quarta-feira, 1 de agosto de 2007

TEM QUE SER DO MEU JEITO!



Sulivan era o inferno!

Agressivo. Quando não concordava com alguma atividade, tinha o costume de arremessar os objetos da sala nos professores. Sem ao menos falar, gritava ou exprimia resmungos indignados. Aos poucos, minha esposa, que na época cumpria um estágio do Magistério em uma APAE, no Rio Grande do Sul, aprendeu a lidar com Sulivan.

Havia a necessidade de muitas atividades, uma vez que o poder de concentração do menino de 8 anos era pequeno. Mesmo assim, ele se indignava em ter de realizar algumas coisas (como pintar, por exemplo); depois que Noribel, minha esposa, ganhara a confiança de Sulivan, ele arremessa objetos no chão, e não mais nela.

Nenhum diagnóstico explicava o porquê do temperamento irrascível de Sulivan. Duas vezes por semana, ele estudava na APAE, recebendo cuidados especiais e aprendendo a se conter.

Você pode se sentir chocado com o caso extremo de Sulivan. A verdade, porém, é que, em menor ou maior grau, todos temos problemas em dominar nosso temperamento.

Será que mesmo os cristãos, nascidos de novo, passam por algum tipo de dificuldade quanto a conter suas emoções? Com certeza! Pense em situações diárias, quando você é esmagado pelos prazos, apertado pelas trivialidades, soldado pelas pressões e colorido pelas circunstâncias adversas. O que sai desta linha de montagem (chamada rotina) não é exatamente um exemplo de calma celeste!

O maior desafio é vencer nossos impulsos e conseguir equilibrar nossas emoções, de maneira que, através da graça de Deus, seja possível atingir o domínio próprio, um aspecto importante do fruto do Espírito Santo (Gálatas 5:22). Diariamente, somos tentados no sentido de ceder a impulsos naturais, que corroem nossos relacionamentos – tanto em nível interpessoal como espiritual.

Reflita comigo a respeito das conseqüências de agirmos seguindo nossos impulsos. Vamos analisar juntos o relato bíblico e tentar perceber alguns erros que também cometemos para evitá-los no futuro.

Faça um retrospecto e note: auto-controle não era com ele! Sansão já deixou claro, como já vimos anteriormente, que não leva desaforos para casa. Por causa de uma trapaça, seus convidados responderam o seu enigma, e ele teve de pagar a aposta. Essa situação o obrigou a engolir o orgulho. Mas a irritação levou o jovem noivo a se afastar por alguns dias da própria festa de casamento (Juízes 14:12 – 19).

Passada a raiva, Sansão voltou para ver sua esposa. Preste atenção no que diz o texto:

“Alguns dias depois disso, durante a ceifa do trigo, Sansão, levando um cabrito, foi visitar a sua mulher, e disse: Entrarei na câmara de minha mulher.[…]” Juízes 15:1.

Não, não imagine que Sansão pôs gel no cabelo, tomou um “banho” com alguma colônia importada e saiu da melhor floricultura de Timna com um buquê de rosas.Ele não queria reconciliação. Não lhe passava pela cabeça que sua atitude auto-centrada afetara a sensibilidade de sua esposa. Sansão dificilmente consultava livros sobre relacionamentos.

Na verdade, o texto diz que Sansão tomou a decisão de voltar porque queria entrar “na câmara” de sua esposa. Em outras palavras: ele estava indo à procura de sexo.

Sei que o que as mulheres estão pensando a esta altura: “Os homens são todos uns machistas nojentos e calculistas!”. E é verdade. Temos de reconhecer que ser movido por impulsos sexuais não era um problema restrito a Sansão. Repare no que dois conhecidos autores dizem sobre os impulsos sexuais no homem:

“O problema espiritual mais freqüente enfrentado pela média dos homens cristãos diz respeito aos pensamentos. O impulso sexual masculino é tão forte, que muitas vezes o sexo parece ser o pensamento predominante em sua mente […]”

“Embora a natureza agressiva dos homens os leve a empenhar-se em atividades as mais diversas, muitas delas emocionais – conhecemos esquiadores, motociclistas, pilotos de jato, pára-quedistas e jogadores de futebol profissionais – todos concordam em que o sexo é a mais emocionante”[1]

Não que o sexo seja algo ruim – concordo que seja a coisa “mais emocionante”; sem dúvida, Deus o criou para proporcionar felicidade integral ao homem e à mulher. Há muito estudiosos têm apontado que, por alguma razão, os impulsos sexuais são mais fortes no homem. Ok. Nada disso, porém, serve de pretexto para que o sexo seja a força motriz das decisões, regulamentando nosso comportamento.

A revolução sexual da década de 60 trouxe resultados muito negativos para a sociedade ocidental, afetando homens e mulheres. Aumento da taxa de divórcio. Aumento de pessoas que contraíram doenças sexualmente transmissíveis. Alto índice de adolescentes grávidas. Crescimento no casos de infidelidade conjugal. Até onde isto nos levará?

Será que toda esta super-ênfase moderna no sexo tem trazido algum benefício, ao menos na própria área da sexualidade?

Parece que não. Em recente artigo, publicado no Observatório da Imprensa, Lígia Martins de Almeida afirma que a satisfação sexual não tem crescido entre os brasileiros, por mais que as revistas femininas invistam tanto em “testes, dicas, matérias com truques para que suas leitoras obtenham mais prazer”.

Ela utiliza os dados de uma pesquisa, apontando que os brasileiros mantém uma média de 145 relações sexuais por ano, sendo esta a segunda maior média entre os países pesquisados. Porém, segundo a autora, enquanto “79% dos entrevistados disseram que sexo é muito importante” e “64% consideram sua vida sexual muito excitante”, “apenas 42%, tanto os homens como as mulheres, se declaram satisfeitos. Segundo a pesquisa, um resultado ruim, já que a média mundial de satisfação é de 44%.” Lídia então conclui:

“Se, apesar do orgulho nacional de praticar tanto sexo, o nível de satisfação é tão baixo, tem algo de muito errado. E a imprensa feminina, que aposta na imagem de sexualidade da brasileira e que insiste tanto em ensinar técnicas de conquista e de prazer, deveria parar e procurar descobrir onde está errando.”[2]

Não é equilibrado, nem lógico, superdimensionar o sexo, uma área importante do comportamento humano, como se vivêssemos em função dele. A visão distorcida do sexo tem levado a relacionamentos distorcidos. O impulso sexual, quando se torna todo-absorvente, é algo nocivo.

Os impulsos sexuais dominavam Sansão. Não foi à toa que ele se casou com a primeira mulher bonita que viu (Juízes 14: 2)! A atitude de Sansão demonstra que não havia compromisso anterior ao casamento que o habilitasse a conhecer melhor a mulher com a qual ele se casava. Era um caso de “amor á primeira vista”. Novamente, notamos que seus impulsos sensuais estavam sendo usados como substitutos para o amor genuíno.

Um interessante comentário foi feito ao texto de Lígia Martins:

“Esses são os frutos da nossa desastrada condução da revolução sexual. Criamos uma sociedade extremamente sensual e sexual, mas pouco amorosa. A sociedade está cada vez mais carente, entretanto as pessoas não sabem mais o que fazer com o amor ao encontrá-lo. Finalizo com o pensamento de Jurandir Freire Costa: ‘Até agora, o amor era um ideal de auto-realização afetiva que acenava para um tipo de felicidade no qual o êxtase da dissolução no outro era compatível com a consciência da individualização do desejo. Atualmente, o amor vem sendo desidealizado. Estamos, pouco a pouco, aceitando que a experiência amorosa é fugaz e seu destino é a provisoriedade.’”[3]

Será que a única saída para a amor é ser uma experiência passageira e provisória? Será que o descomprometimento engolirá o relacionamento amoroso em todos os níveis de seu desenvolvimento?

A atitude “descolada” de Sansão em ter escolhido a primeira mulher que surgiu na frente, apenas por mera atração não é muito diferente do moderno “ficar”. Apesar de séculos de distância, o mesmo descomprometimento ainda existe.

Mesmo em se tratando de um comportamento social aceito, o “ficar”, se analisado de uma perspectiva cristã, não pode ser uma alternativa “aceitável”. Vamos às definições:

"Mesmo na sociedade atual, ‘ficar’ é um acontecimento efêmero com características próprias, como a busca do prazer imediato, não sexual, mas da satisfação do desejo pelo outro. Não seria gostar da pessoa, mas estar junto só para se divertir. O ‘ficar’ permite agir mais, com maior velocidade e desembaraço, porque não há a menor preocupação com o depois, com o amanhã, e o que interessa é apenas o agora. Já o namoro implica em comprometimento, formação de vínculo com o objetivo de se estabelecer uma relação mais duradoura”[4]

“Só prazer, nada de compromisso!” é o grito do adolescente numa rave, de um noivo numa festa de “despedida de solteiro” ou da quarentona divorciada. Impulsos sexuais – sansão era movido por eles! E nós, somos diferentes? Em que medida estamos permitindo que impulsos nos dominem?
Leia mais sobre a história de Sansão:


[1] Tim e Beverly LaHaye, O Ato Conjugal (Editora Betânia: Venda Nova, MG), 8ª ed, 1984, PP. 36 e 34.
[2] Lígia Martins de Almeida em 24/4/2007, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=430JDB002 reproduzido em http://www.michelsonborges.com/ postado em Quinta-feira, 26 de Abril de 2007.
[3] Fábio Alves , Brasília-DF - Bancário Enviado em 24/4/2007 às 1:05:08 PM.
[4] Cláudia B. Schwantes, entrevista cedida a Diogo Cavalcanti, Revista Adventista, Junho de 2007, p. 6.

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