terça-feira, 18 de junho de 2013

A FÉ CRISTÃ ENTRE OUTRAS FÉS


Eu não imagina que meu comentário despertaria aquela reação. O pai da menina estava visivelmente exasperado. Enquanto eu o ouvia, ele gesticulava, bastante ofendido. Seu volume de voz era alto, o que me incomodava bastante. Principalmente por estarmos em um lugar público – a sala dos professores. Tudo porque, durante uma aula para o oitava ano, resolvi dar um exemplo concreto. Casualmente, falávamos sobre gnosticismo, uma heresia cristã do segundo século. Para explicar o dualismo gnóstico entre alma e corpo, citei uma música popular: “Estou fazendo amor/ com outra pessoa/ mas o que o corpo faz/ a alma perdoa.”

Isso foi suficiente para aquele homem vir à escola e reclamar comigo. Para ele, o exemplo não correspondia à sua crença. Ele era gnóstico, e não adiantava argumentar que o gnosticismo que ele seguia provavelmente não era exatamente igual ao do período pós-apostólico. Ele estava indignado por crer que representei mal sua crença (ou então, ele tinha algo contra Alexandre Pires!).

Mundo plural

Eu também passei por conflitos religiosos na escola. Nasci em um lar cristão, mas comecei a estudar a Bíblia e seguir outra denominação durante a adolescência. No Ensino Médio, os professores de áreas exatas adotavam o evolucionismo como modelo teórico. Em geral, tentavam separar as coisas. Uma jovem corpulenta e falante que lecionava Biologia, usou um tom conciliador na primeira aula: “Vamos separar o que diz a religião do que diz a ciência.”

O mundo em que vivemos é bastante plural. Isso implica na valorização da diversidade. A diversidade é notada em modelos familiares diferentes. Minha esposa possui uma amiga de infância que mora com sua namorada, por exemplo. A diversidade aparece no estilo de vida das pessoas. As chamadas tribos urbanas seguem tendências de comportamento peculiares, além de se vestirem fora do padrão social geralmente aceito.

A diversidade possui muitas vantagens. Seus aspectos positivos são bastante valorizados pela mídia. Porém, há um risco muito forte: acharmos que todas as escolhas possuam o mesmo valor. Anorexia, por exemplo, não é apenas “questão de escolha”. Embora seja a tendência dizer que “cada um faz com o corpo o que quiser”, é óbvio que se trata de uma doença altamente destrutiva. A pessoa anoréxica precisa contar com o auxílio de amigos e familiares para reconhecer sua condição e buscar tratamento. Outro exemplo: não teria cabimento afirmar que a pedofilia é somente uma “opção sexual”!

Administrar conflitos religiosos

No que diz respeito à diversidade religiosa, temos de refletir sobre as consequências dos diversos modelos existentes. Uma coisa é conviver com opções diferentes e respeitar as escolhas alheias – o que é dever de todos. Outra, bem diferente, é afirmar que, em matéria de fé, tanto faz.

Em geral, os conflitos religiosos surgem da falta de comunicação entre pessoas com crenças diferentes. Uma opção é o diálogo religioso aberto. Desde seus primórdios, o cristianismo manteve dinâmico equilíbrio entre a defesa do direito de crer individual e o proselitismo (transmitir sua fé aos outros pela persuasão). Assim, cada diálogo religioso é uma oportunidade para o cristão testemunhar, ao mesmo tempo em que conhece em que os outros creem. Saber sobre a crença dos outros pode ser um ponto de partida para a evangelização praticada com respeito. E respeito é fundamental.  

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