domingo, 1 de março de 2015

PASSOS NOTURNOS



I.
Bota apertada. Pego a blusa que pusera
No sofá marrom –  mais pareciam unidos
Como um corpo sem viço. Avanço e eis os ruídos.
O hálito aquece as mãos. Valsa a chuva severa.

Silva o tempo e o atravesso avulso.  Persevera
 Uma vontade em tons ocres. Os destemidos
Não me olham como igual. Os dedos do fé feridos.
Sou um servo: Deus minera a alma em áspera espera.

A madrugada draga o esforço. Enquanto fito, 
Ardem as vistas e então se perdem. Mas Alguém
Ordena as nuvens e abre as portas do Infinito.
                                      
Pesa o calçado ou pesa a vontade egoísta?
A árvore cinza prova a inconstância do bem,

Em um mundo em que o belo é um item na lista.

II.
Coisas distintas são chegar e chegar perto.
Em desarme anormal; sem ar me arrisco: arisco!
Há momento em que quero o pé livre,  o que é risco!
Ao redor, pedras tão pardas, destino incerto.

Mas Alguém preparou a mesa no deserto
Para que eu não perdesse o tempo com petisco.
No chão há folhas como hulhas – temo e não pisco.
Não consigo correr! O rumo não acerto.

Falo e escapa fumaça.  Engrossa-me a garganta
Por retroceder, sou como um corpo sem viço.
Tudo escuro na rua. O vendo espanta.

Persevera a vontade acima, que me guia:
Se o amanhã não vem, vou. Reaprendo a andar submisso,
Pois ao chegar será totalmente belo o dia.