Um
dos mais difundidos mitos sobre a pós-modernidade em meios cristãos é o de que
neste período da História, no qual vivemos, as pessoas se revelam
desinteressadas pela religião. Nada mais distante da realidade. Para a surpresa
dos cristãos, vivemos em um mundo mais “aberto” para a espiritualidade, em suas
expressões mais diversificadas. Tal atmosfera “pró-religião” representa,
simultaneamente, um campo de oportunidades e um conjunto de barreiras. Antes de
entrar propriamente em alguns aspectos positivos e negativos da espiritualidade
pós-moderna, quero fazer menção de dados que demonstram o despertar de uma nova
espiritualidade.
Uma
pesquisa de 2005, indicava que o fator unificador para comunidades de jovens é,
predominantemente, religioso (42,5%), fator que supera outros, como as
atividades esportivas (32%) e artísticas (26, 9%).[1] Falando sobre esta
geração, flexível em espiritualidade, uma pesquisadora afirma: “Essa é uma
geração que experimenta mais, entra e sai das religiões com facilidade […]
Muitas vezes, a procura leva a uma mistura de crenças pois eles se sentem mais
livres para procurar um lugar em que se sintam bem."[2] Outra pesquisa,
realizada com 1. 500 universitários paulistas, com idades de 17 a 25 anos,
apresenta que 20% dos entrevistados se definem como crentes sem religião. O
coordenador da pesquisa, resumiu da seguinte maneira os resultados apontados:
“É comum ouvir dizer que a juventude perdeu as crenças, mergulhou no niilismo,
no consumismo e no individualismo e abandonou as práticas religiosas. No
entanto, a pesquisa descobriu que, pelo contrário, o jovem cultiva intensa
religiosidade, que se integra em sua vida". [3]
Esse
“cultivo intenso” da religiosidade seleciona os diversos serviços religiosos
oferecidos, que se voltam para atender o adorador-consumidor.[4] Ao mesmo
tempo, o adorador pós-moderno consome os serviços religiosos pré-selecionados
de acordo com sua necessidade imediata, o que passa a caracterizar o que Luís
Mauro Sá Martino chama de “religião fast-food”.[5]
Também pode-se dizer que, como a incerteza do mundo contemporâneo produz a
incerteza individual, que impulsiona a busca por uma nova identidade para se
adaptar a cada nova realidade, dá-se que os indivíduos reconstroem
constantemente suas identidades – Bauman denomina isto de “Identidade de
palimpsestos”[6] Ocorre que as pessoas, engajadas na pós-modernidade a
reconstruírem infindamente a si mesmas, igualmente reconstroem a própria
religião em níveis pessoais. Já denominei “raciocínio bricolagem” o pressuposto
de que o indivíduo pode em nível pessoal reconstruir produtos consumíveis (de
roupas à CDs, passando por modelos religiosos) baseado em sua própria
competência autônoma, como quer a pós-modernidade. [7]
Quais
são as vantagens oferecidas pelo presente estado de espírito da época? A igreja
pode canalizar seus ministérios para atingir as pessoas em suas necessidades,
cuidando para que esta ministração não perca seu aspecto distintivo
doutrinário e seu enfoque evangelístico. Não somos uma agência humanitária, mas
uma comunidade de fé, e de uma fé histórica, específica e baseada em princípios
que se afirmam como universais. Acreditar que apenas enfatizando a necessidade
de “pertencer”, ou enfocando “segurança” atrairá as pessoas, constitui uma
tática deficitária.
A
singularidade cristã tem de ser proclamada – bem verdade que de um modo
contextualizado, mas sem que a Verdade seja perdida de vista. Temos de
aproveitar o espírito “aberto” de nossa época para enfatizar que o Cristianismo
responde acuradamente às maiores necessidade humanas. Ao mesmo tempo, também
corremos o risco de constituir apenas uma comunidade em meio a tantas outras. O
diferencial consiste na ênfase da identidade da comunidade de fé como uma
embaixada responsável por anunciar uma mensagem relevante para todas as
culturas, contextos, linguagens e etnias.
O
aumento da espiritualidades, por si só, não é positivo, ainda mais se a noção
da espiritualidade contrariar o que a Bíblia apresenta. As pessoas estão em
busca de algo e os cristãos devem apresentar que a única satisfação para este
anseio é uma experiência pessoal com aquele que se declarou “O Caminho, A
Verdade e A Vida” (Jo 14:6).
UM NOVO SÉCULO, UM NOVO TIPO DE ADORADOR
[1] Pesquisa realizada pelo Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e do Instituto Polis,
abrangendo regiões metropolitanas do país, (Belém, Belo Horizonte, Porto
Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), encontra-se citado em
Emilio Sant’Anna e Simone Iwasso, À sua
maneira, jovens cultivam fé, disponível aqui.
[2] Declaração da antropóloga e
pesquisadora do Ibase, Regina Novaes, citado em Emilio Sant’Anna e Simone
Iwasso, Idem.
[3] Jorge Cláudio Ribeiro, da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), citado em Ibid.
[4] Para uma análise desta perspectiva,
ver Douglas Reis, Ministérios de todos os
clientes, disponível aqui.
[5] Luís Mauro Sá Martino, Mídia e poder simbólico: um ensaio sobre
comunicação e campo religioso (São Paulo, SP: Paulus, 2003), 52-53.
[6] Zygmunt Bauman, O mal-estar da pós-modernidade, (Rio de
Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 1997), 36.
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