Alguém escreveu-me perguntando se o melhor caminho para conciliar ciência e religião não seria admitir que ambas pertencem a esferas diferentes. A religião se preocuparia em entender o mundo físico, observar e prever os fenômenos da natureza e extrair de seus estudos conhecimento útil para a humanidade. Em contrapartida, a religião seria algo de caráter pessoal, mais despretensioso, lidando com opiniões que, por estarem fora daquilo que é empírico, seriam difíceis de serem comprovadas ou contestadas; assim, cada um teria espaço para sua fé.
Respondendo
à pergunta: pelo que percebo, o problema está nas definições. Nada errado
quanto ao entendimento de ciência (naturalismo metodológico), a qual serve
igualmente para evolucionistas ateus e teístas, partidários do criacionismo ou
do DI. Apenas que a ciência como disciplina do conhecimento é limitada. Não se
pode analisar se um soneto de Camões é mais belo do que um de Olavo Bilac pelo
método científico. Também não podemos definir se o que Alexandre Nardoni fez
foi monstruoso de forma empírica.
Outro
problema: há uma falha conceitual na definição de religião, que está bem "pasteurizada".
Pense em João 14:6, o texto que é usado por pregadores ávidos de confortar seus
ouvintes. Note que, ao contrário disto, as palavras de Cristo são muito
absolutas e instigadores: Ele se define como única Verdade.
Jesus
até radicaliza ainda mais quando conclui: "ninguém vem ao Pai senão por
mim". Não vejo aqui a espécie de tolerância pós-moderna que admite:
"todas as religiões são caminhos diferentes que levam ao mesmo Deus."
Jesus não nos dá margem para isso. Sua afirmação simplesmente diz que apenas
Ele leva a Deus. Não se oferece espaço para xintoístas, budistas, muçulmanos,
espiritualistas, etc, como seguidores de caminhos alternativos.
Parece
duro, não é? Mas o fato é que, temos apenas duas alternativas diante deste
texto: aceitá-lo ou rejeitá-lo. Relativizá-lo é partir de uma interpretação
ingenuamente reducionista. Esse é o meu ponto.
Portanto,
quando se fala do embate entre criacionismo e evolucionismo, avaliações de
ambos os sistemas são decorrentes de como você estabelece as regras do jogo.
Para evolucionistas, somos animais, tão evoluídos quanto qualquer outro grande
mamífero; para o teísmo, somos à imagem e semelhança de Deus. Qual destas
noções é mais compatível com o todo da realidade? Isto requer um exame de todas
as evidências. Descartar de antemão o criacionismo como anti-científico por ele
não adotar o naturalismo filosófico é jogar sujo.
É
como se eu quisesse avaliar o melhor esportista do ano tomando dois candidatos:
o argentino Lionel Messi e o lutador de UFC Anderson Silva. Para definir o
melhor, eu empregaria como critério o uso mais competente dos golpes de punho.
Evidentemente, minha avaliação seria injusta, por privilegiar um tipo de
esporte.
Por
outro lado, isso equivale a dizer que é impossível avaliar o melhor esportista,
apenas por estar diante de modalidades de esporte diferentes? Não. Eu apenas
tenho que usar critérios abrangentes, como, por exemplo: qual esportista se
destacou em sua modalidade? Qual deles conquistou mais medalhas? Qual chamou
mais atenção para o esporte que pratica?
Semelhantemente,
é possível aquilatar evolucionismo e criacionismo, usando critérios
abrangentes, que consideram as diferenças conceituais dos dois modelos. Ao mesmo
tempo, a “prova de teste” é coerência de cada um com o que o conhecimento
humano limitado dispõe.
Finalizando,
o cristianismo é um pacote fechado: não dá para aceitar alguns itens e
renegociar outros. Do ponto de vista cristão, a conciliação entre fé e ciência
é possível quando se entende ciência de uma perspectiva criacionista, que é
compatível com a verdade bíblica e com os dados empíricos do mundo natural.
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