quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A PRIMEIRÍSSIMA MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES



Fumo de pó dá à água matiz sujo de argila.
Secam-se junto as preces e a água da qual bebera,
E o Comando lhe ordena que caminhe à outra vila.

Não pôde entender: uma viúva atende à porta:
Sua voz de um chiado miúdo, a tez de cera
– Tudo nela confirma que em pouco estará morta.

Resta farinha para coser o último pão.
Com audácia insuspeita, pede-lhe o pão do filho,
Do filho que, como ela, míngua, e que chora em vão.

Talvez tocada pela firmeza do estrangeiro,
Talvez ouvindo o mesmo Deus que o enviara ao exílio
– Que importa? De seu forno, sente-se vir o cheiro.

Dando ao profeta todo bocado quanto exija,
Jamais lhe falta outra vez azeite à botija.

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