quarta-feira, 15 de março de 2017

A PRÁTICA DA ORAÇÃO NO MUNDO MATERIALISTA


Desde o Iluminismo, passando pela teologia liberal e adentrando no século XX, a presença divina passou a ser escamoteada, gradativamente diminuída e, finalmente, rechaçada. Hoje se fala no espaço dado à espiritualidade. Porém, tudo isso em nível pessoal. Na esfera particular, no fórum íntimo.
No “mundo real”, a opulência material garantida pelo progresso econômico que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial despertou a cobiça. Produtos feitos para durar pouco. Propagandas pensadas para vender sentimentos, aspirações e valores veiculados a quase qualquer produto – até propaganda de banco faz chorar! A toda hora, somos convidados a ter o último smartphone, o perfume recém lançado, o xampu de eficácia cientificamente comprovada. Para tudo isso, é preciso gastar tudo, porque gastar significa desfrutar. O materialismo consumista é uma expressão da confiança humana nos bens como veículos de desfrutar não apenas da “vida melhor”, prometida pelo século XX; hoje está à disposição a “vida para ser curtida”, com coisas inúteis, mas divertidas, ao alcance de todos.
Não há espaço para Deus nesse espiral pós-moderno de sensações, nesse looping de barganhas midiáticas e promessas de pote de ouro aqui e agora. Tudo está concentrado não mais nessa vida, mas no agora. Tudo o que importa é o agora. Temos de ver, ouvir a resposta, tocar as coisas, viver a sensação. Como confiar em um Deus além, invisível, que, pior!, nem sempre responde (quase nunca responde) as orações no exato momento em que são feitas?
Confiar nas respostas de Deus é algo que precisa, como nunca, ser exercitado a cada instante. Do contrário, fica fácil que mesmo cristãos conscientes vivam como ateus em sua semana de trabalho. O sábado bíblico (Êx 20:8-11) não é simplesmente um dia para ter um encontro com Deus, o que, de fato, deve ser algo diário. O sábado é a renovação do propósito da aliança com o Criador, a preparação para Seu juízo em favor de Seus santos (Ap 14:6-7) e a dedicação exclusiva do tempo para Aquele que é Senhor do tempo e da vida. O sábado serve para se desconectar com os apelos consumistas de um mundo que se acostumou com aquilo que é imediato. Na calma do dia santo, pode-se renovar o propósito de servir o Deus que estabeleceu cada coisa para seu próprio tempo (Ec 3:1-8).
Uma vez renovados, é preciso que empreguemos o tempo dos outros dias para nos conservar em espírito de oração. Não se trata da regularidade nas orações pontuais, sempre necessária. Mas o cultivo de uma mentalidade que a todo tempo converse com Deus e reconheça a necessidade de Sua presença. Afinal, em meio ao conflito cósmico no qual estamos inseridos, a grande questão não é em que gastaremos nosso dinheiro ou qual diversão estará à nossa espera. A salvação está em jogo em cada decisão importante – mesmo naquelas que não se percebem importantes.
Oramos porque não estamos seguros em um mundo dominado pelas trevas. Oramos porque há um Deus que, como um Amigo sempre presente, sente interesse por nós e deseja nos amparar. Oramos porque Deus é totalmente amável e benevolente, cheio de misericórdia, amor e paciência. Oramos porque é nossa maneira de amá-Lo por tudo o que Ele é e tem feito.


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