sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O ADVENTISMO NUBLADO PELA CULTURA


"Mas o que estou declarando seguramente é que na atualidade temos um grande número de adventistas do sétimo dia batizados – ministros assalariados e leigos – que, enquanto pensam muito em Cristo e Sua graça, não tem muita consideração pelas afirmações do adventismo quanto a possuir uma missão única no mundo. Além disso, o adventismo investiu muito nas duas últimas décadas tentando acompanhar as tendências da cultura ocidental, e, por agido assim, a razão de ser do adventismo, em minha opinião, ficou nublada […]"

Shane Anderson, How to kill adventist education (and how to give it a fighting chance!,  (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 2009), p. 18-19.

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MULTIPLICANDO OS SEUS RECURSOS


Imagine uma lanchonete bem ajeitada em um bairro próximo ao centro da cidade. Está quase na hora de fechar e Júlia pensa em descansar: chegar em casa, falar com o namorado pelo celular, estudar para a prova na faculdade… Nessas horas, cada segundo faz a diferença. Faltando quinze minutos para encerrar o expediente, Júlia escuta o gerente se lamentar. O movimento foi fraco. Apenas poucas famílias estiveram ali durante o dia. Geralmente, pedidos de sanduíche com refrigerantes. Nada de “especiais” ou porções duplas. Apenas o convencional. E isso é tedioso: os funcionários ficam parados, sem ter muito que fazer, apenas esperando chegar o próximo cliente.
Pelo relógio de Júlia, seriam mais dez minutos ali. Seriam. Algazarra no lado de fora. A princípio, os funcionários se preocupam – seria um assalto? Em seguida, todos, como estátuas, percebem a aproximação de um grupo imenso. Homens jovens, uniformizados, falando alto e com bandeiras. Apenas duas mulheres em todo o grupo. “São torcedores”, sussurra outro atendente no ouvido de Júlia. Sim, dezenas de torcedores, que passaram a tarde em filas até se assentarem na arquibancada do estádio. Gritaram como loucos, tentando “empurrar” o time. Vibraram com os gols. E agora, uma palavra está visível na testa de cada um: fome. Por um lado, aquele movimento todo salvará o dia. O faturamento subirá para além do esperado. Por outro, existe a questão logística, afinal, a lanchonete é pequena. Os funcionários cansados demorarão em atender. E, para piorar, os fornos foram desligados e as máquinas também (ninguém esperava atender clientes a essa hora, quanto mais tantos clientes!).
Quero que sua atenção se volte a um texto bíblico. Ele também fala de pessoas surpreendidas com o número dos que estavam com fome. E, o que é mais complicado, surpreendidas (e apavoradas!) com o número de pessoas para as quais deveriam providenciar alimento.
Ao fim da tarde, os Doze aproximaram-se dele e disseram: “manda embora a multidão para que eles possam ir aos campos vizinhos e aos povoados, e encontrem comida e pousada, porque aqui estamos em lugar deserto.
As desvantagens: os discípulos não eram profissionais no ramo de fast food. Não possuíam fornecedores, capacitação ou recursos suficientes. Além disso, estavam ali mais do que algumas dezenas de pessoas. Alguém contou “cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças” (Mt 14:21). Ao mesmo tempo, disseram que 200 denários não poderiam comprar pães para todos (Mc 6:37), o que sugere termos um público total (incluindo mulheres e crianças) de mais de 20 mil pessoas. Desesperador não acha?
Pense por alguns instantes nas situações de esgotamento que você teve de enfrentar. Quando se viu forçado a “trancar” a faculdade porque perdeu o emprego. Ou na ocasião em que as despesas com a internação de sua mãe eram altas demais. Pense no momento em que você adiou a data do casamento porque não conseguiria sequer alugar o vestido. Há também outras circunstâncias, quando nos faltam recursos emocionais ou nos sentimos sem talento, companheiros e apoio.
Embora a previsão de Jesus inclua ter de passar por aflições (Jo 16:33), Ele prometeu permanecer conosco. E ele estava com os discípulos quando a multidão faminta exibia sua feição esverdeada e a barriga murcha. Aliás, a ideia maluca de alimentar toda aquela gente partiu justamente de Jesus. Coisa incrível, não? Qualquer líder mais pragmático teria acatado o conselho de seus seguidores e liberado as pessoas do culto noturno. “Estão com fome? Isso é uma reunião evangelística, não uma praça de alimentação!” entretanto, o próprio Jesus queria avaliar a fé dos discípulos quando lhes perguntou: “Onde compraremos pão para esse povo comer?” (Jo 6:5-6).
Porém, o texto bíblico ensina que Jesus aborda o ser humano de uma perspectiva holística – ou seja, ele se preocupa com o ser inteiro. Aspectos físicos, espirituais e mentais são apenas uma forma didática de dividir partes de nosso ser que coexistem, e na mais perfeita integração. Logo, o Salvador não poderia transmitir cuidados espirituais negligenciando o aspecto físico. Sua obra é completa.
O curioso é o modo como Jesus operou o milagre. Amigo, Ele é Deus, certo? Não poderia ter feito o milagre como bem entendesse? Poderia fazer chover alimento, como quando caiu o maná para alimentar os israelitas no deserto. Ou poderia transformar as pedras em pães – coisa que se recusara a fazer no deserto diante de Satanás (Mt 4:3-4); durante a tentação, seria em benefício próprio e, portanto, errado. Mas agora, transformar pedras em pães beneficiaria a multidão. Entretanto, Jesus tinha outros planos para resolver o dilema.
Eles lhes disseram: “Tudo o que temos aqui são cinco pães e dois peixes”.
“Tragam-nos aqui para mim”, disse ele. E ordenou que a multidão se assentasse na grama. Tomando os cinco pães e os dois peixes e, olhando para o céu, deu graças e partiu os pães. Em seguida, deu-os aos discípulos, e estes à multidão. (Mt 14:17-19).
A forma do milagre não era original. Elias e Eliseu fizeram milagres parecidos (cf.: 1 Rs 17:13-16; 2Rs 4:2-6; 4:42-44) – ambos os profetas tiveram, durante seus ministérios itinerantes, momentos que se assemelham aos que Cristo viveria séculos depois. A lição também era a mesma: entregue a Deus o que você tem e deixe Ele multiplicar seus recursos.
Existem dezenas de líderes cristãos que adotam uma teologia não-bíblica a respeito dos dízimos e ofertas, conceitos bíblicos fundamentais. Esses líderes ensinam que devemos doar todos os recursos e cobrar do Senhor que Ele nos dê muito mais. Ensinam que se pactuarmos com Deus dessa forma não teremos desemprego, doença, divórcio ou qualquer tipo de revés. Como se, em um passe de mágica, todas as bênçãos materiais divinas fossem derramadas sobre nós. Parece uma versão espiritual do sonho americano! Infelizmente, as pessoas sinceras e mal informadas acabam, por conta de tais ensinamentos, decepcionadas com Deus, que nunca prometeu nada parecido.
Quando olhamos dois pães e dois peixes alimentando vinte mil famintos e ainda sobrarem “doze cestos cheios” (Mt 14:20), temos de nos lembrar que os discípulos obedeceram ordens explícitas de Jesus e o fizeram com fé. Quando obedecemos, nossos recursos são multiplicados na proporção que Deus disse que faria – afinal, ele nos prometeu coisas como “abrir as comportas do céu” para quem fosse fiel na devolução dos dízimos (Ml 3:10) e forças renovadas como as da águia, para aqueles que confiassem nEle (Is 40:31). Não podemos esperar que Deus Se dobre a nossa vontade ou siga as regras que ditamos. Eu e você é que temos de nos submeter ao controle dEle e ter expectativas compatíveis com o que Ele prometeu realizar.

O que nosso Senhor propõe é sermos fiéis entregando-lhe nossos recursos, na proporção que Ele pediu: 10% de nossos ganhos (dízimo), pouco mais de 14% de nosso tempo (sábado) e 100% de nossa dedicação (coração).


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

TIRINHAS SEM GRAÇA (DE DEUS)




Uma das partes dos jornais mais procurada é a seção que exibe tirinhas, quadrinhos sequenciados com pitadas de humor (geralmente ácido). Curiosamente, na última sexta-feira (30/11) me deparei com três tirinhas na mesma página de A Folha de São Paulo com temas comuns. As três, de maneira diferente, ridicularizavam aspectos da fé cristã, com maior ou menor desrespeito.
Obviamente, ser politicamente correto não é o papel desse tipo de arte, certo? Ok, mas tudo tem limite. Parece que para muitos humoristas (em diversas frentes de atuação) ser irreverente é uma virtude, até mesmo quando a irreverência se relaciona a coisas que, por definição, se mostram dignas de reverência.
A primeira das tiras, por exemplo, do cartunista Laerte, com non-sense habitual transmite o choque de realidade entre uma experiência extraordinária, ver "um anjo do Senhor", que se torna banalizada pela atitude de desdém do próprio anjo. Embora nesse choque intencional haja a situação cômica (?), é de se questionar que a situação gerada seja compatível com o uso do nome de Deus ou se personifica respeitosamente esse tipo de agente. Querendo ou não, o autor acaba fazendo rir de coisa séria, tratando com trivialidade os mensageiros celestiais.
Na segunda das tiras, o livro caracterizado como "hot" (gíria inglesa com várias conotações, correlata dos termos "picante", "sensual", "atraente", etc) possui alguns "ingredientes": "magia negra, sexo, traição, incesto". Qual seria o livro? Uma das personagens pressupõem tratar-se de um exemplar de ficção atual, e passa a censurar a "literatura moderna", repetindo uma crítica constante a livros como os das séries Harry Potter e Crepúsculo. Para a surpresa dela e do leitor, conhecemos no quadrinho final o livro pela sua capa: é a Bíblia sagrada! A tirinha bem que parece ter seu roteiro assinado por Richard Dawkins, o famigerado ateu que gosta de atribuir componentes semelhantes aos livros bíblicos.
Poderíamos dizer que sim, as Escrituras têm esses elementos, porque, infelizmente, eles fazem parte da experiência humana. Contudo, a Bíblia jamais endossa o incesto, a magia negra, o sexo libertino ou adultério. Ao contrário: rigorosamente os proíbe. Isso é suficiente para detonar a intenção anti-moralista do autor da tira, que parece rir em oculto, como que alegando: "criticam os livros de hoje, mas a Bíblia é mais imoral do que eles!". É claro que tal assertiva não se justifica. Se as Escrituras abordam esses tópicos, sempre em perspectiva negativa, promovem muitas outras coisas santas e justas, como a obediência aos pais, a vida de serviço em prol do semelhante, a observância aos mandamentos de Deus, a justiça com os desfavorecidos, entre outras coisas.
A última das tiras nem mereceria ser citada, dado o grau de imoralidade, blasfêmia e desrespeito para com o Ser Supremo. Sem nos ater aos detalhes, basta dizer que rir do Juízo divino não soa a coisa mais sensata a se fazer, uma vez que todos participaremos dele (Ec 12:12)! Parece que justamente o hedonismo de nosso tempo é que leva ao sentimento de desconforto diante do sagrado, a ponto de a todo instante os homens terem de rir para disfarçar o mal-estar. Claro que reconhecer humildemente a soberania do Senhor seria mais inteligente…

É sintomático que as pessoas argumentem que são apenas quadrinhos inocentes, mero entretenimento e que seria fanatismo retalhar manifestações de humorismo infantil. Obviamente esses comentários sempre acompanham toda discussão dessa natureza. Não que isso surpreenda: afinal, com a decadência da moralidade, tudo se tornou permitido – menos censurar os excessos. Se as pessoas fossem sóbrias moralmente, teriam de se encarar no espelho e teriam de - terrível coisa! – encarar Deus. Nesse caso, muitos preferem continuar rindo dEle e banalizando Sua graça. Sem dúvida, um mundo sem graça…