quarta-feira, 23 de março de 2011

RELIGIÃO: ESPÉCIE EM EXTINÇÃO


Um novo estudo publicado no site do Estadão adverte que a religião pode se extinguir em nove países: Austrália, Áustria, Canadá, República Checa, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça. O prognóstico pessimista leva em conta dados do censo desses países, que constatou o alarmante crescimento de pessoas que se declaram sem-religião.
Por que uma sociedade entra em processo de secularização? O que suscita o afastamento de pressupostos religiosos? Sugiro que a inocuidade da religião, pensando em concepção de vida, assume o posto de fator preponderante. Para sermos justos, diversos fatores contribuem para o processo. Não obstante, o mero desenvolvimento industrial e tecnológico, e as demandas da vida consumista nos grandes centros urbanos, per si, constituem explicações incompletas. A meu ver, a mutilação da estrutura religiosa (condicionalmente esvaziada pelo zeigeist da vez), ou sua inadequação ao contexto pós-moderno, explica melhor a problemática; afinal, se a fé falha em prover com suporte holístico o homem do século XXI, por que manter sua estrutura conceitual?
Logo, as religiões (incluindo, infelizmente, o cristianismo) se mantêm em um sentido diametralmente oposto ao da racionalidade pessimista, que sub-repticiamente se instalou na modernidade, desembocando na pós-modernidade. O que pode salvar o cristianismo? Um senso de missão, sem dúvida, implicaria em envolvimento dos seus adeptos, acarretando aprimoramento da vivência religiosa fora das paredes do templo. Tem de ser observado, entretanto, que se a missão se restringir à quantidade de pessoas aceitas na comunhão da igreja por meio do batismo, estaremos reduzindo o propósito integrador e holístico do cristianismo.
Integrador, porque a participação na missão não cessa quando alguém toma parte em um rito de iniciação. Integrar-se em uma comunidade requer convivência e readaptação a um novo padrão de vida. Os membros da igreja são responsáveis por permitir ao novo converso acesso e participação em seu estilo peculiar de vida permeado pela vida na comunidade ideal de Deus. A vida em comunidade também envolve o reconhecimento e uso do dom espiritual concedido a cada crente (1 Co 12), o qual deve ser empregado de forma harmoniosa, para crescimento da comunidade (Ef 4). Cabe aos ministros a função de desenvolver os dons espirituais (Tt 1:5, onde a palavra traduzida por “estabelecer” significa levar de um “ponto a outro”, “desenvolver”).
O propósito integrador está associado ao segundo, dito holístico. O cristianismo não se limita a atividades de fim de semana. Cristianismo engloba administração de emoções, perfil profissional, aquisição de conhecimento, relacionamentos interpessoais e todas as demais temáticas existenciais referentes ao indivíduo. Obviamente, alguns elementos são acrescidos com a maturidade espiritual, razão pela qual não se pode esperar perfeição em estágios iniciais – e mesmo perfeição absoluta se torna onírica e fantasiosa; fala-se em integridade, em perseguir propósitos e busca de maturidade.
O cristianismo medíocre que ora viceja é o pai da secularização. Apenas quando ele voltar ao seu cerne, poderá virar o jogo, em termos de influência decisiva sobre indivíduos e sociedade.


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