Quando se começa a direcionar uma
congregação a um grupo particular, o evangelho perde sua abrangência e passa a ser limitado. Mesmo
que o objetivo seja mais específico, o que é louvável, não se pode
tornar isso mais do que o alvo de um ministério da igreja; afinal, quando essa
meta se torna o próprio alvo, e o alvo de toda a congregação, a igreja renuncia ao que é: uma assembleia de pessoas diferentes que, unidas pelo Espírito, têm o
desafio de conviver em harmonia, enquanto se mantêm em comunhão mútua e com
Deus.
Automaticamente, surge uma outra
consequência negativa, para além da limitação decorrente de se fixar em um público
alvo: o nivelamento com a cultura desse referido público. Uma igreja que queira
alcançar moradores da periferia usará seus jargões e hip hop, pensando em soar atrativa. Uma congregação voltada aos
jovens, investirá em ambiente clean,
vestimentas casuais, muita interação e recursos multimídia. Quem quiser atrair o
público de meia idade, precisará usar decoração retrô, aspecto institucional e
manter a formalidade.
Em suma: qualquer congregação que ambicione
restringir seu evangelismo a grupos específicos norteará suas práticas pela
cultura, em detrimento da Bíblia. Pesquisas de opinião, equipes de voluntários
e líderes associados em constante treinamento e nada de exegese ou preocupação
doutrinária. Basta seguir os passos de pioneiros evangélicos como Rick Waren e
Bill Hybels. Agora, se os seus pioneiros forem William Miller, Joseph Bates e
James White, o modelo congregacional será outro.
Há décadas, os adventistas namoram as
metodologias evangélicas. Simplesmente porque as igrejas deles crescem.
Congregações com milhares de membros – um sonho de consumo para muitos líderes
religiosos! Mas a que preço? Ou: alguém já se deu conta de que muitas dessas
congregações possuem membresia rotativa e que, passadas algumas décadas ou
mesmo anos, perdem boa parcela de seus membros ativos, por decepções ou mera
falta de maturidade cristã? Afinal, que tipo de igreja buscamos ser?
Virtualmente, seria impossível criar
modelos de igreja que dessem conta de alcançar todos os grupos sociais. Mesmo porque
tribos urbanas, tendências e outros modismos surgem a todos os tempos. Ademais,
no mundo pós-moderno, as pessoas não suportam rótulos. O roqueiro pode não ser
o cabeludo tatuado, mas a simpática vizinha de origem nipônica que sai para
passear com seu poodle. O atendente
da pastelaria mais próxima pode ser um campeão de games online, embora ele seja um respeitável pai de família com idade
superior a trinta anos. Categorizar as pessoas incorre no risco de agir de
forma preconceituosa, o que mais serviria para afastá-las do que aproximá-las
da igreja.
Seríamos mais efetivos nos aproximando das
pessoas de nossa convivência. Deveríamos tratar a todos como indivíduos,
exatamente como Jesus fazia. E ao compartilhar amorosamente a verdade universal
do evangelho, poderíamos, com o tempo, conduzi-las para a frequência aos cultos.
Nesse ponto, não precisaríamos nos preocupar em adaptar a igreja para receber
gente diferente, porque, após o contato inicial conosco, elas saberiam o que
esperar de uma igreja adventista. Por séculos, isso funcionou muito bem – com romanos
secularizados, pagãos, espiritualistas, pessoas elitizadas, intelectuais
céticos e uma gama enorme de pessoas. Por que seria diferente no século XXI?
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