sexta-feira, 30 de outubro de 2009

SOBRE A PERDA DE DIGNIDADE DE UMA UNIVERSITÁRIA

Um caso polêmico ganhou destaque na imprensa: uma universitária envolveu-se em um tumulto dentro de seu próprio campus, devido ao comprimento de sua roupa. A aluna do 1° ano de turismo da Uniban (em São Bernardo do Campo, SP) foi para a aula com uma roupa curta, conforme admitiu ser o seu costume. A moça se viu, então, cercada por alunos de outras turmas, os quais chegaram a tentar invadir a sala em que ela se chamava (e no transcurso da aula). Os gritos e impropérios proferidos não terminaram nem com a intervenção dos seguranças da universidade. A própria polícia teve de ir ao local. A primeiroanista foi fotografada e vídeos do episódio caíram na internet (mas foram retirados do site em que estavam, por solicitação da Uniban).

A universidade instalou sindicância para ouvir os envolvidos - alunos, professores, funcionários e a própria moça, que não quis se identificar. Ainda assustada, a estudante não pretende deixar o curso, apesar das humilhações que sofreu. "Perdi a dignidade", resumiu ela, ainda bastante atônita por tudo que se passou.

O episódio, além de trágico, é complexo. Seria apenas outro caso de violência em um dos muitos campi do país? Trata-se de outro exemplo de violência contra a mulher? A discriminação infringiu o direito constitucional de expressão? A jovem em questão é culpada por ter provocado o tumulto?

Vários aspectos têm de ser considerados. Acredito que nada justifica a reação violenta e exagerada por parte da massa de universitários. O que mais me assobra: sem a presença de seguranças, o que teria acontecido? Será que aqueles jovens, privilegiados por ocupar os bancos do saber, seriam amorais, a ponto de abusar coletivamente da moça? De fato, o pior poderia ter ocorrido...

E quanto à moça? Penso que a maneira como nos vestimos reflete nossa cultura, valores e preferências. Conscientemente ou não, passamos uma imagem pela maneira como nos trajamos, e somos responsáveis pela forma como seremos encarados pelo olhar de outrem. Consultores de moda sabem muito bem desta realidade. Não quero, com isto, insinuar que a moça deveria ser culpada pela selvageria que seus colegas manifestaram. Mas, talvez, uma forma mais discreta e prudente de se vestir evitaria (em maior ou menor grau) a humilhação que ela sofreu; tenho certeza de que, se ela previsse os resultados, ficaria mais tempo diante de seu guarda-roupa escolhendo com que roupa sairia.

Esta questão do assédio em nossa época é melindrosa, porque afeta homens e mulheres. Em grande parte, a ênfase que se vem dando à aparência, como um valor em si mesma, e a erotização da cultura, permitem que violências sexuais de toda sorte repercurtam aqui e ali. Não vejo que somente aquele jovem tenha perdido a sua dignidade - e digo-o não para minimizar os seus sentimentos doloridos, mas para apontar uma gradativa perda de princípios morais em uma sociedade que permite que histórias como esta, ocorrida no seio dos bem-nascidos e letrados, continuem proliferando.

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