segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O BOOM DA ESPIRITUALIDADE PÓS-MODERNA



Um dos mais difundidos mitos sobre a pós-modernidade em meios cristãos é o de que neste período da História, no qual vivemos, as pessoas se revelam desinteressadas pela religião. Nada mais distante da realidade. Para a surpresa dos cristãos, vivemos em um mundo mais “aberto” para a espiritualidade, em suas expressões mais diversificadas. Tal atmosfera “pró-religião” representa, simultaneamente, um campo de oportunidades e um conjunto de barreiras. Antes de entrar propriamente em alguns aspectos positivos e negativos da espiritualidade pós-moderna, quero fazer menção de dados que demonstram o despertar de uma nova espiritualidade.
Uma pesquisa de 2005, indicava que o fator unificador para comunidades de jovens é, predominantemente, religioso (42,5%), fator que supera outros, como as atividades esportivas (32%) e artísticas (26, 9%).[1] Falando sobre esta geração, flexível em espiritualidade, uma pesquisadora afirma: “Essa é uma geração que experimenta mais, entra e sai das religiões com facilidade […] Muitas vezes, a procura leva a uma mistura de crenças pois eles se sentem mais livres para procurar um lugar em que se sintam bem."[2] Outra pesquisa, realizada com 1. 500 universitários paulistas, com idades de 17 a 25 anos, apresenta que 20% dos entrevistados se definem como crentes sem religião. O coordenador da pesquisa, resumiu da seguinte maneira os resultados apontados: “É comum ouvir dizer que a juventude perdeu as crenças, mergulhou no niilismo, no consumismo e no individualismo e abandonou as práticas religiosas. No entanto, a pesquisa descobriu que, pelo contrário, o jovem cultiva intensa religiosidade, que se integra em sua vida". [3]
Esse “cultivo intenso” da religiosidade seleciona os diversos serviços religiosos oferecidos, que se voltam para atender o adorador-consumidor.[4] Ao mesmo tempo, o adorador pós-moderno consome os serviços religiosos pré-selecionados de acordo com sua necessidade imediata, o que passa a caracterizar o que Luís Mauro Sá Martino chama de “religião fast-food”.[5] Também pode-se dizer que, como a incerteza do mundo contemporâneo produz a incerteza individual, que impulsiona a busca por uma nova identidade para se adaptar a cada nova realidade, dá-se que os indivíduos reconstroem constantemente suas identidades – Bauman denomina isto de “Identidade de palimpsestos”[6] Ocorre que as pessoas, engajadas na pós-modernidade a reconstruírem infindamente a si mesmas, igualmente reconstroem a própria religião em níveis pessoais. Já denominei “raciocínio bricolagem” o pressuposto de que o indivíduo pode em nível pessoal reconstruir produtos consumíveis (de roupas à CDs, passando por modelos religiosos) baseado em sua própria competência autônoma, como quer a pós-modernidade. [7]
Quais são as vantagens oferecidas pelo presente estado de espírito da época? A igreja pode canalizar seus ministérios para atingir as pessoas em suas necessidades, cuidando para que esta ministração não perca seu aspecto distintivo doutrinário e seu enfoque evangelístico. Não somos uma agência humanitária, mas uma comunidade de fé, e de uma fé histórica, específica e baseada em princípios que se afirmam como universais. Acreditar que apenas enfatizando a necessidade de “pertencer”, ou enfocando “segurança” atrairá as pessoas, constitui uma tática deficitária.
A singularidade cristã tem de ser proclamada – bem verdade que de um modo contextualizado, mas sem que a Verdade seja perdida de vista. Temos de aproveitar o espírito “aberto” de nossa época para enfatizar que o Cristianismo responde acuradamente às maiores necessidade humanas. Ao mesmo tempo, também corremos o risco de constituir apenas uma comunidade em meio a tantas outras. O diferencial consiste na ênfase da identidade da comunidade de fé como uma embaixada responsável por anunciar uma mensagem relevante para todas as culturas, contextos, linguagens e etnias.

O aumento da espiritualidades, por si só, não é positivo, ainda mais se a noção da espiritualidade contrariar o que a Bíblia apresenta. As pessoas estão em busca de algo e os cristãos devem apresentar que a única satisfação para este anseio é uma experiência pessoal com aquele que se declarou “O Caminho, A Verdade e A Vida” (Jo 14:6).

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UM NOVO SÉCULO, UM NOVO TIPO DE ADORADOR

[1] Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e do Instituto Polis, abrangendo regiões metropolitanas do país, (Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), encontra-se citado em Emilio Sant’Anna e Simone Iwasso, À sua maneira, jovens cultivam fé, disponível aqui.
[2] Declaração da antropóloga e pesquisadora do Ibase, Regina Novaes, citado em Emilio Sant’Anna e Simone Iwasso, Idem.
[3] Jorge Cláudio Ribeiro, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), citado em Ibid.
[4] Para uma análise desta perspectiva, ver Douglas Reis, Ministérios de todos os clientes, disponível aqui
[5] Luís Mauro Sá Martino, Mídia e poder simbólico: um ensaio sobre comunicação e campo religioso (São Paulo, SP: Paulus, 2003), 52-53.
[6] Zygmunt Bauman, O mal-estar da pós-modernidade, (Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 1997), 36.
[7] Ver Douglas Reis, Um novo século, um novo tipo de adorador, disponível aqui


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