O
cristianismo se depara com desafios em diversos campos do saber. Suas reivindicações
de exatidão histórica e da confiabilidade de seu registro são postas em xeque não
apenas por setores da mídia – afinal, quando algo é veiculado nos principais órgãos
da imprensa, é porque já conquistou os círculos acadêmicos há algumas décadas. Essa
batalha intelectual recebe pouco destaque nos púlpitos e mídias religiosas. Fica
mais fácil rotular os ataques à fé como “obra do diabo” ou “enganos dos últimos
dias”. Infelizmente, os rótulos pouco ajudam aqueles que estão na linha de
frente.
O
que fazer com os jovens cristãos em ambiente universitário impregnado de
correntes filosóficas atraentes pela sua lógica e racionalidade? Dizer para
eles que devem ler a Bíblia e estudar as lições bíblicas é insuficiente. Eles precisam
de alicerces para crer. Necessitam de alternativas aos argumentos sedutores que
ouvem quase diariamente. Do contrário, como alcançarão uma formação superior –
indispensável para uma vida profissional e até quanto ao crescimento pessoal –
sem terem a fé “contaminada”? Afinal, o risco de sincretismo entre cristianismo
e outras cosmovisões é tremendo.
Desafortunadamente,
os evangélicos possuem grande tradição anti-intelectual. Os adventistas não são
exceção. Nossos púlpitos estão, na melhor das hipóteses, carregados de
mensagens que tocam aspectos tradicionais do estilo de vida ou apresentação
doutrinária. E isso tem enorme valor, apesar de representar apenas um ponto de
partida. Mas, tristemente, também se pode divisar uma linha de mensagens que se
resumem a algo como autoajuda cristã: a membresia houve alternadamente histórias
cômicas e comoventes, verdadeira montanha-russa emocional. Alguns versos
bíblicos são apresentados de forma descontextualizada e voilá: o entretenimento
está garantido. O perigo reside aí: a pregação se resume a entreter os
ouvintes, evitando as responsabilidades da vida cristã e passando por alto dos
desafios do mundo intelectual, que afetam uma parcela significativa de jovens
adventistas.
Mesmo
entre líderes, pastores e administradores cresce a opinião de que temos de nos
concentrar nos “aspectos espirituais”, sem levar em conta as necessidades
holísticas das pessoas. Ora, espiritualidade não brota no vácuo. Como posso
crer na Bíblia, quando nas aulas de filosofia o professor foucaultiano me leva a
questionar toda interpretação definitiva, como expressão de um grupo dominador?
De que modo confiar no Criador, quando o evolucionismo é apresentado como
referencial a todo instante?
Geralmente,
o jovem nessas circunstâncias acaba separando em sua mente o espaço das coisas “da
igreja” e outro, para o “mundo acadêmico”. Porém, a divisão continua, e durante
o percurso dos anos surgem espaços como “vida profissional”, “entretenimento”, “vida
familiar”, etc. Assim, o cristianismo (e
especificamente o adventismo) se restringe ao espaço religioso da vida, sem
jamais influenciar as demais áreas. Isso porque não foi desenvolvida a mente
cristã, de que falava Harry Blamires.
Como
via de escape, os adventistas em geral costumam responder aos desafios com
subterfúgios, sem construir alternativas. Por que ninguém escreve sobre
epistemologia de uma perspectiva cristã? Ou estrutura uma filosofia política
sob a ótica da cosmovisão bíblica? Se você estiver se afogando, ignorar a água
não impedirá que ela inunde seus pulmões. É melhor se preocupar em nadar. O anti-intelectualismo
é uma boia furada que não está ajudando ninguém a chegar à praia. A despeito
disso, parece mais cômodo permanecer como estamos…
Um comentário:
Olá Douglas,
Faz um tempão que não te visitava, e toda vez que venho percebo que tenho perdido muito.
Concordo e muito! Não tenho tempo para detalhar, mas suas considerações são absolutamente pertinentes, e mais deveriam ser levadas a "Mesa" para serem devidamente apreciadas, e que soluções fossem propostas para esse problema dos nossos dias. Essa omissão ainda nos levará há uma apostasia maior. E só lamento, pois apesar de todo conhecimento o povo continua padecendo.
Esse é o meu novo problema "epistemologia em uma perspectiva cristã" Pesei tanto sobre isso nos últimos meses (jan/fev,mar,abri/mai).
Você deveria topar o desafio, responder a pergunta "Por que ninguém escreve sobre epistemologia de uma perspectiva cristã?" E escrever!
Se você achar coisas sobre isso comunique, também tenho procurado.
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