Se alguém predissesse, por
ocasião do descobrimento do Brasil, que a primeira presidente tomaria posse
apenas quinhentos anos depois, isso seria fantástico! Alguns mal conseguem
pensar na possibilidade, por sua inverossimilhança.
Entretanto, os profetas da
Bíblia foram capazes, pelo Espírito Santo, de prenunciar eventos nacionais ou
de escopo universal com séculos de antecedência. Isaías foi um desses profetas.
Não à toa, é conhecido como “profeta messiânico”, pois determinadas profecias
que escreveu anunciam o que Jesus faria com cerca de setecentos anos de
antecedência!
A primeira seção do capítulo
49 de Isaías faz parte da coleção de poemas proféticos sobre Jesus. Neste
segundo poema[1], o Servo
de Deus é visto como Salvador. Olharemos mais de perto o que nos ensina o
profeta em seu texto.
I.
Jesus, o modelo de Servo (v.
1-3): Isaías
apresenta um retrato majestoso de Jesus. Aqui vemos nosso Salvador assumir a
condição de modelo da humanidade. Muito embora não possamos, pelas próprias
forças, reproduzir o caráter imaculado do Filho do Homem, pela fé temos de nos
dispor a permitir que o Espírito nos leve à semelhança com Ele.
Se a vida cristã se resume a
servir a Deus, a motivação para fazê-lo certamente deve ser considerada. Afinal,
Deus não pode aceitar um serviço que não encontre no amor Sua propulsão mais
genuína. Ao mesmo tempo, em Sua atenção para com as necessidades dos pecadores,
Deus destinou Cristo como modelo que deve ser imitado, a fim de oferecermos a
Deus serviço aceitável. Mas o que Isaías diz sobre Jesus como Servo? Vejamos:
1. Um Servo escolhido desde o
nascimento (v. 1): O
Servo possui um senso de vocação, em razão do Seu chamado feito por Deus.[2] Apesar de o texto chamar o
Servo de “Israel” (v. 3), Ele se distingue do povo infiel.[3] De modo semelhante, somos
chamados para uma vocação, que consiste em servir a Deus não porque a intuição
nos conduziu a isso; ao contrário: somente servimos porque ouvimos Seu
convite.
2. Um Servo preparado para a
missão (v. 2): O
poder do Servo reside no efeito de Sua palavra. A comparação da pregação com a
espada se repete no Novo Testamento em relação a Jesus (Ef 6:17; Hb. 4:12; Ap
1:16). [4] O Servo é apresentado como
instrumento decisivo nas mãos divinas, além de gozar da proteção do Altíssimo. Se
Jesus, o perfeito Filho de Deus, sujeitou-Se dessa forma à vontade do Pai,
muito mais nós devemos abrir mão de ambições e opiniões humanas para que o
Senhor faça de nós o que Lhe parecer melhor.
3.
Um Servo que traria glória a Deus (v. 3):
Enquanto o Israel literal falhara em sua missão abraâmica de ser uma bênção
para as nações, o Servo faria exatamente isso: seria a “luz para os gentios”
(v. 6), semeando a glória de Deus por toda parte.
II. Jesus, o
modelo de confiança (v. 4-5): Assim como os melhores laços humanos se desgastam em
circunstâncias adversas, o relacionamento entre homem e Deus igualmente se
enfraquece sob determinadas circunstâncias. Embora isso ocorra com frequência,
não é algo inevitável. Se aprendermos com Jesus a confiar em Deus, podemos ser
vitoriosos em todo o tempo. Ele é nosso modelo de confiança. Observe as
considerações do profeta:
1. Jesus confiou quando o
trabalho parecia em vão (v. 4a): Antecipando (ou mesmo inspirando) o magnífico texto de
Filipenses 2:5-11, Jesus já é retratado por Isaías como Se despindo de Sua
glória, ao passo que assume na Terra vida de labuta e controvérsias.[5] Saem os anjos do Seu lado, e
entram os delinquentes juvenis de Nazaré. As ruas de ouro são trocadas pelo pó
da Palestina. A adoração merecida dá lugar a insultos. A vida de Jesus foi
dificultosa, em diversos aspectos.
Faz bem lembrar dessa verdade
quando nos achamos tentados ou desanimados. Talvez nenhum outro hino contraste
a insignificância de nossas queixas em comparação com aquilo que o Mestre
sofreu como o faz A Senda do Calvário
(HA 66). Ao cantar a sós essa melodia, quantas vezes me dei conta de que nenhum
esforço meu ou aparente sacrifício poderia se igualar ao que Jesus teve de
viver.
2. Jesus confiou quanto à sua
recompensa (v. 4b): Apesar
do sofrimento a que Se submeteu, o servo suspira aliviado: Ele está seguro de que mesmo enfrentando a
rejeição, Deus lhe guiará ao sucesso.[6] Para nós, privilegiados
por viver em um tempo no qual tantas promessas se acham cumpridas, torna-se até
mais fácil olhar para o passado e confiar que Deus continuará no presente
assegurando nosso futuro.
3. Jesus confiou quanto aos
recursos para a missão (v. 5): quantos de nós se consideram sem talento ou incapazes? Se
por um lado devemos ser humildes, não podemos desprezar os dons dados por Deus,
ou rebaixar o chamado que nos fez. Para mim, sempre foi desafiante lidar com
eventuais elogios após uma pregação ou palestra.
A
princípio, tentava desconversar, dizendo que “a mensagem era apenas uma coisa
simples” ou que eu não falara “tão bem assim”. Porém, há alguns anos, percebi
que seria impróprio diminuir a mensagem transmitida. Tampouco, deveria me
sentir constrangido diante de elogios. Se tudo provém de Deus, é a Ele que a
glória deve ser levada. Desde então, se sou elogiado, respondo francamente:
“Deus seja louvado”. A Palavra é dEle, não minha. E onde a Palavra é ensinada,
coisas maravilhosas ocorrem. Se confiarmos em Deus, não nos sentiremos tentados
a supervalorizar nossa contribuição em Sua obra ou mesmo nos achar ineptos. O
próprio Senhor Jesus depositou Sua confiança (enquanto homem) em Deus e
descansou nEle. Sua força agora provinha do alto. E o mesmo pode se tornar
realidade com respeito a nós!
III. Jesus, o modelo de missão (v. 6-9): John Wesley tornou-se célebre,
entre muitas coisas, pela afirmação de que sua “paróquia era o mundo”. A grande
comissão (Mt 28:18-20) não é menos abrangente do que a frase do fundador do
metodismo. Recentemente, a Igreja Adventista admitiu em um documento que jamais conseguirá terminar sua missão,
humanamente falando. Abandonamos o triunfalismo de outras eras para confessar
que precisamos de reavivamento e reforma.[7]
Quando olhamos para Jesus, encontramos o resultado glorioso de nosso
envolvimento missionário.
1. Jesus é salvação para todos
(v. 6): Conforme
notamos anteriormente, Israel se
fechou em seu casulo de santidade cerimonial, ignorando o dever de apresentar a
metamorfose espiritual aos seus vizinhos pagãos. Agora o Servo messiânico
restauraria não apenas o próprio Israel (em uma antecipação de Isaías do exílio
que o povo sofreria cerca de dois séculos depois); Jesus viria ser “luz para os
gentios”. Em nome dEle, cada um de Seus discípulos precisa anunciar a mensagem
de esperança. Mesmo em um contexto pós-moderno,[8]
as pessoas do século XXI precisam conhecer a Verdade que Ele representa, a
única Verdade.
2. Jesus receberá o
reconhecimento de todos (v. 7): Paulo nos informa que a rejeição do Messias por parte de
Israel é que acarretou que o Evangelho fosse pregado até os confins da Terra.[9] E o mesmo apóstolo assevera
que, um dia, “todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra” se dobrará e
“toda língua” confessará que Jesus é o Senhor (Fl 2:10-11, NVI). Jesus será o
vencedor no conflito. Decidindo permanecer ao Seu lado, já partilhamos desde
agora dessa vitória nEle.
Jesus disse que Seus
discípulos fariam uma obra maior do que a sua. Ele se referia ao alcance da
obra deles, não limitados aos limites geográficos e ao escopo curto de Seu
ministério. Em todo caso, seria a obra dEle através dos discípulos (cf.: Jo
15:5).
Se olharmos o modelo de
obediência dado por Jesus, teremos uma base segura para servirmos a Deus.
Embora nos seja impossível sermos exatamente como nosso Mestre, ao comungar com
Ele, nos aproximaremos ainda que imperfeitamente de Seu caráter perfeito. Deus
nos chama para servi-lo com inteireza de coração e propósitos.
[2] James E. Smith: The Major Prophets (Joplin, Mo.: College Press, 1992),
edição eletrônica – comentário sobre Isaías 49:1-13.
[3] Luder G. Whitlock; R.
C. Sproul; Bruce K. Waltke; Moisš Silva, The Reformation
Study Bible: Bringing the Light of the Reformation to Scripture : New King
James Version (Nashville:
Thomas Nelson, 1995), edição eletrônica – comentário sobre Isaías 49:1.
[4] Earl D. Radmacher; Ronald Barclay Allen;
H. Wayne House, Nelson's New
Illustrated Bible Commentary (Nashville:
Thomas Nelson Publishers, 1999), edição eletrônica – comentário sobre Isaías
49:2.
[5] David McKenna; Lloyd J. Ogilvie, The
Preacher's Commentary Series, Volume 18 : Isaiah 40-66 (Nashville, Tennessee: Thomas Nelson
Inc, 1994), p. 127.
[6]John MacArthur Jr., The MacArthur Study Bible (Nashville:
Word Pub., 1997), edição eletrônica, comentário sobre Isaías 49:4.
[8] Sofre os desafios do pós-modernismo à fé adventista, consultar
Douglas Reis, Marcados pelo
futuro: vivendo na expectativa do retorno do Senhor (Niteroi, RJ: ADOS, 2011). A
Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia também preparou uma
série especial de estudos bíblicos, voltada para universitários e pessoas de
mente secularizada. Consultar: Michelson Borges (Ed.), O Resgate da Verdade (Brasília, DF: DSA, 2012).
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