sexta-feira, 12 de setembro de 2008

PRATOS


Dois pratos. Em um, as glórias de um cenário sem estertores. O salmodiar de seres imáculos,
Cordial júbilo, cordial
Amor sem suspeita, e tudo
Erupcionando em agudo
Palco, na ausência do mal.
Entre as pessoas. O passo deficiente de um homem que perdera a perna lutando contra invasores. O buço canceroso de uma mulher logo adiante. Olhos esmaltados de horrores de um órfão.
Um anseio, de oferecer, num incenso de toque, a aceitação. Seu coração revive a escolha que os séculos caducos testemunharam.
Dois pratos.
Anda mais um pouco pelo pátio de um templo, onde o culto aos filactérios e às longas orações soterra a esperança. Atrás de um pilar, um menino cego quer ver o pássaro que canta.
As glórias de um mundo sem estertores.
À noite, ajoelha-Se contrito. A aflição íntima intimida o Céu, pela exatidão de sua pureza.
Quanto mais Seus filhos terão de ser enganados pelos agentes rebeldes? Ao cobrir as eras em Sua meditação, pensa naqueles que ainda sofrerão por Seu nome:
Por acharem a vida de menor importância
Do que a fé que possuem, a fé que não abjuram;
Que resistem ao potro, que enfrentam mesmo a forca,
Mulheres e homens, todos dispostos a sofrerem
As labaredas sobre seus corpo em agonia…
A prece os inclui, e aos que fraquejam em seu ritmo de submissão, e aos que são vítimas do orgulho imanente.
O outro prato. E algo mais poderoso que as riquezas acumuladas pelos soberanos. Com um peso que excede as glórias de um mundo sem estertores. Um peso comovente.
Aqui está Ele. Orando ao Pai, pedindo as forças de um pássaro alvejado pelo caçador e que se mantém em vôo. Solicitando o martelo que, com golpes de fogo e pedra, rompa os grilhões de seus irmãos caídos.
Amanhece. Jerusalém se banha melancólica ao sol de outro dia. E outro sol, o da Justiça, ergue a mão de homens opressos pelo fardo da malignidade ancestral, e as crianças sorriem como pétalas.
E isso porque a primeira lágrima de Adão pesou mais na balança.


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