O homem pode aprender sozinho a linguagem? Ela é algo inato, inerente à constituição humana? Nesse ponto, é impossível não se recortar de obras fictícias, como Mogli, o menino lobo e o filme cult Neo, com Jodie Foster. Em ambos, seres humanos crescem ou sem o contato humano, ou com um contato deficiente.
Outro relato curioso: a arqueologia nos conta que o Faraó Psamético I realizou uma experiência com dois meninos, no intuito de descobrir qual seria a linguagem humana original. Os tutores estavam impedidos de falar qualquer coisa às crianças. Até que um deles relatou que uma das crianças teria dito “Békos”. O faraó investigou e descobriu tratar-se do termo sírio que significa “pão”. A partir daí, Psalmético considerou a Língua Síria o idioma original.
Embora curioso, o relato é improvável. Em verdade, a linguagem é convenção – arbitrária, diria Nietzsche, em Sobre Verdade e Mentira no sentido extra-moral. Ela não é inata ao ser humano, mas tem de ser aprendida, em contato com adultos. Vygotsky é outro estudioso que se revela interessado na linguagem, aquela reunião de signos que torna a comunicação humana única, se comparada com a dos animais.
Para Vygotsky, existe comunicação somente quando dominamos os signos da linguagem. Seria o apropriar-se das ferramentas, para usar a metáfora de Wittgenstein. A mediação de outros seres humanos é essencial para a assimilação desse ferramentário.
A Bíblia mostra o homem criado como um ser adulto, já dotado de linguagem e, ao mesmo tempo, originador dos signos, como quando Adão deu nome aos animais, por sua autonomia e exercício da criatividade com a qual Deus o dotou (Gn 2:19-20). Em outro relato, a Bíblia retrata como a súbita troca de sígnos da linguagem foi capaz de subverter o andamento do projeto humanista conhecido como Torre de Babel (Gn 11:1-9).
Se a linguagem está relacionada com aquisição da cultura, no sentido primário, em que a criança se desenvolve ao aprender o código de palavras ou um estrangeiro absorve o vocabulário de um novo idioma, ela também está relacionada à excelência, que consiste em expressar a verdade da forma mais apropriada o possível.
As idiossincrasias de cada idioma não alteram o fato de que, por trás dos termos, existem conceitos, os quais compreendemos de forma substancial. Essa substancialidade nos prendem à realidade, a qual, embora além de uma compreensão humana absoluta, é tangível dentro de nossa compreensão limitada. E nossa linguagem, embora imperfeita, é compreensível - também análoga a forma de se expressar em outras línguas, havendo pontos de equivalência. Assim, pode-se confiar na linguagem como portadora de informações confiáveis, reais.
O que seria de nós sem a linguagem e suas funções?
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