quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

NO FUNDO, EU QUERO REINAR! - parte 1



Um dos filmes mais chamativos que chegou ao Brasil no ano de 2007 foi “300”[1]. Estreiando-se em 30 de Março[2], “300” trazia um rastro de recordes: US$ 70 milhões em ingressos nas bilheterias americanas, o que garantiu à produção o terceiro lugar em rentabilidade (atrás de "Matrix Reloaded", que faturou US$ 91 milhões, e de "Paixão de Cristo", que atingiu os US$ 83 milhões). [3] “300” esteve por duas semanas no topo da lista dos filmes em cartaz, e até a terceira semana, embora caísse para a segunda posição, acumulara a bagatela de US$ 162,3 milhões![4]


A história gira em torno da resistência grega organizada pelo rei espartano Leônidas à invasão persa a mando do deus-rei Xerxes. Ainda que haja uma certa historicidade na trama, a referência óbvia para o filme é a “Graphic Novel” homônima, obra do roteirista e desenhista Frank Miller. O Ator brasileiro Rodrigo Santoro, que interpretou Xerxes no filme, garante que “a intenção desse filme” seja “única e exclusivamente reproduzir a história em quadrinhos”, o que dispensou o estudo que ele teria feito “a partir da obra do historiador grego Heródoto para poder entender mais sobre o personagem [dele].”[5]

Eu, que já havia lido a “graphic novel”, onde o traço estilizado e sombrio de Miller dão um aspecto de “noir” ao épico grego, não estranhei as opções estéticas do filme, muito fiéis à obra original. Posso dizer que “300” é um filme extremamente violento, quase que por diversão, com muita exploração da sensualidade. Apesar da força narrativa, não é o tipo de filme com qual se cresça depois de duas horas no sofá.

A Bíblia também tem uma história envolvendo trezentos homens: descreve a ação corajosa destes trezentos para proteger seu povo de um exército injustamente superior em contingente. Fala da coragem do líder destes trezentos em unir seu grupo em torno de uma estratégia suicida. Não, apesar das coincidências, o relato das Escrituras não envolve o rei Leônidas e seus resistentes espartanos.

Estamos falando de um homem chamado Gideão.

Caso você tenha frequentado uma igreja desde a infância, em algum momento lhe contaram sobre Gideão. Um homem comum. Apenas um jovem franzino que teve a missão de enfrentar um exército composto por impetuosos nômades do deserto. Por sete anos, os midianitas humilhavam Israel, saqueando suas colheitas. Enquanto Gideão e sua família emagreciam, os colares se multiplicavam no pescoço dos camelos de seus inimigos.

Depois de convocado por Deus, Gideão organizou um respeitável exército de trinta e dois mil homens. Deus pediu-lhe que dispensasse os covardes e fracos. Restaram dez mil. Uma nova bateria de testes reduziu ainda mais a frota, restando um bando de trezentos.

Lançando mão da ofensiva mais kamikasi possível, Gideão se armou não com pólvora, ogivas e caças ultra-velozes. As armas eram três: trombetas, cântaros e tochas. Não se preocupe, você leu corretamente: trombetas, cântaros e tochas.

Gideão dividiu seu grupo em três companhias e, por volta das dez da noite, a ação começou. O efeito de trezentos cântaros se partindo, trezentas trombetas soando e trezentas tochas acesas fez os midianitas imaginarem que um numeroso exército vinha atacá-los. Das barracas saíam pálidos soldados atacando de forma desordenada, sem perceber que as formas que atacavam nas penumbras eram seus próprios irmãos. Impressionante! Como Leônidas não pensou em algo semelhante?

Sem dúvida a história de Gideão e seus rapazes é memorável. Muitos a conhecem, ou pelo menos já ouviram menções àquela façanha. Porém preciso dizer que esta não é toda a história. Existe, infelizmente, algo de vergonhoso na maneira como Gideão terminou a sua vida. Prepare-se para ouvir sobre alguém que tinha um desejo sombrio: reinar!

[1] “300”, dirigido por Zack Snyder, Warner Bros, 2006.[2] “Baseado em HQ, ‘300’ estréia em março de 2007 com Santoro no elenco”, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u65467.shtml.[3] “Épico sangrento '300', com Santoro, tem boa bilheteria nos EUA”,Publicada em 11/03/2007 às 13h53m, disponível em http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/03/11/294889862.asp.[4] “Tartarugas Ninja tiram '300' do topo da bilheteria americana”, publicada em 25/03/2007 às 16h05m, disponível em http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/03/25/295078362.asp.[5] Rodrigo Santoro, em entrevista ao site omelete, cedida a Erico Borgo em 30 de Abril de 2007, disponível em http://www.omelete.com.br/Conteudo.aspx?id=100004766&secao=cine
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