Os desafios conjugais se refletem na vida espiritual
do casal e de seus futuros filhos. Por vezes, boas intenções e mesmo princípios
cristãos não são suficientes para contornar as crises, porque muitos sequer estão
maduros para admitir a possibilidade de que elas surjam. E elas surgirão,
inevitavelmente.
A cultura popular dá uma ênfase exagerada ao
namoro, destacando-o como época da paixão. Os filmes relatam relacionamentos
casuais, crises e a resolução por meios de discursos espontâneos e românticos. Na
vida concreta, namoros são oportunidades para conhecimento mútuo. E as crises
(sempre no plural, é preciso frisar) não são atenuadas por palavras
sentimentais.
É preciso reconhecer que todo o amor do mundo
não fará duas pessoas concordarem em absolutamente todos os assuntos. Em uma
classe de escola sabatina, ouvi um participante opinar de forma que me
intrigou. A pergunta proposta pelo moderador da discussão era: “dentro de um
casamento, marido e mulher sempre pensarão do mesmo modo?” O rapaz respondeu
que se ambos tivessem o Espírito Santo seriam concordes em todos os assuntos. Não
me contive e cochichei com o professor: “tenho certeza de que ele é solteiro!”
A unidade no casamento não é sinônimo de
uniformidade. Somente existirá uniformidade em uma relação quando uma parte se
anula perante a outra, o que, obviamente, não constitui um modelo saudável de
matrimônio. Lidar com os conflitos no casamento implica no reconhecimento de
que duas pessoas possuem bagagens diferentes.
Por bagagens me refiro à criação, educação e
experiências de vida, que junto com o temperamento, influenciam o modelo de
pensamento de alguém. Uma simples discussão sobre quem deve realizar as compras
do mês ou a maneira de se temperar o feijão é suficiente para revelar
substratos culturais, valores e modelos estabelecidos. Uma discussão dessa
natureza, em geral, esconde abaixo da superfície os seus reais motivos. Gasta-se
esforço e argumentação discutindo de quem é a responsabilidade pela limpeza da
casa sem discutir os modelos pré-estabelecidos. Marido e mulher ganhariam se
conversassem sobre o que aprenderam de seus pais, explicando cada qual ao
parceiro o porquê de pensar como pensa.
Quando se reconhece que, para além dos
modelos vistos nos pais ou simplesmente idealizado, existem outros modelos, é
possível reconhecer que há outras maneiras de se fazer as coisas. Cobra-se
menos, porque se passa a entender melhor o outro. As cobranças surgem quando um
cônjuge quer encaixar o outro no padrão que possui, sem levar em conta que seus
padrões não os únicos que existem.
Relações maduras são aquelas em que os
cônjuges repensam juntos os modelos herdados e os reconstroem com o tempo,
ajustam-se por meio do diálogo. Se as crises não somem totalmente nesse
processo, ao menos elas se tornam menos frequentes e menos graves. E isso dá
espaço para que o casamento se torne o ambiente ideal para cultivar o
ingrediente que os filmes restringem (erroneamente) ao período do namoro: o
amor. Quando o amor frutifica, a vida espiritual agradece.