O casal original segundo Crumb: literal, pero no mucho!
Engrossando a lista daqueles que repudiam a visão vétero-testamentária da divindade, está o cartunista Robert Crumb, idealizador de Gênesis, a ser publicado pela editora Conrad.
Via de regra, essa gente que sai pelo mundo afora criticando Deus e Sua Palavra se perde nos idiomatismos da língua hebraica, tomando por literais expressões como “ira de Deus”. Outro problema: falta perspectiva contextual para entender o porquê de ordens drásticas, como àquelas que previam a conquista de Canaã e destruição de seus habitantes.
O mesmo tipo de pessoas que abomina crimes como pedofilia e estupro, e pede punições mais enérgicas contra crimes hediondos, não se dá conta da cultura dos povos cananitas, que admitiam práticas como sexo bestial e queima de crianças vivas. Por outro lado, argumentar que tais comportamentos eram apenas culturais ou pedir respeito às crenças particulares deles significa absolver quem quer que atualmente pratique algo semelhante!
Voltemos a Crumb, que havendo sonhado com Deus em 2000, resolveu produzir uma versão em HQ do livro de Gênesis. O cartunista, em entrevista para a folha de São Paulo , afirma ter respeitado “palavra por palavra” do texto bíblico – o que não quer dizer que ele tenha qualquer consideração pela integridade da mensagem bíblica, ou sequer treino técnico para efetuar uma análise exegética. O “palavra por palavra” quer dizer que Crumb seguiu o texto ao pé da letra, sem levar em consideração a sua moldura cultural ou literária. Avaliando suas qualificações, Crumb conclui: “Não sou estudioso da Bíblia, ainda não conheço bem o resto dela, mas de certo modo me tornei estudioso do Gênesis.”
Que ninguém pense que qualquer impulso religioso (em virtude da experiência onírica já mencionada) levou Crumb a realizar o trabalho. “Estava com a idéia de ilustrar o paraíso, e um agente literário sugeriu que, se eu fizesse todo o Gênesis, ele arrumaria uma editora que me daria muito dinheiro para isso.”
Fica nítido que a motivação de Crumb levanta dúvidas sobre sua qualidade para expor artisticamente a história bíblica. Ele mesmo demonstra seu desconhecimento de comprovações arqueológicas e evidências literárias a favor da preservação do texto, ao fazer afirmações descabidas; segundo o artista, o fato de haver uma tradição oral desvirtuou muitos dos relatos, os quais “perderam todo o sentido”. Por isso, ele conclui que “eu não usaria o Gênesis como um guia moral.”
Obviamente, trata-se de uma estultícia pronunciar um veredicto a respeito de um texto, de cuja preservação não se pode ter certeza! E, note-se como Crumb faz exatamente esse tipo de julgamento sobre Deus: “É duro, severo, patriarcal e tribal. Cuida de sua tribo, os hebreus, que pressionam os outros.” Ora, se as informações textuais “perderam todo o sentido”, como é possível avaliar o caráter divino presente no texto?
Falta o mínimo de noção de história bíblica ao Gênesis de Robert Crumb. Desastrosamente, recriar Deus é um modismo; mas não se percebe que o Deus criticado não é Aquele que as Escrituras apresentam, porém, o Deus da livre-interpretação pessoal, isolado na leitura pós-moderna, pela qual se ignora a intenção dos autores originais. Esse Deus merece ser surrado, porque, em verdade, não é o Deus, mas o próprio reflexo de uma humanidade desiludida…
Colaborou: Gielen
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