Converse
com dez adventistas. Pergunte-lhes se veem coisas erradas na igreja – dirão que
sim, os dez, sem dúvida! Pergunte-lhes o que está errado. O problema começa aí.
As respostas não seriam concordes. Muitas, seriam quase banais, relacionadas a
questões locais, congregacionais. Temas como relacionamentos, incoerência,
críticas a líderes, etc. Outras assumiriam uma dimensão mais ampla, afetando
erros administrativos, estratégicos ou deficiências espirituais. O que há por
trás de tudo isso?
Duas
igrejas. Uma jovem, com pouco entendimento da história da igreja, querendo
mudanças e imbuída do espírito deste tempo. Esta parcela de adventistas é
formada por indivíduos cansados de crítica, sequiosos por mais ação. Acham que
falta amor, justiça social e cultos mais dinâmicos. Querem uma igreja com a cara
deles: jovem e descolada. Se pudessem, rapariam a barba de James White e fariam
John Andrews usar penteado moicano.
A
outra igreja, que está morrendo, abomina as mudanças. Refere-se aos “bons e
velhos tempos”, quando a igreja “era outra”. Detestam as músicas barulhentas e
a falta de sermões doutrinários. Reclamam dos rumos que o movimento adventista
está tomando e chegam, em alguns casos, a falar de apostasia. Tenho a impressão
que essa segunda parcela de adventistas se vê sem rumo, com pouco apoio e
confusa diante de tudo que vê acontecer.
Quem
está certo nessa discussão? Todos. Ninguém.
As
mudanças devem acontecer. Os adventistas surgiram com uma proposta de mudança
radical. Uma mudança que se inicia com a interpretação da Bíblia (hermenêutica),
atinge as doutrinas comuns à cristandade e chega a uma abordagem diferenciada
sobre estilo de vida. Contudo, engana-se quem creia que a ênfase esteja na mudança
pela mudança. A mudança visa a um objetivo – desconstruir a tradição evangélica.
Não se trata de uma desconstrução derridiana, porque me parece que Derrida
propunha uma desconstrução visceral e nunca finalizada, uma mutação que se
perde em um jogo de interpretação, sem a possibilidade de alcançar uma verdade
palpável. A desconstrução adventista é do tipo que retira o entulho para
reconstruir sobre o alicerce correto, os escritos inspirados.
Alguns
querem mudar para acompanhar as tendências da cultura. Péssimo motivo. A
cultura não é parâmetro para o cristão. A Verdade que recebemos na Bíblia tem
aspectos tremendamente contra-culturais! Nesse caso, vale o dito segundo o qual
“não se pode servir a dois senhores” – ou Deus, ou a cultura. As mudanças são
mecanismos para nos aproximar da Palavra de Deus, cujo estudo deve ser renovado
pela atuação do Espírito Santo.
Muitas
das explicações doutrinárias que dávamos há trinta anos devem ser abandonadas,
não porque a cultura mudou, mas porque estavam equivocadas e há explicações
melhores do ponto de vista exegético. O avanço na pesquisa bíblica proporciona
uma melhor fundamentação doutrinária – mas é impossível notar isso ouvindo
(pela milésima vez) o mesmo sermão sobre o cego Bartimeu!
E
para quê mudar a liturgia? Se for possível elencar boas razões bíblicas, eu
apoio! Se for apenas para copiar o modelo de outras denominações ou
congregações, isso é mera distração, quando não, algo nocivo, vindo da cultura
secular. Já notou como se gasta tempo discutindo música, quando o Novo
Testamento dá pouco espaço ao tema e Ellen G. White enfatiza o canto
congregacional em sua simplicidade? Estudar a Bíblia, o ponto essencial do
culto cristão, parece um caso perdido; deixe que o pregador leia alguns versos,
conte trezentas histórias interessantes e voltemos para casa, porque é hora do
almoço…
Em
suma: nem como antes, nem com o tipo de mudança que se pede. Nem pela tradição
dos anciões, nem pelo modismo do “viva sem criticar”. Os problemas existem
porque a Bíblia está empoeirada e nós queremos diversão ou resgatar “a igreja
da infância”. A solução? Como disse o profeta, no contexto da infidelidade do
reino do norte, “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor.” (Os 6:3).
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6 comentários:
Oi pastor,
eu aqui de novo ;)!
Acho que existe uma maneira diferenciada de ver a questão de igreja x cultura. Não sinto que a igreja deva se adaptar a cultura, no sentido de imitá-la. Mas deve ser adaptar aos tempos para que a sua comunicação não caia num vácuo, e sim em solo fértil.
Primeiro vem os ideais e princípios, depois os objetivos, e por fim as adaptações culturais necessárias para atingir os objetivos dentro dos princípios.
O primeiro passo já não é tao simples: diferenciar entre principio e interpretação contemporânea do mesmo, algo que as vezes é confundido no nosso dia a dia de igreja.
Nisso, defino cultura como o meio pelo qual um ser humano ou instituição se comunica com o outro, e como é recebido pelo outro. Para mim, são estes fatores que podemos denominar "culturais".
A explicação para essa fase crítica que o adventismo vem passando, partilho da ideia do Dr. George Knight,o adventismo vem perdendo sua identidade, como um povo que tem uma mensagens singular, unica, no qual Deus os levantou num tempo profético específico.A Solução se encontra em Ap 3:20 - Sê pois zeloso e arrepende-te.
Sábias palavras, como sempre!...
Pena que muitos são muito obtusos para compreendê-las!
Olá pastor,
Essa semana estava pensando justamente isso. E ainda lembrei dessa palavra: Desconstrução. Você enfatizou o uso positivo da palavra.
O vinho novo, em odres novos!
Parabéns!
Gilvan
Olá Pastor,
Me surpreendo cada dia mais com a sabedoria que Deus lhe dá!
Excelente visão Pr Douglas!! Precisamos manter a essência da nossa msg sem ferir quem somos.
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