Eu não imagina que meu comentário despertaria
aquela reação. O pai da menina estava visivelmente exasperado. Enquanto eu o
ouvia, ele gesticulava, bastante ofendido. Seu volume de voz era alto, o que me
incomodava bastante. Principalmente por estarmos em um lugar público – a sala
dos professores. Tudo porque, durante uma aula para o oitava ano, resolvi dar
um exemplo concreto. Casualmente, falávamos sobre gnosticismo, uma heresia
cristã do segundo século. Para explicar o dualismo gnóstico entre alma e corpo,
citei uma música popular: “Estou fazendo amor/ com outra pessoa/ mas o que o
corpo faz/ a alma perdoa.”
Isso foi suficiente para aquele homem vir à escola
e reclamar comigo. Para ele, o exemplo não correspondia à sua crença. Ele era
gnóstico, e não adiantava argumentar que o gnosticismo que ele seguia
provavelmente não era exatamente igual ao do período pós-apostólico. Ele estava
indignado por crer que representei mal sua crença (ou então, ele tinha algo
contra Alexandre Pires!).
Mundo plural
Eu também passei por conflitos religiosos na
escola. Nasci em um lar cristão, mas comecei a estudar a Bíblia e seguir outra
denominação durante a adolescência. No Ensino Médio, os professores de áreas
exatas adotavam o evolucionismo como modelo teórico. Em geral, tentavam separar
as coisas. Uma jovem corpulenta e falante que lecionava Biologia, usou um tom
conciliador na primeira aula: “Vamos separar o que diz a religião do que diz a
ciência.”
O mundo em que vivemos é bastante plural. Isso
implica na valorização da diversidade. A diversidade é notada em modelos
familiares diferentes. Minha esposa possui uma amiga de infância que mora com
sua namorada, por exemplo. A diversidade aparece no estilo de vida das pessoas.
As chamadas tribos urbanas seguem tendências de comportamento peculiares, além
de se vestirem fora do padrão social geralmente aceito.
A diversidade possui muitas vantagens. Seus
aspectos positivos são bastante valorizados pela mídia. Porém, há um risco
muito forte: acharmos que todas as escolhas possuam o mesmo valor. Anorexia,
por exemplo, não é apenas “questão de escolha”. Embora seja a tendência dizer
que “cada um faz com o corpo o que quiser”, é óbvio que se trata de uma doença
altamente destrutiva. A pessoa anoréxica precisa contar com o auxílio de amigos
e familiares para reconhecer sua condição e buscar tratamento. Outro exemplo:
não teria cabimento afirmar que a pedofilia é somente uma “opção sexual”!
Administrar
conflitos religiosos
No que diz respeito à diversidade religiosa, temos
de refletir sobre as consequências dos diversos modelos existentes. Uma coisa é
conviver com opções diferentes e respeitar as escolhas alheias – o que é dever
de todos. Outra, bem diferente, é afirmar que, em matéria de fé, tanto faz.
Em geral, os conflitos religiosos surgem da falta
de comunicação entre pessoas com crenças diferentes. Uma opção é o diálogo
religioso aberto. Desde seus primórdios, o cristianismo manteve dinâmico
equilíbrio entre a defesa do direito de crer individual e o proselitismo
(transmitir sua fé aos outros pela persuasão). Assim, cada diálogo religioso é
uma oportunidade para o cristão testemunhar, ao mesmo tempo em que conhece em
que os outros creem. Saber sobre a crença dos outros pode ser um ponto de
partida para a evangelização praticada com respeito. E respeito é fundamental.
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