A vida cristã não pode capitular diante da rotina mundana
"Quando
porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18:8). A
conhecida sentença de Jesus se parece com um preciso relatório de autópsia. A
autópsia da mentalidade egoísta e mundana, tão disseminada no mundo
contemporâneo. Não me refiro à sociedade secular. Infelizmente, a profecia
antecipa a situação espiritual dos servidores de Seu autor.
Temos
de olhar para as palavras de Jesus como um chamado à vigilância no contexto de
Sua segunda vinda. Se a fé seria artigo escasso em época de promessas de
fartura consumista, não seria por falta de disponibilidade do produto: Deus
continua dando fé a quem solicita (Jd 1:3). A crise se relaciona com a falta de
demanda. Poucos cultivam a insistência na oração, como a viúva pobre da
parábola – história que antecede a afirmação de Jesus e lhe serve de moldura
(Lc 18:1-8).
Para
o senso comum, fé se parece com um sentimento de pessoas idosas, com pouco
estudo e desassistidas pelos serviços públicos. Porém, não se iluda com as aparências:
fé não é um sentimento, mesmo sentimento religioso, do tipo que é atribuído a
algumas poucas pessoas – por serem mais intuitivas ou dotadas de sensibilidade
apurada.
Tampouco
a fé se opõe à razão. Ouvi um palestrante que fez a infeliz afirmação de que,
ao dispormos de evidências, não precisamos de fé. Nada mais contrário ao
sentido etimológico da palavra grega pistis,
muito frequente no Novo Testamento; traduzida como fé, transmite a ideia de
confiança, crer em algo fidedigno, que se mostre bem estabelecido e digno de crédito.
Definitivamente, fé cega nunca foi sinônimo de confiança absoluta!
Por
último, fé não se refere aquela esperança que consola os desajudados. Fé não é
o consolo fictício dos sem recursos, mas o recurso real dos inconsoláveis pelo
pecado e maldade do mundo. Ter fé leva a atuar no mundo em obediência à vontade
divina, mesmo quando isso requer atitudes e comportamentos que expressem recusa
e negação do status quo.
É
preocupante a dissociação atual entre fé e estilo de vida. Devemos nos perguntar
se o discurso de que basta "ter Jesus no coração" não chegou ao povo remanescente.
Como se sabe, por baixo desse slogan
cativante, há toda série de escusas para se manter comportamentos bem
diferentes da vida de obediência resoluta que a Bíblia oferece como modelo ao
cristão.
Há
sempre o risco de deixarmos gostos e preferências definirem, como critérios
últimos, nosso curso de ação. Agindo assim, a tendência será a acomodação. E se
acomodar constitui o tipo de experiência diametralmente oposta à dinâmica da vida
cristã.
Ao
permitir que a fé se aproprie da graça transformadora, somos moldados dia após
dia à semelhança de Jesus (Rm 12:2). Deixamos de ser quem usualmente éramos (Gl
2:20). Também passamos a ignorar os reclamos do mundo, com tudo o que ele
oferece – séries de TV com seus enredos violentos e sensuais; músicas estimulantes
(mesmo aquelas de alegado cunho cristão); frequência a casas noturnas, cinemas
e shows (alguns até promovidos por
cristãos, que, na pratica, pouco diferem das vertentes seculares);
relacionamentos sexuais sem compromisso; alimentação à base de fast food e tantos outros itens.
Seria
impossível enumerar as atrações que existem e parecem comuns. Mesmo as listas
criadas pelo apóstolo Paulo são sugestivas (cf.: Gl 5:19-21; Ef 5:3-8;
Cl3:5-11), mencionando praticas bem conhecidas, as quais deveriam ser
denunciadas por aqueles que aceitassem a nova vida em Cristo (Fl 2:14-16).
O
ponto principal: sem uma fé viva, fundamentada na Bíblia e exercitada em uma vida
dependente do Espírito Santo, seremos cristãos reféns de fenômenos culturais
que nos submetam a um processo de acomodação em relação ao mundo. E surgirão as
mais poéticas desculpas: "não podemos nos alienar das pessoas";
"por que ser tão radicais?"; "vamos nos parecer com o mundo para
evangeliza-lo"; "são apenas questões culturais sem importância".
Entregando, munidos da Palavra de Deus e dos testemunhos de Ellen G White, a
igreja remanescente possui luz suficiente para não se acomodar ao mundo. E,
fazendo assim, manterá suas principais características: guardar os mandamentos
de Deus e ter a fé de Jesus (Ap 12:17; 14:12)!
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3 comentários:
"Deus continua dando fé a quem solicita (Rm 2:4)"
Não encontrei este texto na biblia, pelo menos não em Rm 2:4
Você está correto. O texto deveria ser esse: "Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos." Jd 1:3.
"Como precisamos de alimento para sustentar nossas forças físicas, assim necessitamos de Cristo, o pão do Céu, para manter a vida espiritual e comunicar forças para efetuar as obras de Deus. Como o corpo está continuamente recebendo nutrição que sustém a vida e o vigor, assim a alma deve estar constantemente comungando com Cristo, a Ele submissa, e confiando inteiramente nEle." O Maior Discurso de Cristo, p.19
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