segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CIÊNCIA E RELIGIÃO: COMO CONCILIÁ-LAS?



Alguém escreveu-me perguntando se o melhor caminho para conciliar ciência e religião não seria admitir que ambas pertencem a esferas diferentes. A religião se preocuparia em entender o mundo físico, observar e prever os fenômenos da natureza e extrair de seus estudos conhecimento útil para a humanidade. Em contrapartida, a religião seria algo de caráter pessoal, mais despretensioso, lidando com opiniões que, por estarem fora daquilo que é empírico, seriam difíceis de serem comprovadas ou contestadas; assim, cada um teria espaço para sua fé.
Respondendo à pergunta: pelo que percebo, o problema está nas definições. Nada errado quanto ao entendimento de ciência (naturalismo metodológico), a qual serve igualmente para evolucionistas ateus e teístas, partidários do criacionismo ou do DI. Apenas que a ciência como disciplina do conhecimento é limitada. Não se pode analisar se um soneto de Camões é mais belo do que um de Olavo Bilac pelo método científico. Também não podemos definir se o que Alexandre Nardoni fez foi monstruoso de forma empírica.
Outro problema: há uma falha conceitual na definição de religião, que está bem "pasteurizada". Pense em João 14:6, o texto que é usado por pregadores ávidos de confortar seus ouvintes. Note que, ao contrário disto, as palavras de Cristo são muito absolutas e instigadores: Ele se define como única Verdade.
Jesus até radicaliza ainda mais quando conclui: "ninguém vem ao Pai senão por mim". Não vejo aqui a espécie de tolerância pós-moderna que admite: "todas as religiões são caminhos diferentes que levam ao mesmo Deus." Jesus não nos dá margem para isso. Sua afirmação simplesmente diz que apenas Ele leva a Deus. Não se oferece espaço para xintoístas, budistas, muçulmanos, espiritualistas, etc, como seguidores de caminhos alternativos.
Parece duro, não é? Mas o fato é que, temos apenas duas alternativas diante deste texto: aceitá-lo ou rejeitá-lo. Relativizá-lo é partir de uma interpretação ingenuamente reducionista. Esse é o meu ponto.
Portanto, quando se fala do embate entre criacionismo e evolucionismo, avaliações de ambos os sistemas são decorrentes de como você estabelece as regras do jogo. Para evolucionistas, somos animais, tão evoluídos quanto qualquer outro grande mamífero; para o teísmo, somos à imagem e semelhança de Deus. Qual destas noções é mais compatível com o todo da realidade? Isto requer um exame de todas as evidências. Descartar de antemão o criacionismo como anti-científico por ele não adotar o naturalismo filosófico é jogar sujo.
É como se eu quisesse avaliar o melhor esportista do ano tomando dois candidatos: o argentino Lionel Messi e o lutador de UFC Anderson Silva. Para definir o melhor, eu empregaria como critério o uso mais competente dos golpes de punho. Evidentemente, minha avaliação seria injusta, por privilegiar um tipo de esporte.
Por outro lado, isso equivale a dizer que é impossível avaliar o melhor esportista, apenas por estar diante de modalidades de esporte diferentes? Não. Eu apenas tenho que usar critérios abrangentes, como, por exemplo: qual esportista se destacou em sua modalidade? Qual deles conquistou mais medalhas? Qual chamou mais atenção para o esporte que pratica?
Semelhantemente, é possível aquilatar evolucionismo e criacionismo, usando critérios abrangentes, que consideram as diferenças conceituais dos dois modelos. Ao mesmo tempo, a “prova de teste” é coerência de cada um com o que o conhecimento humano limitado dispõe.

Finalizando, o cristianismo é um pacote fechado: não dá para aceitar alguns itens e renegociar outros. Do ponto de vista cristão, a conciliação entre fé e ciência é possível quando se entende ciência de uma perspectiva criacionista, que é compatível com a verdade bíblica e com os dados empíricos do mundo natural.

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