sexta-feira, 26 de junho de 2015
quinta-feira, 25 de junho de 2015
quarta-feira, 24 de junho de 2015
LOUVOR MIDIÁTICO
O sucesso de
programas como American Idol e The
Voice, revivendo os antigos shows de calouros, é um fenômeno
mundial. Interpretações efusivas (para não dizer histriônicas) de músicas
consagradas ganham as mídias sociais, espalhadas pelo Youtube, Facebook e Twitter.
Quando se pensa no gênero pop, adotado
pelos reality shows musicais, sem se
restringir a eles, estamos diante de um padrão altamente disseminado nos canais
convencionais, como programas de TV e FMs, e mesmo aplicativos de streaming, tais como o iTunes ou Google Play. Nós nos deparamos com a música pop em cada filme, série e clipe. Seu poder de atração não pode ser
questionado ou subestimado.
Consumir essa
música altamente estimulante e com viés sensual como forma de entretenimento
representa vários riscos para os cristãos. Primeiro, o risco de assimilar
pensamentos, conceitos e estilo de vida claramente mundano, diferente daquele
ensinado pela Palavra de Deus. Segundo, adquirir um gosto por esse padrão de
música, o que levaria a uma forma específica de rejeitar o estilo de vida
cristão: a rejeição da música cristã. Compensa pensar sobre as consequências
desse último aspecto.
Quando a música
secular se torna o padrão para o cristão, dificilmente ele sentiria prazer em
cantar os hinos cristãos tradicionais, seja em sua devoção particular ou mesmo
no culto público na igreja. Simplesmente, os hinos soarão como cantigas
inocentes, ou algo absurdamente antigo. E talvez poucas coisas aborreçam tanto
algumas pessoas como algo desatualizado. Será preferível trocar as antigas
canções dos hinários cristãos por música contemporânea, de viés cristão. Mesmo
que você não seja um sociólogo da religião, será capaz de notar como a música pop cristã nem choca mais os
adoradores contemporâneos: no caso particular dos adventistas, em pouco mais de
duas décadas, eles se acostumaram com o novo paradigma.
Em nossos
congressos, cultos especiais e mesmo nas reuniões regulares, a música cristã
contemporânea, antes empregada sob a alegação de atrair e agradar aos jovens,
já atingiu alcance congregacional, abarcando indivíduos das mais diversas
gerações. Seu alcance, aceitação e a facilidade como dissemina ideias cristãs
(ainda que de forma genérica, na maior parte dos casos) são as justificativas
mais comuns dos defensores desse gênero de música.
Entretanto,
seria, no mínimo, fato suficiente para nos causar mal-estar saber que há poucas
décadas os adventistas se indignavam (acho que o termo descreve bem a reação)
com as demais denominações por usar música popular na adoração. Evocava-se o
fato para ressaltar que o mundanismo entrara nas igrejas evangélicas, enquanto
ainda mantínhamos princípios bíblicos aplicados a música. Hoje, o quadro
sutilmente se alterou: não ousamos mais demonstrar indignação. Há uma
reciprocidade suspeita entre a forma como recebem nossos músicos e como recebemos
cantores de outras denominações. Talvez não haja mais linhas divisórios tão
profundas que identifiquem o que há décadas se chamava música adventista.
Precisamos de
música nova, que exemplifique nossa doutrina, que criativamente explore aquilo
que cremos. Não creio que a criatividade oriunda do Espírito Santo haja se
esgotado, após profusamente abençoar autores de hinos de séculos e décadas
anteriores. O problema está em nivelar a contribuição necessária para este
tempo por padrão de música secular. Fazendo assim, transmitiríamos nossa
mensagem na letra, todavia não na forma, associada a valores não cristãos, como
satisfação própria, êxtase sensual e violência.
Se a música pop, surgida com a diluição e
massificação do estilo rock’n’roll, nasceu
em meio a revoluções de valores, liberdade sexual e expressão de uma juventude
que queria mais liberdade, é impossível fazer uma avaliação positiva de seus
constituintes desde uma perspectiva cristã. Música pop é o coração do homem
contemporâneo colocado em notas musicais – e não precisa conhecer tão
profundamente a Bíblia para saber qual a avaliação feita pelo Senhor acerca de
nosso coração natural (Jr 17:9). Se veicularmos a essa estética a nossa
mensagem, corremos o risco de distorcemos o que Deus tem a dizer a toda uma
geração.
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segunda-feira, 22 de junho de 2015
quinta-feira, 11 de junho de 2015
ADVENTISTAS E A PARÁBOLA DA LARANJA
O subcomitê preparou o I Fórum de discussão sobre a carência de vitamina C no município de Andorinhas. O salão paroquial da cidade abrigou o evento, que foi divulgado pobremente no único jornal de toda a região. Pobremente porque a situação emergencial requeria uma medida extrema, rápida, sem tempo para maiores planejamentos. E o prefeito Juca recebeu exaustivas advertências da Secretaria de Saúde Pública de Andorinhas.
Juca não fazia o tipo preocupado com nenhuma
questão envolvendo saúde (quer pública ou mesmo particular, dado o número de
cartelas de cigarro consumidos diariamente por ele), ou algo tão ínfimo quanto
a carência de qualquer vitamina que fosse. Entretanto, se chegara ao cargo
máximo de administrador público do município, isso se devia a seu faro para
potencializar problemas e oferecer soluções miraculosas. Às vésperas do último
ano de um mandato pífio, far-lhe-ia bem à pretensão de sucessão resolver algo
urgente.
O fórum
recebeu a atenção integral de seus assessores, incumbidos de alarmar a cidade
com o novo problema. Apesar de notar a pobreza da divulgação, ao menos no
número de veículos envolvidos, é preciso retificar e admitir o sucesso da
propaganda, posto estar cheio o ambiente. Algum adivinho quiçá o tenha visto no
globo de uma bola de cristal e tido tempo de comunicar os assessores municipais,
o que explicaria as centenas de cadeiras de plástico locadas para garantir mais
gente assentada ou detalhes como os ventiladores extras trazidos. Juca sorria
como quem imaginasse não demorar muito a voltar para a cadeira no gabinete que
ocupava.
Diante de milhares de eleitores, ou melhor,
cidadãos de Andorinhas, Juca abriu o discurso na melhor tradição política –
falou muito, não disse coisa com coisa, mas impressionou as pessoas. Seguiram-se
vozes de especialistas, que mostraram os baixos índices de vitamina C prognosticada
na média da população, os riscos disso e algumas possíveis medidas. Ao fim, o
vereador João Lobo convidou à frente o empresário Klefetis Capitioso. Caso nos
leia alguém que não logrou a sorte de ter em Andorinhas sua terra natal, é
necessário apresentar um tipo conhecido por todos: o Sr. Capitioso, dono da
maior – talvez seja necessário comentar, da única – fábrica de Andorinhas,
responsável pela equilibrada economia da cidade. A Accommodatio, fábrica de
refrigerantes bastante popular, empregava, ao todo, mesmo nesses nossos tempos
de crise, 108 pessoas. Desse modo, a mera presença de Klefetis Capitioso em uma
reunião como aquela gerava tensão e expectativa.
O sr. Klefetis parecia-se com um desses gurus da
neurociência, falando de um modo calculado, com as devidas pausas e muitos
olhares dirigidos diretamente ao pública. Juca sentia profundo alívio em se
certificar que aquele homem de roupas modernas, cabelo curto e alinhado e que
transpirava eficiência não tivesse qualquer ambição política. Afinal, todo
poder que Klefetis queria, o poder dos revolucionários, dos idealizadores, dos
grandes solucionadores, disso ele já gozava. Em poucos minutos, todos sabiam e
aprovavam seu plano:
“Amigos, dizia na arrematadora conclusão, vamos
usar, para combater esse problema da vida pós-moderna, uma abordagem mais arrojada, porque
as novas gerações não querem mais saber de laranjas. Vocês sabem, se o consumo
de laranjas aumentasse, toda essa epidemia jamais existiria”, disse olhando
para baixo e deixando um curto e surdo suspiro ecoar, para retomar com novo
ímpeto: “Mas o que precisamos agora é contextualizar a laranja para o
consumidor atual, que não possui interesse em comer frutas. Uma nova embalagem,
um novo sabor, propagandas em outdoors
pelas cidade, no jornal, na rádio.” Olhava para cima, quase que vendo, ou
fazendo a gente ver, o que dizia, “New
Orange – é cítrico, é legal, é para você”. A reação foi imediata: palmas e
vivas se seguiam, mães abraçando os filhos que não morreriam sem vitamina C, o
prefeito sabendo que, se as pessoas estavam felizes, não haveriam razões para
descontinuar sua administração; tudo parecia perfeito.
Os meses que se seguiram trouxeram a
materialização do plano. A New Orange
ganhou o mercado mais com aura de elixir milagroso do que mero produto
comercial. Professoras faziam campanhas para que as crianças trouxessem o
refrigerante-sensação da Accommodatio para o intervalo das aulas. Em diversos locais
públicos, como biblioteca, museu, rodoviária e praças, instalaram-se máquinas
com latinhas de New Orange. Dada a
posição oficial que o novo produto ganhou, quase que tendo simultaneamente o status de lei e patrimônio público,
poucos se atreviam a criticar a criação de Klefetis Capitioso. Mesmo para
aqueles que, por alguma razão ou intuição pessoal, a New Orange não era a
solução, impunha-se o silêncio, muitas vezes até auto imposto, porque ali estava,
se pensava, um mal necessário ou, em um juízo mais positivo, a melhor solução
possível. Mas as coisas mudaram com o tempo.
Primeiro, demorou alguns meses até que uma jovem
médica, chamada Aleteia, começasse a perceber carência de vitamina C em muitos
de seus pacientes, sobretudo os mais jovens. “Doutora, isso é impossível, eu
tomo tanta New Orange que devia ter vitamina C acumulada até os netos!” Aleteia
escutava coisas assim com tanta frequência que seu senso científico começou a fabricar perguntas. Aleteia resolver, discretamente, fazer algumas pesquisas. Os
resultados a perturbaram: nenhuma evidência encontrada de que a New Orange suprisse a falta de vitamina
C. Aleteia refez os testes. E outra vez,
e uma última. Sempre resultados consistentes com os da primeira pesquisa.
Ela e um amigo farmacêutico publicaram os
resultados em uma revista acadêmica da região. Depois veio um
artigo para um jornal de outra cidade. Finalmente, a notícia chegou voando (com
perdão do infame trocadilho) em Andorinhas. Era o caos: protestos na rua, manifestações em
favor da New Orange com gente vestida
com camisetas laranja (a cor), acusações de que produtores de laranja (a
fruta) em outro munício estavam por trás da pesquisa ou que outra empresa de
refrigerantes estava usando Aleteia como laranja (na gíria) para minar a New Orange. Não deu outra: a pobre
médica se mudou. Aleteia temia pela vida em uma cidade em que não era bem
vinda.
Depois dessas conturbações, a fama da New Orange se espalhou e ela passou a
ser importada. Klefetis Capitioso sonhava em expandir seu produto por todo
país. Ocorre que em um mundo globalizado os referenciais não são locais, mas
globais. Não tardou para que pessoas mais esclarecidas começassem a acusar a Accommodatio
de ter copiado refrigerantes de outros países. A New Orange era vista não mais
como o produto revolucionário, apenas uma reprodução em terreno nacional do que
havia lá fora. A partir daí, outras críticas se seguiram: quem bebe do
refrigerante, não possui interesse pela fruta, que é a verdadeira portadora de
vitamina C; a New Orange faz mal para
os ossos e é prejudicial para os diabéticos; alguns dos produtos de sua fórmula
são cancerígenos. Até a população de Andorinhas se alarmou escutando tantas
coisas ruins sobre a New Orange. Quem não se alarmou foi Capitioso, porque
sabia que poderia sustentar a fama de seu produto com silêncio diante das
críticas e propaganda agressiva. Tampouco, Juca se alarmou: já estava no meio
do seu segundo mandato.
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sexta-feira, 5 de junho de 2015
CRISTIANISMO NA TERRA DOS FANBOYS
A cultura Nerd
vive de fóruns sobre pormenores. Ela disseca o objeto de admiração em
muitos ângulos, em um exercício de multiplicação monotemática. A internet
ampliou e estendeu essa característica nerd.
Surge a figura do fanboy, uma espécie
de Nerd xiita que defende com unhas e
dentes seu ídolo, achando argumentos para todas as críticas contrárias. Ele vive
de cultuar.
Hoje há fanboys
se digladiando em todos os espaços da internet:
aqueles que vivem do confronto Messi x Cristiano Ronaldo ou que se limitam a
falar de super-heróis. Em praticamente todas as discussões, das mais tolas às
pertinentes, há fanboys expressando
opiniões tão cegas quanto apaixonadas, em um exemplo de unilateralidade que vai
contra a racionalidade das discussões inteligentes, baseadas em argumentos
factuais ou, ao menos, factíveis.
O cristianismo pop do século XXI, com seus artistas gospel, pastores-celebridades
e escritores evangélicos de autoajuda é o melhor cenário para o surgimento de fanboys. Chega a ser tedioso ver
discussões intermináveis sobre quem é o melhor tenor de quartetos de todos os
tempos – a própria questão, além de inócua, é impossível de se analisar, ainda
mais porque metade do povo que discute isso não conhece mais do que 10 grupos
do gênero. A superficialidade parece outra característica do comportamento dos fanboys, mesmo dos cristãos.
Se a admiração extrema beira à idolatria,
exaltar artistas cristãos se torna ainda mais perigoso, porque desvirtua o
sentimento religioso. Cria-se um vínculo com o cantor ou pregador, como se a
experiência religiosa devesse se concentrar em acompanhar seu ministério (ou
carreira) e defendê-lo absolutamente.
Escrevendo aos coríntios, Paulo combate essa
mesma classe de sentimentos. “Meus irmãos, fui informado por alguns da casa de
Cloe de que há divisões entre vocês. Com isso quero dizer que cada um de vocês
afirma: ‘Eu sou de Paulo’; ‘eu de Apolo’; ‘eu de Pedro’; e ‘eu de Cristo’”. (1
Co 1:11-12, NVI). Ao invés de se beneficiar da ministração dos apóstolos, os
coríntios compartimentalizaram sua atuação. Eles criaram preferências em torno
das personalidades dos pregadores. E, uma vez feito isso, logo surgiram
partidos em torno das preferências.
O escritor bíblico combate o sentimento,
afirmando que a fé cristã não se baseava no talento de seus expositores, nem
tampouco em seu carisma e habilidades pessoais. Usando uma diatribe cheia de ironia
e severidade, Paulo indaga: “Acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado
em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo?" (1 Co 1:13, NVI)
Tanto na época de Paulo como em nossa cultura digital o problema é o mesmo:
concentrar-se desequilibradamente no ministério de pessoas leva a perder de
vista o fundamento da fé: a pessoa e ministério do Senhor Jesus.
Paulo, em outro contexto, elogiou aqueles que não
aceitavam sua palavra sem uma mentalidade crítica (At 17:11) – o apóstolo era
contra os fanboys, mesmo quando era
alvo da admiração deles! Vale notar que a palavra grega traduzida por “nobres”
pode ser entendida como “mente nobre” ou “mente aberta”. Os bereanos foram
elogiados por possuírem uma atitude mental altamente seletiva, do tipo que sabe
ouvir e ponderar, sem aceitar um discurso pelo número de recomendações ou pela
fama de quem o profere. Seria interessante encontrar mais exemplos dessa
mentalidade na contemporaneidade…
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