A
Verdade não é apenas impopular, como responsável pelos maiores conflitos na
Terra e no Céu. Não é de estranhar que os melhores subterfúgios e as desculpas
mais escorregadias sejam empregados para atenuar suas exigências. Amar a
Verdade deveria ser a prioridade de todo cristão. Na prática, achamos mais útil
exaltar tradições, gostos e opiniões, devidamente arquivadas sobre o rótulo de
“eu acho que”, sob a proteção de “não me julgue”.
A
Verdade levou um terço dos santos às cadeias e torturas, outro terço à perseguição
e desmercimento e o último ao martírio e esquecimento. Por séculos, a disputa pela
Verdade mobilizou as mentes mais inteligentes e os cidadãos mais nobres. Muitos
viam o dever, e resistiam, pensado em sua posição social. Quantas conquistas
humanas teriam de ser olvidadas? Quantos aplausos relegados ao ostracismo? A
Verdade cobrou tributo dos corações sensíveis e corajosos, dos intelectos
penetrantes e sinceros, dos homens práticos e habilidosos.
De
repente, a Verdade sumiu da vista. Era o artigo em falta. A mercadoria que
demandava uma busca minuciosa. Poucos podiam ler suas reivindicações encerradas
na língua de Cícero. Todavia, os mosteiros não puderam conter sua luz. Ela
irrompeu as trevas e foi levada ao povo, na pena de homens que ainda balbuciavam
em seu caminho. Da luz, conheciam o mais tênue facho. E com isso foram capazes
de reconstruir a História.
A
Verdade continuou a ser embaralhada nas mãos daquele que lutava contra ela.
Concílios, bulas, tribunais e ameaças ergueram-se com fúria. Depois, o
interesse geral diminui, as pessoas se apegaram ao que conheciam – partes da
Verdade, distorcidas como reflexos em um espelho quebrado. Deus planejou o
tempo da restauração.
Um
fazendeiro que a Guerra fez ver o cuidado divino estudou as profecias – a Verdade
insinuava seu retorno. Foram décadas de esforços, pregações, desapontamentos,
oração e estudo dedicado. A Verdade voltava ao palco livre da lama dos
costumes. Contudo, havia um longo (e estreito) caminho a ser desbravado.
E
novamente, a confusão e embaralhamento. As costas de muitos se virando à Verdade
que os pode salvar. Ainda controvérsias e disputas. E o descrédito lançado às
descobertas daqueles que amavam a Verdade por seus descentes céticos e afetados
pela cultura (outra inimiga antiga da Verdade).
Nada
disso conteve o poder germinador da verdade, por que ela jamais foi uma teoria
morta, mas está associada ao Deus Vivo. Ele é o Deus da Verdade, que a fará
triunfar junto com aqueles que se apegam a ela. Deixe que digam que são
preconceituosos, mesquinhos, estreitos, fanáticos, irrazoáveis, antiquados –
nada mudará o desejo humilde e servidão completa deles à Verdade. Para eles,
ela importa mais do que julgamentos de um mundo passageiro.
Onde
estão aqueles que sofrerão pela verdade? Que defenderão a doutrina correta?
Aonde se clama pelo batismo diário do Espírito com humildade e confissão de
pecados? Em que casa vivem os homens e mulheres fiéis ao dever como a bússola o
é ao polo? Em que ponto da cidade podemos achar essas pessoas que fazem parte do
remanescente de Deus e realmente se preparam para ser a igreja triunfante? Eles
estão entre nós, são pessoas reais, com fraquezas e pecados, que choram, lutam
e enfrentam seus problemas. E o que os anima? O amor pela Verdade. E isso
basta.
A
Verdade não pertence a eles (nem poderia, porque ela é autônoma e soberana).
Mas em certo sentido é deles, por que Jesus, a Verdade, Se entregou por eles e
lhes confiou a Verdade. Eles, por seu turno, pertence à Verdade. Cada dia mais.
Sem medo do que ocorrerá. São livres. Possuem esperança. Nada os impedirá,
porque o Reino lhes será entregue – o reino da Verdade.
5 comentários:
Belo texto, pastor Douglas!
Ficou não muito claro pra mim o que seria a Verdade, além de ser, claro, a pessoa de Jesus Cristo.
O que você quer dizer quando diz "Verdade"? Bíblia?
Obrigado, Marcio.
A Verdade é a pessoa de Jesus (Jo 14:6), mas tem relação com muitas coisas: a Palavra/Bíblia (Jo 17:17), o conhecimento de Deus revelado por Jesus (Jo 17:3), a doutrina correta (2 Co 13:7-8), etc. D.A. Carson fez uma lista bem elaborada (a qual citei parcialmente em Explosão Y).
Um abraço.
Tenho percebido que a palavra "Verdade" na Bíblia se aproxima muito da palavra "Justiça" ou "justo". Aquilo que é certo.
Quando a Bíblia fala em "Verdade", ela está falando de atitude.
Não são coisas que a gente segue porque alguém disse (pelo menos como adulto), mas é uma atitude que a gente tem que nos faz agir de certas formas.
Portanto me parece que precisamos focar na atitude das pessoas (no ensinamento da mesma) através da Palavra. As acoes virão depois.
Existem poucas coisas que Deus abomina mais do que acoes sem a atitude certa, a verdade.
E essa atitude é personificada em Jesus Cristo. Na busca pela Verdade Bíblica, devemos buscar entender as acoes e as palavras de Cristo. Nos inspirar, através do Seu Espírito, a andarmos na Verdade, a termos a atitude da Verdade, a atitude do Reino, como você bem colocou.
Portanto, acho importante ressaltar que a proteção do "não me julgues" é válida sim, porque não faz parte da Verdade o ato de julgar o outro. Segundo Jesus, quem usa o não me julgues como proteção já está julgado; mas há outros que pensam diferente, tomam decisões diferentes, e precisamos respeitá-los.
Conhecer a Verdade não é crer nas coisas certas. É agir de uma maneira inspirada em sua vida, é uma caminhada de convicção com Jesus, é ser cada vez mais semelhante. Nao em sua perfeição, e não pela nossa salvação. Mas porque temos o mesmo Sonho, o mesmo objetivo.
A frase "Eu estou na verdade há x anos" se referindo a doutrina adventista nem sempre é, mas pode ser um grande engano. Porque quando a maior Verdade está ausente, que é Jesus e a sua atitude, outras verdades cuidadosamente extraídas da Bíblia podem não ser o tao sonhado "andar na verdade".
Marcio,
desconheço algum dicionário bíblico que apresenta verdade como sinônimo de justiça. Em geral, os termos se aproximam da nossa definição de verdade: algo estabelecido, verificável, fidedigno, que corresponde à realidade (no sentido que até se assemelha à teoria da verdade como correspondência da realidade).
Douglas Groothuis trabalha essas definições em Truth Decay.
Os versos que apresentei antes (seguidos da lista de Carson que mencionei) associam Verdade com crença correta, não meramente como atitude. Obviamente, um não deve viver sem o outro no cristianismo autêntico.
Abraços.
Pastor, esse foi um dos melhores textos que li atualmente. Que você continue sendo usado por Deus!
Feliz Sábado!
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