Acho que eles gostam de um cafuné
Os
grandes felinos são animais que exercem fascínio sobre todos os que apreciam a
natureza. Por fascínio temos que entender tanto profunda admiração como medo. Afinal,
tigres, leões, leopardos, onças e animais semelhantes possuem pelagens
fabulosas (as quais, infelizmente, atraem a indústria da moda). Ao mesmo tempo,
são animais agressivos, predadores robustos e insuperáveis. Mesmo ante o sonho
de se aproximar deles, a sensatez e instinto de preservação não fariam com que
alguém chegasse a tanto.
Mas
será mesmo? Ali estava eu perante três tigres (que não me pareciam tristes,
como aqueles do famoso trava-língua infantil). Aliás, um deles estava mais
agitado, movendo-se bem perto de mim. Estanquei. Ao olhar dos lados, percebi
que meus acompanhantes, curiosos para ver as feras tanto quanto eu, já haviam
dado alguns passos para trás. Apenas outra mulher, que já se submetera à
experiência continuava ali, imóvel como eu e ainda mais exultante.
Finalmente,
recebi permissão para ficar atrás dos tigres e acaricia-los. O que parecia um
sonho se materializou em uma foto comprobatória, senão de coragem, ao menos de
que é possível admirar o fascínio que os felinos exercem mais de perto.
Chegar perto dos filhotes é mais fácil!
Por
mais incrível que a descrição soe, não é incomum. No zoológico de Lujan, na
Argentina, os visitantes podem interagir de forma intensa, entrando na jaula
dos animais, inclusive. Entretanto, há uma polêmica em torno de Lujan: muitos
afirmam que os animais sejam dopados, mal alimentados e recebam tratamento
cruel. Outros argumentam serem os felinos animais de hábitos noturnos, razão
pela qual passem sonolentos boa parte do dia (quando ocorrem as visitas).
Uma
peculiaridade de Lujan pode explicar a docilidade dos animais: eles são criados
em cativeiro e na presença de cães (presentes em todas as jaulas abertas à
visitação), o que ajudaria a torna-los mais “sociáveis.” Além disso, o tratamento
que eles recebem é duro em alguns momentos. Durante nossa visita ao tigre-branco,
ele e outro tigre estavam bem agitados, o que não causou boa impressão em quem
estava na fila para vê-los. Em algum momento, o tigre branco recebeu um forte
golpe do funcionário responsável, para espanto dos presentes. O rapaz
simplesmente jogou o balde por cima da cabeça do animal, o que fez com que ele
se aquietasse.
Esse aí não estava muito simpático, o que explica a distância
Visitas
mais tranquilas fizemos ao urso e ao elefante (que apenas comeram de nossa
mão). No momento em que eu e minha esposa resolvemos almoçar, alguns patos se
intrometeram, em um bando inconveniente. Alguns da gangue até batiam o bico, pedindo nossas bolachas. Acabamos cedendo à pressão, o que foi um erro: quando
recebiam comida, insistiam por mais. Resolvemos ignorá-los por um tempo. Depois
subimos na mesa, a fim de evita-los. Foi quando uma llama, animal raríssimo,
quase extinto, nos surpreendeu pelas costas e chegou perto de pôr o focinho no pacote. O jeito
foi procurar um lugar menos frequentado para concluir a refeição…
Tão dócil que quase levamos para casa...
O
momento mais emocionante foi o contato com o leão. Acariciar sua juba áspera,
esparramada pelas costas descomunais traduziu o paradoxo em torno do fascínio. Se
tirar fotos com filhotes de leões e tigres se revelou algo tranquilo e prazeroso,
não se pode negar que o encontro com leões adultos seja mais prazeroso, embora
nada tranquilo. Apesar da presença de cuidadores do zoológico, o medo ainda
está ali, latente, perpassando a admiração que o rei dos animais causa em
qualquer um.
À
saída, eu e minha esposa observamos a reação das crianças na parada de ônibus,
dando folhas verdes na boca de gamos do outro lado da cerca. Pareciam feitas
para aquilo, para aquele tipo de contato com os bichos. Aliás, como será ver
animais novamente depois de Lujan? Sem poder interagir e se limitar a vê-los
por trás das grades, parece que não será o mesmo. Que bom seria usufruir de um
contato mais puro com animais silvestre, sem o risco que os seres selvagens nos
oferecem.
Muitas
fábulas e histórias fictícias apontam homens e animais juntos, muitas vezes até
retratando seres irracionais personificados, os quais adquirem trejeitos humanoides. Ao contrário disso, a Bíblia, livro sagrado dos cristãos,
apresenta diferenças qualitativas entre homens e animais, afirmando que apenas
os primeiros foram criados “à imagem e semelhança” de Deus (Gn 1:27). Recebendo
o domínio sobre toda a criação, o que incluía os demais seres vivos, os
seres humanos exerciam a função de zelar por eles, em uma espécie de
domínio benevolente. Afinal, a primeira função do homem foi nomear os animais
(Gn 2:19-20), o que, na cultura hebraica, indica que ele os comandava (Gn
1:28). Dominar com responsabilidade: um excelente paradigma para o homem do
século XXI, envolto em tantos dilemas ambientais.
Quase ela se esqueceu da comida e levou minha esposa...
Se
a interação entre homens e animais era perfeita no Éden bíblico, parece que o
fascínio que os animais ainda mantém sobre nós é um resquício disso. De igual
modo, o medo que temos de alguns deles é herança dos primeiros homens: mais
precisamente, o medo é resultado do pecado, que quebrou a dinâmica existente
entre humanos e natureza. Ao invés de respeito e harmonia, haveria medo,
matança e morte por toda a Terra (Gn 3:17-19).
Para
aqueles que acreditam na promessa bíblica, a história não acaba aqui,
precisamente onde nos encontramos. Há uma esperança: a restauração de todas as
coisas (Is 65:17-18), promessa reafirmada e ampliada no Novo Testamento (2 Pe
2:13; Ap 21:1-4). E, quando todas as coisas voltarem ao equilíbrio idealizado
pelo Criador, poderemos nos aproximar de animais e interagir com eles! Não mais
entre grades e cercados por cuidadores, porém de forma espontânea e natural.
Observe como o profeta descreve a cena futura:
O lobo viverá com o cordeiro, o
leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos;
e uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se
deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará perto
do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém
fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a
terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar. (Is11:6-9)
O lobo e o cordeiro comerão juntos, e o
leão comerá feno, como o boi, mas o pó será a comida da serpente. Não farão nem
mal nem destruição em todo o meu santo monte", diz o Senhor. (Is 65:25)
Sem
dúvida, um mundo como o que Deus promete compensa toda espera. Além de
despertar um outro tipo de fascínio, cheio de admiração e gratidão.
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