quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A MOEDA DO CÉU

The world is charged with the grandeur of God.
Gerard Manley Hopkins


O sol torna-se louça lácera: foi-se a hora áscia,
Meridiana. Há no cárcere perspicácia?
Ah! Do alecrim à acácia, eu vi seu tom; pois que esse
Fechar de pálpebras esmalta com sangue os platôs.
Perante isto que se expôs, falta audácia!

Nuvens lúcidas, num torçal que se forma,
E se torce – singra a norma. O halo informa:
Fios diáfanos a entreter pétalas. Segreda uma ave.
E na surdina, pulso suave. A negra cópula
Fuja escápole pela fresta que desbrave,

Chegue à copa do céu, com rubro-breu.
Vêm migalhas-prata-espadas. Abaixo, eu
Presto-me a andar, pés migratórios na agonia ágil.
Que sei da súplice harmonia, eu, adágio? Enquanto
Bens contava, fez-se em paz um bem santo:
Para a alma símplice, surge a moeda do Céu, tão frágil…

O orbe segue detalhado plano-mestre:
O Deus-Ser-Pleno, tendo trazido a ordem terrestre,
Fez o sábado, sóbria efígie de Seu rosto,
E abriu as células às pobres lentes: vejam o ofício
Da mão sábia que selou nosso início.

A ânsia arrasta-se – áglifa ou peçonhenta?
Seque as lágrimas, pois a pressa acorrenta,
E o sonho é ser na tela astro-átimo (ócios de ofídios).
Eu já carpi, tom de anaconda, cenho alquebrado,
Sem ver corpos ígneos sobre céu cromado,
Ignorando esse crebo espetáculo com seus subsídios:

No silêncio, baixa o sol no crepúsculo.
Um alerta chega em linhas no ar, maiúsculo;
Só aquela ave aciona o músculo da voz solene.
Mais outra vez confecciona-se a paz e a calma,
Para que à alma Deus com mesclas mais acene.

Sobe, com passos bem flébeis, dança
Que desenha as fagulhas da mudança;
Desbarata o último canteiro escuro e embriagado,
Fóton-factual que nos decanta com seu bom-dia
(Com o sol, bons e maus Deus alcança).

Engenheiro Coelho(SP), 27 de Novembro de 2000, às 22:34h.
2ª versão:Itajaí(SC), terminado em 1º de Março de 2008, 16:38h.

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