terça-feira, 27 de outubro de 2009

CONSOLO VINDO DO MAR



As mãos se mexem tão frágeis, tão pequenas
E o berço é sua pesquisa, seu brinquedo.
Ao requebrar-se nas rochas mais morenas,
O mar lhe imita o vagido fino,
Num bem entoado e firme hino
Tão belo como o seu, como o seu tão ledo.

Seus olhos tentam a tudo ver atentos
E concentrados se soltam em viagens.
Vaga o violento rugido destes ventos;
Vão inquietos, fazendo frente
Ao movimento da mente,
Da mente dele, perdida atrás de imagens.

Móbiles são curiosos, são mistérios;
Almejaria entender as suas rotas.
Nos faróis, raios, trovões já rugem sérios.
Resplendem móbiles sob a luz.
Um barco a sós se conduz
Por meio de ínvias estradas más e ignotas.

Resmunga agora e, inquieto, chora e vage,
Nas sombras frias da casa oculta aos olhos.
A chuva dança fremente sob a laje.
O marinheiro cansado ancora.
E crê que só o mar chora
Ao retirar da jangada os seus espólios.

Desesperada a criança então desfaz-se
No mais convulso e profuso choro triste.
Dos degraus feitos com pedras volve a face
O marinheiro que leva o fardo.
Ao longe avista o tom pardo
Da casa, esta o único gozo seu que existe.

Rubra a criança nervosa ainda grita,
Chacoalhando o bercinho seu de palha.
Ao vento ondeia somente a frágil fita
Que ao lar demarca. O homem abre a porta.
Entra. Ao entrar, à luz torta,
O odor do mar na cabana logo espalha.

Escuta então o bebê pedindo ajuda;
Corre e procura um luzeiro. Ao quarto vai.
Tem o pequeno ser quem assim lhe acuda.
Com canções vindas do mar, acalma
O filho posto na palma,
Que reconhece feliz o próprio pai.

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