O sucesso de
programas como American Idol e The
Voice, revivendo os antigos shows de calouros, é um fenômeno
mundial. Interpretações efusivas (para não dizer histriônicas) de músicas
consagradas ganham as mídias sociais, espalhadas pelo Youtube, Facebook e Twitter.
Quando se pensa no gênero pop, adotado
pelos reality shows musicais, sem se
restringir a eles, estamos diante de um padrão altamente disseminado nos canais
convencionais, como programas de TV e FMs, e mesmo aplicativos de streaming, tais como o iTunes ou Google Play. Nós nos deparamos com a música pop em cada filme, série e clipe. Seu poder de atração não pode ser
questionado ou subestimado.
Consumir essa
música altamente estimulante e com viés sensual como forma de entretenimento
representa vários riscos para os cristãos. Primeiro, o risco de assimilar
pensamentos, conceitos e estilo de vida claramente mundano, diferente daquele
ensinado pela Palavra de Deus. Segundo, adquirir um gosto por esse padrão de
música, o que levaria a uma forma específica de rejeitar o estilo de vida
cristão: a rejeição da música cristã. Compensa pensar sobre as consequências
desse último aspecto.
Quando a música
secular se torna o padrão para o cristão, dificilmente ele sentiria prazer em
cantar os hinos cristãos tradicionais, seja em sua devoção particular ou mesmo
no culto público na igreja. Simplesmente, os hinos soarão como cantigas
inocentes, ou algo absurdamente antigo. E talvez poucas coisas aborreçam tanto
algumas pessoas como algo desatualizado. Será preferível trocar as antigas
canções dos hinários cristãos por música contemporânea, de viés cristão. Mesmo
que você não seja um sociólogo da religião, será capaz de notar como a música pop cristã nem choca mais os
adoradores contemporâneos: no caso particular dos adventistas, em pouco mais de
duas décadas, eles se acostumaram com o novo paradigma.
Em nossos
congressos, cultos especiais e mesmo nas reuniões regulares, a música cristã
contemporânea, antes empregada sob a alegação de atrair e agradar aos jovens,
já atingiu alcance congregacional, abarcando indivíduos das mais diversas
gerações. Seu alcance, aceitação e a facilidade como dissemina ideias cristãs
(ainda que de forma genérica, na maior parte dos casos) são as justificativas
mais comuns dos defensores desse gênero de música.
Entretanto,
seria, no mínimo, fato suficiente para nos causar mal-estar saber que há poucas
décadas os adventistas se indignavam (acho que o termo descreve bem a reação)
com as demais denominações por usar música popular na adoração. Evocava-se o
fato para ressaltar que o mundanismo entrara nas igrejas evangélicas, enquanto
ainda mantínhamos princípios bíblicos aplicados a música. Hoje, o quadro
sutilmente se alterou: não ousamos mais demonstrar indignação. Há uma
reciprocidade suspeita entre a forma como recebem nossos músicos e como recebemos
cantores de outras denominações. Talvez não haja mais linhas divisórios tão
profundas que identifiquem o que há décadas se chamava música adventista.
Precisamos de
música nova, que exemplifique nossa doutrina, que criativamente explore aquilo
que cremos. Não creio que a criatividade oriunda do Espírito Santo haja se
esgotado, após profusamente abençoar autores de hinos de séculos e décadas
anteriores. O problema está em nivelar a contribuição necessária para este
tempo por padrão de música secular. Fazendo assim, transmitiríamos nossa
mensagem na letra, todavia não na forma, associada a valores não cristãos, como
satisfação própria, êxtase sensual e violência.
Se a música pop, surgida com a diluição e
massificação do estilo rock’n’roll, nasceu
em meio a revoluções de valores, liberdade sexual e expressão de uma juventude
que queria mais liberdade, é impossível fazer uma avaliação positiva de seus
constituintes desde uma perspectiva cristã. Música pop é o coração do homem
contemporâneo colocado em notas musicais – e não precisa conhecer tão
profundamente a Bíblia para saber qual a avaliação feita pelo Senhor acerca de
nosso coração natural (Jr 17:9). Se veicularmos a essa estética a nossa
mensagem, corremos o risco de distorcemos o que Deus tem a dizer a toda uma
geração.
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