sexta-feira, 31 de março de 2017

A CONEXÃO PARA ESSE TEMPO



Vivemos o tempo final da história do mundo, quando a inspiração previu o advento dos enganos mais bem elaborados. Não se trata apenas de escolher entre o que é claramente correto ou o escandalosamente malévolo. Satanás agiria para nos entreter, viciar e desequilibrar: “‘Tenham cuidado, para que os seus corações não fiquem carregados de libertinagem, bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente.” (Lc 21:34). E ele o faria por meio do transtorno do cotidiano.
Uma das coisas mais certas sobre a realidade distorcida pelo pecado é a transitoriedade. O pecado se interpõe no próprio curso da vida, interrompendo-a com a chegada da morte. Mas não só isso. Ao transmutar os preceitos divinos, os quais geram estabilidade, o mal trouxe a constante mudança, a passagem das épocas como conhecemos. Tais mudanças ao longo da história são marcadas por guerras, catástrofes, perseguições e revoluções tecnológicas.
É difícil imaginar como seria o mundo criado por Deus sem ter como parâmetro o mundo como o conhecemos, o qual é manchado pelo pecado. Certamente, o tempo é um elemento criado por Deus. Não é admissível uma realidade dicotômica, como os gregos faziam, ao imaginar a ausência de tempo como ideal de perfeição. Mesmo na Terra restaurada teremos a passagem dos dias e a contagem das semanas (Is 66:23). Por outro lado, é possível inferir que o plano divino implicava em progresso, crescimento, aperfeiçoamento:

Enquanto permanecessem fiéis à lei divina, sua capacidade para saber, vivenciar e amar, cresceria continuamente. Estariam constantemente a adquirir novos tesouros de saber, a descobrir novas fontes de felicidade, e a obter concepções cada vez mais claras do incomensurável, infalível amor de Deus. (EGW, PP, 23).

O texto sugere que, sem a presença do pecado, haveria um fluxo contínuo de desenvolvimento dentro das mesmas bases – obediência à lei divina. Com o pecado, temos degradação, ruptura, mudanças e violência. Logo, é de se esperar que a instabilidade seria a marca do mundo.
A instabilidade se instaurou no cotidiano e logo passou a ser o novo cotidiano. O mundo interconectado aceita a instabilidade, faz dela seu capital mais valioso. Se há mudança, há movimento. Ainda que movimento desordenado. Real e virtual se confundindo, se mesclando. O que os analistas sugerem ser um novo período humano tem de ser visto em sua devida perspectiva profética.
O caos das nações – caos de informações, insegurança política (crises migratórias, terrorismo, guerras em potencial) e a perda das bases éticas (com a rejeição do modelo bíblico de pensar) – é o aprontar das últimas cenas. Já estamos próximos dos eventos descritos na profecia.
Mais do que nunca, o conselho de Jesus é valioso: “‘Tenham cuidado, para que os seus corações não fiquem carregados de libertinagem, bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente.” (Lc 21:34). Justamente aqui temos de ficar atentos. Há distrações por toda parte. O entretenimento chega a nós a cada momento, via Whats’app, redes sociais, serviços de streams. Em meio à instabilidade, somos convidados pela tecnologia a desconsiderar a vigilância e dar maior valor à diversão. Somos convidados à grande festa online, à orgia digital, ao amar o lúdico, o prosaico, o fútil. Assim, quando chegarem as provas, estaremos desapercebidos e sonolentos. Conectados com esse século, estamos nos desconectando com as advertências que nos preparariam para o futuro.
Obviamente, o problema maior não está com a internet, mas com a forma como a usamos, o tempo que dedicamos a ela e ao tipo de participação que temos com as coisas que ela oferece. Quer online ou na vida off-line, somos desafiados a compartilhar a certeza de que Jesus voltará. Isso implica em uma vida sóbria, cautelosa, sábia, regrada e piedosa. Implica em comunhão autêntica com oPai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.” (Tg 1:17). Por meio de nossa esperança nEle, podemos nos conectar ao governo de Deus, algo que será plenamente cumprido para aqueles que vencerem no grande conflito, especialmente em sua crise final (Ap 3:21).
Deus nos dê o entendimento correto acerca do tempo presente, uma sólida apreciação por aquilo que Ele realizou nos tempos passados e uma viva esperança para aguardar o tempo que Ele trará!


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domingo, 19 de março de 2017

GERAÇÕES TRABALHANDO JUNTAS PARA CRISTO


Barnabé e João Marcos, Moises e Josué, Elias e Eliseu, Jônatas e Davi, Jesus e os discípulos, Abraão e Ló, Esdras e Neemias, entre outros: não é incomum que nas Escrituras pessoas de faixa etária distinta interajam de forma harmônica. Se na Bíblia existe discipulado, é certo que muitos dos exemplos dessa prática se dão em um contexto intergeneracional.
Hoje há um distanciamento entre indivíduos de gerações distintas por causa da mídia: especialmente com o advento da cultura jovem, a partir da década de 1950, houve uma ruptura da continuidade histórica natural, levando a se prescindir da vida adulta como modelo a ser almejado. Atualmente se faz de tudo para fugir da frustração indissoluvelmente ligada à maturidade, com suas responsabilidades e rotinas.
O bom é ser jovem, jovem eternamente, viver com os pais até os trinta, trabalhando mais por hobbie do que por realização. Se na década de 1960, 70% dos homens chegavam aos 30 anos (a) formados, (b) empregados, (d) casados e (e) com filhos, requisitos da vida adulta, as estatísticas atuais indicam que apenas 30% dos homens atingem tais metas até os 30 anos. Aliás, poucos ambicionam atingi-las. Se “balzaquiana” indicava a mulher na casa dos trinta, a mulher madura, poderíamos dizer que no cenário contemporâneo as cinquentonas são as novas balzaquianas.
Se por fatores sociais os casais demoram a se casar ou a ter filhos, deveríamos admitir essa cultura no seio do cristianismo? Há sérias preocupações que envolvem o discipulado da geração atual, especialmente quando se reflete sobre a influência de padrões seculares sobre esses jovens. Somos chamados a rejeitar os moldes seculares e renovar nossa mente (Rm 12:2). Alguns pontos para se meditar:
(1)    Desde a revolução sexual (década de 1960), casamento e atividade sexual se desligaram. Na prática, muitos jovens questionam sobre a necessidade de assumirem um compromisso (com riscos inerentes) se podem desfrutar de um envolvimento sexual descompromissado. Eis um dos fatores para casamentos mais tardios, realizados por pessoas próximas aos 30 anos (além de um número de casais que passam a dividir o mesmo teto sem nenhum papel assinado). Embora muitos cristãos se deixem levar pela mesma tendência, o padrão bíblico não admite sexo pré-marital. Por essa razão, namoros longos e sem objetivo serviriam apenas para expor um casal cristão à tentação de praticar o intercurso sexual (ou a fornicar). Embora não exista uma idade concreta para se casar dentro da Bíblia, particularmente penso que, entre os 21 aos 26 anos é uma faixa etária ideal;
(2)    Pais cristãos devem incentivar e promover oportunidades para que seus filhos trabalhem o quanto antes. A atividade profissional é dignificada na Bíblia. A correta disciplina deve empreender esforços positivos para que jovens reconheçam o trabalho como um mandato divino;
(3)    Lares cristãos, por meio do culto familiar, e igrejas, por meio do clube de Aventureiros/ Desbravadores, programa da Escola Sabatina, Culto jovens e demais oportunidades de treinamento e práticas missionárias, devem inculcar os princípios bíblicos, debatendo sobre temas centrais das Escrituras com profundidade; assim, se agirá para que uma geração pense biblicamente, fazendo contraponto sadio com as influências seculares (as quais se disseminam por meio da mídia e do convívio com não-cristãos). Alguns mitos cristãos devem ser fortemente combatidos nesse processo: (a) a neutralidade da mídia; (b) a ideia de sucesso profissional associado com alto rendimento financeiro; (c) a ideia de sucesso acadêmico associado com instituições particulares não-cristãs (educação básica) ou públicas (educação superior); (d) os supostos benefícios do consumismo moderado; (e) a despreocupação com as questões mais pertinentes de uma reforma de saúde (geralmente reduzida em termos populares à abstinência à carne suína e derivados); (f) a ideia reducionista de cristianismo concebido como fé alheia à racionalidade; etc.
As novas gerações precisam estar ligadas mais de perto com as demais gerações. Sem tal relacionamento, não há transmissão de valores. Legado chega quando se anda lado a lado. Para discipular os novos, é necessário quem corajosa, espiritual e conscientemente aceite o desafio.



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quarta-feira, 15 de março de 2017

A PRÁTICA DA ORAÇÃO NO MUNDO MATERIALISTA


Desde o Iluminismo, passando pela teologia liberal e adentrando no século XX, a presença divina passou a ser escamoteada, gradativamente diminuída e, finalmente, rechaçada. Hoje se fala no espaço dado à espiritualidade. Porém, tudo isso em nível pessoal. Na esfera particular, no fórum íntimo.
No “mundo real”, a opulência material garantida pelo progresso econômico que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial despertou a cobiça. Produtos feitos para durar pouco. Propagandas pensadas para vender sentimentos, aspirações e valores veiculados a quase qualquer produto – até propaganda de banco faz chorar! A toda hora, somos convidados a ter o último smartphone, o perfume recém lançado, o xampu de eficácia cientificamente comprovada. Para tudo isso, é preciso gastar tudo, porque gastar significa desfrutar. O materialismo consumista é uma expressão da confiança humana nos bens como veículos de desfrutar não apenas da “vida melhor”, prometida pelo século XX; hoje está à disposição a “vida para ser curtida”, com coisas inúteis, mas divertidas, ao alcance de todos.
Não há espaço para Deus nesse espiral pós-moderno de sensações, nesse looping de barganhas midiáticas e promessas de pote de ouro aqui e agora. Tudo está concentrado não mais nessa vida, mas no agora. Tudo o que importa é o agora. Temos de ver, ouvir a resposta, tocar as coisas, viver a sensação. Como confiar em um Deus além, invisível, que, pior!, nem sempre responde (quase nunca responde) as orações no exato momento em que são feitas?
Confiar nas respostas de Deus é algo que precisa, como nunca, ser exercitado a cada instante. Do contrário, fica fácil que mesmo cristãos conscientes vivam como ateus em sua semana de trabalho. O sábado bíblico (Êx 20:8-11) não é simplesmente um dia para ter um encontro com Deus, o que, de fato, deve ser algo diário. O sábado é a renovação do propósito da aliança com o Criador, a preparação para Seu juízo em favor de Seus santos (Ap 14:6-7) e a dedicação exclusiva do tempo para Aquele que é Senhor do tempo e da vida. O sábado serve para se desconectar com os apelos consumistas de um mundo que se acostumou com aquilo que é imediato. Na calma do dia santo, pode-se renovar o propósito de servir o Deus que estabeleceu cada coisa para seu próprio tempo (Ec 3:1-8).
Uma vez renovados, é preciso que empreguemos o tempo dos outros dias para nos conservar em espírito de oração. Não se trata da regularidade nas orações pontuais, sempre necessária. Mas o cultivo de uma mentalidade que a todo tempo converse com Deus e reconheça a necessidade de Sua presença. Afinal, em meio ao conflito cósmico no qual estamos inseridos, a grande questão não é em que gastaremos nosso dinheiro ou qual diversão estará à nossa espera. A salvação está em jogo em cada decisão importante – mesmo naquelas que não se percebem importantes.
Oramos porque não estamos seguros em um mundo dominado pelas trevas. Oramos porque há um Deus que, como um Amigo sempre presente, sente interesse por nós e deseja nos amparar. Oramos porque Deus é totalmente amável e benevolente, cheio de misericórdia, amor e paciência. Oramos porque é nossa maneira de amá-Lo por tudo o que Ele é e tem feito.


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segunda-feira, 13 de março de 2017

A MULHER QUE NÃO CONHECIA BRUCE WAYNE


Estávamos em um restaurante de um shopping, aguardando o pedido chegar. Stephanie, nossa bebê, se distraía com músicas cristãs e livrinhos de plástico contendo histórias bíblicas. Saí da mesa à caça do banheiro, quando cruzei com os mascarados. Iam excitados, em grupos, falando coisas que não consegui ouvir. Claro que me indaguei a razão de tanta gente usar roupas e máscaras tirados da série Star Wars. Acabei reencontrando outras pessoas vestidas a caráter no corredor próximo da área em que ficavam os cinemas e minhas dúvidas foram esclarecidas. Não sei dizer se era exatamente a estreia, mas vi que Rogue One se achava em cartaz. Logo voltei para a direção em que ficavam os banheiros (localizados do lado oposto em que eu havia me dirigido).
O famoso bordão "que a força esteja com você" seria reconhecido por quase qualquer pessoa que cresceu na década de 1980. Menos pela minha esposa Noribel. Ela não sabia quem era o Peter Parker ou Bruce Wayne. A cultura pop era um terreno (quase) completamente desconhecido para ela. Minha esposa foi criada como adventista desde os dois anos de idade (um colportor estudou a Bíblia com os meus sogros; o pai da minha esposa decidiu-se ao fim do estudo, mas minha sogra demorou ainda dois anos para se batizar). Noribel cresceu aprendendo com a lição da Escola Sabatina, participando de acampamentos com os desbravadores, desejando ir para o internato (o que se realizou na faculdade e graças à colportagem) e participando dos cultos e programas da igreja.
Se eu pudesse, daria um doutorado honoris causa em educação para os meus sogros. Ou em evangelismo voltado às novas gerações. Como duas pessoas simples souberam criar seus filhos com tanta ênfase no espiritual? Eu não tive esse privilégio – minha família passou a frequentar reuniões adventistas quando eu tinha quinze anos (graças a um curso de desenho que eu fazia). Por isso, eu e minha esposa crescemos com referenciais diferentes. E sabe qual o prejuízo de crescer com a mínima influência da cultura pop? Nenhum. Isso não impediu que Noribel se tornasse uma pessoa sociável, inteligente e divertida. Ela e muitos adventistas que conheci, vindos de lares realmente cristãos, se destacavam por terem enraizado em seu caráter conceitos que são a base do adventismo.
Quem forma a base para uma nova geração são os pais. A mídia somada com outros fatores, como as revoluções sociais e tecnológicas, exercerá influência limitada pela atuação de pais cristãos. Quando nos perguntamos "O que fazer para alcançar as novas gerações?", estamos mostrando preocupação na direção equivocada! A pergunta deveria ser: "O que diz a Bíblia?" Quando pais ensinam seus filhos a pensar biblicamente, eles formam jovens que servirão como representantes de Cristo entre outros jovens. E o que alcançam pessoas não são os métodos, mas outras pessoas. A vida transformada prega com eficácia sobre o evangelho que a transformou.
Fico feliz quando o culto familiar acaba e a Stephanie folheia sozinha sua Bíblia ilustrada. Sem saber ler ou falar, ela já é uma investigadora das Escrituras. Em meio à geração de pessoas confusas, que não aceitam a Verdade única e abraçam o experimentalismo pragmático para escolher sua espiritualidade, estou criando uma testemunha. Deus me dê a sabedoria que meus sogros –  e tantos outros adventistas fiéis – tiveram.


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