Como preservar a identidade adventistas
em meio aos desafios de nossa época?
(publicado na revista adventista, Maio de 2014)
Após
minha ordenação ao ministério, esperei ansioso o primeiro batismo. A
oportunidade chegou: batizaria certa jovem que aceitara à Verdade. No dia, concluído
o sermão, saí para me trocar. Foi quando estreei o caça-marreco – um macacão de
borracha impermeável vestido por baixo da beca batismal. Dentro do tanque, sentia
a temperatura da água, embora não me molhasse. “Isso funciona mesmo!”, pensei. No
fim da cerimônia, quase não precisei usar a toalha, porque meu corpo estava
apenas levemente úmido.
Estar
na água sem ter contato direto com ela: isso faz recordar da oração de Jesus antes
que fosse preso: “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são
do mundo, como eu também não sou. Não rogo que os tires do mundo, mas que os
protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica-os
na verdade; a tua palavra é a verdade.” (Jo 17:14-17). De acordo com Jesus,
Seus discípulos não são do mundo, mas estão no mundo. Estão cercados pela
cultura, com elementos contrários ao evangelho, mas sem imergir nela. A Verdade
tornaria os discípulos impermeáveis aos erros da cultura ao redor.
O desafio da cultura
Cultura
é um termo bem amplo;[1]
de um modo geral, inclui costumes, língua, tradições, história e modo de viver
de um povo. A cultura se assemelha a um tapete, composto de fios diversos, formando
uma peça única com determinada estampa.[2]
Em verdade, a cultura não é autônoma, mas é o que fazemos dela. A maneira como
interagimos com a cultura definirá nossa atuação como cristãos – a começar pela
interpretação do que significa ser cristão e pela leitura da época na qual
estamos inseridos. E o que dizer da
cultura ocidental no século 21?
As
mudanças filosóficas e culturais levaram a sociedade ocidental ao período
conhecido como pós-modernidade. A pós-modernidade norteia os debates acadêmicos
das universidades, mas afeta igualmente a cultura popular. Se o desafio dos
cristãos é estar no mundo, sem pertencer a ele, devemos entender o que é a
pós-modernidade. Afinal, temos de interagir com a cultura pós-moderna com o
objetivo de testemunhar para as pessoas dessa época. Contudo, ainda devemos ficar
impermeáveis, protegidos pela verdade que santifica.
A cultura pós-moderna
O
pensamento pós-modernismo é influente na atualidade, sobretudo sobre as
gerações mais novas. Ele nega o racionalismo autoconfiante do período anterior,
a modernidade. A mente pós-moderna desistiu de buscar a verdade absoluta –vale
agora a verdade útil, que funcione e traga satisfação em nível individual. A
isso chamamos de relativismo, a ideia segundo a qual a verdade depende da
perspectiva de quem a examine, variando conforme as circunstâncias.[3]
O
pós-modernismo defende que não há critérios morais válidos para todos os
contextos.[4]
Assim, somos simplesmente o produto de determinadas condições históricas e
culturais além de nosso controle.[5]
Para medirmos o alcance do relativismo, o filósofo cristão Paul Copan cita uma
pesquisa do instituto Barna Group
realizada em 2002: 83% dos adolescentes americanos dizem que a moral depende
das circunstâncias e 75% dos adultos abraçam o relativismo moral.[6]
Sendo
que não há verdade objetiva, cada tradição intelectual ou religiosa encara a
verdade de forma diferenciada, não sendo melhor ou pior do que outras verdades.
“Tudo o que precisamos”, diz o filósofo ateu Richard Rorty, “é abandonar a
ideia de que deveríamos tentar encontrar uma maneira de fazer tudo permanecer
unido, que dirá aos seres humanos o que fazer com suas vidas, dizendo a todos a
mesma coisa”.[7] Ao invés de defender o que
cremos como verdade, os pós-modernos exigem que sejamos tolerantes.
Talvez
haja poucas palavras tão evocadas atualmente quanto tolerância. É correto
afirmar que “tolerância se tornou parte da ‘estrutura de plausibilidade
ocidental’”.[8] Antes, tolerância
implicava resignar-se perante divergências de natureza ideológica ou de mera
opinião. Agora, tolerância implica minar as próprias divergências. Qualquer
ideologia ou opinião não é mais considerada superior às outras. Em tempos do
politicamente correto, toda afirmação dogmática pode ser avaliada imediatamente
como intolerante. A persuasão religiosa é vista com ressalvas e considerada
potencialmente perigosa. Afinal, forçar o outro a crer não significaria uma
imposição? E, se todas as religiões fizessem isso, não veríamos conflitos
religiosos?
Dentro
dessa perspectiva dinâmica, mudar de opinião segundo a conveniência é usual –
as pessoas trocam de marca de roupa e de religião sem nenhum peso na
consciência. O importante é ter muitas opções de escolha e experimentar sempre,
para escolher do seu jeito (não por acaso o consumismo é um dos traços mais
fortes do comportamento pós-moderno!).
A
pós-modernidade vem chamando a atenção dos cristãos. Alguns até se declaram
pós-modernos, adaptados às demandas da época. Falta saber qual o impacto da
pós-modernidade sobre o movimento adventista. Como as noções pós-modernas
afetam sua identidade e a alegação de que somos o povo remanescente?
Cansados da cultura do remanescente?
O adventismo é um
movimento cristão singular, surgido do cumprimento das profecias e com o propósito de ser
usado por Deus para testemunhar à cultura sobre o plano de
salvação expresso na Bíblia e detalhado nas profecias.[9]
A justificativa de sua existência é “viver e apresentar seu projeto teológico
alternativo, baseado na Bíblia a todo o mundo.”[10]
Há clara identificação do adventismo com o remanescente de Apocalipse 12, uma
entidade visível formada por pessoas com uma mensagem mundial.[11]
Na
essência do adventismo está a doutrina do grande conflito cósmico, o qual serve
de “pano de fundo dentro do qual o plano para salvar o homem se desenvolve”.[12]
A salvação anunciada “é mais do que salvação pessoal” – implica na restauração
dos homens e da própria criação.[13]
Essa
auto-compreensão adventista é posta em xeque pela pós-modernidade. O teólogo
Alberto Timm reconhece que denominações cristãs “de tempos em tempos se
inclinam a substituir os ensinos da Bíblia por componentes anti-bíblicos da
cultura contemporânea”.[14]
E como isso ocorre em relação ao adventismo? “O adventismo se seculariza ao
adaptar seu pensamento e conduta aos padrões do mundo, um mundo que está mais
distante do Deus da Bíblia do que o mundo do século XIX estava dos pioneiros
adventistas.”[15]
Um
estudo recente, divulgado em Outubro de 2013, confirma a pressão vinda das “águas”
da cultura: intitulado Twenty-first
century seventh-day adventist connection study, o estudo partiu de 5
projetos integrados, apresenta o resultado de 41.000 entrevistas ou
questionários ao redor do mundo, fazendo dela a mais abrangente pesquisa desse
tipo realizada com adventistas. Entre as doutrinas adventistas mais rejeitadas,
estão aquelas justamente que figuram como as mais distintivas, como casamento
entre homem e mulher, santuário no AT como modelo do santuário celestial,
criação em seis dias em um passado recente, o dom de profecia em Ellen G.
White, juízo pré-advento, a crença de que somos o remanescente da profecia,
etc.[16]
Dizer, como fiz a princípio, que alguém queira se batizar, por ter aceito a
Verdade, é inconcebível na cultura pós-moderna – até para certos adventistas!
Ao
que tudo indica, muitos adventistas renunciam claros ensinamentos bíblicos da
igreja devido à influência da cultura pós-moderna. Certo jovem adventista fez
um comentário em meu blog, o qual retrata muito bem a tendência: “É
preciso buscar um caminho novo, e não voltar ao antigo que nos trouxe até aqui.
Um adventismo mais honesto e autêntico, que admite a sua busca e repudia a
noção de que tenhamos quase toda ou mesmo enorme parte da verdade.”
Infelizmente, recorrer à cultura tem gerado polarização entre os adventistas e
não união ou avanço missionário (como as pesquisas mostram).[17]
Remar com a Verdade contra a cultura
secular
Embora
muitos líderes cristãos se regozijem da abertura da pós-modernidade às crenças,
é notável que o tipo de espiritualidade atual seja destituída de conteúdo
cognitivo e incompatível com o que a revelação apresenta. A Bíblia assume que a
verdade seja objetiva e passível de ser conhecida. Embora o conhecimento humano
não seja absoluto, no sentido de ser exaustivo e onisciente (1 Co 13:9-10), é
possível o conhecimento suficiente da Verdade (Dt 29:29). E isso mediante a
revelação feita por Deus, principalmente por meio de Jesus, a própria Verdade
(Jo 14:6; Jo 17:3, 17). [18]
A
solução para avançarmos é partir da perspectiva do pensamento bíblico.[19]
O que foi revelado na Bíblia e nos testemunhos de Ellen G. White deve nortear
não só crenças religiosas, mas comportamento, princípios e estilo de vida. O
conhecimento acadêmico deve empregar a revelação como referencial; as
vestimenta e músicas que escolhemos têm de se conformar aos padrões
estabelecidos por Deus. Quando isso for real, cada um de nós contará com o
favor do Céu, experimentando a unidade. Na mesma oração em que Jesus menciona
que não somos do mundo, apesar de vivermos nele, também se mostra que o caminho
para a unidade (Jo 17:11) é sermos santificados na Verdade (v.19), o que fará o
mundo crer que Deus nos enviou (v.21).
Nesse
sentido, compensa recorrer à seguinte citação dos testemunhos: “Deus queria que
Seu povo fosse disciplinado e levado à harmonia de ação, de maneira a terem o
mesmo ponto de vista, e serem de um mesmo espírito, julgando da mesma forma. A
fim de produzir este estado de coisas, muito há a fazer. O coração natural deve
ser submetido e transformado. É desígnio de Deus que haja sempre um vivo
testemunho na igreja. Será necessário reprovar e exortar, e alguns precisarão
de ser incisivamente repreendidos, segundo o caso o exigir.”[20]
Quando
vivermos a Verdade em uma cultura que a rejeitou e valorizarmos a obediência a
toda a palavra de Deus, como Paulo e Jesus (Mt 4:4; At 20:27, 30), isso causará
profunda impacto nas pessoas à nossa volta. Santificados na Verdade,
venceremos!
[1] Para
uma discussão da evolução do conceito a partir de sua etimologia, ver Terry Eagleton, A ideia de cultura (São Paulo, SP: Editora Unesp, 2011), 10.
[2] David J. Hesselgrave, A
comunicação transcultural do Evangelho (São Paulo, SP: Vida Nova, 1995),
217.
[3] Hilton Japiassú e Danilo Marcondes, Dicionário
básico de filosofia (Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 2008), 5a
ed., 238, verbete “relativismo”.
[4] D. A. Carson, Becoming conversanting with emerging church
understand a movement and its
implications (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2005), 112.
[5] Arno Anzenbacher, Introdução à
filosofia ocidental (Petrópolis, RJ: Vozes, 2009), 187.
[6] Paul Copan, “True
for you but not for me”: deflating the slogans that leave Christians speechless
(Bloomington, Minnesota: Bethany House Publishers, 2009), 11-12.
[7] Richard Rorty, Filosofia Como Política Cultural (São
Paulo, SP: Martins fontes, 2009), 24, 25, 28, 61.
[8] D. A. Carson, The intolerance of
tolerance (Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing, 2012), 1. Estrutura de
plausibilidade se refere a pressupostos assumidos que legitimam processos
sociais.
[9] Richard P. Lehmann, “O Remanescente No Apocalipse,” in Ángel
Manuel Rodriguez, Teologia Do Remanescente: Uma Perspectiva Eclesiológica
Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), 109.
[10] Fernando Canale, “Completando La Teología Adventista: El
Proyecto Teológico Adventista Y Su Impacto En La Iglesia – Parte II,” DavarLogos
(Libertador San Martín, 2007), vol. 6, no 2, 135.
[11] Ronald D. Bisell, “Reflections on the SDA Church as the Eschatological Remnant
Church,” Asia Adventist Seminary Studies (Filipinas, 2001), vol. 4, 74.
[12] Norman R Gulley, Systematic Theology (Berrien
Springs, Mich.: Andrews University Press, 2003), 433.
[13] Norman R Gulley, “The Cosmic Controversy: World View for
Theology and Life,” Journal of Adventista Theological Society (Berrien
Springs, MI, 1996), ano 7, vol. 2, 90.
[14] Alberto R. Timm,
“Scripture and Experience,” Adventist Biblical Research (Silver Spring, MD,
Abril de 2009), 1, https://adventistbiblicalresearch.org/sites/default/files/pdf/Scripture%20and%20Experience.pdf.
Acesso: 3 de Fev. de 2014.
[15] Fernando Canale, ¿Adventismo Secular? Cómo Entender La
Relación Entre Estilo de Vida Y Salvación (Lima, Peru: Universidad
Adventista Unión, 2012), 25.
[16] Douglas Jacobs et al., “Twenty-First Century Seventh-Day
Adventist Connection Study Research Report” (Robert H. Pierson Institute of
Evangelism and World Missions, 2013), 30, disponível em
http://www.cye.org/assets/resources/icm/Research%20Data/Adventist%20Connection%20Survey%20Research%20Report.pdf. Acesso: 17 de Nov. de 2013.
[17] Ángel Manuel Rodriguez, “Polarización Teológica: Causas Y
Tendencias,” Ministerio Adventista 59, no 350 (Outubro de
2011): 13.
[18]
Ver Douglas Reis, Explosão Y: Adventismo, pós-modernidade e
gerações emergentes (Ivatuba, PR: IAP, 2013).
[19]
Fernando Canale, “Absolute theological truth in postmodern
times”, Andrews University Seminar Studies (Berrien Springs, MI: 2007),
Vol. 45, no 1, 93.
[20] Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 1996), vol. 1, 343.
8 comentários:
não creio que eu quis dizer que precisamos buscar as respostas na cultura. me referi ao fato que que estamos buscando na Palavra mesmo, não na cultura, e que temos mais questões abertas do que gostaríamos de admitir.
quis dizer que não devemos voltar aquela arrogância de que sabemos as coisas e precisamos acalmar o povo, mas precisamos ser mais honestos nas nossas buscas e nas possibilidades que a Palavra de Deus proporciona.
nisso (e não em tudo!!!), o pós-modernismo pode nos ajudar a progredirmos na nossa fé e tornar ela mais individual e pessoal, porque isso também é evangelho.
Márcio,
se o pós-modernismo ajuda na construção teológica, já não se pode dizer que a busca se dê apenas na Palavra, sem se apelar à cultura...
O verdadeiro cristão submete seu comportamento, seus gostos, suas decisões a Cristo. O eu deve morrer e Cristo deve nascer e permanecer no cristão.
Eu realmente não vejo outra forma de ser cristão. Há na Palavra de Deus a clara separação entre os do mundo e os de Deus. Se estamos aqui para sermos representantes do Altíssimo então não devemos nos deixar afetar pela cultura de nosso tempo.
Uso um método para resistir a essas coisas que é bastante simples e se chama "Jesus Cristo '-iria'?"
Jesus comeria?
Jesus iria?
Jesus faria?
Jesus falaria?
Se sim, faça você também, se não, não faça.
É claro que para responder os "iria" devemos nos basear nas Sagradas Escrituras e no contexto em que ocorreram aqueles acontecimentos.
E outra coisa, se dissermos não termos a Verdade, estamos dizendo que não temos a Cristo. E se não temos a Cristo, porque continuamos na igreja?
Se não temos a Verdade, busquemos a Verdade e dela nunca mais nos afastemos. Querer relativizar é querer fazer com que Cristo não fosse A VERDADE, e sim UMA verdade, o que é antibíblico e doutrina do maligno.
Todos são livres para escolher, e se querem o Céu eterno devem saber que lá estará o Deus Todo-Poderoso, do Sim e do Não e que isso jamais poderá ser relativizado. Aprendamos aqui a sermos obedientes ao Senhor! Amém!
é impossível ir a Palavra sem a cultura. a própria Palavra, ou qualquer palavra, é entendida através da cultura. não tem outro jeito.
Anderson, a Verdade sendo Cristo devemos sempre buscá-lo.
Mas aqui, quando fala-se em verdade, fala-se num conjunto de crenças extraídos da Bíblia. E aí pode ser que não tenhamos toda ela da maneira "certa".
Márcio,
mas a cultura é um ponto de partida ou seremos, por assim dizer, reféns dela, limitados ao seu escopo? O texto afirma que a cultura é o que fazemos dela e aponta uma transformação da cultura, a partir da transformação de quem está inserido nela. Isso é significativamente diferente de afirmar que componentes culturais são imprescindíveis para a construção teológica, o que nos levaria a afirmar que o evangelho mudaria a cada geração, porque sua compreensão estaria sempre comprometida...
O seu texto diz "A mente pós-moderna desistiu de buscar a verdade absoluta – vale agora a verdade útil, que funcione e traga satisfação em nível individual. A isso chamamos de relativismo, a ideia segundo a qual a verdade depende da perspectiva de quem a examine, variando conforme as circunstâncias."
Você fala da "verdade absoluta", como algo que a "pós-modernidade" desistiu de buscar no começo da frase, e depois usa a expressão "verdade" (sem o predicado "absoluta") e diz que defender que tal verdade dependa de perspectivas pessoais e varie de acordo com circunstâncias é uma característica do relativismo.
Pois bem. Existe um pensamento na obra de EGW que diz assim:
"É assim que é, e meu espírito tem sido muito agitado quanto à idéia: "Ora, a irmã White disse assim e assim, e a irmã White falou isto ou aquilo; e, portanto, procederemos exatamente de acordo com isso." Deus quer que todos nós tenhamos equilíbrio, e deseja que raciocinemos movidos pelo bom senso. As circunstâncias alteram as condições. As circunstâncias modificam a relação das coisas."
(ME, 3, 217)
Ela fala isso num contexto onde algumas mulheres estavam defendendo que as crianças não poderiam ir à escola antes dos 10 anos de idade mesmo em escolas adventistas, pelo que EGW tiha dito anteriormente ao que elas queriam obedecer de forma "exata". Aqui EGW explica que as "circunstãncias" (de haver agora uma escola adventista) alterava a recomendação anterior, que era "verdade" e agora não mais precisava ser obedecida como "verdade", ou seja, as crianças poderiam ir pra escola ADV (que guarda o sábado) antes dos 10 anos...
Diante da sua afirmação acima destacada, esse é um pensamento "relativista" por parte de EGW? sim? não? e por que?
Abração
Att
Ezequiel Gomes
Sua questão é interessante e foi mais bem trabalhada por George Knight em Mitos da Educação Adventista.
Ali ele claramente explana que as orientações de Ellen White (sobre educação, em específico, mas poderíamos ampliar o escopo e abranger outras áreas sobre as quais ela escreveu) trabalhavam em dois âmbitos: (a) o ideal e (b) o possível.
O ideal seria que os pais fossem os primeiros professores dos filhos nos anos iniciais. Mas no contexto dessa declaração que você mencionou, havia problemas com filhos de obreiros que não tinha os pais constantemente em casa. O que fazer com eles? Deixá-los estudar em escolas públicas ou propiciar uma educação cristã?
Neste contexto, cabia o bom senso e uma adequação à nova circunstância.
Sobre a interpretação do relativismo pós-moderno: como você deve ter lido, esse entendimento se baseia na bibliografia consultada. Especialmente o livro de D.A. Carson mencionado e as obras de Canale seguem a mesma linha em caracterizar o relativismo, em contraste com a alegação de verdade absoluta do cristianismo.
Retornando à questão: não se pode confundir princípios absolutos com suas implicações, que variam de acordo com o contexto. O absoluto "Não matarás" se aplica a situações de pena capital, legítima defesa e aborto? Eticistas cristãos se debatem sobre essas questões, sem, necessariamente, relativizar o princípio em si - afinal, ninguém ainda disse que podemos sair matando a bel prazer!
Espero ter respondido sua questão.
Abraços.
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