 5º ano (os mais próximos a mim), que me acusaram de não ser patriota. Como se patriotismo fosse proporcional ao empenho de torceder pelo país durante determinados jogos...

Para falar a verdade, nem pude acompanhar nossa Seleção masculina de Futebol em Pequim, porque os jogos estavam marcados em um horário que considero ser muito cedo; geralmente acordo, tomo um banho, como alguma coisa e faço o devocional (nem sempre nesta ordem). Não via motivos para abdicar de uma destas atividades para assistir a apenas um jogo. Francamente, tenho coisas mais relevantes com as quais me ocupar.

Se Dunga fica ou sai, o que muda na Seleção, seriamente não me afeta. O que me interessa não é quem dirige a Seleção, mas quem está no controle de minha vida; esta é a decisão com a qual devo me ocupar até os meus últimos dias.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

EVANGÉLICOS: A FATIA DECISIVA


Os analistas têm dito que, na acirrada disputa pelo eleitorado americano, Baraka Obama e John McCain terão de conquistar o eleitorado evangélico. Este fato explica porque, no sábado último (16 de Agosto), ambos foram vistos no horário nobre americano, confessando suas falhas morais diante do Pr. Rick Waren.

A sessão de mea culpa por si só diz muito, não apenas sobre o poder político dos cristãos norte-americanos; o fato revela a ascensão de Waren, líder da Saddleback Church, uma pequena congregação com 30 mil membros! Waren escreveu livros que o elevaram ao patamar de "guru das mega-igrejas". Muitas das estratégias dele são válidas, enquanto outras não passam de markenting aplicado à fé. A saddleback cresceu seguindo
uma política de atrair gente "a todo custo". Até sua liturgia foi moldada pensando naqueles que não frequentam regularmente uma igreja (alguns paralelos podem ser feitos entre a abordagem de Waren e a da "Nova semente", comunidade adventista que visa alcançar pessoas secularizadas).

Pelas atuais conjunturas, é bem provável que o presidenciável americano que souber agradar os evangélicos do país irá de mala e cuia para a Casa Branca. E, provavelmente o presidente eleito, ou Obama ou McCain, terá de prestar contas com os cristãos, comprometendo-se a rezar (literalmente) pela sua cartilha.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O EVANGELHO QUE RECONSTRÓI VIDAS



RECONSTRUÇÃO

Ecoa. Estrondo cheio de ânimo e reverência.
Sua porta, fechada para os prazeres pagos,
Oculta uma família faminta da promessa.

Tilinta o sangue pelas ruas órfãs do muro;
Em seu lar, uma fita rubra simula a Páscoa.

Não um arrombamento, mas um bater suave.
Ela abre a porta, livre da atitude lasciva,

Do sorriso que tenta seduzir algum homem;

Ela é filha da Aliança da mesma forma que eles
– Justo nesse sentido, já tinha a porta aberta.

Ao recolher a fita vermelha, que fez dela?
Secou com ela suas lágrimas de vitória?
Ou através da fita pensou no sacrifício,
Ofertando um cordeiro (substituto na culpa)?

Seu lar seria agora muito bem frequentado,
E teria um marido, não homens com moedas.

Pensaria no mesmo Deus que a tomou nos braços,

Mais seguros que os muros da Jericó vencida.

Leia também:

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O OUTRO PASTOR DOS SALMOS


O Salmo 23, com suas metáforas edílicas e promessas de segurança plena mantém-se um dos textos mais conhecidos da Bíblia. O destaque do poema de Davi fica a cargo do Deus-pastor, objeto da confiança do salmista. Entretanto, há no mesmo livro de Salmos a figura de um outro pastor.

Este segundo pastor não conduz a "pastos verdejantes", mas a gramas magras e secas. Ao invés de "águas tranquilas", seu cajado leva o rebanho a riachos turbulentos. Falta a "mesa na presença dos inimigos", porque o próprio pastor é um inimigo. Um pastor que apenas tosquia impiedosamente as pobres criaturas sob sua responsabilidade. Este é o pastor descrito no Salmo 49:14, na primeira metade do verso:

"Como ovelhas, estão destinados à sepultura
e a morte lhes servirá de pastor"
Assim a Bíblia representa o destino de quem confia em si mesmo (v.13). Pior do que um "lobo em pele de ovelha" (o que vem a mente quando Paulo menciona a invasão de "lobos devoradores" no meio dos cristãos; cf.: At. 20:29), é ser conduzido pela prórpria morte. A única solução é aceitar a guia do Bom Pastor que veio "dar a vida pelas ovelhas" (Jo 10:11).

terça-feira, 5 de agosto de 2008

EVOLUCIONISMO E TEÍSMO BÍBLICO: VISÕES IRRECONCILIÁVEIS?



Desde o pontificado pop de João Paulo II, a igreja Católica explica a origem da vida através do Evolucionismo Teísta – uma aceitação seletiva da teoria de Darwin, mas cujo início do processo repousa na ação divina, não no acaso. De seres simiescos surgiram humanos dotados de alma.
Recentemente, Lorenzio Facchini, professor de biologia evolutiva da Universidade de Bologna, publicou um artigo partindo da mesma perspectiva católica sobre o assunto. Para ele, o evolucionismo é factual, e ignorá-lo significa ignorar “o progresso da busca científica”, além de comprometer “o aprofundamento da Teologia”. [1] Neste tipo de arrazoado, costuma haver uma diferenciação entre ciência e moral, argumentando que é possível que se aceitem os preceitos do Materialismo Filosófico, sem comprometer a moralidade bíblica. No entanto, a própria Escritura admite esta conciliação entre seus ensinos e a estrutura de pensamento moderno, pautada pelo predomínio de uma mentalidade crítica e racionalista?
Uma resposta adequada a esta inquietação surge ao examinarmos a filosofia proveniente do material sagrado. Ocorre que, na Literatura bíblica, a moral está relacionada aos atos de Deus na História. Se admitirmos que Deus não agiu, e que os eventos relatados não passam de história da carochinha, a moral perde seu embasamento.
Um, entre outros tantos exemplos disto que acabamos de dizer, está na forma como Jesus lidou com uma discussão antiga, de espectro moral. Perguntado sobre o divórcio, Jesus afirmou haver o que os estudiosos hoje chamam de “cláusula de exceção”: quem se casou deve manter-se casado, exceto em caso de adultério (Mt 19:9). Antes de dialogar sobre a exceção, o Mestre expôs a regra, afirmando que “desde o princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’” (v. 4-6). Para Jesus, portanto, a conduta moral que deve reger a união de duas pessoas em casamento está baseada em um evento – a união conjugal dos primeiros seres humanos (Adão e Eva), realizada pelo próprio Deus.
Levando-se em conta o que dissemos, é de se perguntar a um evolucionista teísta: 1) Se o relato da Criação (Gn 1) é algo alegórico, com que bases um cristão poderia definir o que é moral em um casamento? 2) Se Jesus considerava a Criação um evento historicamente confiável, por que Seus modernos seguidores deveriam sustentar uma posição contrária?
A tendência dos críticos modernos do Cristianismo é considerar a religião com crença descomprometida de aspectos factuais (ou mesmo de aspectos factíveis), ou seja, como que se a religião bíblica dependesse de fé cega, sem jamais se apoiar sobre qualquer tipo de prova que fosse averiguável pela razão; [2] esta, porém, não é a mentalidade dos escritores bíblicos.
Infelizmente, alguns autores modernos menosprezam a compreensão que os povos antigos tinham da realidade, julgando que eles eram por demais místicos ou fantasiosos. Não devemos ir a tanto. É claro que as pessoas sabiam que colocando a mão sobre o fogo se queimariam e que, caso um vizinho chegasse contando que sua vaca saiu voando, provavelmente ele não poderia estar falando sério. A diferença é que, para a cultura das épocas e terras bíblicas a realidade não era concebida como um sistema fechado, mas se admitia a atuação do sobrenatural, tanto como causa da ordem material cotidiana (a lei da gravidade, o nascimento, o curso dos rios), quanto da explicação para eventos que fugiam desta ordem (a cura de cegos, estéreis dando a luz, mortos ressuscitarem).
Esta perspectiva bíblica se contrapõem ao Evolucionismo, que provê uma base racionalista (estabelecendo que a verdade é o que pode ser provado empiricamente) para o ateísmo (se Deus não passa na categoria de coisas que podem ser provadas, então Ele não existe). A visão de mundo que este sistema nos oferece se opõe de tal maneira à visão bíblica, que ambas se tornam mutuamente excludentes – é impossível aceitar o que uma afirma sem descrer da outra.
O biólogo Richard Dawkins, ateu e ardoroso defensor do Evolucionismo, afirma que, na Natureza “não podemos admitir que as coisas possam ser boas nem más, nem cruéis nem carinhosas, mas simplesmente cruas – indiferentes a todos os sofrimentos e sem nenhum propósito.” [3] Conciliar uma concepção de natureza, em que falte propósito, com um sistema moral baseado nos atos de um Deus Soberano é a mais heterogênea das misturas.
Não à toa, o mesmo Dawkins, muito mais coerente do que os evolucionistas teístas, transporta a falta de propósitos para o mundo moral: “há algo de infantil na ideia de que outra pessoa (pais no caso de crianças, Deus no caso de adultos) tem responsabilidade de dar sentido e objetivo à sua vida”; para Dawkins, “a visão verdadeiramente adulta, pelo contrário, é a de que nós é que decidimos se nossa vida será significativa, plena e maravilhosa. E podermos fazer com ela seja plena e maravilhosa”. O dogmatismo das afirmativas do biólogo best-seller chega a ser comparada ao fervor dos religiosos que ele vem criticando há décadas. [4] Quem sabe, este seja o único ponto de contato entre Evolução e Teísmo bíblico: a fé com a qual (a seu modo) seus partidários defendem o que creem.

[1] Citado por Carmen Elena Villa Betancourt, “Pistas para superar o debate entre católicos e teoria da evolução”, disponível em .
[2] “‘sem dúvida, a imensa maioria das pessoas sem treinamento científico só pode aceitar os resultados da ciência fiando-se nas declarações de autoridades no assunto. Mas há, obviamente, uma diferença importante entre um sistema aberto que convida todo mundo a se aproximar, estudar os seus métodos e sugerir aperfeiçoamentos, e outro que considera o questionamento de suas credenciais um sinal de maldade no coração, como a que o [cardeal] Newman atribuiu àqueles que questionaram a infabilidade da Bíblia […]. A ciência racional trata as suas notas de crédito como se fossem sempre resgatáveis quando solicitado, enquanto o autoritarismo não racional considera o pedido de resgate de suas notas uma desleal falta de fé.'” Morris Cohen, Reason and nature (1931), citado em Carl Sagan, O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro (São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1999), 8ª reimpressão, 249.
[3] Richard Dawkins, O Rio que saía do Éden: uma visão darwiniana da vida (Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1996), 89.
[4] José Maria e Silva, de quem extraímos as afirmações de Dawkins do último parágrafo (que fazem parte do badalado “Deus: um delírio”), comenta que a suposta “visão verdadeiramente adulta de Dawkins”, tratar-se de “Uma frase digna dos televangelistas que ele, com razão, critica. A se crer em Dawkins, essa vida “plena, maravilhosa” só é possível através da ciência, matando Deus, o obstáculo.” O texto de José Maria termina com o seguinte comentário: “[…] Em tese, a ciência pode até ser capaz de desvendar todos os mistérios do universo, inclusive Deus, mas jamais será capaz de construí-lo. A não ser que apele para as paixões — como faz o evolucionismo de Dawkins — e deixe de ser ciência.” José Maria e Silva, Richard Dalkins: o talibã ateu, disponível em .